Os Promotores da Paz

        

 

9 - Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.

 

 

         PAZ - Shalon. O caminho que conduz a santidade é de contínuo crescimento em gozo e paz. É uma experiência espiritual sempre progressiva que faz com que a vereda do justo seja como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Provérbios 4: 18.

 

         Este é a primeira das oito Bem-Aventuranças na qual Jesus pronunciou uma benção sobre obras humanas. As primeiras seis são bênçãos prometidas àqueles que dão passos decisivos e sucessivos para o desenvolvimento do caráter, tornam-se artesãos da paz.

 

         Há uma diferença profunda entre os conceitos de valores de Jesus e os conceitos humanos, que exaltam os heróis de guerra e glorificam os heróis de milícia. Quantos monumentos foram dedicados a heróis militares.

 

         Satanás o príncipe deste mundo é o principal instigador de contendas e lutas de classes na Terra. É o grande guerreiro e criador de problemas, neste mundo pecaminoso. Rebelou-se contra o Senhor, e rompeu a paz do Universo:

         Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com os seus Anjos; mas foi derrotado, e não se encontrou mais lugar para eles no céu. Foi expulso o grande Dragão, a antiga serpente, o chamado Diabo, Satanás, sedutor de toda terra habitada, e seus Anjos foram expulsos com ele. Apocalipse 12: 7 a 9.

         Miguel: hebraico: Mica El. Quem é como Deus; é o próprio Jesus, este nome mencionado cinco vezes na Bíblia, é sempre relacionado com peleja, Jesus contra Satanás, e o Senhor é vitorioso.

 

         O príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias; mas Miguel, um dos primeiros Príncipes, veio em meu auxílio. Eu o deixei afrontando os reis da Pérsia. Daniel 10: 13

 

         Mas vou anunciar-te o que está escrito no Livro da Verdade, Ninguém me presta auxílio para estas coisas se não Miguel, vosso príncipe. Daniel 10: 21.

 

         Nesse tempo levantar-se-á Miguel, o grande Príncipe, que se conserva junto aos filhos do teu povo, Será um tempo de tal angústia, qual jamais terá havido, até aquele tempo; desde que as nações existem. Mas neste tempo o teu povo escapará, isto é, todos os que se encontrarem inscritos no Livro. Daniel 12: 1

 

         E, no entanto, o arcanjo Miguel, quando disputava com o Diabo, discutindo a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a pronunciar uma sentença injuriosa contra ele; mas limitou-se a dizer: O Senhor te repreenda! Judas 9.

 

         A derrota do Diabo com seus anjos, e sua expulsão do céu não finalizou o conflito, mas transferiu o conflito do céu para esta terra que se tornou um campo de batalha do universo. Quando Cristo obteve a grande vitória no Calvário, os seres celestes não caídos comemoraram este magno acontecimento com exclamações:

         Por isso festejai, ó céus, e vós o que neles habitais. Ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta. Apocalipse 12: 12.

 

         Esta guerra contra os santos de Deus se descreve graficamente em:

         Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força de seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do Diabo; porque a nossa luta não é contra a carne e o sangue, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz, embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda a oração e suplica, orando em todo o tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda a perseverança e súplica por todos os santos.  Efésios 6: 10 a 18.

 

         Satanás é o inimigo público número um, e todos os seus seguidores são destruidores da paz e originadores dos problemas, e, portanto, inimigos da paz e da felicidade.

 

         Ninguém poderá ser um pacificador verdadeiro a menos que esteja em paz com Deus e consigo mesmo em seu próprio coração. É o resultado de viver em harmonia com a vontade de Deus, e as causa de guerras entre nações e indivíduos, são o egoísmo, a cobiça, o temor e o orgulho.

 

         Jesus é chamado o Príncipe da paz. É o grande pacificador, e sua presença traz tranqüilidade. Não conheceu pecado, sempre foi tranqüilo e sereno, jamais perdeu a calma ou se irritou. É a personificação da calma e da paz. Convidou para acharmos descanso para nossas almas, porque Ele é manso e humilde de coração. Transformou Maria Madalena de uma adúltera em uma filha de Deus, do ladrão na cruz em um cidadão do céu, de Zaqueu egoísta a um abnegado, João filho de trovão no discípulo amado, Nicodemos de justo a seus olhos em um humilde discípulo, Paulo de perseguidor a perseguido, e transforma a todo que se aproximar reconhecendo a situação de pecador.

 

         A tarefa de pacificador é delicada. É difícil preservar a paz, porém mais trabalhoso obter aqueles que nunca tiveram esta experiência, Não pode ser imposta ou fabricada por invenções humanas, mas é uma experiência pessoal, fruto de uma entrega completa a Jesus, o Príncipe da paz.

 

         A fisionomia de homens e mulheres que andam e trabalham com Deus expressam a paz do céu. Estão rodeados pela atmosfera celestial. Para estas pessoas o reino de Deus aqui está. Tem prazer em Cristo e gozo em beneficiar isto a humanidade [[1]].

 

         A paz de Cristo provém da verdade. É harmonia com Deus. O mundo está em inimizade com a lei de Deus; os pecadores se acham em inimizade uns com os outros. Os projetos humanos para purificação e erguimento dos indivíduos ou da sociedade, deixarão de produzir a paz, visto que não atingem o coração. O único poder capaz de criar ou perpetuar a verdadeira paz, é a graça de Cristo. Quando esta é implantada no coração, expelirá as más paixões que causam luta e dissensão.

 

         Depois de explicar em que consistia a verdadeira felicidade, e como pode ser obtido Jesus indicou mais definidamente, os deveres de seus discípulos, como mestres escolhidos pôr Deus para levar outros ao caminho da justiça e da vida eterna.

 

 

PROMOVEM A PAZ

 

 

O substantivo grego eirênopoiós deriva de duas palavras: eirenê, paz, e poiéô, fazer. Cristo se refere aqui especialmente a induzir os homens a que estejam em harmonia com Deus. A mente carnal é inimizade contra Deus. Romanos 8: 7. Mas Cristo, o maior dos pacificadores, veio para mostrar aos homens que Deus não é seu inimigo. Cristo é o Príncipe de paz. Isaias 9: 6 e 7; Miquéias 5: 5. Foi o mensageiro de paz de Deus ante o homem, justificados, pois, pela fé, temos paz para com Deus por meio de Jesus. Romanos 5: 1. Quando Jesus teve cumprido com a tarefa que lhe foi atribuída e voltou ao Pai, pôde dizer: A paz vos deixo, minha paz vos dou. João 14: 27; II Tessalonicenses 3: 16

 

A fim de apreciar o que Cristo queria dizer ao falar de pacificadores, é útil considerar o sentido da palavra paz no pensamento semítico e em sua forma de falar. O equivalente hebraico da palavra grega eirenê é shalom, que significa saúde, bem-estar, inteireza, prosperidade, paz. Em vista de que Cristo e a gente comum empregavam o aramaico, idioma muito parecido ao hebraico, é muito possível que Cristo empregou esta palavra com suas acepções semíticas. Os cristãos têm de estar em paz uns com os outros I Tessalonicenses 5: 13 e devem seguir a paz com todos. Hebreus 12: 14. Têm de orar pela paz, trabalhar pela paz e interessar-se em forma construtiva nas atividades que contribuam à paz da sociedade [[2]].

 

 

FILHOS DE DEUS

 

 

Os judeus se consideravam filhos de Deus. Deuteronômio 14: 1; Oseías 1: 10, conceito que também compartilham os cristãos I João 3: 1. O ser filho de Deus significa parecer-se a ele em caráter I João 3: 2; João 8: 44. Os pacificadores são filhos de Deus porque eles mesmos estão em paz com Deus, e estão dedicados à tarefa de induzir a seus próximos a que estejam em paz com Ele [[3]].

 

Os pacificadores são os que estão em paz com Deus, que é o autor da paz e apreciador da concórdia; são os que mostram serem verdadeiramente filhos de Deus, esforçando-se para aproveitar qualquer oportunidade que lhes abra para efetuar reconciliação entre aqueles que estão em desavença [[4]].

A paz ordenada por Jesus não é uma aceitação passiva de que qualquer coisa que surja, mas um envolvimento ativo que confronta o problema e o resolve de todo, alcançando reconciliação satisfatória. Procura a paz e segue-a são as admoestações do salmista Salmo 34: 14. Aquele que pratica a paz, diz o comentário judaico Sifra a respeito de Números 6: 26, é filho do mundo vindouro. A paz que devemos estabelecer neste contexto a que deriva de relacionamentos corretos entre os membros da família humana. Se trabalharmos em prol da reconciliação, seremos chamados filhos de Deus hyioi Theou. Isso se refere àqueles que, agindo como Deus age, apresentam uma semelhança de família herdada de seu Pai celeste [[5]].

 

Os que possuem as qualificações mencionadas nas primeiras seis bem-aventuranças hão de exercer influências de paz entre os homens e promover a reconciliação destes com o seu Deus II Corintios 5: 20. Sua vida e trabalho serão sementes de paz. Será o oposto de criadores de problemas.

 

Serão chamados filhos de Deus. Efésios 5: 1. Os que vivem conforme descritos nestas palavras receberão a aprovação divina, e sentirão, pelo testemunho do Espírito, que são filhos de Deus e agradam o Pai. Mateus 3: 17; Romanos 8: 16. Quem são os filhos de Deus? Romanos 8: 14; Gálatas 5: 22 e 23 [[6]].

 

         Devemos iniciar o estudo desta bem-aventurança investigando algumas questões de significado das palavras:

 

         1. Temos a palavra paz. No grego a palavra é eirênê, e no hebraico: shalon. No hebraico paz nunca tem sentido negativo, nunca quer dizer especificamente ausência de guerra, sempre quer dizer tudo que contribui para o bem estar supremo do homem.

 

No Oriente quando um homem diz a outro Salân! Que é a mesma palavra, não quer dizer que deseja ao outro simplesmente a ausência de males; mas lhe deseja a presença de todos os bens. Na Bíblia paz não quer dizer somente liberação de todos os problemas, mas sim desfrutar todas as coisas boas.

 

         2. Devemos fixar com cuidado o que nos diz esta bem aventurança. A bênção é para todos os que promovem a paz, que quer dizer etimologicamente pacificadores e apaziguadores, não necessariamente para os que amam a paz. Sucede que tem pessoas que amam a paz de maneira equivocada, conseguem criar problemas. Pode ser que permitamos que se desenvolva uma situação perigosa e ameaçadora, e que nossa defesa seja intervir para manter a calma.

 

Muita gente pensa que isto é amar a paz, quando o que está fazendo é amontoar problemas para o futuro, porque se recusa a tomar iniciativas e medidas para resolver a situação. A paz que a Bíblia chama bendita não vem de se evadir de situações conflitantes, sim em enfrentar a realidade, tratá-las e conquistá-las. O que a bem-aventurança demanda não é uma aceitação passiva das coisas por medo dos contratempos que possa trazer a intervenção delas, mas ao enfrentarmos ativamente com os problemas , ainda que o caminho no passe por conflito.

 

3. A versão Reina-Valera diz que os pacificadores serão chamados filhos de Deus. Isto é o que quer dizer literalmente a palavra grega hyioí. Esta é uma expressão tipicamente hebraica. O hebraico não é rico em adjetivos, e quando quer descobrir algo, não só usa o adjetivo mas uma frase filho de... Seguido de um nome abstrato. No texto ao chamar pelo nome filho da paz no lugar pessoa pacífica. Barnabé foi chamado de filho da consolação, no lugar de consolador ou confortador. Esta bem-aventurança diz: Benditos os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus; o que quer dizer: Benditos os pacificadores porque realizam uma obra característica de Deus. O que pratica a paz está envolvido na mesma obra que Deus realiza Romanos 15: 33; II Corintios 13: 11; I Tessalonicenses 5: 23; Hebreus 13: 20.

Tem-se buscado o sentido desta bem-aventurança por três linhas diferentes:

 

1. Shalon se tem sugerido que quer dizer tudo o que contribui ao bem supremo do homem, esta bem-aventurança quer dizer: Benditos os que fazem deste mundo um lugar mais idôneo para que viva toda humanidade. Abraão Lincoln disse: Não sei quando morrerei, porém gostaria que dissesse para mim que arrancasse a urtiga e plantasse uma flor. Segundo isto, esta seria a bem-aventurança dos que tem elevado um pouco a condição do mundo.

 

         2. A maior parte dos pais da igreja tomaram esta bem-aventurança num sentido puramente espiritual, e sustentavam o queriam dizer. Bendita a pessoa que promove a paz em seu coração e alma. Cada um de nós vive um conflito interior entre o bem e o mal, que tiram de nós sentidos opostos, todos somos pessoalmente uma guerra civil em marcha. Feliz, o que tem paz interior e que tem superado este conflito íntimo, e pode entregar todo seu coração a Deus.

 

         3. Existe outro significado para a palavra paz. Era um sentido que os rabinos judeus se encantavam em discorrer, é quase seguro que era sentido que Jesus tinha em mente. Os rabinos judeus sustentavam, que a tarefa suprema que uma pessoa pode levar para estabelecer relações corretas entre as pessoas. Isto era o que Jesus queria dizer.

 

         Há pessoas que são sempre centros tempestuosos de problemas amargura e lutas. Onde quer que estejam, estão sempre envolvidas em conflitos, brigas e provocando as demais. Causam problemas. Existem muitos assim na sociedade, nas igrejas, e estão realizando o trabalho do diabo.

 

Por outra parte, graças a Deus há outros cuja presença não pode sobreviver à amargura, são pontes, que sufocam a contenda e desfazem a amargura. Fazem um trabalho semelhante a Deus, porque o grande propósito divino é fazer com que haja paz para cada pessoa e consigo mesmo entre umas e outras pessoas. O que dividem as pessoas estão fazendo a obra do diabo, e o que une estão realizando a obra de Deus.

 

         Assim podemos entender esta bem-aventurança:

         Ah! A Bem-aventurança dos que produzem relações como entre as pessoas, porque estão fazendo algo que nos recorda Deus [[7]].

 

 

 

A FELICIDADE PELO ESPÍRITO PACIFICADOR

 

 

 

         O problema dos atritos humanos é tão velho como a própria humanidade. Teve seu início no Jardim do Éden quando Caim dominado pela inveja, matou o seu próprio irmão, Abel. E os homens lutam e brigam até hoje, porque isto faz parte da natureza deles.

 

         O professor Quincy Wrigth no seu A Study of War nos revela que nos 461 anos decorridos de 1.480 a 1.941 várias nações estiveram em guerra, como segue: A Inglaterra 78 guerras; a França 71; a Espanha 64; a Rússia 61; a Áustria 52; A Alemanha 23; os Estados Unidos da América do Norte 20; a China 11; o Japão 9; e, em acréscimo, 110 guerras foram travadas, as mais das vezes cruéis, desumanas, contra os indígenas nos Estados Unidos.

