23º

VENHA AO TEU REINO

10 - Venha ao Teu Reino, seja feita a tua Vontade na terra, como no céu.

VENHA AO TEU REINO - A natureza do reino dos céus ocupa uma posição central no ensino de Jesus. Quanto ao reino dos céus no Sermão do Monte (Mateus 5:3), Cristo fala aqui, não tanto do reino da graça como do reino da glória para o qual o reino da graça prepara o caminho e com o qual culmina com o reino da glória. A forma verbal empregada no grego apoia esta interpretação.

Através dos séculos, a promessa de que os reinos deste mundo finalmente chegarão a ser o reino de nosso Senhor Jesus Cristo. Apocalipse 11:15 têm orientado os cidadãos do reino da graça a viverem vidas piedosas (I João 3:2 a 3) e a sacrificar-se para proclamar as boas novas do reino (Atos 20:24; II Timóteo 4:6 a 8). Na mente e no coração de todos os verdadeiros cristãos de todos os tempos, a esperança bem aventurada e a manifestação de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. Tito 2:13 os inspirou a levar vidas mais piedosas[1].

Comentário

Mateus 4:17. O REINO DOS CÉUS - Expressão esta empregada exclusivamente por Mateus 31 vezes em seu Evangelho. Mateus emprega cinco vezes a expressão reino de Deus, que é a única que usam os outros evangelistas. O uso da palavra céu em lugar do nome Deus responde ao costume dos judeus do tempo de Jesus de não dizer o nome sagrado. Empregavam a expressão nome do céu em lugar de nome de Deus; temor do céu por temor de Deus; honra do céu por honra de Deus, etc.. A expressão reino dos céus não aparece no AT, ainda que a ideia esteja implícita nos escritos proféticos Isaías 11:1 a 12; 35; 65:17 a 25; Daniel 2:44; 7:18 22 e 27; Miquéias 4:8; etc. 

O reino dos céus ou reino de Deus era o tema do ensino de Jesus Lucas 4:43; 8:1. Muitas de suas parábolas começam com as palavras o reino dos céus é semelhante a Mateus 13:24, 31, 33, 45 a 47. Ensinava a seus discípulos a que orassem pela vinda do reino (Mateus 6:10). Seu Evangelho era a boa nova do reino Mateus 4:23. Seus discípulos eram os filhos do reino (Mateus 13:38). O Pai se comprazia em dar-lhes o reino (Lucas 12:32), que tinham de herdar (Mateus 25:34). Nesta vida, os cristãos devem dar-lhe ao reino o lugar supremo em seus afetos e devem convertê-lo na mais importante meta da vida (Mateus 6:33). Quando Jesus enviou os doze, mandou-os que pregassem o reino de Deus (Lucas 9:2 e 60)

João proclamou a iminência do estabelecimento do reino dos céus (Mateus 3:2). Jesus também declarou que o reino se tinha chegado (Mateus 4:17) e instruiu seus discípulos, quando os enviou a pregar, que levassem a mesma mensagem (Mateus 10:7)

O reino dos céus se estabeleceu na primeira vinda de Cristo. Jesus mesmo era o Rei, e os que acreditavam Nele eram seus súditos. O território desse reino era o coração e a vida dos súditos. Evidentemente a mensagem de Jesus se referia ao reino da graça divina. Mas, como Jesus mesmo indicou claramente, o reino da graça antecedia ao reino da glória. Com respeito a este último, os discípulos perguntaram no dia da ascensão:Senhor restaurarás o reino a Israel neste tempo? (Atos 1:6 e 7). O reino da graça tinha se estabelecido nos dias de Cristo (Mateus 3:2; 4:17; 10:7), mas o reino da glória estava no futuro (Mateus 24:33). Só quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos seus santos anjos com ele, então se sentará em seu trono de glória. Mateus 25:31[2]

Comentário

Mateus 25:31 - Virá em sua glória. Por ocasião de sua primeira vinda, Jesus velou sua glória divina e viveu como homem entre os homens. O reino que estabeleceu então era o reino de sua graça (Mateus 5:3). No entanto, virá outra vez em sua glória para inaugurar o reino eterno (Daniel 7:14 e 27; Apocalipse11:15). A segunda vinda de Jesus é o tema central de Mateus 24 e 25

TRONO DE GLÓRIA - Seu glorioso trono. Cristo estava no trono do universo antes de sua encarnação. Quando ascendeu, foi entronizado outra vez como Sacerdote e como Rei (Zacarias 6:13); para compartilhar o trono de seu Pai (Apocalipse 3:21). Ao completar a obra do juízo investigativo, iniciada em 1.844, (Apocalipse 14:6 e 7). Jesus receberá seu reino. O coroamento final e sentar no trono de Cristo como Rei do universo ocorrerão no final do milênio na presença de todos os que são súditos de seu glorioso reino e os que se negaram a série leais[3].

 

O REINO DA GRAÇA

Deus Conosco

Ele será chamado pelo nome de Emanuel que quer dizer:Deus conosco (Mateus 1:23). O brilho do conhecimento da glória de Deus vê-se na face de Jesus Cristo. Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era a imagem de Deus, a imagem de Sua grandeza e majestade, o resplendor de Sua glória. Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo. Veio a Terra entenebrecida pelo pecado, para revelar a luz do amor de Deus, para ser Deus conosco. Portanto, a Seu respeito foi profetizado: Será o Seu nome Emanuel (Isaías 7:14).

Vindo habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos. Ele era a Palavra de Deus; o pensamento de Deus tornado audível. Em Sua oração pelos discípulos, diz:Eu lhes fiz conhecer o Teu nome, misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade, para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja (João 17:23). Mas não somente a Seus filhos nascidos na Terra era feita essa revelação. Nosso pequenino mundo é o livro de estudo do Universo. O maravilhoso desígnio de graça do Senhor, o mistério do amor que redime, é o tema para que os anjos desejem bem atentar, e será seu estudo através dos séculos sem-fim. Mas os seres remidos e os não caídos encontrarão na cruz de Cristo sua ciência e seu cântico. Ver-se-á que a glória que resplandece na face de Jesus Cristo é a glória do abnegado amor. À luz do Calvário se patenteará que a lei do amor que renuncia é a lei da vida para a Terra e o Céu; que o amor que não busca os seus interesses. O texto de I Coríntios 13:5 tem sua fonte no coração de Deus; e que no manso e humilde Jesus se manifesta o caráter Daquele que habita na luz inacessível ao homem. 

No princípio, Deus Se manifestava em todas as obras da criação. Foi Cristo que estendeu os céus, e lançou os fundamentos da Terra. Foi Sua mão que suspendeu os mundos no espaço e deu forma às flores do campo. Ele converteu o mar em terra firme. Salmo 66:6; Seu é o mar, pois Ele o fez (Salmo 95:5). Foi Ele quem encheu a Terra de beleza, e de cânticos o ar. E sobre todas as coisas na terra, no ar e no firmamento, escreveu a mensagem do amor do Pai.

Ora, o pecado manchou a perfeita obra de Deus, todavia permanecem os traços de Sua mão. Mesmo agora todas as coisas criadas declaram a glória de Sua excelência. Não há nada, a não ser o coração egoísta do homem, que viva para si. Nenhum pássaro que fende os ares, nenhum animal que se move sobre a terra, deixa de servir a qualquer outra vida. Folha alguma da floresta, nem humilde haste de erva é sem utilidade. Toda árvore, arbusto e folha exalam aquele elemento de vida sem o qual nenhum homem ou animal poderia existir; e animal e homem servem, por sua vez, à vida da folha, do arbusto e da árvore. As flores exalam sua fragrância e desdobram sua beleza em bênção ao mundo. O Sol derrama sua luz para alegrar a mil mundos. O próprio oceano, a origem de todas as nossas fontes, recebe as correntes de toda a terra, mas recebe para dar. Os vapores que lhe ascendem ao seio caem em chuveiros para regar a terra a fim de que ela produza e floresça.  

Os anjos da glória acham seu prazer em dar:dar amor e infatigável cuidado a almas caídas e contaminadas. Seres celestiais buscam conquistar o coração dos homens; trazem a este mundo obscurecido a luz das cortes em cima; mediante um ministério amável e paciente operam no espírito humano, para levar os perdidos a uma união com Cristo, mais íntima do que eles próprios podem avaliar.  

Volvendo-nos, porém, de todas as representações secundárias, contemplamos Deus em Cristo. Olhando para Jesus, vemos que a glória de nosso Deus é dar. Nada faço por Mim mesmo (João 8:28), disse Cristo; o Pai, que vive Me enviou, e Eu vivo pelo Pai (João 6:57). Eu não busco a Minha glória. João 8:50, mas a Daquele que Me enviou (João 7:18). Manifesta-se nestas palavras o grande princípio que é a lei da vida para o Universo. Todas as coisas Cristo recebeu de Deus, mas recebeu-as para dar. Assim nas cortes celestes, em Seu ministério por todos os seres criados:através do amado Filho, flui para todos a vida do Pai; por meio do Filho ela volve em louvor e jubiloso serviço, uma onda de amor, à grande Fonte de tudo. E assim, através de Cristo, completa-se o circuito da beneficência, representando o caráter do grande Doador, a lei da vida.  

No próprio Céu foi quebrantada essa lei. O pecado originou-se na busca dos próprios interesses. Lúcifer, o querubim cobridor, desejou ser o primeiro no Céu. Procurou dominar os seres celestes, afastá-los de seu Criador, e receber-lhes, ele próprio, as homenagens. Portanto, apresentou falsamente a Deus, atribuindo-Lhe o desejo de exaltação própria. Tentou revestir o amorável Criador com suas próprias más características. Assim enganou os anjos. Assim enganou os homens. Levou-os a duvidar da palavra de Deus, e a desconfiar de Sua bondade. Como o Senhor seja um Deus de justiça e terrível majestade, Satanás os fez considerá-Lo como severo e inclemente. Assim arrastou os homens a se unirem com ele em rebelião contra Deus, e as trevas da miséria baixaram sobre o mundo.  

A Terra obscureceu-se devido à má compreensão de Deus. Para que as tristes sombras se pudessem iluminar, para que o mundo pudesse volver ao Criador, era preciso que se derribasse o poder enganador de Satanás. Isso não se podia fazer pela força. O exercício da força é contrário aos princípios do governo de Deus; Ele deseja unicamente o serviço de amor; e o amor não se pode impor; não pode ser conquistado pela força ou pela autoridade. Só o amor desperta o amor. Conhecer a Deus é amá-Lo; Seu caráter deve ser manifestado em contraste com o de Satanás. Essa obra, unicamente um Ser, em todo o Universo, era capaz de realizar. Somente Aquele que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus, podia torná-lo conhecido. Sobre a negra noite do mundo, devia erguer-Se o Sol da Justiça, trazendo salvação sob as Suas asas (Malaquias 4:2).  

O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Foi à revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto (Romanos 16:25). Foi um desdobramento dos princípios que têm sido, desde os séculos da eternidade, o fundamento do trono de Deus. Desde o princípio, Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência. Tão grande era Seu amor pelo mundo, que concertou entregar Seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16)

Lúcifer dissera: Subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. ... Serei semelhante ao Altíssimo (Isaías 14:13 e 14. Mas Cristo, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens (Filipenses 2:6 e 7).

Foi um sacrifício voluntário. Jesus poderia haver permanecido ao lado de Seu Pai. Poderia haver retido a glória do Céu, e as homenagens dos anjos. Mas preferiu entregar o cetro nas mãos de Seu Pai, e descer do trono do Universo, a fim de trazer luz aos entenebrecidos, e vida aos que estavam prestes a perecer.  

