24º

 

O PÃO NOSSO

 

Mateus 6

 

11 - O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.

Na primeira parte do Pai Nosso, os versos 9 e 10 relacionam o atendimento à paternidade, ao caráter, ao reino e à vontade de Deus. Na segunda parte da oração, versos 11 a 13, o pedido é para que sejam cobertas as necessidades temporárias e espirituais do homem. 

Era o povo, gente comum, que ouvia a Jesus de boa vontade (Marcos 12: 37). Em sua maioria se tratava de humildes pescadores, agricultores e obreiros. De tais pessoas estava composta a multidão que escutava a Jesus na ladeira do monto junto à planície de Genesaré e o mar de Galileia. Muitos deles não tinham emprego fixo e suas condições de vida eram precárias. Havia ali poucas pessoas que, devido à seca, aos impostos excessivos, ou a outras penalidades, não tivessem conhecido a fome ou a necessidade em algum modo. Como costuma ocorrer, quem tem escassez de bens terrenos sente mais vivamente sua dependência de Deus para suprir suas necessidades materiais que os que têm o suficiente e de sobra. 

Ainda quem tem abundância de pão e de bens terrenos fariam bem em recordar que é Deus quem dá o poder para fazer as riquezas (Deuteronômio 8: 18). Jesus demonstrou claramente esta verdade na parábola do rico néscio (Lucas 12: 16 a 21). Tudo o que temos procede de Deus e no coração sempre deveria ter gratidão por sua bondade. O pão nosso de cada dia inclui tanto os bens espirituais como os físicos[1].

CADA DIA – É a tradução tradicional e provável de uma palavra difícil. Outras foram propostas, como: necessária à subsistência e de amanhã. Seja como for, a ideia fundamental é que devemos pedir a Deus o sustento indispensável à vida material, mas nada senão isso, assim nem a riqueza nem a opulência. Os Pais da Igreja aplicaram esse texto à nutrição da fé, o pão da palavra de Deus que é o pão eucarístico[2].

Grego: epióusios, palavra que aparece no NT só aqui e em Lucas11:3. Desconhece-se o sentido exato desta palavra. Aparece também num antigo arquivo doméstico onde parece referir-se ao alimento necessário para o dia seguinte. Alguns dos significados que se lhe atribuem são:

1. O necessário para existir

2. Para o dia presente

3. Para o dia vindouro. 

As palavras de Mateus 6: 34 tendem a apoiar a ideia de que se refere a uma provisão diária suficiente para manter a vida[3]

        

DÁ-NOS HOJE O PÃO PARA ESTE DIA

Poderíamos pensar que este é o único pedido da Oração do Senhor sobre o qual o significado não pode haver a menor dúvida. Parece ser a mais simples e direta de todas. Mas o fato é que teólogos têm oferecido muitas interpre­tações dela. Antes de considerar seu significado mais simples e óbvio, vejamos algumas das outras explicações propostas.

1. O pão tem se identificado como a Mesa do Senhor. Desde o princípio, a Oração do Senhor se tem conectado intimamente com a Mesa do Senhor. Nas ordens de culto mais antigas que conhecemos, sempre se estabelecia que a Oração do Senhor se fizesse em algum momento da celebração da Comunhão. Daí que alguns tem tomado este pedido como uma oração para que se nos conceda o privi­légio diário de sentarmos à Mesa do Senhor e de comer o alimento espiritual que recebemos ali.

2. O pão se tem identificado como o alimento espiritual da Palavra de Deus, como cantamos nos hinos cristãos. Assim é que este pedido se tem tomado como uma oração pelo verdadeiro ensino, a verdadeira doutrina, a verdade essencial, que estão nas Escrituras é a Palavra de Deus, e que são sem dúvida comida para a mente, para o coração e a alma de toda pessoa crente.

3. O pão se tem considerado que representa a Jesus. Ele mesmo chamou-se a si mesmo como o Pão da vida (João 6: 33 a 35). Esta tem se tormado uma oração para que possamos nos alimentar diariamente Dele, que é o Pão Vivo. Este pedido tem sido interpretado como uma oração para que também sejamos animados e fortalecidos com Cristo,o Pão Vivo.

4. Este pedido tem sido interpretado em um sentido puramente judaico. O pão como símbolo do Reino Celestial. Lucas nos diz que a um dos presentes Lhe disse Jesus: Bem aventurado aquele que comer pão no Reino de Deus (Lucas 14: 15). Os judeus tinham uma ideia algo extranha mas tremendamente inspiradora. Criam que quando viesse o Messias amanheceria a idade de ouro, haveria o banquete messiânico, que participariam os escolhidos de Deus. Os corpos dos monstros Behemot e Leviatã serviriam de pratos de carne e de pesca neste banquete. Seria uma espécie de festa de recebimento que Deus oferecia a Seu povo. Assim que, isto se tem tomado como um pedido de participar no banquete messiânico final do povo de Deus.

Ainda não temos por que estar de acordo em qual­que destas explicações com respeito ao sentido deste pedido, tampouco temos por que rechaçar nenhuma delas como falsa. Cada uma contém sua propria verdade e aplicação.

A dificultade da interpretação deste pedido aumen­ta pelo fato de que havia uma dúvida considerável quan­to ao sentido da palavra epiúsios, que se traduz por cotidiano. O fato extraordinário era que não se havia encontrado em nenhum outro lugar onde aparece es­ta palavra em toda literatura grega. Origenes advertiu, e até defendia que Mateus havia inventado a palavra. Não se pode estar seguro do que realmente queria dizer. Ha pouco tempo, se descobriu o fragmento de um papiro que continha esta palavra; e o pedaço de papiro era precisa­mente a lista de compra de uma mulher! Ao lado de um dos artigos estava a palavra epiusios, para lembrar-se de comprar as provisãoes para o dia seguinte. Assim que, o que este pedido quer dizer é: Dá-me as coisas que necessitamos para comer no dia que se inicia. Ajuda-me a conseguir as coisas que tenho na lista de compras quan­do chega esta manhã. Dá-me as coisas que necessitamos para comer quando voltam os meninos da escola, e os homens do trabalho. Concede-nos que nossa mesa não esteja vazia quando nos assentemos juntos hoje. Esta é uma oração sensível para que Deus nos supra com os alimentos que necessitamos para o dia a frente.

Quando vemos que este é um simples pedido pelas necessidades de cada dia, surgem algumas verdades.

1. Isto quer dizer que Deus cuida de nosso corpo. Jesus nos mostrou isso; Ele passou muito tempo curando enfermi­dades e satisfazendo à fome física. Ficava angustiado quando se dava conta de que o gentio que O havia seguido a lugares solitários se encontrava muito perto de sua casa e não tinha nada para comer. Faremos bem em ter presente que Deus tem interesse em nosso corpo. Qualquer ensino que minimiza, despreza e calunia o corpo, é equivocado. Podemos ver o que Deus pensa de nosso corpo quando recordamos que Ele mesmo, Jesus Cristo, assumiu um corpo humano. O Cristianismo aspira, não só a salvação da alma, mas a salvação de toda a pessoa: corpo, mente e espírito.

2. Este pedido nos ensina a pedir o Pão Nosso de cada dia, o o pão para o dia que temos em diante. Nos ensina a viver o dia, e não preocuparmos ou estar ansiosos acerca do futuro distante e desconhecido. Quando Jesus ensinou a seus discípulos a fazer este pedido, sem dúvida Sua mente retrocederia a história do maná no deserto Êxodo 16: 1 a 21. Os israelitas não tinham nada que comer no deserto, e Deus lhe enviou o maná, o pão do céu; porém com uma condição: tinham que recolher só o suficiente para suas necessidades imediatas. Se tratavam de recolher demasiadamente, e armazená-lo, ele estragava. Tinham que dar-se por satisfeitos com ter o sufi­ciente para o dia. Como dizia um rabino: A porção para cada dia, porque o que creio como dia creio é o sustento para o dia. Outro rabino dizia: O que possui o que pode comer hoje e diz: que vou comer amanhã? é um homem de pouca fé. Este pedido nos fala de viver o dia. Nos proíbe a angustiosa preocupação tão característica da vida quem não aprendeu a confiar em Deus.

3. Por implicação, este pedido dá a Deus o lugar que Lhe corresponde. Reconhece que é de Deus que recebemos o alimento necessário para sustentar a vida. Nenhum ser humano jamais foi capaz de criar uma simples semente que crescesse. Um homem de ciência pode analisar uma semente e conhecer seus elementos constituidos, mas nenhuma semente sintética pode crescer. Todas as coisas vivas vem de Deus. O que comemos, portanto, é um presente que nos vem de Deus.

4. Este pedido nos recorda muito sabiamente como fun­ciona a oração. Se fizesse a oração, e logo se assentasse tranquilamente a esperar que o pão caisse do céu em suas mãos, seguro é que morreria de fome. Recordemo-nos que a oração e o trabalho caminham juntos e que quando oramos devemos passar a trabalhar para fazer que nossas orações se façam em realidade. É verdade que a semente viva vem de Deus; mas também é verdade que temos a obrigação de cultivá-la.

Dick Sheppard nos conta a seguinte história: Um homem tinha um pedaço de terra; havia conseguido com muito sacrifício, e com muito trabalho, limpado das pedras e de toda classe de ervas daninhas; havia lavrado e enriquecido a terra convenientemente até que produziu as flores e hortaliças mais estupendas. Uma tarde ele estava ensi­nando seu trabalho a um piedoso amigo. Ele disse: é maravilhoso o que Deus pode fazer com um terreninho, verdade? Sim, disse o homem que havia feito todo este trabalho: porém terias que ter visto este terreno quando Deus estava cuidando do solo!

A generosidade de Deus e o trabalho humano devem combinar-se. A oração, como a fé, sem as obras é morta. Quando fazemos este pedido, re­conhecemos duas verdades básicas: Que sem Deus não podemos fazer nada, e que sem nosso esforço e cooperação Deus não pode fazer nada por nós.