 

Nos últimos quatro milênios tivemos menos de trezentos anos de paz. Mesmo os maiores otimistas são forçados a admitir que existe algo de profundamente errado neste mundo que demonstra tanta paixão pela destruição.

 

Se recebêssemos na terra um visitante que viesse reportar o maior negócio ou atividade da terra teria como resposta a indústria bélica, a indústria da guerra. As nações estão buscando meios e armas cada vez mais poderosas com o objetivo de destruir e matar. Os habitantes da terra são belicosos, briguentos, egoístas, e não vivem em paz entre si.

 

Como explicar que, após anos de convivência, estamos tão longe da paz como as tribos guerreiras no passado. Não poderá haver paz no mundo enquanto não estivermos em paz com Deus. A paz nunca poderá vir da guerra. Cristo reconciliou o mundo com seu sangue derramado na cruz. Os conflitos do homem com seus semelhantes nada mais são do que a expressão, no nível humano, do seu conflito contra Deus.

 

Podemos ser pacificadores somente quando conhecemos a Jesus e a paz que Ele nos legou... E Ele prometeu felicidade a todos que lutam pela paz e diligentemente a promovem [[8]].

 

 

Novamente Surpreendidos

 

 

Como as outras bem-aventuranças, esta vai contra a maneira de pensar dos judeus.

 

Desde seu primeiro capítulo, Mateus apresenta Jesus como o Mes­sias e o Filho de Davi. Na mente dos judeus, os títulos dados as pessoas tinham implicações políticas. Os dois títulos vêm juntos na imagem de um rei terreno. Davi fora um ilustre guerreiro vencedor, e os judeus do primeiro século esperavam que o seu Rei Messias seguisse o mesmo programa. O Messias ou Cristo devia ser um libertador nacional.

 

Por exemplo, nos Salmos de Salomão um livro judeu escrito no período entre o AT e o NT, o ungido Filho de Davi é um rei que se levantaria dentre o povo para libertar Israel dos seus inimigos. Esse rei davidiano seria dotado de dons sobrenaturais. De igual modo, em IV Esdras um Apocalipse do primeiro século d.C. o Messias reina sobre um reino messiânico temporário durante aproxi­madamente 400 anos.

 

Houve três grandes períodos de escravidão na história de Israel: o egípcio, o babilônico e agora o romano. Os primeiros dois encontra­ram solução política, e o mesmo se esperava do terceiro.

 

Para os judeus do primeiro século, um Messias que nem sequer li­bertasse politicamente a nação, dificilmente podia ser considerado um Messias genuíno.

 

E a luz dessa expectativa que vemos a proclamação radical de Je­sus de que os pacificadores seriam abençoados, em vez do Zelote que cravava seu punhal no lado de um soldado romano.

 

Como de costume, Jesus inverteu,as coisas. Seu reino é de uma ordem diferente dos reinos do mundo. É de uma ordem diferente daque­la esperada pelos judeus.

 

Naturalmente, Jesus viera como vencedor. Ele viera para derrotar as forças do mal. Viera para subjugar os princípios do reino de Satanás e salvar o Seu povo dos pecados deles. Mateus 1: 21 [[9]].

 

 

 

Os Mansos Serão Pacificadores

 

 

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaias 9: 6.

 

Bem-aventurados os pacificadores. Essa benção corresponde a Bem-aventurados os mansos, na primeira parte das Bem-aventu­ranças. Aqueles que são humildes e gentis serão também pacificadores.

 

Essas características indicam o radicalismo da explicação que Jesus deu acerca do caráter cristão. Normalmente não somos mansos nem pacificadores por natureza. Isso é evidente no mundo turbulento ao nosso redor e nas famílias e lares conturbados. Estamos aqui tratando dos princípios de um reino específico, em oposição aos princípios dos reinos deste mundo. Todos os cidadãos desse novo reino hão de ter uma nova natureza.

 

Não porque sejamos totalmente maus. Existe em cada coração não somente poder intelectual, mas espiritual, percepção do que e reto, anelo de bondade. Educação, p. 29. Esse desejo, porém, luta em nosso coração contra a tendência, herdada de Adão, de escolher o mal.

 

Em vários sentidos, a vida seria bem mais simples se individual­mente fôssemos todos bons ou todos maus. Da maneira como somos, nossa vida é um quadro da controvérsia em escala microcósmica, pois diariamente permanecemos em conflito entre os princípios do reino de Cristo e os princípios do reino do mal.

 

Studdart Kennedy detectou a essência do problema quando men­cionou que há um pouquinho de santo e algo de pecador em cada um de nós; aquela parte de nós é do Céu e a outra parte da Terra. Kennedy também escreveu bem, ao observar que cada pessoa é nada mais do que um grande começo.

 

Esse é o centro do problema. Um grande começo não é o suficien­te. Deus quer entrar em nossa vida e completar a obra. Parte dela será tornar-nos pacificadores, para que sejamos mais e mais semelhantes ao Príncipe da Paz [[10]].

 

 

 

A Razão do Conflito no Mundo

 

 

O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará. Provérbios 28: 25.

 

Cada governo tem seu exército, sua polícia, juízes, tribunais e sistema penal. A história do mundo é repleta de guerras e agressões, e o noticiário diário constantemente nos apresenta relatos de crimes.

 

Por quê? Por que precisamos viver em um mundo de guerra e crime? A resposta é simples: por causa do pecado. Por trás de todos os problemas humanos, quer entre indivíduos ou entre nações, está à ca­racterística pecaminosa da cobiça, ganância, egoísmo e egocentrismo.

 

Não podemos nem começar a entender os problemas de nosso mundo senão quando conhecermos a doutrina bíblica do pecado. E o pecado e seu sórdido resultado que tornam tão difícil manter a paz no mundo. Foi o pecado que levou ao fracasso todos os importantes pla­nos de paz que ocuparam as galerias da história diplomática.

 

Os problemas básicos de nosso mundo não são políticos, econômi­cos ou sociais. Não! O verdadeiro problema é a atitude das nações e dos indivíduos, de colocarem a vontade e os desejos pessoais acima de tudo.

 

Como resultado, se eu sou grande e forte o suficiente, levarei o que quiser, imediatamente, pela força. É lógico que se eu não for forte o su­ficiente para tanto, eu o farei quando você não estiver olhando.

 

Para a paz algum dia reger o mundo, serão necessários novos cora­ções, e novas mentes e atitudes.

 

Conta-se a história de dois homens religiosos devotos que viveram em paz isolada um com o outro por muitos anos em um esconderijo na montanha. Certo dia, eles decidiram quebrar a monotonia, agindo co­mo o restante do mundo.

 

Isso envolvia discussão. Para começar, um deles sugeriu que o ou­tro pegasse uma pedra e colocasse entre os dois, alegando que ela era somente sua. Disposto a concordar com seu amigo, o segundo disse: Esta pedra é minha.

 

Demorando-se a refletir sobre os muitos anos de amizade, o outro homem concluiu: Bem, irmão, se ela é sua, conserve-a. E assim ter­minou a discussão.

 

Esse e o espírito pacificador tão necessário em nosso mundo cheio de contendas [[11]].

 

 

A Razão do Conflito na Igreja

 

 

Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elo­gios; mas sejam humildes, e cada um considere os outros superiores a si mes­mo. Filipenses 2: 3.

 

Martinho Lutero gostava de contar a história de dois bodes que se encontraram sobre uma ponte estreita e alta, construída por cima de um profundo vale. Eles não podiam voltar e não ousavam brigar. De­pois de uma breve conversa, um deles se deitou e deixou o outro pas­sar por cima dele, e assim nenhum dano ocorreu.

 

A moral da história, comentava Lutero, é fácil: Fique contente se você for pisado a pés em favor da paz. Lutero se apressou em acres­centar que estava falando do orgulho e dignidade de uma pessoa, não da consciência dela.

 

Tal atitude resolveria inúmeras dificuldades que enfrentamos, tanto no mundo como na igreja.

 

Mas por que temos tais problemas na igreja? Você poderia pergun­tar. Não deixamos o mundo para nos unir à igreja?

 

A resposta, uma vez mais, é simples: por causa do pecado! Mas os cristãos não desistiram do pecado para seguir a Cristo? Sim, os cristãos desistiram, mas ser um membro de igreja não é o mesmo que ser um cristão. E ser um cristão não quer dizer que o eu não apareça furtiva­mente de vez em quando, e cheio de orgulho exija que a sua vontade seja feita na igreja e no lar cristão.

 

Seria maravilhoso se todo membro de igreja alcançasse plena e perfeita santidade no momento em que assinasse o livro da mesma. Mas esse não é o caso. Não só há alguns membros não convertidos, mas até os verdadeiros conversos tem de encarar a realidade de que a santificação é obra de uma vida inteira.

 

Essa verdade, no entanto, não é razão para não se tornar humilde, cheio de consideração e amável hoje mesmo. Deus quer tomá-lo hoje e fa­zer de você um pacificador para Seu reino. Existe um gracejo que diz:

 

Viver com os santos no Céu será felicidade e glória.

Mas viver com os santos na Terra é geralmente outra história.

Deus chama você hoje para tornar a igreja um lugar diferente do mundo. Ele o chama individualmente para tornar-se um pacificador à semelhança de Jesus [[12]].

 

 

O Caminho Para a Paz Suprema

 

 

Não penseis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a Mim não é digno de Mim; quem não toma a sua cruz e vem após Mim não é digno de Mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por Minha causa achá-la-á. Mateus 10: 34 a 39.

 

Um dos grandes paradoxos da vida de Cristo é que mesmo sen­do Ele o Príncipe da Paz. Isaias 9: 6, o fato de aceitá-Lo traz uma es­pada tão cortante que os conversos freqüentemente descobrem que seus mais íntimos relacionamentos são rompidos.

 

Esse paradoxo está baseado no fato de que os princípios do reino de Cristo são diametralmente opostos aos dos reinos deste mundo.

 

Quando alguns membros de uma família ou comunidade trabalham de acordo com uma série de princípios, enquanto os outros de acordo com outra série, a hostilidade e o resultado inevitável. Jesus argumenta que, em tais casos, a maior lealdade do cristão deve ser pres­tada a Ele e Seus princípios, mesmo que essa posição cause problema.

 

Conquanto os cristãos freqüentemente desfrutem paz de espírito nesta vida, para eles a plenitude da paz exterior não será alcançada se­não na segunda vinda de Cristo. Até então os filhos de Deus são obri­gados a existir nos reinos deste mundo, enquanto procuram viver de acordo com os princípios do reino do Céu.

 

Sua dupla cidadania tem suas próprias ansiedades. Mas na força de Jesus, os cristãos não desistem de seus princípios. Afinal, a benção é para os pacificadores, não para os que amam a paz.

 

O caminho para a paz suprema está em firmar-se nos princípios de Deus. Se a pessoa ama a paz da maneira errada, ela pode causar proble­mas em vez de paz. Tal pessoa, por exemplo, pode permitir que se de­senvolva uma situação ameaçadora ou perigosa sem dizer coisa alguma. William Barclay menciona que a paz que a Bíblia diz ser abençoada não provém da evasão das situações; vem de enfrentá-las, lidar com elas e vencê-las [[13]].

 

 

 

Promover a Paz Requer Nova Atitude

 

 

Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida e quem perder a vida por Minha causa achá-la-á. Mateus 16: 24 e 25.

 

Promover a paz, não é uma atitude normal para o ser humano. A pessoa normal neste mun­do se preocupa principalmente, e em primeiro lugar, com seu próprio orgulho e privilégios.

 

Como as pessoas estão me tratando? Estou recebendo minha justa porção? As pessoas demonstram o devido respeito por mim? Essas são as perguntas mais importantes. Essas são também as perguntas que des­troem a paz e geram contenda.

 

Como resposta a essa linha de pensamento, Jesus aponta para a cruz. A maioria de nós jamais terá de suportar uma cruz de verdade, mas todo cristão deve crucificar a natureza obstinada que, acima de tudo, deseja colocar o eu em primeiro lugar e fazer a própria vontade.

 

Para compreender o que Jesus queria dizer no texto de hoje, preci­samos nos lembrar de que pecado, em seu sentido mais básico, é colo­car no centro de nossa vida o próprio eu e a própria vontade, em vez de Deus e Sua vontade. Pecado é rebelião contra Deus por fazermos do eu o controle e foco central.

 

É o princípio de vida centralizado no eu, tão natural ao ser humano, que precisa morrer. Por isso, Dietrich Bonhoeffer falou ao coração quando escreveu sobre o que significa ser cristão, dizendo: Quando Cristo chama alguém, Ele o convida a vir e morrer.

 

Quando enfrento as reivindicações de Cristo face a face, ou preciso cru­cificá-Lo ou deixar que Ele me crucifique. Não há meio-termo . Felizmente, depois da cruz na vida da pessoa, vem o novo nascimento em Cristo.

 

O processo de tornar-se pacificador começa com essa crucifixão e novo nascimento. Sem essa experiência, seremos meramente membros de igreja; teimosos, contenciosos ou egoístas; uma verdadeira catástro­fe nos bancos da igreja. Passando por essa experiência, porém, nos tor­namos servos do Deus Vivo e pessoas que amam seus semelhantes. Com isso, estamos no caminho que nos leva a ser pacificadores.

 

Ajuda-nos hoje querido Pai, a encontrarmos a cruz, que é o início do processo que nos torna verdadeiros pacificadores cristãos [[14]].

 

 

A Prática de Promover a Paz – I

 

Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. Tiago 1: 19.

 

Ter ideais é algo bom e maravilhoso, mas eles não valem nada a menos que sejam acompanhados da prática.

 

Talvez uma das mais importantes habilidades do pacificador seja saber como ficar quieto. Se as pessoas soubessem controlar a língua, haveria bem menos discórdia no mundo.

 

A passagem bíblica para hoje sugere que devemos ser prontos pa­ra ouvir, mas tardios para falar. Temo que muitos de nós seja­mos ágeis para falar e lentos para ouvir.

 

Um mundo de tristeza e discórdia poderia ser evitado, se tão-so­mente nos recusássemos a repetir as coisas, quando sabemos que elas causarão dano. Uma função importante de promover a paz é permane­cer quietos, mesmo quando somos tremendamente tentados a passar adiante essa ou aquela fofoquinha. O homem natural dentro de nós é forte, mas por amor a paz, os cristãos controlam a língua. Lembre-se de que nunca é bom dizer coisas pouco amáveis ou desagradáveis.

 

Tiago compara a língua a uma pequena fagulha que pode dar início ao incêndio de uma grande floresta. Uma vez que as palavras saem da nossa boca, não podem ser recolhidas. Elas passam de uma pessoa para outra; geralmente com grande parte de exagero e distorção.