Cerca de dois mil anos atrás se ouviu no Céu uma voz de misteriosa significação, saída do trono de Deus: Eis aqui venho. Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo Me preparaste. ... Eis aqui venho no rolo do livro está escrito de Mim, para fazer, ó Deus, a Tua vontade (Hebreus 10:5 a 7). Nestas palavras anuncia-se o cumprimento do desígnio que estivera oculto desde tempos eternos. Cristo estava prestes a visitar nosso mundo, e a encarnar. Diz Ele: Corpo Me preparaste. Houvesse aparecido com a glória que possuía com o Pai antes que o mundo existisse, e não teríamos podido resistir à luz de Sua presença. Para que a pudéssemos contemplar e não ser destruídos, a manifestação de Sua glória foi velada. Sua divindade ocultou-se na humanidade, a glória invisível na visível forma humana. Esse grande desígnio havia sido representado em tipos e símbolos. A sarça ardente em que Cristo apareceu a Moisés revelava Deus. O símbolo escolhido para representação da Divindade foi um humilde arbusto que, aparentemente, não tinha nenhuma atração. Abrigou, porém, o Infinito. O Deus todo-misericordioso velou Sua glória num símbolo por demais humilde, para que Moisés pudesse olhar para ela e viver. Assim na coluna de nuvem de dia e na de fogo à noite, Deus Se comunicava com Israel, revelando aos homens Sua vontade e proporcionando-lhes graça. A glória de Deus era restringida, e Sua majestade velada, para que a fraca visão de homens finitos a pudesse contemplar. Da mesma maneira Cristo devia vir no corpo abatido. Filipenses 3:21– semelhante aos homens. Aos olhos do mundo, não possuía beleza para que O desejassem; e não obstante era o encarnado Deus, a luz do Céu na Terra. Sua glória estava encoberta, Sua grandeza e majestade ocultas, para que pudesse atrair a Si os tentados e sofredores.  

Deus ordenou a Moisés acerca de Israel: E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles (Êxodo 25:8), e habitou no santuário, no meio de Seu povo. Durante toda a fatigante peregrinação deles no deserto, o símbolo de Sua presença os acompanhou. Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao lado da dos homens, para que pudesse viver entre nós, e tornar-nos familiares com Seu caráter e vida divinos. O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (João 1:14).  

Desde que Cristo veio habitar entre nós, sabemos que Deus está relacionado com as nossas provações, e Se compadece de nossas dores. Todo filho e filha de Adão pode compreender que nosso Criador é o amigo dos pecadores. Pois em toda doutrina de graça, toda promessa de alegria, todo ato de amor, toda atração divina apresentada na vida do Salvador na Terra, vemos Deus conosco.  

Satanás apresenta a divina lei de amor como uma lei de egoísmo. Declara que nos é impossível obedecer-lhe aos preceitos. A queda de nossos primeiros pais, com toda a miséria resultante, ele atribui ao Criador, levando os homens a olharem a Deus como autor do pecado, do sofrimento e da morte. Jesus devia patentear esse engano. Como um de nós, cumpria-Lhe dar exemplo de obediência. Para isso tomou sobre Si a nossa natureza, e passou por nossas provas. Convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos (Hebreus 2:17). Se tivéssemos de sofrer qualquer coisa que Cristo não houvesse suportado, Satanás havia de apresentar o poder de Deus como nos sendo insuficiente. Portanto, Jesus como nós, em tudo foi tentado (Hebreus 4:15). Sofreu toda provação a que estamos sujeitos. E não exerceu em Seu próprio proveito poder algum que nos não seja abundantemente facultado. Como homem, enfrentou a tentação, e venceu-a no poder que Lhe foi dado por Deus. Diz Ele: Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração (Salmo 40:8). Enquanto andava fazendo o bem e curando a todos os aflitos do diabo, patenteava aos homens o caráter da lei de Deus, e a natureza de Seu serviço. Sua vida testifica ser possível obedecermos também à lei de Deus.

Por Sua humanidade, Cristo estava em contato com a humanidade; por Sua divindade, firma-Se no trono de Deus. Como Filho do homem, deu-nos um exemplo de obediência; como Filho de Deus, dá-nos poder para obedecer. Foi Cristo que, do monte Horebe, falou a Moisés, dizendo:EU SOU O QUE SOU... Assim dirás aos filhos de Israel:EU SOU me enviou a vós (Êxodo 3:14). Foi esse o penhor da libertação de Israel. Assim, quando Ele veio semelhante aos homens, declarou ser o EU SOU. O Infante de Belém, o manso e humilde Salvador, é Deus manifestado em carne (I Timóteo 3:16). A nós nos diz:EU SOU o Bom Pastor. João 10:11, EU SOU o Pão Vivo. João 6:51, EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida. João 14:6 É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra. Mateus 28:18. EU SOU a certeza da promessa. SOU EU, não temais. Deus conosco é a certeza de nossa libertação do pecado, a segurança de nosso poder para obedecer à lei do Céu.  

Baixando a tomar sobre Si a humanidade, Cristo revelou um caráter exatamente oposto ao de Satanás. Desceu, porém, ainda mais baixo na escala da humilhação. Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz (Filipenses 2:8). Como o sumo sacerdote punha de parte suas suntuosas vestes pontificais, e oficiava no vestuário de linho branco, do sacerdote comum, assim Cristo tomou a forma de servo, e ofereceu sacrifício, sendo Ele mesmo o sacerdote e a vítima. Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.  

Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. Pelas Suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53:5)

Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruína produzida pelo pecado. Era o intuito de Satanás causar entre o homem e Deus uma eterna separação; em Cristo, porém, chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado. Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito (João 3:16). Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua natureza humana. Esse é o penhor de que Deus cumprirá Sua palavra. Um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros. Deus adotou a natureza humana na pessoa de Seu Filho, levando a mesma ao mais alto Céu. É o Filho do homem, que partilha do trono do Universo. É o Filho do homem, cujo nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz (Isaías 9:6). O EU SOU é o Árbitro entre Deus e a humanidade, pondo a mão sobre ambos. Aquele que é santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores. Hebreus 7:26, não Se envergonha de nos chamar irmãos (Hebreus 2:11). Em Cristo se acham ligadas a família da Terra e a do Céu. Cristo glorificado é nosso irmão. O Céu Se acha abrigado na humanidade, e esta envolvida no seio do Infinito Amor.

Diz Deus de Seu povo:Como as pedras de uma coroa eles serão exaltados na sua Terra. Porque, quão grande é a Sua bondade! E quão grande é a Sua formosura! (Zacarias 9:16 e 17). A exaltação dos remidos será um eterno testemunho da misericórdia de Deus. Ele há de mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus (Efésios 2:7). Para que... A multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos Céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor (Efésios 3:10 e 11)

Por meio da obra redentora de Cristo, o governo de Deus fica justificado. O Onipotente é dado a conhecer como o Deus de amor. As acusações de Satanás são refutadas, e revelado seu caráter. A rebelião não se levantará segunda vez. O pecado jamais poderá entrar novamente no Universo. Todos estarão por todos os séculos garantidos contra a apostasia. Mediante o sacrifício feito pelo amor, os habitantes da Terra e do Céu se acham ligados a seu Criador por laços de indissolúvel união.  

A obra da redenção será completa. Onde abundou o pecado, superabundou à graça de Deus. A Terra, o próprio campo que Satanás reclama como seu, será não apenas redimida, mas exaltada. Nosso pequenino mundo, sob a maldição do pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado acima de todos os outros mundos do Universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu; aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus (Apocalipse 21:4). E através dos séculos infindos, enquanto os remidos andam na luz do Senhor, hão de louvá-Lo por Seu inefável Dom. EMANUEL, DEUS CONOSCO[4].


O Reino de Deus Está Próximo

Veio Jesus para Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho (Marcos 1:14 e 15)

A vinda do Messias anunciara-se primeiramente na Judeia. No templo de Jerusalém, fora predito a Zacarias o nascimento do precursor, enquanto aquele ministrava perante o altar. Nas montanhas de Belém, os anjos proclamaram o nascimento de Jesus. Os magos foram a Jerusalém em busca Dele. Simeão e Ana testificaram no templo de Sua divindade. Jerusalém e toda a Judeia ouviram a pregação de João Batista; e os emissários do Sinédrio, juntamente com a multidão, escutaram seu testemunho quanto a Jesus. Na Judeia, Cristo recebera os primeiros discípulos. Ali tivera lugar grande parte do princípio de Seu ministério inicial. A irradiação de Sua divindade na purificação do templo, Seus milagres de cura, e as lições da verdade divina que Lhe caíram dos lábios, tudo proclamava aquilo que, depois da cura de Betesda, Ele declarara perante o Sinédrio; Sua filiação do Eterno. 

Houvessem os guias de Israel recebido a Cristo, e Ele os teria honrado como mensageiros Seus para levar o evangelho ao mundo. Foi-lhes dada, primeiramente a eles, a oportunidade de se tornarem arautos do reino e da graça de Deus. Mas Israel não conheceu o tempo de sua visitação. Os ciúmes e desconfianças dos chefes judaicos maturaram em ódio aberto, e o coração do povo se desviou de Jesus. 

O Sinédrio rejeitara a mensagem de Cristo, e intentava matá-Lo; portanto, Jesus partiu de Jerusalém, afastou-Se dos sacerdotes, do templo, dos guias religiosos, do povo que fora instruído na lei, e voltou-Se para outra classe, para proclamar Sua mensagem, e remir os que haviam de levar o evangelho a todas as nações. 

Como a luz e a vida dos homens foi rejeitada pelas autoridades eclesiásticas nos dias de Cristo, assim tem sido rejeitada em todas as subsequentes gerações. Frequentemente se tem repetido a história da retirada de Cristo da Judeia. Quando os reformadores pregavam a Palavra de Deus, não tinham ideia alguma de se separar da igreja estabelecida; os guias religiosos, porém, não toleravam a luz, e os que a conduziam eram forçados a buscar outra classe, a qual estava ansiosa da verdade. Em nossos dias, poucos dos professos seguidores da Reforma são atuados pelo espírito da mesma. Poucos estão à escuta da voz de Deus, e prontos a aceitar a verdade, seja qual for à maneira por que se apresente. Muitas vezes os que seguem os passos dos reformadores são forçados a retirar-se da igreja que amam, a fim de declarar o positivo ensino da Palavra de Deus. E muitas vezes os que estão à procura da luz são, pelos mesmos ensinos, obrigados a deixar a igreja de seus pais, a fim de prestar obediência. 

O povo da Galileia era desprezado pelos rabis de Jerusalém como rústico e ignorante; apresentava, todavia, campo mais favorável à obra do Salvador. Eram mais fervorosos e sinceros; estavam menos sob a influência da hipocrisia; tinham mais aberto o espírito à recepção da verdade. Indo para a Galileia, não estava Jesus procurando exclusão ou isolamento. A província era, a esse tempo, habitada por numerosa população, com muito maior mistura de gente de outras nações do que se encontrava na Judeia. 

Ao viajar Jesus pela Galileia ensinando e curando, multidões a Ele se juntavam das cidades e vilas. Muitas vezes Se via obrigado a ocultar-Se do povo. O entusiasmo subia a tal ponto, que se tornavam necessárias precauções, não fossem despertados os receios das autoridades romanas quanto a qualquer insurreição. Nunca dantes houvera um período assim para o mundo. O Céu baixara aos homens. Almas famintas e sedentas que haviam longamente esperado a redenção de Israel, deleitavam-se agora na graça de um misericordioso Salvador.

A nota predominante da pregação de Cristo era: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho (Marcos 1:15). Assim a mensagem evangélica, segundo era anunciada pelo próprio Salvador, baseava-se nas profecias. O tempo que declarava estar cumprido era o período de que o anjo Gabriel falara a Daniel. Setenta semanas, dissera o anjo, estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos santos (Daniel 9:24). Um dia, profeticamente, representa um ano. (Números 14:34. Ezequiel 4:6). As setenta semanas, ou quatrocentos e noventa dias, representam quatrocentos e noventa anos. É dado um ponto de partida para esse período:Sabe e entende:desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas. Daniel 9:25 – sessenta e nove semanas, ou quatrocentos e oitenta e três anos. A ordem para restaurar e edificar Jerusalém, confirmada pelo decreto de Artaxerxes Longímano. Esdras 6:14; 7:1 entrou em vigor no outono de 457 a.C. Daí, quatrocentos e oitenta e três anos estendem-se ao outono de 27 d.C. Segundo predição dos profetas, esse período devia chegar ao Messias, o Ungido. No ano 27, Jesus recebeu, em Seu batismo, a unção do Espírito Santo, e pouco depois começou Seu ministério. Foi então proclamada à mensagem: O tempo está cumprido

Então, disse o anjo: Ele firmará um concerto com muitos por uma semana sete anos. Durante sete anos depois de começar o Salvador Seu ministério, o evangelho devia ser pregado especialmente aos judeus; três anos e meio, pelo próprio Cristo, e depois, pelos apóstolos. Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares (Daniel 9:27). Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no Calvário. Então o véu do templo se rasgou em dois, mostrando que a santidade e significação do serviço sacrifical desapareceram. Chegara o tempo de cessar o sacrifício terrestre e a oblação. 