5. Devemos advertir que Jesus não nos ensinou pedir: dá-me meu pão cotidiano. Ele nos ensinou a pedir: Dá-nos nosso pão cotidiano. O problema do mundo não é que não haja o bastante para todos; há bastante para dar e tomar. O problema não está na provisão das coisas essencias da vida, mas em sua distribuição. Esta oração nos ensina a não ser egoístas em nossas orações. É uma oração que podemos ajudar a nos contentarmos compartilhando o que temos com outros menos afortunados. Esta oração não se refere exclu­sivamente a receber nosso pão cotidiano; mas inclui o compartir com os outros[4].

Uma Surpresa no Formato de Oração

O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (Mateus 6:1).

A primeira parte da Oração do Senhor con­tém as petições dirigidas especificamente a Deus e a Seu nome. Essas eram as petições: Teu/Tua (Mateus 6: 9 e 10).

Mas no verso 11, chegamos a uma mudança radical. O foco se move de Deus para nós, conforme podemos perceber pelo uso dos pro­nomes nós, nosso e nos. Com o verso 11 chegamos, pois, à segun­da parte da Oração do Senhor, aquela cujas petições giram em torno das necessidades humanas. Primeiro vem Deus; depois, a humanidade. Ambos são importantes, mas na sua devida ordem. Sem Deus, não existiríamos. Sem Deus, não teríamos necessidades, nem como supri­-las. Essa verdade é expressa tanto nos Dez Mandamentos como na Oração do Senhor. A primazia de Deus é uma verdade que sempre de­ve ser mantida diante de nossos olhos e coração.

Choca e surpreende ver como começa a segunda parte da oração. Alguém poderia supor que começasse com as necessidades humanas que se acham mais próximas de Deus: nossas necessidades es­pirituais. Mas não é isso que ocorre. Jesus começa a segunda parte com nossas necessidades físicas. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Existe aqui uma lição para nós. Quando Jesus considera nossas ne­cessidades, começa pelo lugar certo. Começa com o físico. Sem a saúde física, não subsistiríamos nem teríamos necessidades espirituais. Essa or­dem aparece muitas vezes no ministério de Jesus. Primeiro Ele curava as pessoas, depois pregava para elas. Primeiro cuidava das suas necessidades fí­sicas e somente depois podia atender plenamente às suas fraque­zas espirituais.

Esse é o quadro que encontramos na ordem inesperada da segunda parte. Primeiro precisamos do pão diário. Depois que nossa necessida­de é satisfeita, ficamos cônscios de nossa culpa e necessidade espiritual, o perdão.

Nosso Senhor nos entende. Primeiro oramos por pão, depois por perdão[5].

 

De cada dia - uma lição

Então, disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei chover do céu pão, e o povo sairá e colherá diariamente a porção para cada dia, para que Eu ponha à prova se anda na Minha lei ou não (Êxodo 16: 4).

Parece haver pouca dúvida quanto ao fato de que Jesus pensa­va no maná do deserto quando nos disse para orar pelo pão nosso de cada dia. Conforme você deve lembrar, os filhos de Israel estavam fa­mintos no deserto, e Deus lhes enviou o maná, o pão do Céu. Havia, porém, uma condição importante. Eles deviam recolher o suficiente apenas para cada dia. Quando recolhiam em excesso, o alimento apodrecia antes de ser usado. Eles tinham que se contentar com a porção suficiente para cada dia.

Mas havia uma exceção à regra. Na sexta-feira eles precisavam re­colher o suficiente para dois dias, porque no sábado não havia coleta. Foi assim que os israelitas receberam uma dupla lição do maná quase diário. Primeiro, sua dependência diária de Deus para todas as suas ne­cessidades. E segundo, a excepcionalidade do sábado, o dia que lhes foi dado como lembrete dAquele que criara o pão e tudo o mais.

A palavra usada para diário em Mateus 6: 11 (epiousios) trouxe para os tradutores um mar de problemas porque até recentemente es­sa era a única ocorrência da palavra em toda a literatura grega. Mas alguns anos atrás surgiu um fragmento de papiro com essa palavra usa­da numa lista de compras. Ao lado de um único item da lista estava epiousios. Era uma nota para lembrar ao comprador de comprar um de­terminado alimento para o dia seguinte.

Assim, a quarta petição da Oração do Senhor pede-nos de manei­ra muito singela que supliquemos a Deus que nos dê as coisas que pre­cisamos comer no dia seguinte. É uma oração que nos ajuda a ser ca­pazes de obter o que é necessário em nossa lista de compras para o dia seguinte, a fim de que nós e nossa família sejamos saciadas.

Temos um Deus maravilhoso. Aquele cuja mão guia as estrelas in­contáveis está preocupado com minhas necessidades físicas diárias. Que Deus![6]

 

Diferentes Espécies de Pão Diário

Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que Eu darei pela vida do mundo é a Minha carne (João 6: 51).

Embora o significado primário de Mateus 6: 11 pareça ser pão diário físico, não é incorreto expandir o conceito para a esfera espiri­tual.

É com essa compreensão que cantamos o hino:

Ó Tu que deste o pão, Lá junto ao mar, Vem dá-lo a mim também, Jesus, vem dar!

Pois, na Palavra, ó Deus, Pão busco achar, O santo pão que me há de sustentar (Hinário Adventista, nº 519).

Semelhantemente à vida física, nosso ser espiritual não se susten­ta por si mesmo. Ambos precisam abastecer-se constantemente pela ingestão dos nutrientes físicos e espirituais apropriados. Lembramo-­nos dos profetas Ezequiel e João, que comeram o livrinho das palavras de Deus.

Precisamos comer diariamente a Palavra da Vida. Precisamos ver a beleza de Seu amor, precisamos imbuir-nos de Seus caminhos, preci­samos de força para viver Sua vida.

Assim, quando oramos pelo pão nosso de cada dia, estamos reco­nhecendo nossa constante e contínua dependência de Deus em tudo quanto somos, quer na esfera física, quer na mental e espiritual.

Precisamos ter fome e sede diárias de justiça. Precisamos participar diariamente do pão divino[7].

 

A Amplitude das Necessidades Diárias

Não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, Te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Provérbios 30: 8 e 9).

Jamais havia realmente discernido esse texto até o momento em que escrevi estas palavras. Já o havia lido, naturalmente, mas não ha­via ainda captado seu significado. Jamais o havia entendido com os olhos do coração.

É um belo texto que contradiz muito do que os membros da igreja ensinam aos filhos. De modo geral, ensinamos as pessoas a orarem por riqueza como sinal da bênção de Deus. Pedimos ao Senhor que nossos filhos e nós mesmos sejamos abençoados materialmente.

Será, porém, que temos avaliado o custo de um ensino como esse? Temos sido tão ávidos e sinceros em adverti-los contra os perigos da prosperidade? Deus quer que conservemos em mente a necessidade diária que temos dEle. Quer que conservemos em mente nossa própria mortalidade e fraqueza. Quando somos forçados diariamente a lem­brar-nos de que dependemos dEle para o pão de cada dia, isso tende a manter-nos no caminho estreito e reto.

Precisamos lembrar que estamos orando pelo pão de cada dia, não pelo bolo de cada dia, ainda que o bolo possa uma vez ou outra chegar à nossa mesa. Jesus prometeu que cuidaria de nossas necessidades. Ele não está falando de luxo.

Mas o pão de cada dia significa mais que o mero alimento. Abran­ge toda uma esfera de coisas que tornam o pão regularmente disponí­vel. Assim, pão custa dinheiro; dinheiro requer trabalho estável, e tra­balho estável requer bom governo, bons negócios e bom emprego. Em consequência disso, observa E D. Bruner, quando oramos pelo pão nosso de cada dia, estamos também orando por dinheiro, emprego, ne­gócio, trabalho, boas colheitas, bom tempo, boas estradas, justiça e por tudo no âmbito econômico, político e social.

Pai querido, quero hoje Te agradecer pelas múltiplas bênçãos que tornam real o pão de cada dia. Quero Te agradecer porque és não só o Criador, mas também o Mantenedor. Senhor, cada vez que vemos o Pai, vemos a Ti[8].

 

Lições do Pão de Cada Dia

Bem-aventurados todos aqueles que Nele confiam (Salmo 2:12). Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei (Isaías 12:2).

Talvez a lição central contida na petição do pão de cada dia se­ja nossa inteira e absoluta dependência de Deus, mesmo entre os que jamais reconheceriam essa dependência.

Pense nisto. Sem Deus não há pão; nem diário nem de qualquer outro jeito. Sem Deus não há pão, ponto final. Estamos completamen­te nas mãos de Deus. D. Martyn Lloyd-Jones tem razão quando afirma que a suprema loucura do século vinte é pensar que, por havermos ob­tido uma certa quantidade de conhecimento das leis de Deus, somos independentes dEle".

A verdade é que não podemos viver sem Ele sequer um dia. Sem Seu Sol, Sua chuva e a influência dela, não teríamos o pão de cada dia. E que dizer das sementes? Embora os seres humanos as plantem e se­jam inteiramente impotentes sem elas, não podem fabricá-las. Os cientistas podem analisar as sementes e identificar seus elementos constituintes, mas nenhuma semente sintética germina. Todas as coi­sas vivas vêm de Deus. Nosso alimento é um dom direto. Por inferên­cia, a quarta petição da Oração do Senhor coloca Deus em Seu devi­do lugar.

Além disso, esse reconhecimento da dependência é uma ocupação diária. É como se um pai rico fizesse um imenso depósito bancário pa­ra o filho numa conta com o nome do filho. Mas o filho só pudesse fa­zer um saque por dia, e isso mediante o preenchimento de um cheque. Isso faz com que o filho fique sempre se lembrando da fonte de sua ri­queza. Nossas orações funcionam como cheques pelos quais reclama­mos as riquezas de Deus e pelos quais expressamos nossa gratidão por Sua generosidade, diária.