 

O temperamento está intimamente relacionado com o controle da língua. Quando somos atacados, como e fácil perder a esportiva e dar as pessoas o que achamos que elas merecem. Isso resulta em falta de paz para elas e para nós.

 

Felizmente, a língua pode ser usada para promover a paz tanto como para fazer guerra, como podemos notar no seguinte texto:

Uma palavra descuidada pode inflamar um conflito,

Uma palavra cruel pode arruinar uma vida;

Uma palavra áspera pode instilar ódio,

Uma palavra brutal pode ferir e matar;

Uma palavra bondosa pode suavizar o caminho,

Uma palavra alegre pode iluminar o dia;

Uma palavra oportuna pode reduzir a tensão,

Uma palavra amável pode curar e abençoar [[15]].

 

 

A Prática de Promover a Paz II

 

 

Caixa de texto: 0 CARATER DO CRISTAOCaixa de texto: SABADO
24 de fevereiro
Caixa de texto: 60Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. Gálatas 5: 22 e 23.

 

Controlar meu temperamento e minha língua pode ser conside­rado como promover a paz passivamente. Mas passividade não é tudo na questão. Igualmente importante é promover a paz ativamente.

 

A oração de Francisco de Assis apresenta alguns dos aspectos ativos:

Senhor, faze-me instrumento de Tua paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor;

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;

Onde houver discórdia, que eu leve a união;

Onde houver dúvida, que eu leve a fé;

Onde houver erro, que eu leve a verdade;

Onde houver desespero, que eu leve a esperança;

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, faze que eu procure mais consolar, que ser consolado; Compreender, que ser compreendido;

Amar, que ser amado.

Pois é dando que se recebe,

É perdoando que se e perdoado,

E é morrendo que se vive para a vida eterna.

 

O processo de promover a paz é uma atividade que possui muitas facetas. Para ser um pacificador é preciso avaliar cada situação a luz do evangelho. Deve-se perguntar: Quais sãos as implicações disso? Afinal, outros estão envolvidos além de mim. Que influência terão sobre eles as minhas ações? Que influência as terão sobre o nome de Cristo? Ou sobre a igreja ? Ou sobre a comunidade? Um pacificador anda de acor­do com a luz da mensagem do evangelho.

 

O pacificador é também um evangelista. A pessoa pacificadora se envolve em ajudar as pessoas a desenvolverem com Deus, através de Jesus Cristo, um relacionamento que resulte em salvação. O pacifica­dor é um ministro de reconciliação.

 

Ser pacificador é ser uma bênção ao mundo. Que nunca nos esqueça­mos de que neste mundo ou somos parte da solução ou parte do problema [[16]].

 

 

Filhos de Deus

 

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também Cristo Jesus. Filipenses 2: 5.

 

A recompensa dos pacificadores é que serão chamados filhos de Deus. Mateus 5: 9. Não á apenas um privilégio; é também uma res­ponsabilidade. Ser filho de Deus significa ser semelhante a Ele. É comum os filhos serem parecidos com os pais.

 

De igual modo, os cristãos são chamados a se assemelharem a Deus. Devemos, como menciona o texto de hoje, ter o sentimento [mente] de Cristo. E como era Cristo? Se continuarmos lendo a passa­gem, veremos que Ele Se humilhou e Se tornou obediente até a mor­te. Ele Se tornou para nós um servo.

 

Em outro lugar, nos é dito que Deus amou ao mundo de tal ma­neira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3: 16.

 

Assim é que devemos ser. Tornar-nos servos, não só de Deus, mas de nossos semelhantes. Dar de nós mesmos co­mo Cristo deu a nós. Ser semelhantes a Deus porque somos Seus filhos.

 

Os pacificadores não serão apenas semelhantes a Deus ao promo­ver Sua paz. Eles experimentarão também a paz de Deus em sua vida diária.

 

Essa e a bênção de ser um filho de Deus [[17]].

 

 

SALMO 15

 

INTRODUÇÃO

 

Com exceção do Salmo 23, o Salmo 15 é o Salmo mais conhecido e apreciado dos Salmos, é chamado do Salmo do bom cidadão ou do cavalheiro de Deus. Este Salmo contém a descrição mais completa do homem ideal que possa falar no Saltério. O Talmude Makkoth 24a disse que dos 613 preceitos da Torah se encontram resumidos nos 11 preceitos do Salmo 15. Sua estrutura é de um epifonema epi+fonema. Exclamação sentenciosa com que se termina uma narrativa interessante ou um discurso; o primeiro versículo da segunda parte do verso 5 são dois extremos paralelos, nos quais se encerram os detalhes concretos das virtudes do crente ideal. Com referência ao sub escrito [[18]].

 

         Compêndio moral conforme os preceitos do Decálogo Êxodo 20 [[19]].

 

         Este Salmo lembra o Salmo 1, enfocando sua atenção sobre os requisitos para alguém aproximar-se da presença de Deus, no santuário. É semelhante ao Salmo 24: 3 a 6. As duas passagens cfe. 33: 4 a 16 tem sido chamadas liturgias de entrada visto que respondem a pergunta: Quem pode entrar no santo lugar de Deus [[20]].

 

À primeira vista poder-se-ia receber a impressão errada, como se só pessoas sem pecado têm o direito de aproximar-se do Deus de Israel em Seu santuário; como se apenas aquelas pessoas que são moralmente perfeitas pudessem achar coragem para entrar no Templo para adorá-Lo.

 

O que conta em todos os Salmos, conta particularmente no Salmo 15: o cântico deve ser entendido no contexto inteiro da fé e da religião de Israel. O chamar a Deus como Senhor já estabelece um contexto religioso específico. O nome Iahweh, traduzido por Senhor em letras de forma nas versões de Almeida, é o único nome do Deus da aliança que pertence só a Israel. Iahweh é o Deus que redimiu Israel do Egito, a casa da escravidão, em cumprimento de Suas promessas feitas aos patriarcas Êxodo 6: 2 a 5; Gênesis 15: 13 a 18. O Senhor, permanece fiel às Sua promessas. Conseqüentemente, este Salmo pressupõe a libertação histórica de Israel de sua escravização do Egito como um ato da fidelidade de Deus à Sua aliança com Abraão.

 

O Salmo 15 enquadra-se bem na celebração anual de Israel da Páscoa ou da Festa dos Tabernáculos, em comemoração do ato gracioso de Deus de libertar o Seu povo. Costuma-se classificar este Salmo como uma liturgia de entrada que tinha lugar nos portões do Templo. Um grupo de peregrinos, parados diante do santuário, faria a ansiosa pergunta, Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Verso 1. Um sacerdote levita então respondia com as próximas palavras do Salmo versos 2 a 5. O Salmo 24 também pertence a este tipo de liturgia de entrada.

 

O que realmente significa a pergunta destes peregrinos que buscavam a Deus? Habitar ou viver no santuário de Iahweh significa desfrutar o companheirismo abençoado, a amizade, e a hospedagem do Senhor. A tradução da Sociedade de Publicação Judaica da América lê: Senhor, quem pode ficar em Tua tenda, quem pode residir em Tua montanha santa? Os antigos peregrinos, pelo fato de permanecer no lugar santo para adoração no Monte Sião na cidade santa, buscavam a permanente bênção e proteção de Deus, uma nova garantia de salvação, e alívio espiritual. Pelo aproximar-se da Presença do Doador da vida, eles recebiam uma visão do Seu poder e glória. Salmo 63: 2 e de Sua beleza Salmo 27: 4. Experimentavam uma verdadeira e mística alegria no Senhor, como testemunham outros cânticos:

Eles se banqueteiam na fartura da tua casa; tu lhes dás de beber do teu rio de delícias. Salmo 36: 8.

Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita. Salmo 16: 11 [[21]].

 

1 - Iahweh, quem pode hospedar-se em tua tenda? Quem pode habitar em teu monte sagrado?

         IAHWEH - O Salmo começa com a apresentação de Deus como anfitrião. Que classe de hóspedes deseja ter em sua casa? Esta pergunta se responde com onze características específicas ver Salmo 24: 3 a 5; Isaias 33: 13 a 16; Zacarias 8: 16, 17 [[22]].

 

         HOSPEDAR - Habitará. A palavra hebréia não indica viver em forma permanente, mas por um tempo, como convidado [[23]].

Hebraico: gwr. Significa a habitação do peregrino ou imigrante: de Abraão em terra Cananéia, de Israel no Egito, de forasteiros em Israel [[24]].

 

A palavra hebraica correspondente residente temporário, como se fosse um hóspede. Assim é que temos a palavra Tabernáculo para corresponder esta idéia, e não a palavra templo, embora o salmo tenha sido escrito quando o templo já existia, ou mesmo depois que o primeiro templo havia sido destruído, e o segundo templo já estava construído [[25]].

 

         HABITAR - Na segunda parte do versículo, a idéia de habitar em forma temporal se transforma em algo permanente. Qual convidado estará em condições de chegar a ser membro permanente da casa de Deus? [[26]]

 

Hebraico: shkn. É habitação estável, de vizinhos em uma cidade. Em texto extraordinário, em que Deus afirma seus direitos sobre a terra, se lê: porque para mim sois imigrantes. Levitico 25: 23 [[27]].

 

Esta palavra, no original hebraico, significa residir de forma permanente, mas isto era verdade somente em sentido metafórico. O homem bom mora com Deus; esse é seu direito permanente. Talvez a palavra tabernáculo tenha sido usada para lembrar ao adorador seu papel de peregrino neste mundo. Mas no tabernáculo de Deus, os adoradores adoram e permanecem em um sentido figurado [[28]].

 

         TENDA - O santuário de Jerusalém toma por vezes o nome de tenda, a imagem do antigo santuário do deserto que relembrava cada ano a festa das Tendas, Êxodo 23: 14 [[29]].

 

Tabernáculo - Antes de o templo ser erigido, o símbolo da habitação de Deus entre seu povo era uma tenda [[30]].

 

A pergunta inicial de Salmo 15 sugere, porém, que nem todo o mundo, sem distinção ou qualificação, pode receber estas bênçãos: [[31]]

 

         MONTE SAGRADO - O monte Sião, onde o templo estava localizado [[32]].

 

Ver comentário Salmo 2: 6. A elevação sugerida por esta frase insinua a altura do caráter perfeito acima do caráter comum. O caráter que agrada a Deus e ao homem deve elevar-se acima do comum [[33]].

 

2 - Quem anda com integridade e pratica a justiça; fala a verdade no coração,

 

ANDA - vive. Os dez requisitos para a entrada ali são éticos, e não formais, ou litúrgicos [[34]].

 

De acordo com a teologia hebraica, o andar do homem santo era obedecer à lei de Moisés Provérbios 28: 18 [[35]].

 

         INTEGRIDADE - Nos versos 2 a 5 se contestam de forma específica as seguintes perguntas paralelas do verso 1. Em primeiro lugar, se dá as respostas positivas, verso 2; em seguida, as negativas versos 3 a 5. A palavra hebraica tamim, que se traduz como integridade, significa completo, inteiro, sem defeito. Deus ordenou a Abraão, um dos personagens ideais do AT, que fosse tamim Gênesis 17: 1. Deus ensina ao cristão a mesma elevada meta Mateus 5: 48, e promete ajudá-lo para que possa alcançá-la [[36]].

 

         PRATICA A JUSTIÇA - Isso aponta positivamente para as boas obras, em consonância com os ditames da lei, especialmente no amor a Deus e ao próximo, a maior de todas as leis Deuteronômio 3: 6. E também fala negativamente evitando as coisas condenadas pela lei, sobretudo os atos de perversidade contra os outros seres humanos. Ver capítulo 31 de quanto às coisas que o homem justo não faz, o que lhe presta reputação inculpável. Ver Jó 30: 25 e Mateus 23: 23.I João 3: 6 a 10 [[37]].

 

         CORAÇÃO - O verdadeiro cristão é totalmente sincero em suas palavras. Fala a verdade ver Provérbios 4: 23, pois sua religião tem assento em seu coração. Este versículo é uma resposta geral as perguntas do verso 1: o que importa não são as formas nem cerimônias, sim o caráter que se manifesta nas ações nobres [[38]].

 

Qual foi a resposta sacerdotal a esta pergunta fundamental?

Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade. Salmo 15: 2.

 

A resposta basicamente não é diferente daquela já dada no Torah e enfatizada pelos profetas: a condição para adoração é amar a Deus de todo o coração, no temor do Senhor, e amar ao próximo como a si mesmo. Deuteronômio 6: 5; 10: 22; Levítico 19: 18; Miquéias 6: 6 a 8; Isaias 33: 14 a 16; Ezequiel 18: 5 a 7; Zacarias 8:16 e 17.

 

A resposta sacerdotal apontava mais especificamente à conduta social-moral do adorador em sua comunidade da aliança. Isto poderia sugerir alguma forma de evangelho social que exige viver de modo justo para ser salvo? Temos que nos lembrar que os adoradores no livro de Salmos já são israelitas redimidos, filhos de Deus, salvos pelos braços eternos de Deus Deuteronômio 14: 1; 33: 27 e 29.

 

Além disso, a sua vinda a Jerusalém para adorar é em si mesmo uma profissão de fé e confiança no Senhor. O ponto do Salmo 15 parece ser antes a instrução de que Deus não está satisfeito com uma mera forma externa e ritual de adoração. Ele reivindica a vida e a existência inteira da pessoa redimida, em todas as suas relações sociais. Daí o alto padrão social-ético que é levantado aqui pelo Redentor de Israel Salmo 50: 16 a 23; Amós 5: 21 a 24; Isaias 1: 11 a 20. Esta necessidade não surpreende os cristãos, porque Cristo endossou o mesmo padrão de amor fraterno como uma condição para a adoração aceitável de Deus:

 

Se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta. Mateus 5: 23 e 24.

 

Tal ato de reconciliação com um companheiro crente por si só não faria alguém aceitável a Deus, porque nenhum homem pode jamais ser justificado diante de Deus pelas obras da lei Romanos 3: 28. Tal ato de amor fraterno expressaria, porém, que ele é um redimido filho de Deus.

 

Na adoração de Israel os que andavam no caminho dos ímpios Salmo 1: 1 e 2 eram em princípio excluídos da adoração sagrada em Jerusalém. Por outro lado, os adoradores justos confessam que eles só podem entrar no Templo por causa da graça de Deus.

 

Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar. Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal. Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o Senhor detesta. Eu, porém, pelo teu grande amor, porém eu, pela riqueza da tua misericórdia entrarei em tua casa; com temor me inclinarei para o teu santo templo. Salmo 5: 4 a 7.