A semana, sete anos, terminou em 34 d.C. Então, pelo apedrejamento de Estevão, os judeus selaram afinal sua rejeição do evangelho; os discípulos espalhados pela perseguição iam por toda parte, anunciando a Palavra (Atos 8:4), e pouco depois, Saulo, o perseguidor, se converteu e tornou-se Paulo, o apóstolo dos gentios. 

O tempo da vinda de Cristo, Sua unção pelo Espírito Santo, Sua morte, e a pregação do evangelho aos gentios, foram definidamente indicados. O povo judeu teve o privilégio de compreender essas profecias e reconhecer seu cumprimento na missão de Jesus. Cristo insistia com Seus discípulos quanto à importância do estudo profético. Referindo-Se à profecia dada a Daniel acerca do tempo deles, disse: Quem lê, entenda (Mateus 24:15). Depois de Sua ressurreição, explicou aos discípulos, começando por todos os profetas, o que Dele se achava em todas as Escrituras (Lucas 24:27). O Salvador falara por intermédio de todos os profetas. O Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir (I Pedro 1:11)

Foi Gabriel, o anjo que ocupa a posição imediata ao Filho de Deus, que veio com a divina mensagem a Daniel. Foi Gabriel Seu anjo, que Cristo enviou a revelar o futuro ao amado João; e é proferida uma bênção sobre os que leem e ouvem as palavras da profecia, e observam as coisas ali escritas (Apocalipse 1:3)

O Senhor Iahweh não fará coisa alguma, sem ter revelado o Seu segredo aos Seus servos, os profetas . Ao passo que as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus, as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre (Deuteronômio 29:29). Deus nos tem dado essas coisas, e Sua bênção acompanhará o estudo reverente das escrituras proféticas, apoiado de oração. 

Como a mensagem do primeiro advento de Cristo anunciava o reino de Sua graça, assim a de Sua segunda vinda anuncia o reino de Sua glória. E a segunda, como a primeira mensagem, acha-se baseada nas profecias. As palavras do anjo a Daniel, com relação aos últimos dias, deviam ser compreendidas no tempo do fim. Há esse tempo, muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará. Os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão (Daniel 12:4 e 10). O próprio Salvador deu sinais de Sua vinda, e diz: Quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto. E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Vigiai, pois em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do homem (Lucas 21:31 34 e 36).

Chegamos ao período predito nessas passagens. É chegado o tempo do fim, as visões dos profetas acham-se reveladas, e suas solenes advertências nos mostram a vinda de nosso Senhor em glória como próxima, às portas. 

Os judeus interpretaram e aplicaram mal a Palavra de Deus, e não conheceram o tempo de sua visitação. Os anos do ministério de Cristo e Seus apóstolos, os derradeiros anos de graça para o povo escolhido, passaram-nos tramando a destruição dos mensageiros do Senhor. Terrestres ambições os absorviam, e o oferecimento do reino espiritual foi-lhes feito em vão. Assim hoje o reino deste mundo absorve os pensamentos dos homens, e não observam o veloz cumprimento das profecias e os indícios do rápido aproximar do reino de Deus. 

Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. Se bem que não saibamos a hora da volta de nosso Senhor, podemos conhecer quando está perto. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios (I Tessalonicenses 5:4 a 6)[5].

SEJA FEITA A TUA VONTADE - Cristo fala da vontade de Deus, especialmente no que afeta a esta terra. Quando o coração humano se submete à jurisdição do reino da graça divina, a vontade de Deus para com essa pessoa se cumpre. A forma verbal grega empregada indica que este pedido reconhece que ainda não se está fazendo a vontade de Deus na terra. Pede-se que acabe o reinado do pecado e que chegue o momento quando a vontade de Deus seja tão universalmente cumprida na terra como o é agora em todos os outros domínios da criação de Deus[6].

 

O REINO DE DEUS E A VONTADE DE DEUS

Venha a teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como no Céu.

A frase O Reino de Deus é característica de todo o NT. É uma das frases que mais se usam na oração, e na pregação, e na literatura cristã. É de importância capital que saibamos o que quer dizer.

É evidente que o Reino de Deus era a mensagem central de Jesus. A primeira vez que apareceu no cenário da História foi quando chegou a Galileia pregando a Boa Noticia do Reino de Deus (Marcos 1:14). Jesus mesmo des­crevia a pregação do Reino como a obrigação que se Lhe havia imposto:Vamos aos lugares vizinhos para que pre­guem também ali, porque para isto tenho vindo (Marcos 1:38; Lucas 4:43). A descrição que nos faz Lucas da atividade de Jesus é que Ele ia por todas as aldeias e povoados pregando e mostrando a Boa Noticia do Reino de Deus (Lucas 8:1). Está claro que temos que tratar de entender o significado do Reino de Deus.

Quando assim fazemos nos encontramos com alguns fatores paradoxos. Encontramos que Jesus falava do Reino de três maneiras diferentes.

1. Falava do Reino como já existente no passado. Dizia que Abraão, Isaac e Jacó, e todos os profetas pertenciam ao Reino Lá haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, lançados fora (Lucas 13:28); Mas eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se assentarão a mesa, no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacó (Mateus 8:11). Está claro que o Reino se remonta ao longo de tempo e na História. Jesus falava do Reino como presente:O Reino de Deus, dizia está no meio de vos (Lucas 17:21).

2. O Reino de Deus é uma realidade presente aqui e agora.

3. E falava do Reino de Deus como futuro, porque Ele ensinou a orar pela vinda do Reino nesta Sua própria oração. Como pode ser o Reino passado, presente e futuro a uma só vez? Como pode ser o Reino ao mesmo tempo algo que existiu, que existe e cuja vinda estamos obrigados a pedir?

Encontramos a chave desta dupla petição da Oração do Senhor. Uma das características mais correntes do estilo literário hebraico é a que se conhece tecnicamente como paralelismo. Em hebraico se tende a dizer a mesma coisa duas vezes. Dizia-se de uma maneira, e logo de outra que repetia, ampliava ou explicava a primeira. Quase em cada verso dos Salmos encontramos este paralelismo em ação. Os versos se dividem em duas partes pelo centro; e a segunda parte se repete, amplia ou explica a primeira parte.

Vamos tomar alguns exemplos, e a matéria nos resultará mais clara:

Deus é nosso refúgio e nossa força

Um Socorro sempre alerta nos perigos. Salmo 46:1.

Iahweh dos Exércitos está conosco,

Nossa fortaleza é o Deus de Jacó. Salmo 46:7.

De Iahweh é a terra e o que nela existe,

O mundo e seus habitantes. Salmo 24:1.

Agora apliquemos este principio aos dois pedidos da Oração do Senhor. Vejamos o paralelismo:

Venha o teu Reino

Seja feita tua vontade na terra como no Céu.

Suponhamos que o segundo pedido explica, amplia e define o primeira. Então temos a perfeita definição do Reino de Deus:O Reino de Deus é uma sociedade na Terra em que a vontade de Deus se faz tão perfeitamente como no Céu. Aqui temos a explicação de como o Reino de Deus pode ser passado, presente e futuro, tudo ao mesmo tem­po. Qualquer pessoa que em qualquer momento da História fizer perfeitamente a vontade de Deus, estará no Reino; porém, como o mundo está muito distante de ser um lugar em que a vontade de Deus é realizada e univer­salmente, a consumação do Reino está todavia no futuro, é algo pelo que devemos orar.

Estar no Reino é obedecer a vontade de Deus. I­mediatamente vemos que o Reino não é uma coisa que tem que ver primeiramente com as nações e os povos e os países, mas com cada um de nos. O Reino é, de fato, o mais pessoal do mundo. O Reino demanda a submissão de minha vontade, meu coração, minha vida. O Reino vem só quando cada um de nos faz sua própria e pessoal decisão e submissão.

Um chinês cristão fazia a conhecida oração:Senhor, aviva a Tua Igreja, começando por mim. E nos poderíamos parafrasea-la e dizer:Senhor, traze Teu reino, começando por mim. Orar pelo Reino do Céu é pedir que nos sub­metamos totalmente nossas vontades a vontade de Deus.

Pelo que acabamos de ver resulta claro que o que há de mais importante no mundo é obedecer a vontade de Deus; e o pedido mais importante do mundo é: Faça tua vontade. Porém é igualmente claro que a atitude mental e o tom de voz com que se faz este pedido supõe toda a diferença do mundo.

1. Se pode dizer faça a tua vontade com um tom de resignação derrotada, não porque se que dizer, mas porque se tem aceitado o fato de que não se pode dizer outra coisa; pode-se dizer porque se tem aceitado o fato de que Deus é demasiado poderoso, e é inútil darmos cabeçadas contra as muralhas do universo. Se pode dizer pensando somente no poder indiscutível de Deus, Aqui tem um ponto. Como dizia Umar Jayyâm:

Como com peças de xadrez Ele brinca

no tabuleiro de dias e de noites

movendo-as, lhes dá o xeque e as mata

e as introduzem na caixa sem reprovações.

Não admite negação, nem ais, nem perguntas; de um lado a outro move o Jogador,

e quando te derruba no tabuleiro, do resultado:Só ele sabe.

Uma pessoa pode aceitar a vontade de Deus pela simples razão de que se dá conta que não pode fazer outra coisa.

2. Pode dizer faça tua vontade com um tom de amargo ressentimento. Swinburne falava de sentir os pisões dos pés de ferro de Deus, e do mal supremo: Deus. Beethoven estava só quando morreu; e se diz que quando encontraram seu corpo tinha os lábios inchados com expressão de raiva e os punhos fechados ameaçando ao Deus e ao Céu. Pode ser que considere Deus seu inimigo, porém é um inimigo tão forte que é impossível resistir-lhe. Portanto, pode ser que se aceite a vontade de Deus, porém com um ressentimento amargo e uma raiva difícil mente contida.

3. Se pode dizer faça a tua vontade com perfeito amor e confiança. Pode-se dizer feliz e voluntariamente, seja qual seja esta vontade. Deveria ser fácil para um cristão dizer assim faça a tua vontade; porque o cristão pode estar absolu­tamente seguro de duas coisas acerca de Deus.

3.1. Pode estar seguro da sabedoria de Deus. Algumas vezes, quando queremos edificar, alterar ou reparar algo, consultamos a um técnico. Que faz algumas sugestões, e muitas vezes acabamos dizendo:Bem, pois faça como lhe parece. Você é quem conhece. Deus é o especialista da vida, e Sua direção não nos desapontará nunca.

Quando mataram o reformista escocês Richard Cameron, lhe cortaram a cabeça e as mãos e um certo Murray as levou a Edimburgo. Seu pai estava preso pela mesma causa. O inimigo levou para acrescentar mais dor em sua dura situação, e lhe perguntou se as conhecia. Tomando a cabeça e as mãos de seu filho que eram muito formosas parecida com a sua as beijou e disse:Eu conheço, as conheço. São as de meu filho, meu querido filho. É ele, Senhor: Boa é a vontade do Senhor, Que não pode fazer-nos dano nem a mim nem aos meus, mas tem um fato que sei que a sua bondade e a sua misericórdia nos seguirão todos os dias de nossa vida. Alguém só pode falar assim quando está totalmente seguro de que seus dias estão nas mãos da infinita sabedoria de Deus é fácil dizer: Seja feita a tua vontade.