Deus, em Sua sabedoria, não despeja sobre cada um de nós as pro­visões de alimento e riqueza de toda uma vida por ocasião do nasci­mento ou em nosso vigésimo primeiro aniversário. Em nossa pecami­nosidade, não somente desperdiçaríamos a fortuna, mas também nos esqueceríamos do Doador. As bênçãos diárias de Deus e a necessidade que temos delas nos fazem lembrar do Pai[9].

 

Mais Lições do Pão de Cada Dia

Então, dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e Me destes de comer; tive sede, e Me destes de beber; era forasteiro, e Me hospedastes; estava nu, e Me vestistes; enfermo, e Me visitastes; preso, e fostes ver-Me (Mateus 25:34 a 36).

Hoje queremos focalizar a palavra nosso na petição pelo pão de cada dia. Jesus não nos ensina a orar O pão meu de cada dia dá-me hoje, mas o pão nosso de cada dia dá-nos hoje.

Há um lado social em nosso andar diário com Deus. Precisamos orar em favor do pão de cada dia dos outros, assim como oramos pelo nosso. Milhões de pessoas morrem de fome a cada ano, enquanto outros mor­rem de doenças relacionadas com o comer demais. O problema não con­siste na inexistência de alimento, mas na má distribuição dele.

A maioria dos leitores deste livro talvez não tenha que orar muito encarecidamente pelo pão nosso de cada dia. Talvez passem boa parte da oração agradecendo a Deus pelo suprimento abundante de alimen­to que já possuem. Apesar disso, poucos são os que fazem essa oração sem um sentimento de culpa por ter comida suficiente, quando gran­de parte do mundo passa fome. Assim sendo, a quarta petição é, em certo sentido, uma oração por justiça social. Além disso, pode ser sig­nificativo o fato de essa petição preceder a que suplica por perdão.

Outra lição extraída do pedido pelo pão de cada dia é o enfoque da atividade humana em ligação com a oração respondida. Como dis­se Lutero, não devemos pedir de maneira indolente e esperar que Deus, no último minuto, faça cair um ganso em nossa boca.

Deus pode dar condições favoráveis para a obtenção do pão de ca­da dia, mas os seres humanos precisam fazer sua parte.

A fidelidade no trabalho faz parte da oração pelo pão de cada dia[10].

 

O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁ-NOS HOJE

Há uma divisão bem específica bem no meio do Pai Nosso. Logo se nota a mudança de pronomes. Nas três primeiras proposições, usamos o pronome na segunda pessoa do singular: Teu reino, Teu nome, Tua vontade. Nas três últimas, porém, o pronome somos nós, nos e nosso. Primeiro, pensamos em Deus, e só depois é que podemos ocupar-nos de nós mesmos.

E a primeira petição que o Senhor nos permite fazer em nosso favor é uma que realmente desejamos fazer. É justamente a que devemos fazer, se quisermos sobreviver. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje engloba todas as nossas necessidades materiais.

Alguns dos Pais da Igreja, como Jerônimo, Orígenes e Agostinho, ensinavam que a palavra pão ali se referia ao mesmo pão que Jesus mencionou quando disse: Eu sou o Pão da Vida. Eles acreditavam que era errado orar pelas bênçãos materiais. E até hoje alguns apoiam esta ideia.

Mas por que tentar espiritualizar esta frase? Até mesmo um santo precisa se alimentar. Se não ingeríssemos alimento para o sustento de nosso corpo, não poderíamos nem orar. Jesus pregou ao povo; curou os enfermos; perdoou pecados e também usou Seu maravilhoso poder para alimentar multidões com o pão material.

Se examinarmos a vida do Senhor, veremos que Ele conhecia a luta diária pelo sustento. Ele sabia o significado da pequena oferta da viúva pobre; sabia o que poderia representar a perda de uma moeda valiosa; sabia o que era usar roupas remendadas. Sabia o que era fazer as compras do armazém com cuidado para não sair orçamento.

Mesmo após a Sua ressurreição, Ele se interessou por alimentos. Nós O vimos acompanhando dois discípulos até em casa, naquele primeiro domingo de páscoa. Ele lhes falou de esperanças, e depois encontrou tempo para sentar-se à mesa com eles. A Bíblia diz até que tomando Ele o pão, abençoou-o, e, tendo-o partido, lhes deu (Lucas 24: 30).

Depois nós O encontramos na praia, à luz cinzenta da madrugada do dia seguinte. O discípulo tinha estado a pescar a noite toda. Agora estavam voltando e o Senhor estava preparado para recebê-los. Que iria ele fazer? Uma reunião de oração? Eles precisavam de oração... Uma poderosa revelação de Si mesmo? Eles haviam perdido a fé nEle? Não. Ele preparou-lhes uma refeição.

O Cristo ressuscitado, triunfante, preparava um desjejum. Apesar de ter os pés feridos ele andara pela praia pedregosa à procura de gravetos. Embora Suas mãos tivessem sido atravessadas pelos cravos, Ele Se ocupara em limpar peixe. Ele sabia que aqueles pescadores estariam com fome.

Ele sabe que nós temos que comprar mantimentos, pagar o aluguel ou a prestação da casa, adquirir roupas; sabe que haverá despesas com as crianças na escola e todo tipo de contas para pagar. E não somente isto. Ele conhece os desejos e necessidades pessoais que temos além das coisas essenciais. Nós não somos como os irracionais. Por isso desejamos gozar das coisas agradáveis da vida.

Ele sabia melhor do que nós que o corpo e a mente são inseparáveis. Assim como o medo e a preocupação podem afetar o corpo e causar enfermidade, assim também as condições físicas da pessoa podem alterar sua maneira de encarar a vida, sua fé religiosa e sua conduta moral.

O Deus que criou nosso corpo está interessado em nossas necessidades físicas, e espera que nós Lhe falemos a respeito delas.

Todos os dias o sol se levanta no horizonte e aquece a terra. Se Ele deixasse de brilhar por um minuto que fosse, toda a vida sobre a Terra se extinguiria. As chuvas servem para irrigar a terra. A fertilidade se encontra no solo; a vida, nas sementes; o oxigênio, no ar. A providência de Deus está ao nosso redor o tempo todo, em abundância incrível, mas nós encaramos todas essas coisas como sendo corriqueiras.

O Dr. John Whiterspoon foi um grande educador americano e um homem de Deus. Foi um dos que assinaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Foi diretor da escola que mais tarde viria a ser a Universidade de Princeton. Ele morava a pouco mais de três quilômetros da escola e ia para lá todos os dias em sua charrete.

Certo dia, um vizinho entrou bastante nervoso em seu gabinete e lhe disse: Dr. Whiterspoon, eu queria que o senhor me ajudasse a dar graças a Deus por ter-me salvo a vida. Eu estava rodando em minha charrete hoje de manhã e o cavalo soltou-se e fugiu. A carroça bateu contra as rochas e ficou em pedaços, mas eu saí ileso. Ao que o Dr. Whiterspoon respondeu: Eu sei de um exemplo mais notável. Eu já rodei por aquela estrada centenas de vezes. Meu cavalo nunca escapuliu; a charrete nunca se quebrou e nem eu fui ferido. A providência de Deus para mim foi muito mais extraordinária do que para você.

É como diz o poema de Maltbie D. Babcock: Por trás do pão está a farinha; Por trás da farinha, o moinho; Por trás do moinho, o trigo, a chuva, O sol e a vontade do Pai.

Podemos aplicar esta verdade a tudo que possuímos: o carro de que tanto nos orgulhamos, ou a casa em que vivemos, as roupas que usamos. Todos esses bens provêm da Terra que Deus criou. Ele os colocou ao alcance de nossas mãos, porque sabia que nós iríamos querê-los e apreciá-los. Muito antes de nós nascermos, Deus já havia respondido esta nossa petição de bênçãos materiais. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje é uma oração que realmente já foi atendida. Ela é uma declaração do que ele já fez.

Gosto muito daquela história de Jesus no deserto. Mateus conta que havia cinco mil pessoas ali (Mateus 14:21). Eles estavam famintos e o Senhor desejava vê-los alimentados. Os discípulos fizeram um levantamento da situação, e tudo que puderam encontrar foi o lanche de um rapazinho, que constava de cinco pães e dois peixes.

Eles criam que aquilo era pouco demais para ser levado em conta. Era tão pouco que não adiantava nem tentar. Mas vejamos a atitude de Cristo. Ele não reclamou da quantidade; antes, a primeira coisa que fez foi agradecer. Depois, utilizou o que tinha em mãos. Ele começou a partir pedaços de pão e distribuí-los.

Para espanto geral, aquele alimento deu para todos. Na verdade, houve mais do que o necessário, e eles recolheram doze cestos cheios de sobras. O povo ficou tão maravilhado, que quis pegá-lo à força e proclamá-lo rei (João 6:5 a 15).

Se nós também começarmos a agradecer a Deus pelo que temos e passarmos a usar isto da melhor maneira possível, o Senhor nos dará discernimento a respeito de como poderemos multiplicá-lo a fim de satisfazer todas as nossas necessidades, e ainda haver sobra. Nós nos sentiríamos tão venturosos que cairíamos a seus pés para adorá-Lo como Senhor e Rei[11].

 

Do Mar Vermelho ao Sinai

Do Mar Vermelho as tribos de Israel puseram-se novamente a viajar, guiadas pela coluna de nuvem. O cenário ao redor deles era o mais impressionante; montanhas áridas, de aspecto desolador, planícies estéreis, e o mar estendendo-se até ao longe, com as praias juncadas dos corpos de seus inimigos; estavam, contudo, cheios de alegria, conscientes de sua liberdade, e silenciara todo pensamento de descontentamento. 