 

A nação escolhida não foi escolhida pelo Senhor em base de qualquer virtude ou comportamento justo, como Moisés enfatizara Deuteronômio 9: 5 e 6. Não obstante, Deus esperava que Israel fosse uma sociedade onde a justiça social e a paz predominassem, em resposta de amor para com o Senhor Deuteronômio 30: 15 a 20; Isaias 48: 18. A graça divina está no centro e no fundamento da aliança de Israel. Deus espera obediência moral como a resposta natural da adoção de Israel como filhos e como a condição para sua habitação nas bênçãos de Deus Êxodo 19: 5 e 6. O poder de graça divina inclinará cada coração crente a obedecer I Reis 8: 58. A graça de Deus não negligencia nem desculpa o pecado em Seu povo, mas antes expia ou purga-o de suas vidas Isaias 59: 2. Deus está interessado na santidade moral de Seus filhos. Ele quer que eles sejam como Ele é: Sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo. Levitico19: 2. A mesma deliberação é dada aos cristãos pelo apóstolo Pedro I Pedro 1: 15 e 16.

 

Nos portões do Templo os adoradores têm que ouvir o que Deus deles espera. Os sacerdotes mencionam três amplos requerimentos que resumem as diretrizes morais básicas para cada israelita:

Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade Salmo 15: 2 [[39]].

 

3 - Quem não deixa a língua correr; não faz mal ao seu próximo e não difama seu vizinho;

 

         DEIXA A LINGUA CORRER - Do verbo Hebraico: ragal, caluniar. Cfe. Tiago 3: 2 a 11. A tradição judaica considerava como caluniador ao que negava a existência de Deus. Disse um rabino no Talmude que na morada de Deus não pode habitar um caluniador. Sanhedrin 103 [[40]].

 

Faz tudo passar através de três portas de ouro: As portas estreitas são: Primeira: É verdade? Segunda: É necessário. Em sua mente? Fornece uma resposta veraz? E a próxima é a última e mais estreita: É gentil? E se tudo chegar, afinal aos teus lábios. Então poderás relatar o caso, sem temores, Qual seja o resultado de tuas palavras. Beth Day [[41]]

 

         NÃO FAZ MAL AO SEU PRÓXIMO - Não prejudica a seu irmão. O próximo é toda pessoa com quem temos alguma relação.

 

         NÃO DIFAMA SEU VIZINHO - Não admite maldade. Não é originador de nenhuma maledicência contra seu vizinho, não dá crédito às acusações contra seu próximo e se nega a difamá-lo. Vive segundo a regra de ouro Levitico 19: 18; Mateus 7: 12. Este versículo dá três respostas negativas à continuação do teor positivo do verso 2 [[42]].

 

Estes três padrões amplos são então operados em maior detalhe por sete proibições da Torah, todo o procedimento com a conduta social-ética do povo da aliança, em particular pelo uso da língua e do dinheiro da pessoa.

 

No meio a única qualificação religiosa, honrar os que temem ao Iahweh. Isto se refere à distinção religiosa entre o justo e o ímpio como colocado no primeiro Salmo.

 

O Salmo 15 contrasta o que merece desprezo com os que temem ao Senhor. O vil o que merece desprezo é o que escolheu o curso do mal deliberadamente e foi então barrado do santuário e da Presença de Senhor. De acordo com Salmo 1, o íntegro venera o Senhor, tem prazer em meditar no Seu Torah, e não segue o conselho do ímpio, não anda no caminho dos pecadores nem se une em companhia dos zombadores. Em resumo, o íntegro não tem parte alguma no pecado de presunção Salmo 26: 4 e 5. Antes ele se encanta na companhia dos que adoram ao Senhor porque ele é um deles. Esta consideração religiosa verso 4 ergue o Salmo inteiro acima do nível do puro moralismo. Os requerimentos do Salmo 15 já descrevem a resposta adequada de Israel à redenção experimentada na libertação do Êxodo.

 

Obediência moral motivada pelo temor de Iahweh só é possível a pessoas redimidas que conhecem a Deus como seu gracioso Libertador. A sabedoria de Israel expressa freqüentemente uma ligação íntima do temor do Senhor com a resposta moral de homem:

No temor do Senhor está à sabedoria, e evitar o mal é ter entendimento. Jó 28: 28.

 

Deus parece até mesmo estar orgulhoso de Jó quando Ele diz a Satanás: Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal. Jó 1: 8. Não é notável que Deus caracteriza Jó como um homem irrepreensível e íntegro? Esta caracterização só repete mais completamente a exigência do santuário dos santos no Salmo 15: 2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo.

 

Tanto Noé como Abraão foram descritos como irrepreensíveis, com uma linha mais interessante de explicação: Noé era homem justo, íntegro entre o povo da sua época; ele andava com Deus. Gênesis 6: 9.

...apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Gênesis 17: 1.

 

A irrepreensibilidade destes homens está todas às vezes relacionada com o seu andar com Deus. Andar com Deus é simplesmente outro modo de dizer andar no temor do Senhor, ou andar retamente Salmo 84: 11, ou andar na lei do Senhor Salmo 119: 1. O ponto essencial é que o homem é irrepreensível aos olhos de Deus se ele entra em companheirismo com o Deus de Israel, em submissão à Sua vontade revelada. No santuário ele recebe, mediante o ministério sacerdotal expiatório, a purificação renovada e a garantia da salvação, o poder santificador renovado para fazer o que é certo aos olhos do Senhor.

 

Davi foi considerado por Deus como o homem segundo o coração de Deus que andou após mim de todo o seu coração, para fazer somente o que parecia reto aos meus olhos. I Reis 14:8. Isto incluiu o profundo arrependimento de Davi e os desejos de um novo coração Salmo 51: 10 e 11. Tal coração arrependido e transformado é característico, não de um pecador presunçoso, mas de um santo! Para tal são abertas as portas de Sião, porque Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás. Salmo 51: 17. Os santos vão marchando!

 

Deus pediu do israelita não mais do que o que Ele antes tinha compartilhado com ele: amor e justiça, misericórdia e lealdade. O adorador tem que falar do seu coração a verdade. Salmo 15: 2. É notável que o Deus de Israel não pediu submissão às leis cerimoniais ou dietéticas, mas que Ele requereu uma conduta social em harmonia com a lei moral da aliança. Os sacerdotes tinham que estar satisfeitos com uma submissão essencialmente externa da lei. Antecipando-se já ao Sermão do Monte Mateus 5 a 7, Deus requereu do Israel antigo a veracidade dentro do coração humano Salmo 51: 6. Uma vida irrepreensível aos olhos de Deus origina-se de um coração que é completamente e sem reservas dedicado a Deus I Reis 8: 58 e 61.

 

Nós notamos que o Salmo 15 formula suas exigências de entrada principalmente em condições negativas. Isto nos lembra do estilo dos Dez Mandamentos Êxodo 20 e catálogos semelhantes Levítico 19; Ezequiel 18: 6 a 9. Esta formulação negativa não é sem significado. Poder-se-ia dizer que a lei não nos ordena que façamos algo para ganhar o favor de Deus, mas antes proíbe o que dificultaria nosso acesso para o Senhor. Os imperativos morais da aliança de Israel são imperativos redentivos, condicionados e motivados por graça divina.

 

Os cânticos religiosos de Israel enfocam nitidamente o poder da língua humana, tanto ao falar a verdade como ao articular mentiras Salmo 34: 13. Da mesma forma, o NT reconhece os efeitos de longo alcance da língua. Tiago escreve, Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.Tiago 3:2. O Salmo 15 proíbe a calúnia ou lançar descrédito ao vizinho. Por outro lado, exige o honrar mesmo o juramento da pessoa embora com prejuízo. Estes não são impossibilidades.

 

Jesus reconheceu em Natanael um homem que era um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade. João 1: 47. Ele conta até mesmo o arrependido Zaqueu, coletor de impostos, entre o Israel espiritual Lucas 19: 9. O último livro na Bíblia reconhece muitos mais verdadeiros Israelitas que seguirão o Cordeiro aonde for: Mentira nenhuma foi encontrada em suas bocas; são imaculados. Apocalipse 14: 5. Purificados das mentiras das falsas doutrinas, eles estão no Monte Sião, junto com o Cordeiro Apocalipse 14: 1. Os santos vão marchando! [[43]]

 

4 - despreza o ímpio com o olhar, mas honram ao que temem a Iahweh; jura com dano próprio sem se retratar;

 

         DESPREZA - A pessoa ideal valoriza devidamente ao próximo e pode discernir sua verdadeira natureza. Não encobre o mal. Não fala mal dos outros falsamente verso 3, e deseja fazer justiça a todos. Suas opiniões são equilibradas. Se seguirem tais princípios, que revolução poderia ser feita em qualquer sociedade! Davison [[44]].

 

         HONRA - Sem fazer distinção de categoria, nem outras circunstâncias que separam as pessoas, o homem ideal honra os verdadeiros seguidores de Deus. Em sua relação com o próximo, dá mais importância à verdadeira piedade que alcançar nobreza ou posição [[45]].

 

         TEMEM - Do verbo hebraico: yara, mostrar reverência. Este temor é o princípio da sabedoria Salmo 111: 10; Provérbios l: 7; 9: 10 [[46]].

 

         IAHWEH - Os que são fiéis e submissos a ele. As expressões freqüentes nos Salmos são sinônimas de: fiel, piedoso, devoto. Mais tarde designará os simpatizantes do judaísmo, Atos 2: 11; 10: 2 [[47]].

 

         DANO PRÓPRIO - Ou não se retrata. A lição é a mesma: quando faz uma promessa, a pessoa justa cumpre a sua palavra [[48]].

Ainda que havendo feito uma promessa ou concerto ou contrato que pode prejudicá-lo, mantém sua palavra. Pode-se ter absoluta confiança no que foi prometido[49].

 

O homem correto leva a sério seus compromissos solenes, embora as circunstâncias se tenham alterado, desde que ele fez o juramento para sua desvantagem ver Levitico 5: 4. Willian B. Taylor. Uma pessoa reta também guarda seus juramentos, mesmo que para isso seja prejudicada. Mesmo que faça um juramento precipitado, conscientemente guardará sua palavra[50].

 

O Duque da Burgúndia presidia o Gabinete do Conselho Francês, um dos ministros propôs que se rompesse determinado tratado, já que o rompimento resultaria em vantagens importantes para o país. Muitas razões boas foram apresentadas para justificar o ato. O duque ouviu em silêncio. Depois que todos falaram, ele ergueu-se e, colocando a mão sobre uma cópia do acordo, disse com firmeza: Cavalheiros nós assinamos um tratado! E isso encerrou a questão[51].

 

Depois da Bíblia, O Peregrino tem sido traduzido em mais línguas do que qualquer outro livro. João Bunyan, seu autor, passou cerca de doze anos na prisão de Bedford por pregar suas crenças. Quando lhe ofereceram a liberdade sob a condição de que parasse de pregar, replicou: Se me soltarem hoje, amanhã pregarei outra vez.

 

Mesmo enquanto se achava encarcerado, Bunyan continuou a pregar, e alguns de seus companheiros de prisão aceitaram a Cristo. Ele reuniu estes conversos numa pequena congregação da qual era pastor.

 

A reclusão de Bunyan durante os primeiros anos após a restauração da monarquia britânica foi deveras penosa; mas, com o passar do tempo, as restrições tornaram-se mais suaves. O carcereiro aprendeu que podia confiar em Bunyan, e possibilitou que ele passasse algum tempo fora da prisão. Bunyan poderia facilmente prevalecer-se disso para fugir, mas não o fez.

 

Certa ocasião os inimigos de Bunyan suspeitaram que o carcereiro lhe estava concedendo tais privilégios. Esperando perturbar o carcereiro e acabar com pequenos períodos de liberdade desfrutados por Bunyan, eles persuadiram o rei a enviar um oficial à prisão por volta da meia-noite, para verificar se ele estava presente. Aquela noite, realmente, Bunyan se encontrava em sua casa. Mas, por volta da meia-noite, ele teve a irresistível impressão de que devia regressar imediatamente à prisão. Quando chegou ao portão, o carcereiro assegurou-lhe que não havia necessidade de que voltasse aquela noite. Bunyan insistiu, porém, em ser conduzido à sua cela.

 

Alguns minutos mais tarde, chegou o oficial do rei e perguntou ao carcereiro: Todos os presos estão ai? Sendo mais preciso em sua investigação, o oficial indagou: O Senhor Bunyan está em sua cela? Sim. Posso vê-lo?

 

         Bunyan foi chamado, e, então, dando-se por satisfeito, o oficial se retirou. Conquanto alguns ponham em dúvida a legalidade das saídas de Bunyan da prisão, permanece o fato de que, embora pudesse ter fugido muitas vezes, ele não o fez, porque prometera voltar [[52]].

 

5 - não empresta dinheiro com usura, não aceita suborno contra o inocente, Quem age deste modo jamais vacilará!

 

         USURA - Deuteronômio 23: 19 e 20. De um estrangeiro se podia cobrar juros, mas não de um compatriota israelita. A intenção dos empréstimos era aliviar a necessidade extrema, e tais juros eram uma forma de exploração[53].

Hebraico: néshek, interesse. Refere-se ao interesse desmesurado, ilegal, ou usura, como podemos chamá-lo. Aos hebreus é proibido demandar condenações contra os pobres, especialmente se eram israelitas Êxodo 22: 25; Levitico 25: 35 a 37; Deuteronômio 23: 19; era permitido cobrar juros dos estrangeiros ver Deuteronômio 23: 20. Fez-se esta distinção porque se considerava que os hebreus eram da mesma nacionalidade, eram irmãos. Seria pouco fraternal cobrar juros a um irmão. Ater-se a este ideal ético indica um caráter nobre[54].

 

A misericórdia precisa ser observada, em lugar da ganância em enriquecer. Cobrar juros de um colega israelita era algo proibido como a quebra da fraternidade Êxodo 22: 25; Levitico 25: 36[55].

 

A palavra hebraica correspondente à usura é mordida. Hoje temos a expressão idiomática moderna para indicar dar uma mordida para indicar cobranças exageradas[56].

 

         NÃO ACEITA SUBORNO - Não se enriquece as expensas do desafortunado. Proíbe especificamente receber suborno ver Êxodo 23: 8; Deuteronômio 16: 19; Provérbios 17: 23. O bom governo só existe onde há justiça imparcial; o suborno destrói ao governo justo[57].

 

Qualquer homem que se deixasse subornar tornava-se impossibilitado de adorar no templo. Nessa questão, por igual modo, ele respeitava a legislação mosaica que proibia esse ato. Ver Êxodo 23: 8; Deuteronômio 27: 25. Apesar disso, tais males eram perpetrados e a justiça era corrompida. Ver Provérbios 25: 18; Isaias: 1: 23: Ezequiel 22: 13; Amós 2: 6 e Lucas 12: 57 a 59[58].    