3.2. Pode estar seguro do amor de Deus. Nós cristãos não cremos em um deus caprichoso e vingativo, nem num fatalismo cego e cruel. Thomas Hardy acaba sua novela Tess com as sombrias palavras: O Presidente dos imortais havia terminado seu jogo divertido com Tess. Mas nos cremos em um Deus Cujo nome é amor. Como diz o hino de João Batista Cabrera:

Qual bálsamo que alivia      - firme e a dura dor

É para a alma angustiada     - saber que Deus é amor.

Devoção que proporciona   - riquezas de grande valor

É para a alma salva               - sentir que Deus é amor.

E como dizia Paulo: Quem não poupou seu próprio Filho e o entregou a todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com Ele (Romanos 8:32). Não se pode olhar a Cruz e seguir duvidando do amor de Deus; e quando se está seguro do amor de Deus, é fácil dizer:Seja feita a Tua vontade[7].

 

Reinos em Conflito

Venha o Teu reino (Mateus 6:10).

Assim como em todo o restante do Sermão do Monte, há na Oração do Senhor uma ordem lógica. As petições seguem-se umas às outras numa seqüência necessária.

A oração, por exemplo, começa pedindo que o nome de Deus se­ja santificado entre os homens. Mas no momento em que essa petição é proferida, somos lembrados do fato de que o nome e a pessoa de Deus não são assim geralmente santificados.

Por que, perguntamos nós, isso acontece? Por que Deus não é hon­rado como deveria ser?

A resposta é tanto simples como complexa. A resposta simples diz que foi o pecado que provocou esse estado de coisas. A resposta torna-­se mais complexa quando percebemos que existe outro reino estabele­cido na Terra em conflito com o reino de Deus.

Esse reino é o reino das trevas, o reino de Satanás. A Bíblia não faz rodeios ao falar sobre o reino de Satanás. O Evangelho de João cha­ma Satanás de o príncipe deste mundo (João 12:31), enquanto Pau­lo o chama de o príncipe das potestades do ar (Efésios 2:2). Novamen­te, Paulo escreve aos efésios que os cristãos precisam se revestir de to­da a armadura de Deus, porque nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Efésios 6:11 e 12).

Em contraste, Jesus é chamado de o Soberano dos reis da Terra (Apocalipse 1:5). E Sua pregação centraliza-se com certeza na vitória de Seu reino sobre o reino das trevas. Na verdade, Jesus veio abrir cami­nho para a vitória final do reino de Deus no conflito cósmico do Uni­verso.

Venha o Teu reino permanece como o centro do grande confli­to entre Cristo e Satanás. E cada ser humano você e eu é um solda­do em um desses reinos. Estamos ativamente empenhados ou do lado do Rei Jesus ou do lado de Satanás.

Como estou hoje? Que reino estou promovendo? Como eu sei?[8].

 

Um Reino em Andamento

O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão (Daniel 7:27).

Falar sobre o reino de Deus pode ser uma coisa um tanto confu­sa, mesmo quando provém dos lábios de Jesus. A razão por que isso acontece é que Ele fala do reino às vezes como estando no passado, ou­tras vezes como estando no presente e ainda outras vezes como estan­do no futuro.

Jesus deu a entender que o reino estava no passado quando sugeriu que Abraão, Isaque, Jacó e os profetas haviam ingressado no reino em seu tempo de vida (Lucas 13:28). Jesus falou do reino como estando no pre­sente quando observou que o reino de Deus está dentro de vós (Lucas 17:21). Também ensinou repetidas vezes que o reino de Deus estava no futuro, quando mencionou a segunda vinda, e mesmo quando ordenou aos discípulos que orassem pela vinda do reino, enquanto viveu aqui.

Como, perguntamos nós, pode o reino ser passado, presente e fu­turo? Como pode o reino ser um só, e ao mesmo tempo algo que exis­tiu, que existe e pelo qual é nosso dever orar?

A resposta encontra-se no fato de que a vinda do reino é progressi­va. A luta entre o Príncipe de Deus, Cristo, e o príncipe deste mundo Satanás começou no Céu (Apocalipse 12:7 e 8), e continuou na Terra du­rante todo o AT. Mesmo naquela época, alguns ficavam ao lado do Senhor, enquanto outros a Ele se opunham. Mas com a vinda de Jesus, a batalha pelo coração das pessoas e pelo governo de Deus entrou em marcha acelerada. Com Jesus, o reino da graça chegara em poder. O reino da graça se estenderá até a segunda vinda, quando Jesus voltará para restabelecer a soberania física de Deus sobre a Terra.

Mas conquanto se possa pensar na chegada do reino como pro­gressiva, ela não é evolucionária. A segunda vinda trará uma drástica descontinuidade a toda a história passada. Será Deus intervindo, de maneira inequívoca, na história para reivindicar a Terra como Seu reino. Os cristãos esperam e oram por esse acontecimento como por nenhum outro[9].

 

A Esperança Cristã

Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da Terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus (Mateus 24:30 e 31).

O grande acontecimento dos séculos é a segunda vinda de Je­sus. Devemos orar de maneira mais fervorosa por esse acontecimento, trabalhar mais diligentemente em favor dele e pensar nele com maior frequência.

Uma das melhores descrições do advento encontra-se em O Gran­de Conflito. Daremos hoje uma amostra dessa descrição[10].

Nenhuma pena humana pode descrever esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor. ...

O Rei dos reis desce sobre a nuvem, envolto em fogo chamejan­te. Os céus enrolam-se como um pergaminho, e a Terra treme diante dele, e todas as montanhas e ilhas se movem de seu lugar...

Por entre as vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e o ribom­bo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem. Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, bra­da:Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgi! Por todo o comprimento e largura da Terra, os mortos ouvirão aquela voz, e os que ouvirem viverão... Do cárcere da morte vêm eles, revestidos de glória imortal... E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em prolongada e jubilosa aclamação de vitória...

Ele mudará nosso corpo vil, modelando-o conforme Seu corpo glo­rioso... Os últimos traços da maldição do pecado serão removidos...

Os justos vivos são transformados num momento... Agora se tornam imortais, e com os santos ressuscitados, são arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares... Criancinhas são levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães. Amigos há muito separados pela morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem, e com cânticos de alegria as­cendem juntamente para a cidade de Deus[11].

 

Trabalhar e Orar

E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim (Mateus 24:14).

Jesus nos diz no Sermão do Monte para orarmos pela vinda do reino. Mas em outros lugares nos diz que devemos fazer mais do que orar. Os cristãos devem ser ativos em preparar o caminho para o reino. É disso que tratam parábolas como a dos talentos.

Ora, é verdade que o reino de Deus encontra suas raízes no cora­ção humano convertido. Mas também é verdade que o que está no co­ração flui para a vida. Isso acontece tanto no reino de Deus quanto no reino de Satanás.

Em consequência disso, os cristãos farão mais do que apenas orar pelo reino. Eles trabalharão ativamente, no poder do Espírito Santo, para disseminar o reino aqui na Terra e preparar o caminho para a vin­da da plenitude do reino nas nuvens do céu.

É razoável que o reino se difunda através de cada ato de bondade humana e compartilhamento do amor de Deus. Quando vivemos os princípios cristãos, estamos expandindo as fronteiras do reino e fazen­do recuar as fronteiras do reino das trevas.

A preparação para a vinda do reino também acontece pela prega­ção, conforme lemos em Mateus 24:14.

Os reinos não vêm por acidente. Deus quer me usar hoje como agente na divulgação de Seu reino[12].

 

Fazendo a Vontade

Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como no Céu (Mateus 6:10).

Qual é a vontade de Deus que precisa ser feita? No contexto do Sermão do Monte é, sem dúvida, fazer ou seguir as recomendações do próprio sermão. Assim sendo, faça-se a Tua vontade significa ponha-­se em prática o Teu Sermão do Monte. E a vontade do Sermão do Monte, em Mateus 5 e 6, é que os cristãos:

1) Pratiquem as bem-aventu­ranças Mateus 5:2 a 12, por exemplo, sendo humildes de espírito, mansos, mi­sericordiosos, pacificadores e assim por diante;

2) Sejam testemunhas de Deus como sal e luz, tanto na vida diária como em sua consciente es­fera de ação evangelística (Mateus 13 a 16);

3) Vivam a largura e a pro­fundidade plenas da lei, chegando mesmo ao ponto de, como o Pai, ter maduro ou perfeito amor por seus inimigos (Mateus 17 a 48);

4) Se­jam inteiramente sinceros em seus atos de devoção ao servir a Deus com um só propósito e se relacionem com Ele como Pai (Mateus 6:1 a 10).

Fazer a vontade Deus é seguir os ensinamentos de Jesus, todos eles. Os que podem orar venha o Teu reino, devem certamente de­sejar viver a vida do reino aqui na Terra. Assim sendo, a segunda peti­ção em Mateus 6:10 flui diretamente da primeira. Fazer a vontade de Deus é a principal ocupação dos cidadãos do reino, tanto em sua exis­tência presente como no reino ainda por vir.

Fazer a vontade de Deus na Terra como é feita no Céu nos aju­da a compreender a natureza cósmica da Oração do Senhor. Estamos fazendo uma grandiosa oração quando oramos a Oração do Senhor. As questões em jogo transcendem a existência terrena. Elas representam princípios de importância eterna e universal. A expressão como no Céu nos ensina que Deus tem um ativo empreendimento em anda­mento com os anjos nessa esfera espiritual, além das fronteiras de nos­so planeta lesionado pelo pecado.

Mesmo em nossa vida restrita, entramos em contato com princí­pios galácticos:os próprios princípios que jazem no fundamento da saúde do Universo de Deus.

Como cristãos, estamos comprometidos em fazer a vontade de Deus em todos os aspectos de nossa vida:na escola, na família, no tra­balho, na recreação, em tudo.

Senhor, continua a nos ensinar a Tua vontade, para sermos fiéis às palavras de Tua oração[13].

 

4. VENHA O TEU REINO

VENHA O TEU REINO, é o segundo item da oração que Jesus ensinou. A palavra reino é um pouco estranha aos nossos ouvidos ocidentais. Democracia é um termo que entendemos melhor. Nós exigimos o direito de nos governarmos a nós mesmos.

Kipling, o famoso poeta inglês, refere-se a nós como um povo onde cada homem coroa rei a seus tristes irmãos. Hoje em dia, nós nos rebelamos contra a ideia de um governo ditatorial e totalitário. E até existe quem vá ao ponto de destronar a Deus, em sua defesa do livre arbítrio.

Temos que nos lembrar, porém, de que em certo sentido o reino de Deus já veio. Suas leis regem o Universo com absoluta autoridade.

– O cientista conhece as leis de Deus. Ele enxerga perfeitamente dentro da engrenagem precisa do cosmos.

– Os médicos sabem que há leis que dizem respeito ao equilíbrio do organismo. Quem as obedece tem boa saúde. A desobediência a elas resulta em morte.

– Os psiquiatras reconhecem que o pensamento do homem tem que se ajustar a um padrão certo. Quem se desvia desta linha reta, fica desequilibrado.

– O sociólogo ensina que o bem de um é o bem de todos. Nós estamos ligados uns aos outros pela fraternidade universal que também é uma lei de Deus.

Deus já estabeleceu seu reino sobre a Terra. Isto significa a supremacia de suas leis e de seu domínio. Seu reino está aqui agora. Quer queiramos quer não, Ele domina sobre nós. Como disse o profeta do passado: A alma que pecar, essa morrerá (Ezequiel 18:4).

Nós temos um palácio do governo. Sabemos quem é o governador do Estado, e conhecemos alguns membros do legislativo. Sabemos como as leis humanas são criadas. Entretanto, toda e qualquer lei feita por governos humanos pode ser vetada ou sofrer emendas, já que o futuro trará outros governantes, outros legislativos.