Mas, durante três dias, enquanto viajavam, não puderam achar água. O suprimento que tinham trazido consigo estava esgotado. Nada havia para lhes acalmar a sede ardente, enquanto se arrastavam fatigadamente pelas planícies queimadas de sol. Moisés, que estava familiarizado com essa região, sabia o que os outros ignoravam, ou seja, que em Mara, a mais próxima estação onde se poderiam encontrar fontes, as águas eram impróprias para o uso. Com ansiedade intensa observava a nuvem que os guiava. Com o coração a abater-se, ouviu alegre aclamação: Água! Água! A repercutir ao longo do séquito. Homens, mulheres e crianças em alegre precipitação apinharam-se junto à fonte, quando, eis, irrompe da multidão um grito de angústia, a água era amarga. 

Em seu terror e desespero censuraram a Moisés por tê-los guiado por aquele caminho, não se lembrando de que a presença divina naquela nuvem misteriosa o estivera guiando, bem como a eles mesmos. Em sua dor e angústia, Moisés fez o que eles haviam deixado de fazer; clamou fervorosamente a Deus, pedindo auxílio. E o Senhor mostrou-lhe um lenho que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces (Êxodo 15:25). Ali foi feita a Israel, por intermédio de Moisés, esta promessa: Se ouvires atento a voz do Senhor teu Deus, e obrares o que é reto diante dos Seus olhos, e inclinares os teus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito; porque Eu sou o Senhor que te sara (Êxodo 15:26)

De Mara o povo foi para Elim, onde encontrou doze fontes de água e setenta palmeiras. Ali permaneceram vários dias antes de entrarem no deserto de Sim. Quando fez um mês que se achavam ausentes do Egito, fizeram seu primeiro acampamento no deserto. O suprimento de provisões começara agora a escassear. Era insuficiente a erva do deserto, e seus rebanhos estavam diminuindo. Como se deveria suprir o alimento para aquelas vastas multidões? Dúvidas enchiam-lhes o coração, e de novo murmuraram. Mesmo os príncipes e anciãos do povo se uniram nas queixas contra aqueles dirigentes que por Deus tinham sido designados: Quem dera que nós morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tendes tirado para este deserto para matardes de fome a toda esta multidão (Êxodo 16:3)

Não haviam por enquanto sofrido fome; suas necessidades presentes eram supridas, mas temiam pelo futuro. Não podiam compreender como essas extensas multidões deveriam manter-se em suas viagens pelo deserto, e em imaginação viam seus filhos a perecer de fome. O Senhor permitiu que as dificuldades os rodeassem, e que escasseasse o suprimento de alimentos, para que seu coração pudesse volver-se Àquele que até ali lhes havia sido o Libertador. Se em sua necessidade O invocassem, Ele ainda lhes concederia sinais manifestos de Seu amor e cuidado. Ele prometera que, se obedecessem aos Seus mandamentos, nenhuma enfermidade lhes sobreviria; e era pecaminosa incredulidade de sua parte considerar antecipadamente que eles ou seus filhos poderiam morrer de fome. 

Deus prometera ser o seu Deus, tomá-los para Si como um povo, e guiá-los a uma terra vasta e boa; mas eles estavam prontos a desfalecer a cada obstáculo encontrado no caminho para aquela terra. De maneira maravilhosa Ele os tirara do cativeiro no Egito, para que os pudesse elevar e enobrecer, e fazer deles um louvor na Terra. Mas, era-lhes necessário encontrar dificuldades e suportar privações. Deus estava a tirá-los de um estado de degradação, e a adaptá-los para ocupar uma posição honrosa entre as nações e receber importantes e sagrados encargos. Houvessem tido fé Nele, em vista de tudo que operara por eles, e teriam de bom ânimo suportado incômodos, privações, e mesmo o verdadeiro sofrimento; mas não estavam dispostos a confiar no Senhor a não ser que testemunhassem as contínuas provas de Seu poder. Esqueceram-se de sua amarga servidão no Egito. Perderam de vista a bondade e poder de Deus, manifestados em prol deles, em seu livramento do cativeiro. Esqueceram-se de como seus filhos foram poupados quando o anjo destruidor matou todos os primogênitos do Egito. Olvidaram a grande mostra do poder divino no Mar Vermelho. Perderam de memória que, enquanto atravessaram sem perigo pelo caminho que lhes havia sido aberto, os exércitos de seus inimigos, tentando segui-los, foram submersos nas águas do mar. Viam e sentiam unicamente seus incômodos e provações presentes; e, em vez de dizerem: Deus fez grandes coisas por nós; conquanto tenhamos sido escravos, está a fazer de nós uma grande nação, falavam eles das agruras do caminho e consideravam quando terminaria sua cansativa peregrinação. 

A história da vida de Israel no deserto foi registrada para o benefício do Israel de Deus até o final do tempo. O registro do trato de Deus aos errantes no deserto, em todas as suas marchas de um para outro lado, em sua exposição à fome, sede e cansaço, e nas notáveis manifestações de Seu poder em auxílio deles, acha-se repleto de advertências e instruções para o Seu povo, em todos os tempos. A experiência variada dos hebreus era uma escola preparatória para o seu lar prometido em Canaã. Deus quer que Seu povo nestes dias reveja com humilde coração e espírito dócil as provações pelas quais passou o antigo Israel, a fim de que possa instruir-se em seu preparo para a Canaã celestial. 

Muitos consideram os israelitas daquele tempo, e admiram-se de sua incredulidade e murmuração, achando que, se tivessem estado em lugar deles, não teriam sido tão ingratos; mas, quando sua fé é provada, mesmo com pequenas aflições, não manifestam maior fé ou paciência do que fez o antigo Israel. Quando levados a situações angustiosas, murmuram contra o meio que Deus escolheu para purificá-los. Posto que sejam supridas suas necessidades presentes, muitos não estão dispostos a confiar em Deus para o futuro, e se acham em constante ansiedade, receosos de que a pobreza lhes sobrevenha, e seus filhos venham a sofrer. Alguns estão sempre a ver antecipadamente o mal, ou a aumentar as dificuldades que realmente existem, de modo que seus olhos ficam cegos às muitas bênçãos que lhes reclamam gratidão. Os obstáculos que encontram em vez de levá-los a buscar auxílio de Deus, a única Fonte de força, separam-nos Dele, porque despertam inquietação e descontentamento. 

Fazemos bem em ser assim duvidosos? Por que deveríamos ser ingratos e desconfiados? Jesus é nosso amigo; todo o Céu se interessa em nosso bem-estar; e nossa ansiedade e temor entristecem ao Espírito Santo de Deus. Não devemos condescender com cuidados que apenas nos impacientem e fatiguem, mas não nos auxiliam a suportar as provações. Nenhum lugar deve dar-se àquela desconfiança para com Deus, a qual nos leva a fazer dos preparativos para as futuras necessidades a principal preocupação da vida, como se nossa felicidade consistisse nessas coisas terrestres. Não é vontade de Deus que Seu povo se sobrecarregue de cuidados. Nosso Senhor, porém, não nos diz que não há perigos em nosso caminho. Não Se propõe a tirar Seu povo do mundo de pecado e mal, mas aponta-nos um refúgio que nunca falha. Convida o cansado e carregado de cuidados: Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Deponde o jugo da ansiedade e cuidados mundanos que vos impusestes, e tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas (Mateus 11:28 e 29). Podemos encontrar descanso e paz em Deus, lançando sobre Ele todos os nossos cuidados; pois Ele cuida de nós (1 Pedro 5:7)

Diz o apóstolo: Vede irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo (Hebreus 3:12). Em vista de tudo que Deus tem feito por nós, nossa fé deve ser forte, ativa e duradoura. Em vez de murmurarmos e queixarmos-nos, a expressão de nosso coração deve ser: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios (Salmo 103:1 e 2). 

Deus não Se esquecia das necessidades de Israel. Disse a seu guia: Eis que vos farei chover pão dos céus. E foram dadas instruções para que o povo apanhasse uma porção para cada dia, e porção dupla no sexto dia, para que se pudesse manter a sagrada observância do sábado. 

Moisés afirmou à congregação que suas necessidades haviam de ser supridas: Isso será quando o Senhor à tarde vos der carne para comer, e pela manhã pão a fartar. E acrescentou: Quem somos nós? As vossas murmurações não são contra nós, mas sim contra o Senhor. Mandou, ainda, Arão dizer-lhes: Chegai-vos para diante do Senhor, porque ouviu as vossas murmurações. Enquanto Arão estava a falar, eles se viraram para o deserto, eis que a glória do Senhor apareceu na nuvem (Êxodo 16:8 a 10). Um esplendor qual nunca antes haviam testemunhado, simbolizava a presença divina. Por meio de manifestações que se dirigiam aos seus sentidos, deviam obter conhecimento de Deus. Devia ensinar-lhes que o Altíssimo, e não meramente o homem Moisés, era seu dirigente, a fim de que temessem o Seu nome e Lhe obedecessem à voz. 

Ao cair da noite, o acampamento foi rodeado de vastos bandos de codornizes, bastantes para suprirem toda a multidão. Pela manhã, jazia na superfície do solo uma coisa miúda, redonda; miúda como a geada. Era como semente de coentro branco. O povo chamou-o maná. Disse Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer (Êxodo 16:14,15 e 31). O povo apanhou o maná, e viu que havia um suprimento abundante para todos. Em moinhos o moia, ou num gral o pisava, e em panelas o cozia, e dele fazia bolos (Números 11:8). Era seu sabor como bolos de mel (Êxodo 16:31). Determinou-lhes apanhar diariamente um gômer aproximadamente três litros para cada pessoa; e dele não deveriam deixar para a manhã seguinte. Alguns tentaram guardar uma porção até o dia seguinte, mas achou-se então estar impróprio para alimento. A provisão para o dia deveria ser colhida na manhã; pois tudo que ficava no solo derretia-se com o sol. 