         JAMAIS VACILARÁ - Jamais será abalado. Em forma breve e concludente se contestam aqui as perguntas do verso 1. A pessoa em cujo caráter se revelam os traços enumerados nos versos 2 a 5 é digna de ser hóspede de Deus. Como está colocado sobre uma base segura, não poderá ser abalado. Que firme fundamento! Ver Mateus 7: 24, 25; cf. Salmo 16: 8. A vista de Deus e do homem, estas são as qualidades do verdadeiro cristão[59].

 

O indivíduo capaz de enfrentar este teste é realmente um homem inabalável. Ele é abençoado com segurança e resistirá a qualquer assalto, pois é inabalável como uma rocha ver Mateus 7: 24 e 25[60].

 

Com respeito ao uso de dinheiro, o Salmo 15 proíbe dois males: emprestar dinheiro com usura ou a juro excessivo Ezequiel 18: 18 e aceitar suborno contra o inocente.

 

Dinheiro emprestando a juros para os companheiros israelitas foi proibido por Moisés Deuteronômio 23: 19 porque os israelitas que obtinham dinheiro emprestado normalmente o fizeram porque eram pobres e necessitados; alguns deles tiveram até mesmo que se vender como escravos Êxodo 22: 25; Levítico 25: 47 a 49. Em tal sociedade social-econômica a proibição contra obter juros dos seus irmãos é razoável e misericordiosa.

 

A proibição contra aceitar suborno para explorar uma pessoa inocente é a defesa de Deus da causa do justo Êxodo 23: 8; Deuteronômio 16: 19. Israel pode ser uma sociedade espiritual, pacífica, próspera só quando a justiça prevalecer no tribunal. Deus garante vida eterna aos que andam com Deus e escolhem os Seus caminhos acima de seus próprios caminhos. Esse homem é justo; com certeza ele viverá. Palavra do Soberano, o Senhor. Ezequiel 18: 9.

O Salmo 15 termina com esta certeza sacerdotal para os santos: Quem assim procede nunca será abalado! Salmo 15: 5.

 

Esta promessa é o resumo e clímax do cântico inteiro. O perigo pode espreitar que alguns tornem esta abençoada certeza do sacerdote em uma falsa segurança. Esta certeza não é uma promessa incondicional. O justo aos próprios olhos pode ostentar em seu coração, Nada me abalará! Salmo 10: 6. Até mesmo Davi em dias de prosperidade foi enganado ao dizer, Jamais serei abalado! Salmo 30: 6. Mas durante uma enfermidade séria ele veio a reconhecer novamente que não teve nenhuma estabilidade ou segurança em si próprio: Ouve, Senhor, e tem misericórdia de mim; Senhor, sê tu o meu auxílio. Salmo 30: 10.

 

Qualquer firmeza ou prosperidade que há em nossa vida, nós só podemos atribuí-la à bênção de Deus e à Sua graça mantenedora: Estando ele à minha direita, não serei abalado. Salmo 16: 8.

 

Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se pode abalar, mas permanece para sempre. Salmo 125: 1.

Pela graça do Senhor os santos estão marchando![61].

 

SHALON – PAZ

 

PAZ - Irene, shalon. Esta palavra é usada na Bíblia por 310 vezes, sendo 218 vezes no Velho testamento e 92 vezes no Novo Testamento. É um dos frutos do espírito que traz harmonia entre Deus e os homens. Empregada como saudação no Oriente, é um estado de calma e tranqüilidade, livre de agitação e conflito; um estado de harmonia, de uma ordem mantida sem violência; um estado de amizade e de acordo. Significa liberdade de espírito sem os transtornos que o pecado traz.

 

O termo hebraico shalon significa : feliz, tranqüilo, saúde e prosperidade. O termo grego envolve Irene tem a idéia de harmonia, descanso e quietude Jesus usou logo após a ressurreição. Jesus está falando de uma paz interior de alma.

 

Saudação de despedida usuais dos judeus, Paz a esta casa - Lucas 10: 5; compreende a saúde corporal, a felicidade perfeita e a salvação trazida pelo Messias. Tudo isso é dado por Jesus. BJ 1405

 

TEXTO BASE : Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe e nem se intimide o vosso coração - João 14 :27

 

João iniciou o capítulo 14 relatando uma conversa íntima com seus discípulos, no qual as primeiras palavras dirigidas àqueles homens é para que não tenham medo, mas que creiam que Jesus iria para um lugar onde prepararia moradas para seus filhos.

 

E, então olhando ao redor para aquele minúsculo grupo de homens, bem próximos de seu coração, e que para tão breves horas seriam destituídos de sua presença visível, Cristo falou-lhes do legado que estava deixando a eles. Materialmente pouco tinha a deixar. Até mesmo suas vestes se tornariam em breve uma propriedade dos soldados encarregados da execução na cruz. Porém havia algo que lhes daria... Paz... Um poderoso presente realmente! - Arthur John. É um presente celestial, um dom de Deus.

 

 

A NATUREZA DA PAZ

 

 

Origem na certeza de que somos filhos de Deus, e que seus planos em nossa vida serão uma realidade, porque colocamos nossa vida em suas mãos. Portanto, já não sois estrangeiros e adventícios, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Efésios 2: 19.

 

Os desígnios de Deus serão cumpridos em nós, transformando-nos segundo a sua imagem, que foi o plano original do Senhor ao criar o homem. Reconcilia-nos. E reconciliar por Ele e para Ele todos os seres, os da terra e dos céus, realizando a paz pelo sangue da cruz. Colossenses 1: 20.

 

Passaremos por aflições e adversidades, que embora travem temporariamente, não podem derrotar-nos, sabemos em quem confiar. Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem : Eu venci o mundo. João 16: 33

 

É um dos frutos do Espírito, que se manifesta na vida dos que são filhos de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei. Gálatas 5: 22.

 

As aflições redundarão em glória. Pois nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno da glória que elas nos preparam até o excesso. II Coríntios 4: 17.

 

A paz resulta justificação, e nos concede a certeza de um senso de bem estar. Tendo sido, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5: 1.

 

Abarca tudo quanto constitui o descanso, o contentamento e a autêntica felicidade de coração, à base da salvação cristã e da união vital com Cristo. A tribulação consiste tanto na perseguição vinda do exterior como na interrupção e perturbação causadas pelas fraquezas e pecados restantes dos remidos ou causados por este mundo ímpio. Não obstante, bem lá no fundo da alma, a paz continua a reinar, por mais que a superfície do oceano seja agitada pêlos ventos e tempestades da existência – Philip Schaff

 

Excede todo o entendimento, é algo que está acima de nossa compreensão. Então a paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus. Filipenses 4: 7.

 

Não há mais sentimento de culpa, lança fora as inquietações, e ansiedades e a vida passa a ser de inteira confiança em Deus.

 

EXPERÊNCIA : Intensa tempestade, e os tripulantes do barco estavam apavorados, enquanto um criança estava tranqüila como se nada estivesse ocorrendo, confiava no seu pai que estava no leme do barco.

 

 

CRISTO NOSSA PAZ

 

 

Este fruto do Espírito vem através do sangue de Jesus, reconciliando-nos, e Ele é o motivo de nossa paz, conforme as razões abaixo:

 

Cristo é o autor da paz. Ele é a nossa paz, personifica o Dom, concretizado na pessoa de Jesus. Todos que participarem desta comunhão participarão também desta benção.

 

A inimizade foi neutralizada por meio da cruz, esta inimizade era entre Deus e o homem, e entre cada ser humano. É dos presentes dados por Deus para enfrentarmos esta era perturbada. Trata-se de uma disposição mental e uma qualidade espiritual.

 

É confiança no tocante ao futuro, nos conserva vinculados a Jesus em atitude de fidelidade para com Ele e para com os seus ensinamentos. É um preâmbulo do que acontecerá no Céu, onde estaremos unidos gozando o ápice da harmonia. Cristo terminou sua missão universal ao instaurar uma nova realidade onde o ódio, vingança, morte serão coisas passadas.

 

Jesus é a personificação da paz, nos une e apesar de sermos pessoas diferentes, onde as individualidades existem estamos unidos mediante a comunhão com Cristo através do Espírito Santo.

 

Os que aceitam a Jesus promovem e são artesões da paz. Bem aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus. Mateus 5: 9.

 

É associada ao Reino vindouro do Messias. Esse é um dos aspectos da grande paz universal que Jesus Cristo inaugurará. Nele todas as coisas se cumprem: “Porque um menino nos nasceu, um Filho se nos deu, a Ele caberá o domínio e o seu nome será : Conselheiro, Maravilhoso, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da paz, para que se multiplique o domínio, assegurando o estabelecimento de uma paz sem fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmando-o e consolidando-o sobre o direito e sobre a justiça”. Isaías 9 : 5 e 6.

 

Quão graciosos sobre os montes são os pés do mensageiro, do que anuncia a paz, do que proclama as boas novas e anuncia a salvação, do que diz a Sião : O teu Deus reina. Isaías 52 : 7

Mas Ele foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado em virtude de nossas iniqüidades. O castigo que havia de nos trazer a paz caiu sobre Ele, sim, por suas feridas fomos curados. Isaías 53 : 5

Ele eliminará os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será eliminado. Ele anunciará a paz às nações. O seu domínio irá de mar a mar e do Rio às extremidades da terra. Zacarias 9 : 10.

 

De ambos fez um – No Senhor são eliminadas todas as barreiras e preconceitos, dá acesso a todo aquele que se aproximar.

Ah! Todos vós que tendes sede, vinde à água, vós, os que não tendes dinheiro, comprai e comei; comprai sem dinheiro, e sem pagar, vinho e leite. Isaías 55 :1.

 

Ali Hafed homem rico, residia no Irã, possuía uma bela família, fazenda, carneiros e ovelhas, se dizia contente. Sacerdote fala sobre diamantes que brilhavam como os raios do sol, poderiam ser encontrados nas montanhas onde havia águas cristalinas, vendeu sua propriedade, confiou a família a uma amigo e saiu em busca. Foi ao Egito, Palestina, peregrinou e tudo perdeu, desolado subiu ao penhasco e colocou fim a sua vida em um rio precipício abaixo. O novo proprietário da fazenda achou uma pedra reluzente e bruta, o sacerdote perguntou onde havia encontrado, e ele disse que onde os camelos bebiam água na propriedade onde havia águas cristalinas um pouco acima. Foram lá me encontraram mais diamantes dos quais o maior do mundo que hoje pertence à rainha da Inglaterra, um outro que pertenceu ao Czar da Rússia e um outro que faz parte do tesouro Persa.

 

Filipenses: 4 : 6 e 7 - Quando somos justificados a ansiedade é lançada fora, e depositamos nossa confiança em Jesus. Sendo justificados por Jesus depositamos a confiança NELE e mesmo em meio a ocasiões que para nós são insolúveis , estaremos em tranqüilidade de espírito, porque depositamos nossa confiança no Senhor, e a maneira de encararmos a vida será de inteira confiança no Senhor.

 

EXPERIÊNCIA : Moça casou-se com um militar que foi transferido para participar de exercícios bélicos no deserto da Califórnia, o esposo disse que lá seria muito difícil ficar devido às adversidades do local, mas ela insistiu e foram. Residiam em uma choupana perto do acampamento, muitas vezes ele ficava 15 dias fora em treinamento militar. A princípio ela não via problema, mas com o passar do tempo e no verão com temperatura próxima aos 50 graus, e a solidão intensa ela resolveu voltar, então escreveu uma carta a sua mãe revelando seus planos. Uma semana depois sua mãe respondia dizendo:

Junto às grades da prisão, dois homens estão sentados, um só vê lama suja, o outro o céu estrelado.

 

Naquela noite ela contemplou o céu da Califórnia, uma rara beleza do Criador, no dia seguinte saiu e encontrou duas índias e logo fizeram amizade, e ela começou a interessar-se pelo deserto, e os costumes dos índios, então se dedicou a escrever sobre suas pesquisas, tornando-se uma profunda conhecedora da região. Não são os lugares que fazem as pessoas, mas as pessoas que fazem os lugares. Quando somos justificados por Jesus e recebemos esta paz que excede todo entendimento, o medo dá lugar a uma tranqüilidade.

 

À tarde deste dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas onde se achavam os discípulos, por medo dos judeus, Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes disse : A paz esteja convosco! ... Ele lhes disse de novo: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vos envio. João 20: 19 e 21

 

ILUSTRAÇÃO FINAL: Um monge observa no penhasco, um caminho bem estreito, e duas cabras monteses ali se encontram, uma subindo e outra descendo, quando se encontram uma deita-se e a outra passa, não eram animais de briga, mas de paz.  

 

 

Os Pacificadores São Filhos de Deus

 

 

Cristo é o Príncipe da Paz Isaias 9: 6, e é Sua missão restituir a Terra e ao Céu a paz que o pecado arrebatou. Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5: 1. Todo aquele que consente em renunciar ao pecado, e abre o coração ao amor de Cristo, torna-se participante dessa paz celestial.

 

Não há outra base de paz senão essa. A graça de Cristo, recebida no coração, subjuga a inimizade; afasta a contenda, e enche o coração de amor. Aquele que se acha em paz com Deus e seus semelhantes, não se pode tornar infeliz. Em seu coração não se achará a inveja; ruins suspeitas aí não encontrarão guarida; o ódio não pode existir. O coração que se encontra em harmonia com Deus partilha da paz do Céu, e difundirá ao redor de si sua bendita influência. O espírito de paz repousará qual orvalho sobre os corações desgostosos e perturbados pelos conflitos mundanos.

Os seguidores de Cristo são enviados ao mundo com a mensagem de paz. Quem quer que seja que, pela serena, inconsciente influência de uma vida santa, revelar o amor de Cristo; quem quer que, por palavras ou ações, levar outro a abandonar o pecado e entregar o coração a Deus, é um pacificador.

 

E bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Mateus 5: 9. O espírito de paz é um testemunho de sua ligação com o Céu. Envolve-os a suave fragrância de Cristo. O aroma da vida, a beleza do caráter, revelam ao mundo que eles são filhos de Deus. Vendo-os, os homens reconhecem que eles têm estado com Jesus. Todo aquele que ama é nascido de Deus. I João 4: 7. Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é Dele, mas todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Romanos 8: 9 e 14.

 

O restante de Jacó estará no meio de muitos povos, como orvalho do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem, nem depende dos filhos de homens. Miquéias 5: 7[62].

 

         10 - Bem-aventurados os que são perseguidos pôr causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.