Com as leis de Deus isso não ocorre. Eu poderia rebelar-me contra a lei da gravidade, por exemplo, e saltar da janela do último andar de um grande edifício A única coisa que conseguiria era-me autodestruir. Minha atitude não modificaria a lei. Por isso, se quero descer, tomo o elevador. Não seria isto, porém, uma prova da supremacia da engenhosidade mecânica do homem, sobre a lei de Deus? Não. Se o cabo de um elevador rebentar, ele cai também. Isso já aconteceu mais de uma vez. O próprio fato de os construtores usarem cabos de aço e fazerem inspeções regulares de seus carros é um atestado da validade dessa lei de Deus, e de sua subordinação a ela.

O mundo é o reino de Deus e se acha sob Seu domínio soberano, e sob Seu poder, sendo totalmente controlado por leis divinas. Entretanto, pela sua desobediência, o homem está indo em direção à autodestruição. Será que algum dia vamos recobrar o juízo? Será que daremos suficiente reconhecimento à lei de Deus para nos submetermos a ela e a obedecermos? Há muitos que respondem negativamente. São homens tão depravados, tão corrompidos pelo egoísmo e estão tão cegos pelo orgulho, que não enxergam o caminho certo, e mesmo que pudessem obedecê-las não quereriam.

Por isso, estamos constantemente ouvindo falar da destruição do mundo, e do inferno como castigo inevitável. Estamos ouvindo o clamor de pretensos profetas que não veem esperança para o mundo, mas apenas o terror do julgamento de um Deus irado. Jesus, entretanto orou assim: Venha o teu reino! Naturalmente, ele acreditava na concretização de tal fato, e não apenas na possibilidade de ele se tornar realidade.

Houve um dia em que Jesus cerrou definitivamente as portas de sua carpintaria. Precisava começar a tratar dos negócios de seu Pai; trazer o reino de Deus a terra. O texto de seu primeiro sermão foi: Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus (Mateus 4:17). Era isto que ele pregava o tempo todo. Ele nunca deixou de crer nisso e mesmo depois da ressurreição ele ainda falou aos discípulos acerca do reino de Deus (Atos 1:3).

Quando dissermos:Venha o teu reino, será bom enfatizarmos a palavra venha. Parece mais fácil dizer:Que se espalhe o teu reino. Pois não é difícil orar pela conversão do povo e dar ofertas para missões. O difícil é encarar honestamente os próprios pecados, arrepender-se e mudar de vida.

É mais fácil fazer cruzadas pela paz mundial do que perdoar alguém que nos tenha prejudicado de algum modo, ou a quem nós prejudicamos.

Davi Livingstone levou aos selvagens a Palavra de Deus, mas antes, ele dedicou a si mesmo ao Senhor. No último dia de sua vida, ele escreveu em seu diário. Meu Jesus, meu Rei, minha Vida, meu TUDO, novamente eu dedico a Ti toda a minha vida.

Há um verso das Escrituras que me perturba muito. Eu tenho gozado do abençoado privilégio de pregar a muitas pessoas. Tenho falado em várias das maiores igrejas do Estado. Nas conferências, todas as noites, o auditório tem ficado repleto. Há, porém uma coisa que é mais difícil que pregar. O apóstolo Paulo falou disso:Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros não venha eu mesmo ser desqualificado (I Coríntios 9:27). Se o maior pregador cristão de todos os tempos corria o risco de se tornar desqualificado, quanto mais nós!

Venha o Teu reino. Este pedido demonstra que olhei para dentro do meu coração e desejo a ação do poder purificador de Deus em minha vida. Significa também que eu me inclino humildemente diante Dele em fé e obediência.

Ouvi certa vez a história de um homem que possuía um cão muito fiel. Este senhor mandou o cão vigiar sua marmita e por causa de sua obediência cega, pereceu em um incêndio na floresta. Com lágrimas correndo pelo rosto, o velho explicou:Sempre tive que ser muito cauteloso com as ordens que lhe dava, porque ele obedeceria a tudo.

É isto que esta oração quer dizer.

Jesus contou a seguinte parábola: O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e tendo achado uma pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía, e a comprou (Mateus 13:45 e 46). As pérolas que aquele homem vendeu eram resultado do labor de uma vida inteira. Representavam tudo o que ele possuía. Contudo, encontrou uma pérola que valia por todas as outras. Portanto, quando dizemos Venha o teu reino, isto significa que estamos dispostos a renunciar a tudo o que possuímos para termos a Deus. Ele quer tudo ou nada.

É mais fácil para nós falarmos acerca dos pecados do mundo, da corrupção política, dos males da bebida, da literatura e dos filmes pornográficos, dos inferninhos da cidade, ou dos incrédulos da China. Mas antes de podermos orar pelos lugares onde não há o reino de Deus, temos que tê-lo em nós mesmos.

Jonathan Edwards, um dos mais poderosos pregadores da América, sabia disto. Ele afirmou certa vez: Quando vou pregar, tenho dois objetivos em mente. Primeiro cada ouvinte deve entregar o coração a Jesus. Segundo, independentemente das decisões dos outros, eu entregarei minha vida a Ele.

O apóstolo disse:Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda a malícia. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou (Efésios 4:31 e 32).

É isto que a vinda do reino de Deus significa para nós. Depois que ele vem, nós poderemos divulgá-lo com grande poder. Os pecadores nunca serão defensores do reino da justiça.

É como diz aquele cântico negro-spiritual: It ain't my brother, it ain't my sister, it's me, o Lord, standing in the need of prayer. Não é meu irmão, nem minha irmã, mas sou eu, Senhor, que estou precisando de oração.

Venha o teu reino! Depois que esta oração for respondida, então não teremos mais dúvidas de que o poder do reino de Deus cobre a terra.

 

5. FAÇA-SE A TUA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

JESUS ENSINA QUE, para orar com poder, temos que colocar Deus em nosso pensamento e reconhecer Sua soberania. Devemos dizer: Seja feita a Tua vontade. É aqui que muitas pessoas tropeçam, perdem o alento e se afastam de Deus. Eu creio saber a causa disso.

Quando estudava Psicologia na faculdade, formulei um teste de associação de ideias, para aplicar às minhas congregações. Diria a palavra Natal, por exemplo, a uma pessoa e pediria a ela que dissesse a primeira coisa que lhe viesse à mente, associada à palavra Natal. As respostas que eu recebia eram quase sempre:Papai Noel, presentes, enfeites, etc. Raramente alguém diria:Cristo. Cheguei à conclusão de que nós temos comercializado e paganizado o nascimento do Senhor.

Eu creio que, em certos limites, este teste é bastante válido.

Vamos fazer uma prova agora mesmo. Eu mencionarei uma palavra. E você verificará qual é o seu primeiro pensamento:vontade de Deus. Que é que isto lhe sugere? A morte de um ente querido ou um grande revés, uma enfermidade incurável ou um grande sacrifício? A maioria das pessoas quando pensa em vontade de Deus forma um quadro mental sombrio.

Talvez uma das razões disto seja a oração de Jesus no Getsêmani. Não se faça a minha vontade, e, sim, a tua (Lucas 22:42). E em consequência de sua submissão, ele se encaminhou para o Calvário onde foi pregado numa cruz para morrer. E é assim que vontade de Deus e cruz acabam se tornando ideias sinônimas.

Mas podemos recuar um pouco mais no tempo. Vejamos o caso de Jó. Ele perdeu sua riqueza e os filhos; sofreu uma grave enfermidade, e sua esposa o abandonou. E ele associou tudo isto à vontade de Deus, pois disse: O Senhor o deu e o Senhor o tomou (Jó 1:21). E nós também, quando temos mágoas e tristezas, dizemos: É a vontade de Deus. É muito natural que não desejemos tal vontade.

Parece-me que a crença geral é que a intenção de Deus é tornar nossa vida desagradável, como quando temos que ingerir remédios amargos, ou temos que ir ao dentista. Pensamos que seríamos mais felizes se não nos submetêssemos à vontade de Deus. Na realidade, nunca chegamos a dizer:Eu me recuso a acatar a vontade de Deus. No entanto, afirmamos. Desta vez, vou fazer o que quero.

É preciso que nos lembremos de que o amanhecer também é da vontade de Deus. A um tempo de colheita que resulta em alimentos e vestuário para nós, e sem o qual não haveria vida sobre a terra. Deus criou as estações do ano; portanto, o fato de elas existirem também é parte da vontade de Deus. A verdade é que as coisas boas da vida superam em muitos as más. Há mais alvoradas que ciclones.

As pessoas nos EUA vivem em casas, que durante o inverno são aquecidas por meio do vapor da água. Gozam também do conforto do gás encanado, que vem diretamente à sua casa, mas muito antes de nós nascermos, Deus já o tinha estocado no solo, para seu bem-estar. Na verdade, as geadas invernais são da vontade de Deus, mas o aquecimento artificial também foi Deus quem providenciou para eles.

A maneira como encaramos a vontade de Deus é que mostrará se nós a aceitamos de bom grado ou nos esquivamos dela.

Jesus disse: Seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu. Ele disse: como no Céu. Em que é que pensamos quando a palavra Céu nos vem à mente? Pensamos em paz, plenitude, perfeita alegria e a ausência de dores, sofrimentos e lágrimas. João viu tudo isso, e o registrou em Apocalipse 21. E estas coisas são exatamente o que queremos para nossa vida atual.

Jesus disse que isto é a vontade de Deus para nós. Antes que possamos dizer: Seja feita a tua vontade... Nós temos que crer que ela é a melhor coisa para nós. Muitas vezes nós nos preocupamos com as situações imediatas enquanto Deus vê nossa vida como um todo. 

Tomemos o exemplo de dois estudantes. É vontade do seu professor que eles dediquem bastante tempo a um estudo aplicado. Um deles, porém, se rebela contra essa imposição desagradável, e como quer se divertir resolve ir ao cinema. É provável até que ele abandone os estudos para poder viver despreocupadamente O outro se dedica aos livros, embora isto lhe seja penoso. Vejamos estes mesmos rapazes dez ou vinte anos mais tarde. O primeiro agora é grandemente prejudicado pela sua ignorância. Enfrenta muitas dificuldades e contratempos por causa de sua falta de preparo. O outro é mais livre, mais feliz e sua vida é menos penosa, mais compensadora, porque ele se preparou convenientemente.

Foi assim com José, o filho predileto de Jacó. Seu lar era um lugar feliz. Mas o ciúme que brotou no coração de seus irmãos fez com que estes o jogassem numa cova escura, e depois o vendessem como escravo. Mais tarde, aqueles mesmos irmãos tiveram que ir a ele, num momento de necessidade. A palavra de José para eles foi:Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós (Gênesis 45:5).

É lógico que os primeiros tempos foram muito difíceis para José, mas ele não desesperou da fé, e nunca arredou de sua posição, de modo que, no fim da vida, ele podia olhar para trás e sentir o mesmo que sentiu o personagem da peça Hamlet de Shakespeare quando afirmou: Existe uma divindade que dá forma aos nossos objetivos. A submissão de nosso Senhor, ocorrida no Getsêmani, seguiu-se uma cruz, mas depois da cruz houve um túmulo vazio e um mundo redimido.

Às vezes, não é Deus quem nos leva aos vales profundos e às águas escuras. Pode ser a ignorância e a imprudência humanas. Entretanto, mesmo em tais circunstâncias, podemos sentir sua presença, porque de nossos erro Deus pode tirar algo de positivo para nós. Não foi Deus quem enviou a tragédia à vida de Jó, mas como a sua fé resistiu, o Senhor usou todas aquelas tristezas para o bem dele. É maravilhoso o que Deus pode fazer com um coração ferido, quando nós o entregamos a Ele.

A vontade de Deus não somente é o melhor para nós; ela também se encontra ao nosso alcance. Muitos se retraem diante da vontade de Deus por temerem que o Senhor lhes peça que façam algo que não podem fazer. Foi o caso do homem que recebeu um talento, e enterrou-o. Depois, ao explicar a razão daquele fracasso, e o porquê de nem ao menos ter tentado a mínima aplicação, ele disse:Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, ele disse, e ajuntas onde não espalhaste receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu (Mateus 25:24 e 25).