No colher o maná verificou-se que alguns obtinham mais e alguns menos do que a quantidade estipulada; mas medindo-o com o gômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco (Êxodo 16:18). Uma explicação desta passagem bem como uma lição prática da mesma, é dada pelo apóstolo Paulo em sua segunda epístola aos Coríntios: Diz ele: Não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade; como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que pouco, não teve de menos (2 Coríntios 8:13 a 15).

No sexto dia, o povo colhia dois gômeres para cada pessoa. Os príncipes foram apressadamente informar a Moisés do que se havia feito. Sua resposta foi: Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, ponde em guarda até amanhã. Assim fizeram, e acharam que ficara inalterado. E Moisés disse: Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá (Êxodo 16:23, 25 e 26)

Deus exige que Seu santo dia seja observado hoje de maneira tão sagrada como no tempo de Israel. A ordem dada aos hebreus deve ser considerada por todos os cristãos como um mandado de Iahweh. Deve fazer-se do dia anterior ao sábado um dia de preparação, a fim de que tudo possa estar em prontidão para as suas horas sagradas. Em caso algum devemos permitir que nossas ocupações usurpássemos o tempo santo. Deus determinou que se cuidasse dos doentes e sofredores; o trabalho exigido para lhes proporcionar conforto é uma obra de misericórdia, e não é violação do sábado; mas todo o trabalho desnecessário deve ser evitado. Muitos descuidadamente deixam até o princípio do sábado pequenas coisas que poderiam ter sido feitas no dia de preparação. Isto não deve ser assim. O trabalho que é negligenciado até o início do sábado, deve ficar por fazer-se até que haja passado este dia. Esta maneira de proceder pode auxiliar a memória daqueles que são imprudentes, e torná-los cuidadosos no fazerem seu trabalho nos seis dias a isto destinados. 

Cada semana, durante sua longa peregrinação no deserto, os israelitas testemunharam tríplice milagre, destinado a impressionar-lhes o espírito com a santidade do sábado: uma dobrada quantidade de maná caía no sexto dia, nada caía no sétimo, e a porção necessária para o sábado conservava-se fresca e pura, enquanto qualquer quantidade que se deixava de um dia para outro, em outra ocasião, se tornava imprópria para o uso. 

Nas circunstâncias que se ligam à concessão do maná, temos prova conclusiva de que o sábado não foi instituído, conforme muitos pretendem, quando a lei foi dada no Sinai. Antes de chegarem os israelitas ao Sinai, compreendiam ser-lhes obrigatório o sábado. Sendo obrigados a recolher toda sexta-feira dupla porção de maná, como preparo para o sábado, no qual nada caía, a natureza sagrada do dia de repouso os impressionava continuamente. E quando alguns, dentre o povo, saíram no sábado para apanhar maná, o Senhor perguntou: Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? Comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada; comeram maná até que chegaram aos termos da terra de Canaã (Êxodo 16:35). Durante quarenta anos, por meio desta maravilhosa provisão, trazia-lhes diariamente à lembrança o cuidado infalível e o terno amor de Deus. Segundo as palavras do salmista, Deus lhes deu do trigo do Céu. Cada um comeu o pão dos anjos, isto é, alimento que lhes foi provido pelos anjos (Salmo 78:24 e 25). Sustentados pelo trigo do Céu, diariamente se lhes ensinava que, tendo as promessas de Deus, estavam tão seguros contra a necessidade como se estivessem rodeados pelos campos ondulantes de trigo nas férteis planícies de Canaã. 

O maná, caindo do céu para o sustento de Israel, era um tipo dAquele que veio de Deus para dar vida ao mundo. Disse Jesus: Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desce do Céu. ... Se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo (João 6:48 a 51). E entre as promessas de bênçãos ao povo de Deus na vida futura, está escrito: Ao que vencer darei Eu a comer do maná escondido (Apocalipse 2:17)

Depois de partir do deserto de Sim, os israelitas acamparam-se em Refidim. Ali não havia água, e de novo não confiaram na providência de Deus. Em sua cegueira e presunção, o povo chegou-se a Moisés com a exigência: Dá-nos água para beber. Mas a paciência não lhe faltou. Por que contendeis comigo? Disse: por que tentais ao Senhor? Eles clamaram com ira: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, e aos nossos filhos, e ao nosso gado? (Êxodo 17:1 a 7). Quando foram tão abundantemente supridos de alimento, lembraram-se com vergonha de sua incredulidade e murmuração, e prometeram para o futuro confiar no Senhor; mas logo se esqueceram da promessa, e fracassaram na primeira prova de fé. A coluna de nuvem que os guiava parecia velar um terrível mistério. E Moisés, quem era ele? Perguntavam; e qual poderia ser seu objetivo ao tirá-los do Egito? A suspeita e a desconfiança lhes encheram o coração, e ousadamente o acusaram de tencionar matá-los, a eles e seus filhos, pelas privações e agruras, a fim de que pudesse enriquecer-se com seus bens. No tumulto da raiva e indignação estavam prestes a apedrejá-lo. 

Com angústia clamou Moisés ao Senhor: Que farei a este povo? Foi-lhe determinado tomar os anciãos de Israel e a vara com que operara prodígios no Egito, e ir perante o povo. E o Senhor lhe disse: Eis que Eu estarei ali, diante de ti, sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas, e o povo beberá. Ele obedeceu, e as águas irromperam como uma torrente viva que abundantemente supriu o acampamento. Em vez de mandar Moisés levantar a vara e invocar alguma praga terrível semelhante àquelas do Egito, sobre os chefes daquela ímpia murmuração, o Senhor em Sua grande misericórdia fez da vara Seu instrumento para operar o livramento do povo. 

Fendeu as penhas no deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez correr águas como rios (Salmo 78:15 e 16). Moisés feriu a rocha, mas era o Filho de Deus que, velado na coluna de nuvem, estava ao lado de Moisés e fazia correr a água doadora de vida. Não somente Moisés e os anciãos, mas toda a congregação, que permanecia a distância, viu a glória do Senhor; fosse, porém, removida a nuvem, e teriam sido mortos pelo terrível fulgor Daquele que nela habitava. 

Em sua sede o povo tentara a Deus, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?Se Deus nos trouxe aqui, por que não nos dá água assim como nos deu pão? A incredulidade assim manifesta era criminosa, e Moisés receou que os juízos de Deus repousassem sobre eles. E ele chamou aquele lugar pelo nome de Massá, tentação, e Meribá, contenda, em lembrança de seu pecado. 

Um novo perigo os ameaçava agora. Por causa de sua murmuração contra Ele, o Senhor permitiu que fossem atacados pelos inimigos. Os amalequitas, tribo feroz e guerreira que habitava aquela região, saíram contra eles, e feriram aqueles que, desfalecidos e cansados, tinham ficado na retaguarda. Moisés, sabendo que a totalidade do povo não estava preparada para a batalha, ordenou a Josué que escolhesse das diferentes tribos um corpo de soldados, e os guiasse na manhã seguinte contra o inimigo, enquanto ele próprio estaria em um ponto eminente próximo, com a vara de Deus na mão. Em conformidade com isto, no dia seguinte Josué e seu grupo atacaram o inimigo, enquanto Moisés, Arão e Hur estavam estacionados em uma colina, acima do campo de batalha. Com os braços estendidos para o céu, e segurando a vara de Deus em sua destra, Moisés orava pelo êxito das armas de Israel. Com o prosseguimento da batalha, observou-se que, enquanto suas mãos estavam estendidas para cima, Israel prevalecia; mas, quando se abaixavam, o inimigo era vitorioso. Cansando-se Moisés, Arão e Hur lhe ampararam as mãos até o pôr-do-sol, quando o inimigo foi posto em fuga. 

Apoiando Arão e Hur as mãos de Moisés, mostravam ao povo o dever de ampará-lo em seu árduo trabalho, enquanto de Deus recebia a palavra para lhes falar. E o ato de Moisés também era significativo, mostrando que Deus tinha o seu destino em Suas mãos; enquanto nEle depositassem confiança, por eles combateria e lhes subjugaria os inimigos; mas, quando se deixassem de apegar a Ele, e confiassem em sua própria força, seriam mesmo mais fracos do que os que não tinham conhecimento de Deus, e os inimigos prevaleceriam contra eles. 

Assim como os hebreus triunfavam quando Moisés estendia as mãos para o céu, e intercedia em favor deles, assim o Israel de Deus prevalece quando pela fé lança mão da força de seu poderoso Auxiliador. Todavia, a força divina deve ser combinada com o esforço humano. Moisés não acreditava que Deus vencesse os adversários deles enquanto Israel permanecesse inativo. Enquanto o grande líder pleiteava com o Senhor, Josué e os seus bravos seguidores faziam os maiores esforços para repelir os inimigos de Israel e de Deus. 

Depois da derrota dos amalequitas, Deus determinou a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos filhos de Josué; que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus (Êxodo 17:14). Precisamente antes de sua morte, o grande líder confiou a seu povo esta solene incumbência: Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito; como te saiu ao encontro no caminho, e te derrubou na retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus... Apagarás a memória de Amaleque de debaixo dos céus; não te esqueças (Deuteronômio 25:17 a 19). Com referência a este povo ímpio, o Senhor declarou: A mão de Amaleque está contra o trono de Jeová (Êxodo 17:16)

Os amalequitas não desconheciam o caráter de Deus, nem Sua soberania; mas, em vez de O temerem, puseram-se a desafiar o Seu poder. Os prodígios operados por Moisés diante dos egípcios foram assunto de zombaria para o povo de Amaleque, e os temores das nações circunvizinhas eram ridicularizados. Fizeram juramento pelos seus deuses de que destruiriam os hebreus, de modo que nem um escapasse, e vangloriavam-se de que o Deus de Israel seria impotente para lhes resistir. Não haviam sido ofendidos ou ameaçados pelos israelitas. Seu assalto não foi motivado por qualquer provocação. Foi para manifestar seu ódio e desconfiança para com Deus que procuraram destruir Seu povo. Os amalequitas havia muito que eram grandes pecadores, e seus crimes clamavam vingança a Deus; contudo, a misericórdia divina ainda os chamava ao arrependimento; quando, porém, os homens de Amaleque caíram sobre as cansadas e indefesas fileiras de Israel, selaram a sorte de sua nação. Os cuidados de Deus estão sobre os mais fracos de Seus filhos. Ato algum de crueldade ou opressão para com eles deixa de ser notado pelo Céu. Sobre todos aqueles que O amam e temem, Sua mão se estende como uma proteção; cuidem os homens que não firam aquela mão, pois que ela maneja a espada da justiça. 