 

         PERSEGUIDOS - O mundo ama o pecado e aborrece a justiça, e foi essa a causa de sua hostilidade para com Jesus. Todos quantos recusam Seu infinito amor, acharão o cristianismo um elemento perturbador. A luz de Cristo espanca as trevas que lhes cobrem os pecados, patenteando-se a necessidade de reforma. Ao passo que os que se submetem à influência do Espírito Santo começam lutar consigo mesmos, os que se apegam ao pecado combatem contra a verdade e seus representantes[63].

 

LEITURA ADICIONAL

 

Por que Vem a Ruína

 

A parábola dos dois filhos seguiu-se a da vinha. Numa Cristo expôs aos mestres judeus a importância da obediência. Na outra apontou as ricas bênçãos concedidas a Israel, e nestas mostra o reclamo de Deus a sua obediência. Apresentou-lhes a glória do propósito de Deus, que pela obediência poderiam ter cumprido. Removendo o véu do futuro mostrou como pela omissão de cumprir Seu propósito, toda a nação estava perdendo as bênçãos e acarretando ruína sobre si. 

 

Houve um homem, pai de família, disse Cristo, que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe. Mateus 21: 33.

O profeta Isaías faz uma descrição dessa vinha: Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha em um outeiro fértil. E a cercou, e a limpou das pedras, e a plantou de excelentes vides; e edificou no meio dela uma torre e também construiu nela um lagar; e esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Isaias 5: 1 e 2

 

O lavrador escolhe um pedaço de terra no deserto; cerca, limpa, lavra e planta-o de vides seletas, antecipando rica colheita. Espera que esse pedaço de terra, por sua superioridade ao deserto inculto, o honre pelos resultados de seu cuidado e serviço. Assim Deus escolheu um povo do mundo para ser instruído e educado por Cristo. Diz o profeta: A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias. Isaias 5: 7. A este povo outorgou Deus grandes privilégios, abençoando-o ricamente com Sua profusa bondade. Esperava que O honrassem produzindo frutos. Deveriam revelar os princípios de Seu reino. No meio de um mundo decaído e ímpio deveriam representar o caráter de Deus. 

Como a vinha do Senhor, deveriam produzir frutos inteiramente diferentes dos das nações pagãs. Estes povos idólatras entregaram-se inteiramente à impiedade. Violência e crime, avareza e opressão, e as práticas mais corruptas eram permitidas sem restrições. Iniqüidade, degradação e miséria eram frutos da árvore corrupta. Em notável contraste deveriam ser os frutos da vinha do Senhor. 

 

Tinha a nação judaica o privilégio de representar o caráter de Deus como fora revelado a Moisés. Em resposta à súplica de Moisés: Rogo-Te que me mostres a Tua glória, o Senhor lhe prometeu: Farei passar toda a Minha bondade por diante de ti. Êxodo 33: 18 e 19. Passando, pois, o Senhor perante a sua face, clamou: Iahweh, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniqüidade, e a transgressão, e o pecado. Êxodo 34: 6 e 7. Este era o fruto que Deus desejava receber de Seu povo. Na pureza do caráter, na santidade da vida, na misericórdia, e amor, e compaixão, deveriam mostrar que a lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma. Salmo 19: 7.

 

Pela nação judaica era o propósito de Deus comunicar ricas bênçãos a todos os povos. Por Israel devia ser preparado o caminho para a difusão de Sua luz a todo o mundo. Por seguirem práticas corruptas perderam as nações da Terra o conhecimento de Deus. Contudo, em Sua misericórdia não as destruiu. Planejava dar-lhes a oportunidade de conhecê-Lo por intermédio de Sua igreja. Tinha em vista que os princípios revelados por Seu povo seriam o meio de restaurar no homem a imagem moral de Deus. 

 

Para o cumprimento deste propósito, foi que Deus chamou Abraão dentre seus parentes idólatras, e lhe mandou habitar na terra de Canaã. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. Gênesis 12: 2.Os descendentes de Abraão, Jacó e sua posteridade, foram levados ao Egito para que no meio daquela grande e ímpia nação revelassem os princípios do reino de Deus. A integridade de José e sua maravilhosa obra em preservar a vida de todo o povo egípcio, era uma representação da vida de Cristo. Moisés e muitos outros eram testemunhas de Deus. 

 

Tirando Israel do Egito, o Senhor novamente mostrou Seu poder e misericórdia. Suas maravilhosas obras no livramento da escravidão e Seu modo de proceder para com eles em suas peregrinações pelo deserto, não eram somente para seu próprio benefício. Deveriam ser uma lição objetiva para as nações circunvizinhas. O Senhor Se revelou como Deus sobre toda autoridade e grandeza humanas. Os sinais e maravilhas que operou a favor de Seu povo, revelaram Seu poder sobre a Natureza e sobre o maior dos que a adoravam. Deus passou pelo altivo Egito como passará nos últimos dias por toda a Terra. Com fogo e tempestade, terremoto e morte, o grande Eu Sou livrou Seu povo; tirou-os da terra da escravidão. Conduziu-os através daquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de secura. Deuteronômio 8: 15. Fez sair água para eles da rocha do seixal Deuteronômio 8: 15, e alimentou-os com trigo do Céu. Salmo 78: 24. Porque, disse Moisés, a porção do Senhor é o Seu povo; Jacó é a parte da Sua herança. Achou-o na terra do deserto e num ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as suas asas, assim, só o Senhor o guiou; e não havia com ele deus estranho. Deuteronômio 32: 9 a 12. Deste modo atraiu-os a Si para que habitassem sob a sombra do Altíssimo.

 

Cristo era o guia dos filhos de Israel em suas peregrinações no deserto. Envolto na coluna de nuvem durante o dia e na de fogo durante a noite, os conduziu e guiou. Preservou-os dos perigos do deserto; levou-os à terra da promessa, e diante de todas as nações que não conheciam a Deus, estabeleceu Israel como Sua possessão peculiar, a vinha do Senhor. 

 

A este povo foram confiados os oráculos de Deus. Eram circunvalados pelos preceitos de Sua lei, os eternos princípios de verdade, justiça e pureza. A obediência a estes princípios devia ser sua proteção, pois os no meio da terra Seu santo templo. 

 

Cristo era o instrutor. Como estivera com eles no deserto, assim também continuaria a ser o mestre e guia. No tabernáculo e no templo Sua glória habitava no santo shekinah sobre o propiciatório. Em favor deles manifestou constantemente as riquezas de Seu amor e paciência. 

 

Deus desejava fazer do povo de Israel um louvor e glória. Todos os privilégios espirituais lhes foram concedidos. Deus nada reteve que pudesse ser útil para a formação do caráter que os tornaria representantes Seus. 

 

Sua obediência à lei de Deus os tornaria uma maravilha de prosperidade ante as nações do mundo. Ele que lhes podia dar sabedoria e perícia em todo artifício, continuaria a ser seu mestre, e os enobreceria e elevaria pela obediência a Suas leis. Se fossem obedientes seriam preservados das enfermidades que afligiam outras nações, e abençoados com vigor intelectual. A glória de Deus, Sua majestade e poder deveriam ser revelados em toda a sua prosperidade. Deveriam ser um reino de sacerdotes e príncipes. Deus lhes proveu toda a possibilidade de se tornarem a maior nação da Terra. 

 

De modo definido, mediante Moisés, apresentou-lhes Cristo o propósito de Deus, e esclareceu-lhes as condições de sua prosperidade. Povo santo és ao Senhor, teu Deus, disse Ele: O Senhor, teu Deus, te escolheu, para que Lhe fosses o Seu povo próprio, de todos os povos que sobre a Terra há. Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que O amam e guardam os Seus mandamentos. Guarda, pois, os mandamentos, e os estatutos, e os juízos que hoje te mando fazer. Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os guardardes e fizerdes, o Senhor, teu Deus, te guardará o concerto e a beneficência que jurou a teus pais; e amar-te-á, e abençoar-te-á, e te fará multiplicar, e abençoará o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, o teu cereal, e o teu mosto, e o teu azeite, e a criação das tuas vacas, e o rebanho do teu gado miúdo, na terra que jurou a teus pais dar-te. Bendito serás mais do que todos os povos... E o Senhor de ti desviará toda enfermidade; sobre ti não porá nenhuma das más doenças dos egípcios, que bem sabes. Deuteronômio 7: 6, 9, 11 a 15.

 

Se guardassem os mandamentos, Deus lhes prometeu dar o mais belo trigo e tirar-lhes mel da rocha. Com longa vida os havia de satisfazer e havia de mostrar-lhes Sua salvação. 

 

Por desobediência a Deus, Adão e Eva perderam o Éden, e por causa do pecado toda a Terra foi amaldiçoada. Mas se o povo de Deus seguisse as instruções, sua terra seria restaurada à fertilidade e beleza. Deus mesmo lhes dera ensinos quanto à cultura do solo, e deveriam cooperar em sua restauração. Assim, toda a Terra, sob a direção de Deus, se tornaria uma lição objetiva da verdade espiritual. Assim como, em obediência às leis naturais, a terra deve produzir seus tesouros, da mesma forma, como em obediência à Sua lei moral o coração do povo deveria refletir os atributos de Seu caráter em obediência à Sua lei moral. Até os pagãos reconheceriam a superioridade dos que servem e adoram o Deus vivo.

 

Vedes aqui, disse Moisés, vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os, pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que ouvirão todos estes estatutos e dirão: Só este grande povo é gente sábia e inteligente. Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que O chamamos? E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós? Deuteronômio 4: 5 a 8

 

O povo de Israel deveria ocupar todo o território que Deus lhes designara. As nações que rejeitassem o culto ou o serviço do verdadeiro Deus deveriam ser desapossadas. Era propósito de Deus, que pela revelação de Seu caráter por meio de Israel, os homens fossem atraídos a Ele. O convite do evangelho deveria ser transmitido a todo mundo. Pela lição do sacrifício simbólico, Cristo deveria ser exaltado perante as nações, e todos os que O olhassem viveriam. Todos os que, como Raabe, a cananéia, e Rute, a moabita, se volvessem da idolatria ao culto do verdadeiro Deus, deveriam unir-se ao povo escolhido. Quando o número de Israel aumentasse, deveriam ampliar os limites até que seu reino abarcasse o mundo. 

 

Deus desejava trazer todos os povos sob Seu governo misericordioso. Desejava que a Terra se enchesse de alegria e paz. Criou o homem para a felicidade, e anseia encher da paz do Céu o coração humano. Anela que as famílias da Terra sejam um tipo da grande família do Céu. 

 

Israel, porém, não cumpriu o propósito de Deus. O Senhor declarou: Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para Mim uma planta degenerada, de vide estranha? Jeremias 2: 21. Israel é uma vide frondosa; dá fruto para si mesmo. Oséias 10: 1. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre Mim e a Minha vinha. Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? E como, esperando Eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? Agora, pois, vos farei saber o que Eu hei de fazer à Minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derribarei a sua parede, para que seja pisada; e a tornarei em deserto; não será podada, nem cavada; mas crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque... Esperou que exercessem juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor. Isaias 5: 3 a 7.

 

Por intermédio de Moisés o Senhor expôs ao povo as conseqüências da infidelidade. Recusando guardar Seu pacto, segregar-se-iam da vida de Deus, e Suas bênçãos não poderiam descer sobre eles. Guarda-te, disse Moisés, para que te não esqueças do Senhor, teu Deus, não guardando os Seus mandamentos, e os Seus juízos, e os Seus estatutos, que hoje te ordeno; para que, porventura, havendo tu comido, e estando farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado as tuas vacas e as tuas ovelhas, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se não eleve o teu coração, e te esqueças do Senhor, teu Deus... E não digas no teu coração: A minha força e a fortaleza do meu braço me adquiriram este poder. Será, porém, que, se, de qualquer sorte, te esqueceres do Senhor, teu Deus, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu protesto contra vós que certamente perecereis. Como as gentes que o Senhor destruiu diante de vós, assim vós perecereis; porquanto não quisestes obedecer à voz do Senhor, vosso Deus. Deuteronômio. 8: 11 a 14, 17, 19 e 20

 

A advertência não foi atendida pelo povo judeu. Esqueceram-se de Deus, e perderam de vista o alto privilégio de representantes Seus. As bênçãos que receberam não reverteram em bênçãos para o mundo. Todas as prerrogativas foram usadas para a glorificação própria. Roubaram a Deus do serviço que deles requeria, e roubaram a seus semelhantes à direção religiosa e o santo exemplo. Como os habitantes do mundo antediluviano, seguiam toda imaginação de seu coração mau. Assim faziam as coisas sagradas parecerem uma farsa, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este. Jeremias 7: 4, ao passo que representavam falsamente o caráter de Deus, desonrando-Lhe o nome, e poluindo o Seu santuário. 

 

Os lavradores a quem Deus colocara como guardas de Sua vinha, foram infiéis à missão a eles confiada. Os sacerdotes e mestres não eram fiéis instrutores do povo. Não lhes expunham a bondade e misericórdia de Deus, e Seu direito a Seu amor e serviço. Esses lavradores procuravam a própria glória. Desejavam apropriar-se dos frutos da vinha. Era seu intento atrair para si a atenção e homenagem. 

 

A culpa destes guias de Israel não era a mesma que a do pecador vulgar. Estes homens estavam sob a mais solene obrigação para com Deus. Haviam-se comprometido a ensinar um Assim diz o Senhor, e a prestar estrita obediência na vida prática. Em vez de assim proceder, estavam pervertendo as Escrituras. Sobrecarregavam os homens com pesados fardos, obrigando-os à prática de cerimônias que se relacionavam com cada passo da vida. O povo vivia em contínuo desassossego; porque não podiam cumprir todas as exigências impostas pelos rabinos. Ao verem a impossibilidade de guardar os mandamentos dos homens, tornaram-se negligentes em guardar os de Deus. 

 

O Senhor instruíra o povo de que Ele era o proprietário da vinha, e que todas as possessões somente lhes foram confiadas para usá-las para Ele. Os sacerdotes e mestres, porém, não executavam os deveres de seu ofício sagrado como se estivessem administrando a propriedade de Deus. Roubavam-Lhe sistematicamente os meios e recursos a eles confiados para o progresso da obra. Sua avareza e ganância levaram-nos a ser desprezados até pelos pagãos. Assim foi dada oportunidade aos gentios para interpretarem mal o caráter de Deus e as leis de Seu reino. 

 

Deus suportou Seu povo com coração de pai. Pleiteou com eles por bênçãos dadas e retiradas. Pacientemente lhe expôs seus pecados, e com longanimidade esperava seu reconhecimento. Profetas e mensageiros foram enviados para reclamar os direitos de Deus sobre os lavradores; mas em vez de serem bem-vindos, eram tratados como inimigos. Os lavradores perseguiam-nos e matavam-nos. Deus enviou ainda outros mensageiros, porém receberam o mesmo tratamento que os primeiros, apenas os lavradores mostraram ódio ainda mais decidido. 