Ele estava receoso de exigências absurdas por parte de seu senhor. Cria que, mesmo que ele fizesse o melhor que pudesse, não conseguiria agradá-lo. Há muitas coisas que não podemos fazer. Por exemplo, são relativamente poucas as pessoas que possuem habilidades artísticas. A capacidade de liderança também é outro dom que a maioria das pessoas não possui. E poderíamos enumerar milhares de exemplos deste tipo.

De uma coisa, porém, podemos estar certos:nós todos podemos fazer a vontade de Deus. Moisés pensou que ele não poderia. Quando Deus o chamou para livrar os filhos de Israel da escravidão, começou a arranjar desculpas. Ele cria sinceramente que aquilo estava acima de suas possibilidades. No entanto, ele conseguiu. Nós todos podemos dizer: Faça-se a tua vontade, com toda a confiança, porque Deus é um Pai amoroso, que conhece seus filhos melhor do que eles próprios. Ele exige de nós o máximo que podemos dar, mas nada, além disso. .

Orar Faça-se a Tua vontade é o mesmo que alistar-se num exército para combater na guerra.

Em 1872, William Carey pregou um sermão baseado no texto:Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas (Isaías 54:2). Foi uma das mensagens mais eloquentes que alguém já pregou, pois dela resultou a criação da Sociedade Batista Missionária, cuja história não caberia em cem livros. Naquele sermão, Carey disse sua famosa frase: Espere grandes coisas de Deus; realize grandes coisas para Deus.

O importante, porém, é que ele não se contentou em apenas pregar sobre missões; ele abandonou tudo e foi para a Índia como missionário. Ele realmente orou:Assim na Terra como no Céu. E, para ele, aquilo significava a Terra toda, pois dedicou a vida a ver sua própria oração respondida.

Um pastor recebeu uma carta de uma pessoa que lhe solicitava que orasse a Deus para que ele não deixasse mais nenhuma criança ser atacada de poliomielite. Ela mencionava o seguinte verso:Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos (Mateus 18:14). Sendo pai de três filhos, é certo que o pastor gostaria de ver a poliomielite erradicada completamente.

Tenho certeza de que nós podemos ver esta oração respondida à hora que desejarmos. No entanto, é preciso notar que, no orçamento da nação, dedicam-se bilhões de dólares à corrida armamentista. Mas quando pensamos em pólio, realizamos apenas uma March of Dimes, Campanha dos tostões. Quem sabe se utilizássemos em pesquisas o dinheiro empregado em bombas atômicas, não encontraríamos a cura não só para a poliomielite, mas também para o câncer, a artrite, e muitas outras enfermidades.

Contudo, nós somos forçados a manter este amplo programa de defesa. E de quem é a culpa? Se nós tivéssemos empregado em trabalho missionário no Japão uma quantia equivalente ao preço de uma daquelas naves de guerra afundadas em Pearl Harbor, talvez nem houvesse a Segunda Grande Guerra. Se tivéssemos mantido o espírito cristão na Alemanha, logo após a Primeira Guerra, talvez Hitler nem chegasse a ser conhecido.

Na realidade, a vontade de Deus está em operação na Terra, atuando na vida de cada um de nós. Por exemplo, nenhum de nós decidiu em que século nasceria. Nenhum de nós é livre para escolher os pais, a cor da pele, o sexo ou a aparência física. Tudo isto foi resolvido por uma vontade superior, a vontade de Deus.

E a vontade de Deus está operando em nossa vida. Existe um propósito para nossa vida. Eu creio que ninguém nasceu por acaso. Antes de nascermos aqui na terra, já existíamos na mente de Deus. É possível nos rebelarmos contra ele, mas no fim seremos completamente derrotados. Uma pessoa pode recusar curvar-se à vontade de Deus e resignar-se a viver tolerando o que lhe sobrevém, mas nunca encontrará paz, nem alegria.

É como disse o poeta britânico, Tennyson:

Nossa vontade é nossa; não sabemos por quê.

Nossa vontade é nossa, para torná-la Tua.

Como podemos saber a vontade de Deus para nossa vida? Muitos nunca a saberão, pois Deus não Se revela a quem não O busca com seriedade. Ninguém pode entrar em Sua santa presença apressadamente. Quem diz: Senhor, aqui está minha vontade; espero que Tu a aproves, está perdendo tempo. Somente aqueles que sinceramente desejam fazer a vontade de Deus e confiam Nele o suficiente para se submeterem completamente a ela, irão realmente conhecê-la. É inútil dizer a Deus:Senhor mostra-me a Tua vontade; se eu gostar dela, eu a aceitarei. Temos que aceitá-la antes mesmo de conhecê-la. As possibilidades que temos de assim agir dependem de nosso conceito de Deus.

Deus revela sua vontade de muitos modos aos que são genuinamente sinceros. Nós aprendemos, muitas coisas pelo discernimento interior. Um psiquiatra declarou-me certa vez: Uma pessoa tem ou não tem discernimento. Ele não pode ser adquirido por aprendizado. É algo que Deus nos dá.

Tenho conversado com pessoas que têm problemas de difícil solução. Elas passam horas e horas virando-se na cama, tentando dormir, mas não conseguem, por causa de seus problemas Algumas vêm ao meu gabinete pastoral e ali, no silêncio e na calma, nós conversamos acerca de Deus e de seu amor e cuidado por nós. Primeiro oramos e depois falamos sobre o problema. E muitas vezes, tenho visto o rosto da pessoa se iluminar de alegria ao receber a resposta da oração e a solução de seu problema. Eu diria que Deus lhe deu discernimento. Alguns chamam a isto de revelação interior.

Deus também pode revelar-nos Sua vontade através de terceiros ou de circunstâncias especiais, através de experiências da História, ou da descoberta de Suas leis pelos pesquisadores científicos ou ainda através de Sua Igreja. É naturalmente, nós descobrimos a vontade de Deus também ao estudarmos a vida e os ensinos de Cristo.

Eu possuo um rádio no carro. Quando estou na cidade, posso ouvir bem todas as emissoras de Porto Alegre. Mas, se me afasto um pouco da cidade, o som da estação fica bem fraco. O rádio ainda está ligado na mesma emissora, que ainda transmite na mesma frequência. Fui eu quem me afastei demais. O mesmo acontece com a voz de Deus. Muitos não ouvem sua voz, porque se afastam demais dele.

A certeza de estarmos fazendo a vontade de Deus é nossa melhor arma para combater os temores e preocupações. O grande poeta Dante disse:Em sua vontade, está a nossa paz. Render-se à vontade Dele elimina a apreensão pelo futuro. Não sabemos com absoluta certeza que, se nós fizermos a vontade Dele hoje, o amanhã será regido pela vontade Dele também. E não estou sendo fatalista, pois, como o salmista, eu também posso dizer: Jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão (Salmo 37:35).

Quando nos submetemos à vontade de Deus hoje, o Senhor passa a se responsabilizar pelo nosso futuro.

Resumindo, Jesus nos ensina então que os três primeiros pedidos de nossa oração devem ser feitos com os olhos fixos em Deus. Haverá o momento de apresentarmos nossas necessidades. Jesus nos assegura que é correto orar por nós mesmos, mas antes de podermos apresentar nossos problemas a Deus, Ele deve ocupar nossa mente. Só então é que estamos preparados para pedir-Lhe bênçãos para nós[14].

 

O REINO DA GLÓRIA

O Final e Glorioso Triunfo 

Ao fim dos mil anos, Cristo volta novamente a Terra. É acompanhado pelo exército dos remidos, e seguido por um cortejo de anjos. Descendo com grande majestade, ordena aos ímpios mortos que ressuscitem para receber a condenação. Surgem estes como um grande exército, inumerável como a areia do mar. Que contraste com aqueles que ressurgiram na primeira ressurreição! Os justos estavam revestidos de imortal juventude e beleza. Os ímpios trazem os traços da doença e da morte. 

Todos os olhares daquela vasta multidão se voltam para contemplar a glória do Filho de Deus. A uma voz, as hostes dos ímpios exclamam: Bendito o que vem em nome do Senhor! Não é o amor para com Jesus que inspira esta declaração. É a força da verdade que faz brotar involuntariamente essas palavras de seus lábios. Os ímpios saem da sepultura tais quais a ela baixaram, com a mesma inimizade contra Cristo, e com o mesmo espírito de rebelião. Não terão um novo tempo de graça no qual remediar os defeitos da vida passada. Para nada aproveitaria isso. Uma vida inteira de pecado não lhes abrandou o coração. Um segundo tempo de graça, se lhes fosse concedido, seria ocupado, como foi o primeiro, em se esquivarem aos preceitos de Deus e contra Ele incitarem rebelião. 

Cristo desce sobre o Monte das Oliveiras, donde, depois de Sua ressurreição, ascendeu, e onde anjos repetiram a promessa de Sua volta. Diz o profeta:Virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo. E naquele dia estarão os Seus pés sobre o Monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o Monte das Oliveiras será fendido pelo meio,... E haverá um vale muito grande. O Senhor será Rei sobre toda a Terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o Seu nome (Zacarias 14:5 4 e 9). Descendo do Céu a Nova Jerusalém em seu deslumbrante resplendor, repousa sobre o lugar purificado e preparado para recebê-la, e Cristo, com Seu povo e os anjos, entram na santa cidade. 

Agora Satanás se prepara para a última e grande luta pela supremacia. Enquanto despojado de seu poder e separado de sua obra de engano, o príncipe do mal se achava infeliz e abatido; mas, sendo ressuscitados os ímpios mortos, e vendo ele as vastas multidões a seu lado, revivem-lhe as esperanças, e decide-se a não render-se no grande conflito. Arregimentará sob sua bandeira todos os exércitos dos perdidos, e por meio deles se esforçará por executar seus planos. Os ímpios são cativos de Satanás. Rejeitando a Cristo, aceitaram o governo do chefe rebelde. Estão prontos para receber suas sugestões e executar-lhe as ordens. Contudo, fiel à sua astúcia original, ele não se reconhece como Satanás. Pretende ser o príncipe que é o legítimo dono do mundo, e cuja herança foi dele ilicitamente extorquida. Representa-se a si mesmo, ante seus súditos iludidos, como um redentor, assegurando-lhes que seu poder os tirou da sepultura, e que ele está prestes a resgatá-los da mais cruel tirania. Havendo sido removida a presença de Cristo, Satanás opera maravilhas para apoiar suas pretensões. Faz do fraco forte, e a todos inspira com seu próprio espírito e energia. Propõe-se guiá-los contra o acampamento dos santos e tomar posse da cidade de Deus. Com diabólica exultação aponta para os incontáveis milhões que ressuscitaram dos mortos, e declara que como seu guia é muito capaz de tomar a cidade, reavendo seu trono e reino.

Naquela vasta multidão há muitos que pertenceram à raça de grande longevidade que existiu antes do dilúvio; homens de estatura elevada e gigantesco intelecto, os quais, entregando-se ao domínio dos anjos caídos, dedicaram toda a sua habilidade e saber à exaltação própria; homens cujas maravilhosas obras de arte levaram o mundo a lhe idolatrar o gênio, mas cuja crueldade e invenções más, contaminando a Terra e desfigurando a imagem de Deus, fizeram-nO exterminá-los da face de Sua criação. Há reis e generais que venceram nações, homens valentes que nunca perderam batalha, guerreiros orgulhosos, ambiciosos, cuja aproximação fazia tremer os reinos. Na morte não experimentaram mudança alguma. Ao subirem da sepultura, retomam o fio de seus pensamentos exatamente onde ele cessou. São movidos pelo mesmo desejo de vencer, que os governava quando tombaram. 

Satanás consulta seus anjos, e depois esses reis, vencedores e guerreiros poderosos. Olham para a força e número ao seu lado, e declaram que o exército dentro da cidade é pequeno em comparação com o seu, podendo ser vencido. Formulam seus planos para tomar posse das riquezas e glória da Nova Jerusalém. Todos imediatamente começam a preparar-se para a batalha. Hábeis artífices constroem petrechos de guerra. Chefes militares, famosos por seus êxitos, arregimentam em companhias e seções as multidões de homens aguerridos. 