Não longe do lugar em que agora se achavam acampados os israelitas, estava à casa de Jetro, sogro de Moisés. Jetro ouvira falar do livramento dos hebreus, e agora parte para visitá-los e restituir a Moisés a esposa e os dois filhos. O grande chefe foi informado pelos mensageiros a respeito de sua aproximação; e com alegria saiu para encontrá-los, e, terminados os primeiros cumprimentos, conduziu-os à sua tenda. Fizera voltar sua família quando estava a caminho dos perigos que encontraria ao retirar Israel do Egito; mas agora poderia de novo ter o consolo e conforto de sua companhia. A Jetro contou ainda o trato maravilhoso de Deus para com Israel, e o patriarca regozijou-se e bendisse o Senhor; e, juntamente com Moisés e os anciãos, uniu-se a oferecer sacrifícios e realizar uma festa solene em comemoração a misericórdia de Deus. 

Estando Jetro no acampamento, logo viu quão pesados eram os encargos que repousavam sobre Moisés. Manter a ordem e a disciplina naquela multidão vasta, ignorante e indisciplinada, era na verdade uma tremenda tarefa. Moisés era o seu reconhecido chefe e magistrado, e não somente lhe eram referidos os interesses e deveres gerais do povo, mas também as controvérsias que surgiam entre eles. Permitira isto, pois que lhe dava oportunidade de instruí-los, conforme disse: e lhes declare os estatutos de Deus, e as Suas leis. Mas Jetro protestou a isto, dizendo: Este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer. Totalmente desfalecerás; e aconselhou a Moisés indicar pessoas idôneas como maiorais de milhares, e outras como maiorais de cem, e outras de dez. Deviam ser homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza (Êxodo 18:13 a 26). Estes deviam julgar em todas as questões de menor importância, enquanto os casos mais difíceis e relevantes ainda seriam levados perante Moisés, o qual, disse Jetro, devia ser pelo povo diante de Deus, e levar causas a Deus; e declarar-lhes os estatutos e as leis, e fazer-lhes saber o caminho em que deviam andar, e a obra que deviam fazer. Este conselho foi aceito, e não somente trouxe alívio a Moisés, mas teve como resultado estabelecer uma ordem mais perfeita entre o povo. 

O Senhor havia honrado a Moisés grandemente, e operara prodígios pela sua mão; mas o fato de que fora escolhido para instruir a outros não o levou a concluir que ele próprio não necessitava de instrução. O escolhido dirigente de Israel ouviu alegremente as sugestões do piedoso sacerdote de Midiã, e adotou-lhe o plano como uma sábia disposição. 

De Refidim o povo continuou viagem, seguindo o movimento da coluna de nuvem. Sua rota seguia através de áridas planícies, íngremes encostas, e desfiladeiros rochosos. Frequentemente, quando atravessavam as incultas regiões arenosas, viam diante de si montanhas escabrosas, semelhantes a gigantescos baluartes, amontoados diretamente através de seu percurso, e parecendo vedar de todo o prosseguimento. Mas, aproximando-se eles, apareciam aqui e acolá aberturas na muralha montanhosa, e, para além, outra planície se lhes abria à vista. Através de uma dessas profundas e pedregosas passagens, eram então conduzidos. Era uma cena grandiosa e impressionante. Entre as escarpas rochosas que se erguiam a centenas de metros de cada lado, fluíam qual maré viva, até onde podia atingir a vista, as hostes de Israel com seus rebanhos e gado. E agora, diante deles, com solene majestade, erguia o Monte Sinai a fronte maciça. A coluna de nuvem repousou em seu cume, e o povo, embaixo, espalhou suas tendas pela planície. Ali seria a sua morada durante quase um ano. À noite, a coluna de fogo assegurou-lhes a proteção divina; e, enquanto estavam entregues ao sono, o pão do Céu caía suavemente sobre o acampamento. 

A aurora dourava a crista negra das montanhas, e os áureos raios do Sol penetravam nas profundas gargantas, parecendo-se a esses cansados viajantes com os raios de misericórdia procedentes do trono de Deus. De todos os lados, extensas colinas pedregosas pareciam em sua solitária grandeza falar de permanência e majestade eternas. Ali, tinha o espírito à impressão de solenidade e de respeitoso temor. O homem era levado a sentir sua ignorância e fraqueza na presença Daquele que pesou os montes e os outeiros em balanças (Isaías 40:12). Ali deveria Israel receber a revelação mais maravilhosa que por Deus já foi feita aos homens. Ali o Senhor reunira Seu povo para que os pudesse impressionar com a santidade de Seus mandamentos, declarando de viva voz a Sua santa lei. Grandes e radicais mudanças deviam operar-se neles; pois que a influência degradante da servidão e a prolongada associação com a idolatria lhes haviam deixado seus traços nos hábitos e caráter. Deus estava a agir a fim de erguê-los a um nível moral mais elevado, outorgando-lhes um conhecimento de Si[12].

 

Dai-lhes Vós de Comer

Cristo Se retirara com os discípulos para um lugar isolado, mas breve foi interrompido esse período de tranquilo sossego. Os discípulos julgavam haver-se afastado para um lugar onde não seriam perturbados; mas assim que a multidão sentiu falta do divino Mestre, indagaram: Onde está Ele? Alguns dentre eles notaram a direção tomada por Cristo e Seus discípulos. Muitos foram por terra encontrá-los, enquanto outros os seguiram de barco através do lago. Estava próxima a Páscoa e de perto e de longe grupos de peregrinos, de viagem para Jerusalém, juntavam-se para ver Jesus. Outros se lhes reuniram, até que se achavam congregadas umas cinco mil pessoas, além de mulheres e crianças. Antes de Cristo chegar à praia, já uma multidão O estava aguardando. Mas Ele desembarcou sem ser por ela notado, passando algum tempo à parte com os discípulos. 

Da encosta, contemplou Ele a ondulante multidão, e o coração moveu-Lhe de simpatia. Embora interrompido, prejudicado em Seu repouso, não ficou impaciente. Ao observar o povo que vinha, vinha sempre, viu uma necessidade ainda maior a demandar-Lhe a atenção. Teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. Deixando Seu retiro, encontrou um lugar apropriado, onde os podia atender. Não recebiam nenhum auxílio dos sacerdotes e principais; mas as vivificantes águas da vida brotavam de Cristo, ao ensinar às turbas o caminho da salvação. 

O povo escutava as palavras da vida, tão abundantemente brotadas dos lábios do Filho de Deus. Ouvia as graciosas palavras, tão simples e claras, que eram como o bálsamo de Gileade para sua alma. A cura de Sua mão divina trouxe alegria e vida aos moribundos, e conforto e saúde aos que padeciam de moléstias. O dia afigurou-lhes o Céu na Terra, e ficaram inteiramente inconscientes do tempo que fazia desde que tinham comido qualquer coisa. 

Afinal, o dia estava a morrer. O Sol descia no Ocidente, e, todavia o povo se deixava ficar. Jesus trabalhara o dia inteiro sem alimento nem repouso. Estava pálido de fadiga e fome, e os discípulos rogaram-Lhe que cessasse o labor. Não Se podia, porém, fugir à multidão que O comprimia. 

Os discípulos, por fim, foram ter com Ele dizendo que, por amor do próprio povo, devia ele ser despedido. Muitos tinham vindo de longe, e nada haviam comido desde a manhã. Nas cidades e aldeias vizinhas poderiam comprar alimento. Mas Jesus disse: Dai-lhes vós de comer; e depois, voltando-Se para Filipe, perguntou: Onde compraremos pão para estes comerem? Isto o disse para provar a fé do discípulo. Filipe olhou para o oceano de cabeças, e concluiu que seria impossível prover alimento para satisfazer a necessidade de tão numeroso povo. Respondeu que duzentos dinheiros de pão não seriam suficientes para se dividirem entre eles, de modo que cada um recebesse um pouco. Jesus indagou quanto alimento se encontraria entre a multidão. Está aqui um rapaz, disse André, que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos? Jesus ordenou que os mesmos Lhe fossem trazidos. Pediu então aos discípulos que fizessem o povo assentar-se na relva, em grupos de cinquenta ou de cem, para manter a ordem, e todos poderem ver o que Ele estava para realizar. Feito isto, Jesus tomou os alimentos, e olhando para o céu, abençoou-os, e partiu-os, e deu-os aos Seus discípulos para os porem diante da multidão. E comeram todos, e ficaram fartos, e levantaram doze cestos de pedaços de pão e de peixe

Aquele que ensinou ao povo o meio de conseguir a paz e a felicidade era tão solícito por suas necessidades temporais como pelas espirituais. O povo estava cansado e fraco. Havia mães com criancinhas nos braços, e pequenos pendurados às saias. Muitos tinham permanecido de pé por horas. Haviam estado tão intensamente interessados nas palavras de Cristo, que nem uma vez pensaram em sentar-se e era tão grande a multidão que havia perigo de pisarem-se uns aos outros. Jesus lhes deu oportunidade de descansar, mandando-os sentar-se. Havia no lugar muita relva, e todos podiam repousar confortavelmente. 