 

Como último recurso, Deus enviou Seu Filho, dizendo: Terão respeito a Meu filho. Mateus 21: 37. Mas a sua resistência tornara-os vingativos, e disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-Lo e apoderemos-nos da Sua herança. Mateus 21: 38. Então ser-nos-á permitido possuir a vinha, e faremos o que nos aprouver com o fruto. 

 

Os maiorais judeus não amavam a Deus. Por isso romperam com Ele e rejeitaram todas as propostas para uma reconciliação justa. Cristo, o Amado de Deus, veio para reivindicar os direitos do Proprietário da vinha; mas os lavradores O trataram com declarado desprezo, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. Invejavam a beleza do caráter de Cristo. Sua maneira de ensinar era muito superior à deles e temiam Seu êxito. Argumentava com eles desmascarando-lhes a hipocrisia, e mostrando-lhes a conseqüência certa de seu procedimento. Isso lhes provocou a ira ao extremo. Torturavam-se ante as repreensões que não podiam silenciar. Odiavam o alto padrão de justiça que Cristo constantemente apresentava. Viam que Seus ensinos acabariam revelando seu egoísmo, e resolveram matá-Lo. Odiavam Seu exemplo de fidelidade e piedade, e a elevada espiritualidade revelada em tudo quanto fazia. Toda a Sua vida lhes era uma reprovação do egoísmo, e ao chegar à prova final, prova que significava obediência para vida eterna ou desobediência para morte eterna, rejeitaram o Santo de Israel. Ao ser-lhes pedido escolherem entre Cristo e Barrabás, exclamaram: Solta-nos Barrabás. Lucas 23: 18. E ao perguntar Pilatos: Que farei, então, de Jesus? Gritaram: Seja crucificado! Mateus 27: 22. Hei de crucificar o vosso Rei? Interrogou Pilatos; e dos sacerdotes e maiorais veio à resposta: Não temos rei, senão o César. João 19: 15. Ao lavar Pilatos as mãos, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo, os sacerdotes uniram-se à turba ignorante, gritando exaltados: O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos. Mateus 27: 24 e 25

 

Desse modo os guias judeus fizeram a escolha. Sua decisão foi registrada no livro que João viu na mão Daquele que estava assentado no trono, no livro que ninguém podia abrir. Essa decisão lhes será apresentada em todo o seu caráter reivindicativo naquele dia em que o livro há de ser aberto pelo Leão da tribo de Judá. 

O povo judeu acariciava a idéia de que eram os favoritos do Céu, e seriam sempre exaltados como igreja de Deus. Eram filhos de Abraão, declaravam, e o fundamento de sua prosperidade parecia-lhes tão firme, que desafiavam Terra e Céu para desapossá-los de seus direitos. Por sua conduta infiel, porém, estavam-se preparando para a condenação do Céu e separação de Deus. 

 

Na parábola da vinha, depois de retratar aos sacerdotes o ato culminante de sua impiedade, Cristo lhes fez a pergunta: Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Mateus 21: 40. Os sacerdotes acompanhavam com profundo interesse a narrativa, e sem considerar sua relação com o tema, uniram-se à resposta do povo: Dará afrontosa morte aos maus e arrendará a vinha a outros lavradores, que, há seu tempo, lhe dêem os frutos. Mateus 21: 41.

 

Inconscientemente pronunciaram sua própria condenação. Jesus mirou-os, e sob Seu olhar esquadrinhador sabiam que lhes lia os segredos do coração. Sua divindade lampejava diante deles com poder inconfundível. Viram nos lavradores seu próprio retrato e exclamaram, involuntariamente: Assim não seja.

 

Solene e pesarosamente, perguntou Cristo: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isso e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre esta pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. Mateus 21: 42 a 44

 

Cristo teria mudado o destino da nação judaica, se o povo O houvesse recebido. Inveja e ciúme os tornaram implacáveis, porém. Decidiram que não aceitariam a Jesus de Nazaré como o Messias. Rejeitaram a Luz do mundo, e daí em diante sua vida estava envolta em trevas tão densas como as da meia-noite. A predita ruína veio sobre a nação judaica. Suas próprias paixões violentas e irrefreadas lhes causaram a destruição. Em sua ira cega aniquilaram-se uns aos outros. Pelo orgulho rebelde e obstinado atraíram sobre si à ira dos conquistadores romanos. Jerusalém foi destruída, arrasado o templo, e seu sítio arado como um campo. Os filhos de Judá pereceram pelas mais horríveis formas de matança. Milhões foram vendidos para servirem como escravos nos países pagãos. 

 

Como povo os judeus deixaram de cumprir o propósito de Deus, e a vinha lhes foi tirada. Os privilégios de que abusaram e a obra que negligenciaram foram confiados a outros. 

 

 

A Igreja Atual

 

 

 

A parábola da vinha não se aplica somente à nação judaica. Ela tem uma lição para nós. À igreja desta geração Deus concedeu grandes privilégios e bênçãos, e espera os frutos correspondentes. 

 

Fomos redimidos por um resgate precioso. Somente pela grandeza do resgate podemos conceber seus resultados. Nesta Terra, a Terra cujo solo foi umedecido pelas lágrimas e pelo sangue do Filho de Deus, devem ser produzidos os preciosos frutos do Paraíso. As verdades da Palavra divina devem manifestar na vida dos filhos de Deus sua glória e excelência. Mediante Seu povo revelará Cristo Seu caráter e as bases do Seu reino. 

 

Satanás procura frustrar a obra de Deus, e insistentemente incita os homens a aceitar seus princípios. Apresenta o povo escolhido de Deus como um povo iludido. É um delator dos irmãos, e dirige constantemente acusações contra os que trabalham fielmente. O Senhor deseja refutar por meio de Seu povo as acusações do diabo, mostrando os resultados da obediência a justos princípios. 

 

Esses princípios devem manifestar-se no cristão individual, na família, na igreja, e em toda instituição estabelecida para o serviço de Deus. Todos devem ser símbolos do que pode ser feito para o mundo. Devem ser tipos do poder salvador das verdades do evangelho. Todos são instrumentos para o cumprimento do grande propósito de Deus para a humanidade. 

 

Os guias judeus olhavam com orgulho ao magnífico templo, e aos ritos imponentes de seu culto religioso, mas careciam de justiça, da misericórdia e do amor de Deus. A glória do templo, o esplendor do culto, não podiam recomendá-los a Deus; porque aquilo que somente tem valor a Seus olhos, não Lhe ofereciam. Não Lhe apresentavam o sacrifício de um espírito contrito e humilde. Quando se perdem os princípios vitais do reino de Deus é que as cerimônias se tornam múltiplas e extravagantes. Quando a edificação do caráter é negligenciada, quando falta o adorno da alma, quando se perde de vista a simplicidade da devoção, é que o orgulho e amor à ostentação exigem templos magníficos, adornos valiosos e cerimônias pomposas. Deus não é honrado por nada disso, porém. Não Lhe é aceitável uma religião da moda, que consiste em cerimônias, pretensão e ostentação. Em cultos tais os mensageiros celestes não tomam parte. 

 

A igreja é muito preciosa aos olhos de Deus. Ele não a avalia por suas prerrogativas exteriores, mas pela sincera piedade que a distingue do mundo. Estima-a segundo o crescimento dos membros no conhecimento de Cristo, segundo o progresso na experiência espiritual. 

 

Cristo anseia receber de Sua vinha os frutos da santidade e desinteresse. Espera os princípios de amor e benignidade. Toda a beleza da arte não pode ser comparada à do temperamento e caráter que devem ser revelados nos representantes de Cristo. A atmosfera de graça que circunda a alma do crente, o Espírito Santo que opera na mente e no coração, é que o faz um cheiro de vida para vida, e faculta a Deus o abençoar Sua obra. 

Uma congregação pode ser a mais pobre da Terra. Pode não ter atrativo algum de pompa exterior; mas se os membros possuírem os princípios do caráter de Cristo, terão Sua paz no espírito. Os anjos unir-se-ão a eles na adoração. O louvor e ação de graças de corações reconhecidos ascenderão a Deus como suave sacrifício. 

 

O Senhor deseja que façamos menção de Sua bondade e falemos de Seu poder. É honrado pela expressão de louvores e ações de graças. Diz: Aquele que oferece sacrifício de louvor Me glorificará. Salmo 50: 23. Quando jornadeava pelo deserto, o povo de Israel louvava a Deus com cânticos sacros. Os mandamentos e promessas de Deus eram postos em música, e durante toda a viagem cantavam-nos os viajantes peregrinos. E em Canaã, quando se congregassem nas festas sagradas, as maravilhosas obras de Deus deviam ser relembradas e oferecidas ações de graças ao Seu nome. Deus desejava que toda a vida de Seu povo fosse uma vida de louvor. Assim Seu caminho deveria tornar-se conhecido na Terra e em todas as nações, a Sua salvação. Salmo 67: 2

 

Assim deve ser agora. O povo do mundo está adorando deuses falsos. Devem ser desviados do falso culto, não por ouvir denúncia contra seus ídolos, mas vendo alguma coisa melhor. A bondade de Deus deve tornar-se notória. Vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus. Isaias 43: 12

 

O Senhor deseja que apreciemos o grande plano da redenção, reconheçamos o alto privilégio como filhos de Deus, e andemos perante Ele em obediência e com ações de graças. Deseja que O sirvamos em novidade de vida, com alegria diária. Anseia ver exalar gratidão de nosso coração, porque nossos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro, por podermos lançar todos os nossos cuidados sobre Aquele que está solícito por nós. Quer que nos alegremos porque somos herança do Senhor, porque a justiça de Cristo é a veste branca de Seus santos, porque temos a bem-aventurada esperança da breve volta de nosso Salvador. 

Louvar a Deus em plenitude e sinceridade de coração é tanto um dever quanto o é a oração. Devemos mostrar ao mundo e a todos os seres celestiais que apreciamos o maravilhoso amor de Deus à humanidade decaída, e esperamos maiores bênçãos de Sua infinita plenitude. Muito mais do que o fazemos, precisamos falar dos capítulos preciosos de nossa experiência. Depois de um derramamento especial do Espírito Santo, nossa alegria no Senhor e nossa eficiência em Seu serviço aumentariam grandemente com o recontar Sua bondade e Suas maravilhosas obras a favor de Seus filhos. 

 

Essas práticas reprimem o poder de Satanás. Expelem o espírito de murmuração e queixa, e o tentador perde terreno. Cultivam aqueles atributos de caráter que habilitarão os moradores da Terra para as mansões celestes. 

 

Um tal testemunho terá influência sobre outros. Não pode ser empregado meio mais eficaz de conquistá-los para Cristo. 

 

Devemos louvar a Deus com total dedicação, fazendo todo esforço para promover a glória de Seu nome. Deus nos comunica Suas dádivas para que também demos, e deste modo revelemos Seu caráter ao mundo. Na dispensação judaica,  as dádivas e oferendas formavam uma parte essencial do culto a Deus. Os israelitas eram ensinados a consagrar ao serviço do santuário o dízimo de toda renda.

 

Além disso deviam trazer ofertas expiatórias, ofertas voluntárias e ofertas de gratidão. Esses eram os meios para sustentar o ministério do evangelho naquele tempo. Deus não espera menos de nós do que do povo antigamente. A grande obra da salvação precisa ser levada avante. Pelo dízimo, ofertas e dádivas o fez provisão para esta obra. Desse modo pretende seja sustentada a pregação do evangelho. Reclama o dízimo como Sua propriedade, e o mesmo deveria ser sempre considerado uma reserva sagrada a ser depositada no Seu tesouro para o benefício de Sua causa. Pede também nossas ofertas voluntárias e dádivas de gratidão. Tudo deve ser consagrado para enviar o evangelho às partes mais remotas da Terra. 

 

O serviço a Deus inclui o ministério pessoal. Pelo esforço pessoal devemos com Ele cooperar para a salvação do mundo. A ordem de Cristo: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Marcos 16: 15, é dirigida a todos os Seus seguidores. Todos os que são chamados à vida de Cristo, o são também para trabalhar pela salvação do próximo. Seu coração palpitará em harmonia com o de Cristo. A mesma paixão que Ele sentiu pela humanidade será manifesta neles. Nem todos podem preencher o mesmo lugar na obra, mas há lugar e trabalho para todos.

 

Nos tempos antigos, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés com sua mansidão e sabedoria, e Josué com suas várias aptidões, estavam todos alistados no serviço de Deus. A música de Miriã, a coragem e piedade de Débora, a afeição filial de Rute, a obediência e fidelidade de Samuel, a austera retidão de Elias, a influência enternece Dora e subjugante de Eliseu, foram todas necessárias. Assim, agora, quem participar das bênçãos de Deus deve responder por um serviço ativo; toda dádiva deve ser empregada na propagação de Seu reino, e glória de Seu nome.

 

Todos os que aceitam a Cristo como Salvador pessoal devem demonstrar a verdade do evangelho e seu poder salvador na vida. Deus nada requer sem prover os meios para o cumprimento. Pela graça de Cristo podemos cumprir tudo quanto Deus exige. Todas as riquezas do Céu devem ser reveladas pelo povo de Deus. Nisto é glorificado Meu Pai, disse Cristo, que deis muito fruto; e assim sereis Meus discípulos. João 15: 8

 

Deus reclama toda a Terra como Sua vinha. Embora nas mãos do usurpador, pertence a Deus. É Sua não menos pela redenção que pela criação. Para o mundo foi feito o sacrifício de Cristo. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito. João 3: 16. Por esta única dádiva são concedidas aos homens todas as outras. Diariamente todo o mundo recebe de Deus bênçãos. Cada gota de chuva, cada raio de luz que cai sobre esta geração ingrata, cada folha, e flor, e fruto testifica da longanimidade de Deus e de Seu grande amor. 

 

E que retribuição é feita ao grande Doador? Como tratam os homens os reclamos divinos? A quem dão as multidões o serviço de sua vida? Servem a Mamom. Riqueza, posição, prazeres mundanos, são seu alvo. A riqueza é ganha pelo roubo não somente dos homens, mas de Deus. Os homens usam as dádivas para satisfazer seu egoísmo. Tudo de que podem apoderar-se é usado para servir a sua avareza e amor aos prazeres egoístas. 

 

O pecado do mundo moderno é o pecado que arruinou a Israel. Ingratidão para com Deus, menosprezo das oportunidades e bênçãos, a egoísta apropriação das dádivas de Deus, tudo isso estava compreendido no pecado que trouxe sobre Israel à ira de Deus. Isso está causando hoje a ruína do mundo. 

 

As lágrimas que Cristo derramou no Monte das Oliveiras, ao contemplar a cidade escolhida, não eram somente por Jerusalém. No destino de Jerusalém, viu a destruição do mundo. 