Finalmente é dada a ordem de avançar, e o inumerável exército se põe em movimento, exército tal como nunca foi constituído por conquistadores terrestres, tal como jamais poderiam igualar as forças combinadas de todas as eras, desde que a guerra existe sobre a Terra. Satanás, o mais forte dos guerreiros, toma à dianteira, e seus anjos unem as forças para esta luta final. Reis e guerreiros estão em seu séquito, e as multidões seguem em vastas companhias, cada qual sob as ordens de seu designado chefe. Com precisão militar as fileiras cerradas avançam pela superfície da Terra, quebrada e desigual, em direção à cidade de Deus. Por ordem de Jesus são fechadas as portas da Nova Jerusalém, e os exércitos de Satanás rodeiam a cidade, preparando-se para o assalto. 

Agora Cristo de novo aparece à vista de Seus inimigos. Muito acima da cidade, sobre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime. Sobre este trono assenta-Se o Filho de Deus, e em redor Dele estão os súditos de Seu reino. O poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma retratar. A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplendor de Sua presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a Terra inteira com seu fulgor. 

Mais próximo do trono estão os que já foram zelosos na causa de Satanás, mas que, arrancados como tições do fogo, seguiram seu Salvador com devoção profunda, intensa. Em seguida estão os que aperfeiçoaram um caráter cristão em meio de falsidade e incredulidade, os que honraram a lei de Deus quando o mundo cristão a declarava nula, e os milhões de todos os séculos que se tornaram mártires pela sua fé. E além está a multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas... Trajando vestidos brancos e com palmas em suas mãos (Apocalipse 7:9). Terminou a sua luta, a vitória está ganha. Correram no estádio e alcançaram o prêmio. O ramo de palmas em suas mãos é um símbolo de seu triunfo, as vestes brancas, um emblema da imaculada justiça de Cristo, a qual agora possuem. 

Os resgatados entoam um cântico de louvor que ecoa repetidas vezes pelas abóbadas do Céu: Salvação ao nosso Deus que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E anjos e serafins unem sua voz em adoração. Tendo os remidos contemplado o poder e malignidade de Satanás, viram, como nunca dantes, que poder algum, a não ser o de Cristo, poderia tê-los feito vencedores. Em toda aquela resplendente multidão ninguém há que atribua a salvação a si mesmo, como se houvesse prevalecido pelo próprio poder e bondade. Nada se diz do que fizeram ou sofreram; antes, o motivo de cada cântico, a nota fundamental de toda antífona, é:Salvação ao nosso Deus, e ao Cordeiro.

Na presença dos habitantes da Terra e do Céu, reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de Deus. E agora, investido de majestade e poder supremos, o Rei dos reis pronuncia a sentença sobre os rebeldes contra Seu governo, e executa justiça sobre aqueles que transgrediram Sua lei e oprimiram Seu povo. Diz o profeta de Deus:Vi um grande trono branco, e O que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras (Apocalipse 20:11 e 12)

Logo que se abrem os livros de registro e o olhar de Jesus incide sobre os ímpios, eles se tornam cônscios de todo pecado cometido. Veem exatamente onde seus pés se desviaram do caminho da pureza e santidade, precisamente até onde o orgulho e rebelião os levaram na violação da lei de Deus. As sedutoras tentações que incentivaram na condescendência com o pecado, as bênçãos pervertidas, os mensageiros de Deus desprezados, as advertências rejeitadas, as ondas de misericórdia rebatidas pelo coração obstinado, impenitente, tudo aparece como que escrito com letras de fogo. 

Por sobre o trono se revela a cruz; e semelhante a uma vista panorâmica aparecem às cenas da tentação e queda de Adão, e os passos sucessivos no grande plano para redimir os homens. O humilde nascimento do Salvador; Sua infância de simplicidade e obediência; Seu batismo no Jordão; o jejum e tentação no deserto; Seu ministério público, desvendando aos homens as mais preciosas bênçãos do Céu; os dias repletos de atos de amor e misericórdia, Suas noites de oração e vigília na solidão das montanhas; as tramas de inveja, ódio e maldade, com que eram retribuídos os Seus benefícios; a agonia terrível e misteriosa no Getsêmani, sob o peso esmagador dos pecados do mundo inteiro; Sua traição nas mãos da turba assassina; os  tremendos acontecimentos daquela noite de horror, o Prisioneiro que não opunha resistência, abandonado por Seus discípulos mais amados, rudemente empurrado pelas ruas de Jerusalém; o Filho de Deus exultantemente exibido perante Anás, citado ao palácio do sumo sacerdote, ao tribunal de Pilatos, perante o covarde e cruel Herodes, escarnecido, insultado, torturado e condenado à morte, tudo é vividamente esboçado. 

E agora, perante a multidão agitada, revelam-se as cenas finais, o paciente Sofredor trilhando o caminho do Calvário, o Príncipe do Céu suspenso na cruz; os altivos sacerdotes e a plebe zombeteira a escarnecer de Sua agonia mortal, as trevas sobrenaturais; a Terra a palpitar, as pedras despedaçadas, as sepulturas abertas, assinalando o momento em que o Redentor do mundo rendeu a vida. 

O terrível espetáculo aparece exatamente como foi. Satanás, seus anjos e súditos não têm poder para se desviarem do quadro que é a sua própria obra. Cada ator relembra a parte que desempenhou. Herodes, matando as inocentes crianças de Belém, a fim de que pudesse destruir o Rei de Israel; a vil Herodias, sobre cuja alma criminosa repousa o sangue de João Batista; o fraco Pilatos, subserviente às circunstâncias; os soldados zombadores; os sacerdotes e príncipes, e a multidão furiosa que clamou: O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos! Todos contemplam a enormidade de seu crime. Em vão procuram ocultar-se da majestade divina de Seu rosto, mais resplandecente que o Sol, enquanto os remidos lançam suas coroas aos pés do Salvador, exclamando: Ele morreu por mim! 

Entre a multidão resgatada acham-se os apóstolos de Cristo, o heroico Paulo, o ardoroso Pedro, o amado e amante João, e seus fiéis irmãos, e com estes o vasto exército dos mártires, ao passo que, fora dos muros, com tudo o que é vil e abominável, estão aqueles pelos quais foram perseguidos, presos e mortos. Ali está Nero, aquele monstro de crueldade e vício, contemplando a alegria e exaltação daqueles que torturara, e em cujas aflições extremas encontrara deleite satânico. Sua mãe ali está para testemunhar o resultado de sua própria obra; para ver como os maus traços de caráter transmitidos a seu filho, as paixões incentivadas e desenvolvidas por sua influência e exemplo, produziram frutos nos crimes que fizeram o mundo estremecer. 

Ali estão sacerdotes e prelados romanistas, que pretendiam ser embaixadores de Cristo e, no entanto, empregaram a tortura, a masmorra, a fogueira para dominar a consciência de Seu povo. Ali estão os orgulhosos pontífices que se exaltaram acima de Deus e pretenderam mudar a lei do Altíssimo. Aqueles pretensos pais da igreja têm uma conta a prestar a Deus, da qual muito desejariam livrar-se. Demasiado tarde chegam a ver que o Onisciente é zeloso de Sua lei, e que de nenhuma maneira terá por inocente o culpado. Aprendem agora que Cristo identifica Seu interesse com o de Seu povo sofredor; e sentem a força de Suas palavras:Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes (Mateus 25:40)

O mundo ímpio todo se acha em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição contra o governo do Céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra eles. 

É agora evidente a todos que o salário do pecado não é nobre independência e vida eterna, mas escravidão, ruína e morte. Os ímpios veem o que perderam em virtude de sua vida de rebeldia. O peso eterno de glória mui excelente foi desprezado quando lhes foi oferecido; mas quão desejável agora se mostra! Tudo isto, exclama a alma perdida, eu poderia ter tido; mas preferi conservar estas coisas longe de mim. Oh! Estranha presunção! Troquei a paz, a felicidade e a honra pela miséria, infâmia e desespero. Todos veem que sua exclusão do Céu é justa. Por sua vida declararam:Não queremos que este Jesus reine sobre nós

Como que extasiados, os ímpios contemplam a coroação do Filho de Deus. Veem em Suas mãos as tábuas da lei divina, os estatutos que desprezaram e transgrediram. Testemunham o irromper de admiração, transportes e adoração por parte dos salvos, e, ao propagar-se a onda de melodia sobre as multidões fora da cidade, todos, a uma, exclamam:Grandes e maravilhosas são as Tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos (Apocalipse 15:3); e, prostrando-se, adoram o Príncipe da vida. 

Satanás parece paralisado ao contemplar a glória e majestade de Cristo. Aquele que fora um querubim cobridor lembra-se donde caiu. Ele, um serafim resplandecente, filho da alva quão mudado, quão degradado! Do conselho onde tantas honras recebera, está para sempre excluído. Vê que agora outro se encontra perto do Pai, velando Sua glória. Viu ser colocada a coroa sobre a cabeça de Cristo por um anjo de elevada estatura e presença majestosa, e sabe que a exaltada posição deste anjo poderia ter sido sua. 

A memória recorda o lar de sua inocência e pureza, a paz e contentamento que eram seus até haver condescendido em murmurar contra Deus e ter inveja de Cristo. Suas acusações, sua rebelião, seus enganos para ganhar a simpatia e apoio dos anjos, sua obstinada persistência em não fazer esforços a fim de reabilitar-se quando Deus lhe teria concedido o perdão, tudo se lhe apresenta ao vivo. Revê sua obra entre os homens e seus resultados, a inimizade do homem para com seu semelhante, a terrível destruição de vidas, o surgimento e queda de reinos, a ruína de tronos, a longa sucessão de tumultos, conflitos e revoluções. Recorda-se de seus constantes esforços para se opor à obra de Cristo, e para rebaixar cada vez mais o homem. Vê que suas tramas infernais foram impotentes para destruir os que depositaram confiança em Jesus. Olhando Satanás para o seu reino, o fruto de sua luta, vê apenas fracasso e ruína. Levara as multidões a crer que a cidade de Deus seria fácil presa; mas sabe que isto é falso. Reiteradas vezes, no transcurso do grande conflito, foi ele derrotado e obrigado a capitular. Conhece muito bem o poder e majestade do Eterno.

O objetivo do grande rebelde foi sempre justificar-se, e provar ser o governo divino responsável pela rebelião. A esse fim aplicou todo o poder de seu pujante intelecto. Trabalhou deliberada e sistematicamente, e com maravilhoso êxito, levando vastas multidões a aceitar seu modo de ver quanto ao grande conflito que há tanto tempo se vem desenvolvendo. Durante milhares de anos esse chefe conspirador tem apresentado a falsidade em lugar da verdade. Mas agora chegado é o tempo em que a rebelião deve ser finalmente derrotada, e descobertos a história e caráter de Satanás. Em seu último e grande esforço para destronar a Cristo, destruir Seu povo e tomar posse da cidade de Deus, o arquienganador foi completamente desmascarado. Os que a ele se uniram, veem o fracasso completo de sua causa. Os seguidores de Cristo e os anjos leais contemplam a extensão total de suas maquinações contra o governo de Deus. É ele objeto de aversão universal. 

Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Iahweh repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua sentença. 