Cristo nunca operou um milagre, senão para satisfazer uma necessidade real, e todo milagre era de molde a dirigir o povo à Árvore da Vida, cujas folhas são para cura das nações. A simples refeição passada em torno, pela mão dos discípulos, encerra todo um tesouro e lições. Era um modesto artigo, o que se proporcionou; os peixes e os pães de cevada eram o alimento diário dos pescadores dos arredores do Mar da Galileia. Cristo poderia haver exibido diante do povo um rico banquete, mas a comida preparada para a mera satisfação do apetite não teria transmitido nenhuma lição para benefício deles. Jesus lhes ensinou nesta lição que as naturais provisões de Deus para o homem foram pervertidas. E nunca se deliciou alguém com os luxuosos banquetes preparados para satisfação do pervertido gosto, como esse povo fruiu o descanso e a simples refeição proporcionada por Cristo, tão longe de habitações humanas. 

Se os homens fossem hoje em dia simples em seus hábitos, vivendo em harmonia com as leis da Natureza, como faziam Adão e Eva no princípio, haveria abundante provisão para as necessidades da família humana. Haveria menos necessidades imaginárias, e mais oportunidades de trabalhar em harmonia com os desígnios de Deus. Mas o egoísmo e a condescendência com os gostos naturais têm trazido pecado e miséria ao mundo, por excesso de um lado e carência de outro. 

Jesus não procurava atrair a Si o povo mediante a satisfação do desejo de luxo. Àquela grande massa, fatigada e faminta depois de longo e emocionante dia, a singela refeição era uma prova, não somente de Seu poder, mas do terno cuidado que tinha para com eles quanto às necessidades comuns da vida. O Salvador não prometeu a Seus seguidores os luxos do mundo; sua manutenção pode ser simples e mesmo escassa; sua sorte se pode limitar à pobreza; mas Sua palavra está empenhada quanto à satisfação das necessidades deles, e Jesus promete aquilo que é incomparavelmente melhor que os bens terrestres: o permanente conforto de Sua presença. 

Alimentando os cinco mil, Jesus ergue o véu do mundo da Natureza e manifesta o poder em contínuo exercício para nosso bem. Na produção da colheita da Terra, Deus opera diário milagre. Realiza-se, mediante agentes naturais, a mesma obra que se efetuou na alimentação da massa. O homem prepara o solo e lança a semente, mas é a vida de Deus que faz com que ela germine. É a chuva, o ar, o sol de Deus que a levam a frutificar, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga (Marcos 4:28). É Deus quem alimenta cada dia milhões, dos campos de colheita da Terra. Os homens são chamados a cooperar com Ele no cuidado do cereal e no preparo do pão e, por causa disso, perdem de vista a ação divina. Não Lhe dão a glória devida a Seu santo nome. A operação de Seu poder é atribuída a causas naturais, ou a instrumentalidades humanas. O homem é glorificado em lugar de Deus, e Seus graciosos dons pervertidos para empregos egoístas, transformados em maldição em lugar de bênção. Deus está procurando mudar tudo isso. Deseja que nossas adormecidas percepções despertem para discernir sua compassiva bondade, e glorificá-Lo pela operação de Seu poder. Deseja que o reconheçamos em Seus dons, a fim de que estes sejam, segundo o intentava, uma bênção para nós. Era para cumprir esse desígnio que se realizavam os milagres de Cristo. 

Depois de alimentada a multidão, havia ainda abundância de comida. Mas Aquele que dispunha de todos os recursos do infinito poder, disse: Recolhei os pedaços que sobejaram para que nada se perca. Essas palavras significam mais do que colocar o pão nos cestos. A lição era dupla. Coisa alguma se deve perder. Não devemos deixar escapar nenhuma vantagem temporal. Não devemos negligenciar nada que possa beneficiar um ser humano. Reúna-se tudo que diminua a necessidade dos famintos da Terra. E o mesmo cuidado deve presidir as coisas espirituais. Ao serem recolhidos os cestos de fragmentos, o povo pensou em seus queridos em casa. Queriam que participassem do pão que Cristo abençoara. O conteúdo dos cestos foi distribuído entre a ansiosa turba, sendo levado em todas as direções ao redor. Assim os que se tinham achado no banquete deviam levar a outros o pão que desce do Céu, para satisfazer a fome da alma. Cumpria-lhes repetir o que haviam aprendido das maravilhosas coisas de Deus. Coisa alguma se devia perder. Nenhuma palavra que dizia respeito a sua salvação eterna devia cair inútil. 

O milagre dos pães ensina uma lição de confiança em Deus. Quando Cristo alimentou os cinco mil, o alimento não se achava ali à mão. Aparentemente, Ele não tinha recursos ao Seu dispor. Ali estava, com cinco mil homens, além de mulheres e crianças, num lugar deserto. Não convidara a grande multidão a segui-Lo, tinham ido sem convite ou ordem; mas Ele sabia que, depois de haverem escutado por tão longo tempo as Suas instruções, haviam de sentir-se famintos e desfalecidos; pois partilhava com o povo da necessidade de alimento. Achavam-se distantes de casa, e a noite estava às portas. Muitos deles se achavam sem recursos para comprar comida. Aquele que por amor deles jejuara quarenta dias no deserto, não deixaria que voltassem em jejum para casa. A providência de Deus colocara Jesus onde Ele estava; e de Seu Pai celestial esperou quanto aos meios para suprir a necessidade. 

Quando postos em condições difíceis, devemos esperar em Deus. Cumpre-nos exercer sabedoria e juízo em todo ato da vida, a fim de que, por movimentos descuidados, não nos exponhamos à provação. Não nos devemos pôr em dificuldades, negligenciando os meios providos por Deus e empregando mal as faculdades que nos deu. Os obreiros de Cristo devem obedecer implicitamente Suas instruções. A obra é de Deus e, se queremos beneficiar a outros, é necessário seguir-Lhe os planos. O próprio eu não se pode tornar um centro; o eu não pode receber honra. Se planejarmos segundo nossas próprias ideias, o Senhor nos abandonará a nossos erros. Quando, porém, havendo seguido Sua guia, somos colocados em situação difícil, Ele nos livrará. Não nos devemos entregar ao desânimo, mas, em toda emergência, cumpre-nos buscar auxílio Daquele que possui à Sua disposição infinitos recursos. Seremos muitas vezes rodeados de circunstâncias probantes e então, com a mais plena confiança em Deus, devemos esperar firmemente. Ele guardará toda alma que se vê em perplexidade por buscar seguir os caminhos do Senhor. 

Cristo, por intermédio do profeta, mandou que: Repartas o teu pão com o faminto, e fartes a alma aflita; vendo o nu o cubras, e recolhas em casa os pobres desterrados (Isaías 58:7 a 10). Ordenou-nos: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura (Mateus 16:15). Quantas vezes, porém, nosso coração sucumbe e falha-nos a fé, ao vermos quão grande é a necessidade, quão limitados os meios em nossas mãos! Como André, ao olhar aos cinco pães de cevada e os dois peixinhos, exclamamos: Que é isto para tantos? Hesitamos frequentemente, não dispostos a dar tudo o que temos, temendo gastar e ser gastos por outros. Mas Jesus nos manda: Dai-lhes vós de comer. Sua ordem é uma promessa; e em seu apoio está o mesmo poder que alimentou a multidão junto ao mar. 

No ato de Cristo, de suprir as necessidades temporais de uma faminta massa de povo, está envolvida profunda lição espiritual para todos os Seus obreiros. Cristo recebeu do Pai; passou-o aos discípulos; eles o entregaram à multidão; e o povo uns aos outros. Assim todos quantos se acham ligados a Cristo devem receber Dele o Pão da vida, o alimento celestial, e passá-lo a outros. 

Com plena confiança em Deus, Jesus tomou a pequena provisão de pães; e se bem que não houvesse senão uma porção pequenina para Sua própria família de discípulos, não os convidou a comer, mas começou a lhos distribuir, ordenando que servissem ao povo. O alimento multiplicava-Lhe nas mãos; e as mãos dos discípulos, estendendo-se para Cristo, O próprio Pão da Vida, nunca ficavam vazias. O diminuto suprimento foi suficiente para todos. Depois de haver sido satisfeita a necessidade do povo, as sobras foram recolhidas, e Cristo e os discípulos comeram juntos da preciosa comida, fornecida pelo Céu. 

Os discípulos foram o meio de comunicação entre Cristo e o povo. Isso deve ser uma grande animação para os discípulos Dele hoje em dia. Cristo é o grande centro, a fonte de toda força. Dele devem os discípulos receber a provisão. Os mais inteligentes, os mais bem-dotados espiritualmente, só podem comunicar, à medida que recebem. Não podem por si mesmos suprir coisa alguma às necessidades da alma. Só podemos transmitir aquilo que recebemos de Cristo; e só o podemos receber à medida que o comunicamos aos outros. À proporção que continuamos a dar, continuamos a receber; e quanto mais dermos, tanto mais havemos de receber. Assim estaremos de contínuo crendo, confiando, recebendo e transmitindo. 

A obra da edificação do reino de Cristo irá avante, se bem que, segundo todas as aparências, caminhe devagar, e as impossibilidades pareçam testificar contra o seu progresso. A obra é de Deus, e Ele fornecerá meios e enviará auxiliares, sinceros e fervorosos discípulos, cujas mãos também estarão cheias de alimento para as famintas multidões. Deus não Se esquece dos que trabalham com amor para levar a palavra da vida a almas prestes a perecer, as quais, por sua vez, buscam alimento para outras almas famintas. 