 

Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas, agora, isso está encoberto aos teus olhos. Lucas 19: 42. 

 

Neste teu dia. O dia está-se aproximando do fim. O período de graça e privilégio está prestes a findar. As nuvens da vingança estão-se acumulando. Os que rejeitaram a graça de Deus estão quase sendo tragados pela ruína rápida e inevitável. 

 

Contudo o mundo dorme. O povo não conhece o tempo de sua visitação. Nesta crise, onde se acha a igreja? Satisfazem seus membros os reclamos de Deus? Estão cumprindo Sua incumbência, e representam Seu caráter perante o mundo? Dirigem a atenção de seus semelhantes para a última misericordiosa mensagem de advertência?

Os homens estão em perigo. Multidões perecem. Mas quão poucos dos professos seguidores de Cristo sentem responsabilidade por essas pessoas! O destino de um mundo pende na balança; mas isso mal comove mesmo aqueles que dizem crer na verdade mais abarcante já dada aos mortais. Há uma carência daquele amor que induziu Cristo a deixar Seu lar celeste e assumir a natureza humana, para que a humanidade tocasse a humanidade, e a atraísse à divindade. Há um estupor, uma paralisia sobre o povo de Deus, que o impede de compreender o dever do momento. 

 

Quando os israelitas entraram em Canaã, não cumpriram o propósito de Deus, apossando-se de toda a Terra. Depois de fazer conquista parcial, assentaram-se para comemorar o fruto das vitórias. Na incredulidade e amor à comodidade congregaram-se na parte já conquistada, em vez de avançar para ocupar novos territórios. Desse modo começaram a alienar-se de Deus. Por haverem deixado de executar Seu propósito, tornaram-Lhe impossível cumprir as promessas de bênção. Não está fazendo o mesmo a igreja moderna? Com todo o mundo diante de si, cristãos professos, necessitados do evangelho, congregam-se onde podem receber os privilégios do mesmo. Não sentem a necessidade de ocupar novos territórios, levando a mensagem da salvação às regiões longínquas. Recusam cumprir o mandado de Cristo: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Marcos 16: 15. São menos culpados que a igreja judaica? 

 

Os pretensos seguidores de Cristo estão em prova diante de todo o universo celeste; mas a sua frieza de zelo e falta de empenho no serviço de Deus, qualifica-os de infiéis. Se o que fazem fosse o melhor que poderiam haver feito, sobre eles não pairaria condenação. Mas se seu coração estivesse dedicado à obra, poderiam fazer muito mais. Sabem, e o mundo também, que em alto grau perderam o espírito de abnegação e de carregar a cruz. Junto ao nome de muitos será escrito, nos livros do Céu: Não produtores, porém consumidores. Por muitos que levam o nome de Cristo, é obscurecida Sua glória, Sua beleza toldada, retida Sua honra. 

 

Muitos há cujos nomes estão nos livros da igreja, mas não sob o governo de Cristo. Não Lhe ouvem as instruções, nem fazem Sua obra. Por isto estão sob o domínio do inimigo. Não fazem positivamente bem, por isto produzem dano incalculável. Por sua influência não ser cheiro de vida para vida, é cheiro de morte para morte. 

 

O Senhor diz: Deixar-me-ia de castigar estas coisas? Jeremias 5: 9. Por não haverem cumprido o propósito de Deus, os filhos de Israel foram abandonados e o convite divino foi estendido a outros povos. Se estes também se provarem infiéis, não serão da mesma maneira rejeitados? 

 

Na parábola da vinha foram os lavradores que Cristo declarou culpados. Foram eles que recusaram devolver a seu Senhor o fruto da terra. Na nação judaica foram os sacerdotes e mestres que, desviando o povo, roubaram a Deus do serviço que requeria. Foram eles que afastaram de Cristo a nação. 

 

A lei de Deus, não misturada com tradições humanas, foi apresentada por Cristo como o grande padrão de obediência. Isto provocou a inimizade dos rabinos. Tinham colocado ensinos humanos acima da Palavra de Deus, e de Seus preceitos desviaram o povo. Não quiseram ceder seus próprios mandamentos para obedecer às reivindicações da Palavra de Deus.

 

Ao amor da verdade não quiseram sacrificar o orgulho da razão nem o louvor dos homens. Quando Cristo veio, apresentando à nação as reivindicações de Deus, os sacerdotes e anciãos Lhe negaram o direito de Se interpor entre eles e o povo. Não Lhe quiseram aceitar as reprovações e advertências, e propuseram-se a contra Ele instigar o povo e conseguir Sua morte. 

 

Eram responsáveis pela rejeição de Cristo e os resultados que se seguiram. O pecado e a ruína de todo o povo foram devidos aos guias religiosos. 

 

Em nossos dias não operam as mesmas influências? Dentre os lavradores da vinha do Senhor não estão muitos seguindo os passos dos guias judeus? Não estão mestres religiosos desviando os homens dos claros reclamos da Palavra de Deus? Em vez de educá-los na obediência à lei de Deus, não os estão educando na transgressão? De muitos púlpitos das igrejas, o povo é ensinado que a lei de Deus não lhes é obrigatória. Exaltam-se tradições, ordenanças e costumes humanos. São alimentados o orgulho e a satisfação própria pelas dádivas de Deus, ao passo que Seus direitos são ignorados. 

 

Pondo de lado a lei divina não sabem os homens o que estão fazendo. A lei de Deus é a expressão de Seu caráter. Nela estão contidos os princípios de Seu reino. Quem recusa aceitar estes princípios está-se excluindo do conduto por onde fluem as bênçãos de Deus. 

 

As gloriosas possibilidades apresentadas a Israel só poderiam ser realizadas pela obediência aos mandamentos de Deus. A mesma elevação de caráter, a mesma plenitude de bênçãos, bênção no espírito, alma e corpo, bênção na casa e no campo, bênção para esta vida e para a vindoura, somente é possível pela obediência. 

 

No mundo espiritual como no natural, obediência às leis de Deus é condição para a produção de frutos. E quando se ensina ao povo a desrespeitar os mandamentos de Deus, impede-se que produzam frutos para Sua glória. São culpados de privar o Senhor dos frutos de Sua vinha. 

 

Os mensageiros de Deus vêm a nós sob as ordens do Mestre. Vêm, como Cristo o fez, requerendo obediência à Palavra de Deus. Apresenta Ele Seus direitos aos frutos da vinha, os frutos de amor, humildade e serviço abnegado. Como os guias judeus, não são incitados à ira muitos dos lavradores da vinha? Quando são expostas ao povo as reivindicações da lei de Deus, não usam esses mestres sua influência para induzir os homens a rejeitá-la? A tais mestres Deus chama servos infiéis.

 

As palavras de Deus ao antigo Israel encerram uma advertência solene para a igreja moderna e seus guias. De Israel, diz o Senhor: Escrevi para eles as grandezas da Minha lei; mas isso é para ele como coisa estranha. Oséias 8: 12. E aos sacerdotes e mestres, declara: O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei,... Visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei de teus filhos. Oséias 4: 6

 

Permanecerão desatendidas as advertências divinas? Continuarão desaproveitadas as oportunidades para o serviço? Serão os professos seguidores de Cristo impedidos de servi-Lo pelo escárnio do mundo, o orgulho da razão, a conformação aos costumes e tradições humanos? Rejeitarão a Palavra de Deus, como os guias judeus rejeitaram a Cristo? A conseqüência do pecado de Israel está perante nós. Aceitará a igreja moderna a advertência? 

 

Se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories... Pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então, não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. Romanos 11: 17, 18, 20 e 21[64].

 

 

Os Perseguidos Recebem o Reino

 

A Seus seguidores não dá Jesus nenhuma esperança de glória ou riquezas terrestres ou de uma vida livre de tentações, mas mostra-lhes o privilégio de trilhar com o Senhor o caminho da abnegação e suportar calúnias do mundo que os não conhece.

 

A Ele que viera para salvar o mundo perdido, opuseram-se unidas as forças do inimigo de Deus e dos homens. Em cruel conspiração levantaram-se os homens e anjos maus contra o Príncipe da paz. Embora cada palavra e ação testificassem da compaixão divina, Sua falta de semelhança com o mundo provocava a mais amarga inimizade. Porque não consentisse em nenhuma inclinação má da natureza humana, despertou a mais feroz oposição e inimizade. Assim acontece a todos quantos desejam viver piamente em Cristo Jesus. Entre a justiça e o pecado, amor e ódio, verdade e falsidade há conflito irreprimível. Quem manifestar, na conduta, o amor de Cristo e a beleza da santidade, subtrai a Satanás os seus súditos, e por isso o príncipe das trevas contra ele se levanta. Opróbrio e perseguições atingirão a todos os que estão cheios do espírito de Cristo. A maneira das perseguições poderá mudar com o tempo, mas o fundamento o espírito que lhes serve de base é o mesmo que, desde os tempos de Abel, assassinou os escolhidos de Deus.

 

Logo que os homens procuram viver em harmonia com Deus, acharão que o escândalo da cruz ainda não findou. Principados, potestades e exércitos espirituais da maldade nos lugares celestiais, estão voltados contra todos os que se submetem obedientemente à lei celestial. Por isso, aos discípulos de Cristo, deveriam as perseguições causar alegria, em lugar de tristeza, porque elas são uma demonstração de que seguem os passos do Senhor. 

 

Conquanto o Senhor não prometa estarem Seus servos livres de perseguição, assegura-lhes coisa muito melhor. Diz Ele: A tua força será como os teus dias. Deuteronômio 33: 25. A Minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. II Corintios 12: 9. Quem precisar, por amor de Cristo, passar pelo calor da fornalha, terá ao lado o Senhor, como os três fiéis de Babilônia. Quem amar ao Redentor, alegrar-se-á em todas as ocasiões, de participar das Suas humilhações e insultos. O amor de Jesus torna doces os sofrimentos. 

 

Em todos os tempos, Satanás perseguiu, torturou e matou os filhos de Deus; mas, morrendo eles, tornaram-se vencedores. Testemunharam em sua perseverante fidelidade que Alguém mais poderoso que o inimigo, estava com eles. Satanás podia torturar-lhes o corpo e matá-los, mas não tocar na vida que, com Cristo, estava escondida em Deus. Encerrou-os nas masmorras, mas não pôde prender-lhes o espírito. Os prisioneiros, através da escuridão do cárcere, podiam olhar para a glória e dizer: Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Romanos 8: 18. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente. II Corintios 4: 17

 

Pelo sofrimento e perseguição, a glória o caráter de Deus será manifestada em Seus escolhidos. A igreja de Deus, odiada e perseguida pelo mundo, é educada e disciplinada na escola de Cristo; caminha na Terra pela estrada estreita, é purificada na fornalha da aflição, segue o Senhor através de duras batalhas, exercita-se na abnegação e sofre amargas experiências, mas reconhece por tudo isso a culpa e a miséria do pecado e aprende a afugentá-lo. 

 

Visto tomar parte nos sofrimentos de Cristo, o sofredor participará também de Sua glória. Em visão, contemplou o profeta a vitória do povo de Deus. Diz ele: E vi um como mar de vidro misturado com fogo e também os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor, Deus Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos! Apocalipse 15: 2 e 3. Estes são os que vieram de grande tribulação, lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus e O servem de dia e de noite no Seu templo; e Aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a Sua sombra. Apocalipse 7: 14 e 15[65].

 

 

- Texto: Itamar de Paula Marques.

 

 



[1] Desejado de Todas as Nações, p. 287.

[2] CBASD, vol. 5, p. 319.

[3] CBASD, vol. 5, p. 319.

[4] Mateus, Introdução e Comentário, R. V. G. Tasker, Mundo Cristão, p. 50.

[5] Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Mateus, Robert H. Mounse, Editora Vida, p. 52.

[6] Mateus, O Evangelho do Grande Rei, Myer Pearlman, CPAD, p. 36.

[7] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. 1, William Barclay. Editora Clie, pp. 131 a 133.

[8] O Segredo da Felicidade, Billy Graham, Casa Publicadora Batista, pp. 119 a 134.

[9] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 53.

[10] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 54.

[11] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 55.

[12] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 56.

[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 57.

[14] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 58.

[15] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 59.

[16] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 60.

[17] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 61.

[18] CBASD, vol. 3, p. 669.

[19] BJ, p. 960.

[20] BG, p. 622.

[21] Libertação nos Salmos, Hans K. LaRondelle, pp. 101 e 102.

[22] CBASD, vol. 3, p. 669.

[23] CBASD, vol. 3, p. 669.

[24] SI, Schökel-Carniti, GCB, p. 266.

[25] OATIVV, vol. 4, p. 2096.

[26] CBASD, vol. 3, p. 669.

[27] SI, ScOhökel-Carniti, GCB, p. 266.

[28] OATIVV, vol. 4, p. 2096

[29] BJ, p. 960.

[30] BG, p. 622.

[31] Libertação nos Salmos, Hans K. LaRondelle, p. 102.

[32] BG, p. 622.

[33] CBASD, vol. 3, p. 669.

[34] BG, p. 669.

[35] OATIVV, vol. 4, p. 2096.

[36] CBASD, vol. 3, p. 669.

[37] CBASD, p. 669.

[38] CBASD, vol. 3, p. 669.

[39] Libertação nos Salmos, Hans K. LaRondelle, pp. 103 a 105.

[40] CBASD, vol. 3, pp. 669 e 670.

[41] OATIVV, vol. 4, p. 2096.

[42] CBASD, vol. 3, p. 670.

[43] Libertação nos Salmos, Hans K. LaRondelle, pp. 105 a 108.

[44] CBASD, vol. 3, p. 670.

[45] CBASD, vol. 3, p. 670.

[46] CBASD, vol. 3, p. 670.

[47] BJ, p. 960.

[48] BG, p. 622.

[49] CBASD, vol. 3, p. 670.

[50] OVTIVV, vol. 4, p. 2097.

[51] MM, 1998, Donald Ernest Mansell, p. 126.

[52] MM, 1992, Donald Ernest Mansell, p. 186.

[53] BG. p. 622.

[54] CBASD, vol. 3, p. 670.

[55] OATIVV, vol. 4, p. 2097.

[56] OATIVV, vol. 4, p. 2097.

[57] CBASD, vol. 3, p. 670.

[58] OATIVV, vol. 4, p. 2097.

[59] CBASD, vol. 3, p. 670.

[60] OATIVV, vol. 4, p. 2097.

[61] Libertação nos Salmos, Hans K. LaRondelle, pp. 108 a 109.

[62] O Maior Discurso de Cristo, pp. 27 e 28.

[63] Desejado de Todas as Nações, p. 287.

[64] Parábolas de Jesus, Ellen Gold White, CPB, pp. 284 a 306.

[65] O Maior Discurso de Cristo, pp. 29 a 31.