Há, em nossa obra para Deus, risco de confiar demasiado no que pode fazer o homem, com seus talentos e capacidade. Perdemos assim de vista o Obreiro Mestre. Muito frequentemente o obreiro de Cristo deixa de compreender sua responsabilidade pessoal. Acha-se em perigo de eximir-se a seus encargos, fazendo-os recair sobre organizações, em lugar de apoiar-se Naquele que é a fonte de toda a força. Grande erro é confiar em sabedoria humana, ou em números, na obra de Deus. O trabalho bem-sucedido para Cristo, não depende tanto de números ou de talentos, como da pureza de desígnio, da genuína simplicidade, da fervorosa e confiante fé. Devem-se assumir as responsabilidades pessoais, empreender os deveres pessoais e fazer esforços pessoais em favor dos que não conhecem a Cristo. Em lugar de transferir vossa responsabilidade para alguém que julgais mais bem-dotado que vós, trabalhai segundo vossas aptidões. 

Ao erguer-se em vosso coração a pergunta: Onde compraremos pão, para estes comerem? Não permitais que vossa resposta seja no sentido da incredulidade. Quando os discípulos ouviram a ordem de Cristo: Dai-lhes vós de comer, todas as dificuldades lhes acudiram à mente. Perguntaram: Iremos nós às aldeias comprar comida? Assim hoje, quando o povo está carecido do pão da vida, os filhos do Senhor indagam: Mandaremos buscar alguém de longe, para vir alimentá-los? Mas que disse Cristo? Mandai assentar os homens; e os alimentou ali. Assim, quando vos achais rodeados de almas necessitadas, sabei que Cristo aí está. Comungai com Ele. Trazei os vossos pães de cevada a Jesus. 

Os meios de que dispomos talvez não pareçam suficientes para a obra; mas, se avançarmos com fé, crendo no todo-suficiente poder de Deus, abundantes recursos se nos oferecerão. Se a obra é de Deus, Ele próprio proverá os meios para sua realização. Recompensará a sincera e simples confiança nEle. O pouco que é sábia e economicamente empregado no serviço do Senhor do Céu aumentará no próprio ato de ser comunicado. Nas mãos de Cristo permaneceu, sem minguar, a escassa provisão, até que todos se saciassem. Se nos dirigimos à fonte de toda força, estendidas as mãos da fé para receber, seremos sustidos em nosso trabalho, mesmo nas mais difíceis circunstâncias, e habilitados a dar a outros o pão da vida. 

O Senhor diz: Dai, e ser-vos-á dado. O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará... E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; conforme está escrito: 

Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre

Ora, Aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus (Lucas. 6:38; 2 Coríntios 9:6 a 11)[13].

 

ILUSTRAÇÃO

Quando o maná caiu em Angola

         Em 1939 houve em Angola, África, uma severa seca, que afetou um dos nossos postos missionários ali existentes. Como não houve colheitas, o alimento no posto começou a escassear, até que em abril se acabou.

         O diretor da Missão estava ausente, de modo que a esposa convocou uma reunião de oração, e os cinquenta habitantes da Missão se reuniram para orar pedindo alimento, como Cristo ensinou no Pai Nosso.

         Enquanto conversavam, depois da reunião, a filha do diretor saiu. Dentro em pouco voltou, toda agitada, com as mãos cheias de uma substância branca, que ela comia sofregamente.

         Contou que vira três europeus que lhe disseram: Menina, Deus respondeu as orações de vocês. Ele lhes mandou alimento. É o maná. Tome-o e coma!

         Todos que haviam assistido a reunião de oração saíram da igreja e, com efeito, o chão estava coberto de uma substância branca, mas não havia pessoa alguma à vista. Quando provaram aquela substância, era doce como o mel, extremamente saborosa.

         O maná caiu por três dias, mas, diferentemente do maná dos tempos bíblicos, não se estragou. O pessoal da Missão encheu todas as panelas, tigelas e outras vasilhas que puderam achar. Esse alimento os susteve até a colheita.

         Ninguém viu o maná cair. Quando o sol secava o orvalho, lá se apresentava ele. Só foi encontrado nos quarenta acres de terra cultivada da Missão. Cada acre, ou jeira, tem 4.047 metros quadrados.

         O diretor da Missão voltou a tempo de testemunhar o milagre. Enviou uma vasilha contendo uma amostra de maná, com um relatório do caso, ao escritório da Divisão Sul-Africana.

         Quando eu era menino, uma das minhas maiores sensações era ver uma amostra deste maná num vidrinho e ouvir a história, contada pelo Pastor E.L. Cardey, que era naquele tempo missionário na África.

         Em 1970 o Pastor Cardney informou minha mãe de que ele possuía ainda um pouco, num vidro hermeticamente fechado[14].

 

LEITURA ADICIONAL

O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (Mateus 6:11)

A primeira metade da oração que Jesus nos ensinou, diz respeito ao nome, ao reino e à vontade de Deus; que Seu nome seja honrado, Seu reino estabelecido, e Sua vontade cumprida. Depois de assim haverdes tornado o serviço de Deus a primeira coisa em vosso interesse, podeis pedir com confiança de que vossas próprias necessidades serão supridas. Renunciaram-se ao próprio eu, entregando-vos a Cristo, sois um membro da família de Deus, e tudo quanto há na casa de vosso Pai vos pertence. Todos os tesouros de Deus vos estão franqueados, tanto o mundo que agora existe, como o por vir. O ministério dos anjos, o dom de Seu Espírito, os labores de Seus servos, tudo é para vós. O mundo, com tudo que nele há, pertence-vos até onde isto seja para vosso benefício. A própria inimizade do maligno se demonstrará uma bênção, na disciplina que vos proporciona para o Céu. Se vós sois de Cristo, tudo é vosso (I Coríntios 3:21)

Sois, porém, como uma criança a quem não se confia ainda à direção de sua herança. Deus não vos entrega vossa preciosa possessão, para que Satanás, por seus astutos ardis, não vos engane, como fez com o primeiro par no Éden. Cristo a mantém para vós, além do alcance do espoliador. Como a criança, recebereis dia a dia o necessário para a necessidade diária. Cada dia deveis orar: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (Mateus 6:11). Não desanimeis se não tendes o suficiente para amanhã. Tendes a garantia de Sua promessa: Habitarás na Terra e, verdadeiramente, serás alimentado (Salmo 37:3). Diz Davi: Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão (Salmo 37:25). Aquele Deus que mandou os corvos alimentarem Elias junto à fonte de Querite, não passará por alto um de Seus filhos fiéis, pronto a se sacrificar. A respeito daquele que anda em justiça, está escrito: O seu pão lhe será dado, e as suas águas serão certas (Isaías 33:16). Não serão envergonhados nos dias maus e nos dias de fome se fartarão (Salmo 37:19). Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?(Romanos 8:32). Aquele que abrandava os cuidados e ansiedades de Sua mãe viúva, e a ajudava a prover a casa de Nazaré, compreende toda mãe em sua luta por prover alimento aos filhos. O que Se compadeceu das turbas porque estavam fatigadas e derramadas (Mateus 9:36 –Tradução Trinitariana), ainda Se compadece dos pobres sofredores. Sua mão está estendida para eles em uma bênção; e na própria oração que ensinou aos Seus discípulos, ensina-nos a lembrar dos pobres. 

Quando oramos: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje (Mateus 6:11), pedimos para outros da mesma maneira que para nós mesmos. E reconhecemos que aquilo que Deus nos dá não é somente para nós. Deus nos dá em depósito, a fim de podermos alimentar os famintos. Em Sua bondade, providenciou para os pobres (Salmo 68:10). E Ele diz: Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos... Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos e serás bem-aventurado; porque eles não têm com que to recompensar; mas recompensado serás na ressurreição dos justos (Lucas 14:12 a 14)

Deus é poderoso para tornar abundante em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra (2 Coríntios 9:8). O que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância também ceifará (2 Coríntios 9:6)

A oração pelo pão de cada dia inclui, não somente o alimento para sustentar o corpo, mas aquele pão espiritual que nos nutrirá para a vida eterna. Jesus nos ordena: Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna (João 6:27). Ele diz: Eu sou o pão vivo que desceu do Céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre (João 6:51). Nosso Salvador é Pão da Vida, e é mediante a contemplação de Seu amor, e recebendo esse amor no coração, que nos nutrimos do pão que desceu do Céu. 

Recebemos a Cristo por meio de Sua Palavra; e o Espírito Santo é dado a fim de esclarecer a Palavra ao nosso entendimento, impressionando-nos o coração com suas verdades. Devemos dia a dia orar para que, ao lermos Sua Palavra, Deus envie Seu Espírito a fim de que se nos revele a verdade que nos fortaleça a alma para a necessidade do dia. 

Ensinando-nos há pedir cada dia o que necessitamos, tanto as bênçãos temporais como as espirituais, Deus tem um propósito para nosso bem. Deseja que reconheçamos nossa dependência de Seu constante cuidado; pois procura atrair-nos em comunhão com Ele. Nessa comunhão com Cristo, mediante a oração e o estudo das grandes e preciosas verdades de Sua Palavra, seremos alimentados, como almas que têm fome; como os que têm sede, seremos saciados à fonte da vida[15].

 

Itamar de Paula Marques

 



[1] CBASD, vol. 5, p. 337.

[2] BJ, p. 1848.

[3] CBASD, vol. 5, p. 337.

[4] Comentário ao Novo Testamento, Willian Barclay, Editora Clie Mateus, vol. 1, pp. 247 a 251.

[5] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 216.

[6] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 217.

[7] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 218.

[8] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 219.

[9] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 220.

[10] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 221.

[11] A Psiquiatria de Deus, Charles L. Allen, Editora Betânia, pp. 87 a 90.

[12] Patriarcas e Profetas, Ellen Gold White, CPB, pp. 291 a 302.

[13] Desejado de Todas as Nações, Ellen Gold White, CPB, pp. 364 a 371.

[14] Inspiração Juvenil, 2004, Lições de Deus na Natureza, James A. Tucker e Priscila A. Turkey, p.127.

[15] O Maior Discurso de Cristo, Ellen G. White, CPB, pp. 110 a 113.