Quem Te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo; por isso todas as nações virão, e se prostrarão diante de Ti, porque os Teus juízos são manifestos (Apocalipse 15:4). Todas as questões sobre a verdade e o erro no prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de todos os seres criados. Os resultados do governo de Satanás em contraste com o de Deus foram apresentados a todo o Universo. As próprias obras de Satanás o condenaram. A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente reivindicadas. Vê-se que toda a Sua ação no grande conflito foi orientada com respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou. Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor, e os Teus santos Te bendirão (Salmo 145:10). A história do pecado permanecerá por toda a eternidade como testemunha de que à existência da lei de Deus se acha ligada a felicidade de todos os seres por Ele criados. À vista de todos os fatos do grande conflito, o Universo inteiro, tanto os que são fiéis como os rebeldes, de comum acordo declara:Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos

Perante o Universo foi apresentado claramente o grande sacrifício feito pelo Pai e o Filho em prol do homem. É chegada a hora em que Cristo ocupa a Sua devida posição, sendo glorificado acima dos principados e potestades, e sobre todo o nome que se nomeia. Foi pela alegria que Lhe estava proposta, a fim de poder trazer muitos filhos à glória, que Ele suportou a cruz e desprezou a ignomínia. E por inconcebivelmente grande que tivessem sido a tristeza e a ignomínia, todavia maiores são a alegria e a glória. Ele olha para os remidos, renovados em Sua própria imagem, trazendo cada coração a impressão perfeita do divino, refletindo cada rosto a semelhança de seu Rei. Contempla neles o resultado das fadigas de Sua alma, e fica satisfeito. Então, com voz que atinge as multidões congregadas dos justos e ímpios, declara:Eis a aquisição de Meu sangue! Por estes sofri, por estes morri, a fim de que pudessem morar em Minha presença pelas eras eternas. E sobe o cântico de louvor dos que estão vestidos de branco em redor do trono:Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra e glória, e ações de graças (Apocalipse 5:12)

Apesar de ter sido Satanás constrangido a reconhecer a justiça de Deus e a curvar-se à supremacia de Cristo, seu caráter permanece sem mudança. O espírito de rebelião, qual poderosa torrente, explode de novo. Cheio de frenesi, decide-se a não capitular no grande conflito. Chegado é o tempo para uma última e desesperada luta conta o Rei do Céu. Arremessa-se para o meio de seus súditos e esforça-se por inspirá-los com sua fúria, incitando-os a uma batalha imediata. Mas dentre todos os incontáveis milhões que seduziu à rebelião, ninguém há agora que lhe reconheça a supremacia. Seu poder chegou ao fim. Os ímpios estão cheios do mesmo ódio a Deus, o qual inspira Satanás; mas veem que seu caso é sem esperança, que não podem prevalecer contra Iahweh. Sua ira se acende contra Satanás e os que foram seus agentes no engano, e com furor de demônios voltam-se contra eles. 

Diz o Senhor:Pois que estimas o teu coração, como se fora o coração de Deus, eis que Eu trarei sobre ti estranhos, os mais formidáveis dentre as nações, os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o teu resplendor. À cova te farão descer. E te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas... Por terra te lancei diante dos reis te pus, para que olhem para ti... E te tornei em cinza sobre a Terra, aos olhos de todos os que te veem... Em grande espanto te tornaste, e nunca mais serás para sempre. (Ezequiel 28:6 a 8, 16 a19)

Toda a armadura daqueles que pelejam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue serão queimados, servirão de pasto ao fogo. A indignação do Senhor está sobre todas as nações, e o Seu furor sobre todo o exército delas:Ele as destruiu totalmente, entregou-as à matança. Sobre os ímpios fará chover laços, fogo, enxofre, e vento tempestuoso; eis a porção do seu copo (Isaías 9:5; 34:2; Salmo 11:6). De Deus desce fogo do céu. A terra se fende. São retiradas as armas escondidas em suas profundezas. Chamas devoradoras irrompem de cada abismo hiante. As próprias rochas estão ardendo. Vindo é o dia que arderá como um forno. Os elementos fundem-se pelo vivo calor, e também a Terra e as obras que nela há são queimadas (Malaquias 4:1; II Pedro 3:10). A superfície da Terra parece uma massa fundida, um vasto e fervente lago de fogo. É o tempo do juízo e perdição dos homens maus dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião (Isaías 34:8)

Os ímpios recebem sua recompensa na Terra (Provérbios 11:31). Serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos exércitos (Malaquias 4:1). Alguns são destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias. Todos são punidos segundo as suas ações. Tendo sido os pecados dos justos transferidos para Satanás, tem ele de sofrer não somente pela sua própria rebelião, mas por todos os pecados que fez o povo de Deus cometer. Seu castigo deve ser muito maior do que o daqueles a quem enganou. Depois que perecerem os que pelos seus enganos caíram, deve ele ainda viver e sofrer. Nas chamas purificadoras os ímpios são finalmente destruídos, raiz e ramos, Satanás a raiz, seus seguidores os ramos. A penalidade completa da lei foi aplicada; satisfeitas as exigências da justiça; e o Céu e a Terra, contemplando-o, declaram a justiça de Iahweh. 

Está para sempre terminada a obra de ruína de Satanás. Durante seis mil anos efetuou a sua vontade, enchendo a Terra de miséria e causando pesar por todo o Universo. A criação inteira tem igualmente gemido e estado em dores de parto. Agora as criaturas de Deus estão para sempre livres de sua presença e tentações. Já descansa, já está sossegada toda a Terra! Exclamam os justos com júbilo (Isaías 14:7). E uma aclamação de louvor e triunfo sobe de todo o Universo fiel. A voz de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, e a voz de fortes trovões, é ouvida, dizendo:Aleluia! Pois o Senhor Deus onipotente reina (Apocalipse 19:6)

Enquanto a Terra está envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é para os ímpios um fogo consumidor, é para o Seu povo tanto Sol como Escudo (Apocalipse 20:6; Salmo 84:11)

Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram (Apocalipse 21:1). O fogo que consome os ímpios purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis consequências do pecado. 

Apenas uma lembrança permanece:nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte ferida, em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. Diz o profeta, contemplando Cristo em Sua glória:Raios brilhantes saíam da Sua mão, e ali estava o esconderijo da Sua força (Habacuque 3:4). Suas mãos, Seu lado ferido donde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus, ali está à glória do Salvador, ali está o esconderijo da Sua força. Poderoso para salvar mediante o sacrifício da redenção foi Ele, portanto, forte para executar justiça sobre aqueles que desprezaram a misericórdia de Deus. E os sinais de Sua humilhação são a Sua mais elevada honra; através das eras intérminas os ferimentos do Calvário Lhe proclamarão o louvor e declararão o poder. 

E a ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio (Miqueias 4:8). Chegado é o tempo, para o qual santos homens têm olhado com anseio desde que a espada inflamada vedou o Éden ao primeiro par; tempo para a redenção da possessão de Deus ( Efésios 1:14). A Terra, dada originariamente ao homem como seu reino, traída por ele às mãos de Satanás, e tanto tempo retida pelo poderoso adversário, foi recuperada pelo grande plano da redenção. Tudo que se perdera pelo pecado foi restaurado. Assim diz o Senhor... Que formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada (Isaías 45:18). O propósito original de Deus na criação da Terra cumpre-se, ao fazer-se ela a eterna morada dos remidos. Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre (Salmo 37:29).

Um receio de fazer com que a herança futura pareça demasiado material tem levado muitos a espiritualizar as mesmas verdades que nos levam a considerá-la nosso lar. Cristo afirmou a Seus discípulos haver ido preparar moradas para eles na casa de Seu Pai. Os que aceitam os ensinos da Palavra de Deus não serão totalmente ignorantes com respeito à morada celestial. E, contudo, as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam (I Coríntios 2:9). A linguagem humana não é adequada para descrever a recompensa dos justos. Será conhecida apenas dos que a contemplarem. Nenhum espírito finito pode compreender a glória do Paraíso de Deus.

Na Bíblia a herança dos salvos é chamada um país (Hebreus 11:14 a 16). Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Existem torrentes sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor. Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. Nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar. 

O meu povo habitará em morada de paz, e em moradas bem seguras, e em lugares quietos de descanso. Nunca mais se ouvirá de violência na tua Terra, de desolação ou destruição nos teus termos; mas aos teus muros chamarás salvação, e às tuas portas louvor. Edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam... Os Meus eleitos gozarão das obras das suas mãos (Isaías 32:18; 60:18; 65:21 e 22)

Ali, o deserto e os lugares secos se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta (Isaías 35:1; 55:13). E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará,... E um menino pequeno os guiará. Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da Minha santidade, diz o Senhor (Isaías 11:6 e 9)

A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor,... Porque já as primeiras coisas são passadas (Apocalipse 21:4). "E morador nenhum dirá:Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absorvido da sua iniquidade." (Isaías 33:24)

Ali está à Nova Jerusalém, a metrópole da nova Terra glorificada, como uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão de teu Deus (Isaías 62:3). Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como cristal resplandecente. As nações andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra (Apocalipse 21:11 e 24. Diz o Senhor:Folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo (Isaías 65:19). Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus (Apocalipse 21:3).

Na cidade de Deus não haverá noite. Ninguém necessitará ou desejará repouso. Não haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre sentiremos a frescura da manhã, e sempre estaremos longe de seu termo. Não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os alumia (Apocalipse 22:5). A luz do Sol será sobrepujada por um brilho que não é ofuscante e, contudo, suplanta incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao meio-dia. A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independentemente do Sol. 

Nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus todo-poderoso, e o Cordeiro (Apocalipse 21:22). O povo de Deus tem o privilégio de entreter franca comunhão com o Pai e o Filho. Agora vemos por espelho em enigma (I Coríntios 13:12). Contemplamos a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da Natureza e em Seu trato com os homens; mas então O conheceremos face a face, sem um véu obscurecido de permeio. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória de Seu rosto. 

Ali os remidos conhecerão como são conhecidos. O amor e simpatias que o próprio Deus plantou na alma, encontrarão ali o mais verdadeiro e suave exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem toda a família nos Céus e na Terra (Efésios 3:15); tudo isto concorre para constituir a felicidade dos remidos. 

Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo. 

Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade alçarão voo incansável para os mundos distantes; mundos que fremiram de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma alma resgatada. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as coisas, desde a mínima até a maior, está escrito o nome do Criador, e em todas se manifestam as riquezas de Seu poder. 

E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor. 

E ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer:Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra e glória, e poder para todo o sempre (Apocalipse 5:1).

O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor[15].


LEITURA ADICIONAL

Venha o Teu reino (Mateus 6:10)

Deus é nosso Pai, que nos ama e de nós cuida, como filhos Seus que somos; Ele é também o grande Rei do Universo. Os interesses de Seu reino são nossos interesses, e nós devemos trabalhar por seu reerguimento. 

Os discípulos de Cristo esperavam a vinda imediata do reino de Sua glória; mas ao dar-lhes esta oração Jesus ensinou que o reino não devia ser então estabelecido. Deviam orar por sua vinda como acontecimento ainda no futuro. Mas essa petição era-lhes também uma certeza. Conquanto não devessem esperar a vinda do reino em seus dias, o fato de haver Jesus recomendado que por ela orassem, constitui prova de que certamente virá no tempo designado por Deus. 

O reino da graça de Deus está sendo agora estabelecido, visto que corações que têm estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem à soberania de Seu amor. O completo estabelecimento do reino de Sua glória, porém, não ocorrerá senão na segunda vinda de Cristo ao mundo. O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo (Daniel 7:27). Eles herdarão o reino que lhes foi preparado desde a fundação do mundo (Mateus 25:34). E Cristo assumirá Seu grande poder e reinará. 

As portas celestes tornar-se-ão a erguer, e, com miríades de miríades e milhares de milhares de santos, nosso Salvador sairá como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Iahweh Emanuel será rei sobre toda a Terra; naquele dia, um será o Senhor, e um será o Seu nome (Zacarias 14:9). O tabernáculo de Deus estará com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus (Apocalipse 21:3)

Antes dessa vinda, porém, disse Jesus:Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes (Mateus 24:14). Seu reino não virá enquanto as boas novas de Sua graça não houverem sido levadas a toda a Terra. Assim, quando nos entregamos a Deus, e ganhamos outras almas para Ele, apressamos a vinda de Seu reino. Unicamente aqueles que se consagram a Seu serviço, dizendo:Eis-me aqui, envia-me a mim (Isaías 6:8), para abrir os olhos cegos, para desviar homens das trevas... À luz e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados (Atos 26:18), unicamente eles oram com sinceridade:Venha o Teu reino (Mateus 6:10)

Seja feita a Tua vontade, tanto na Terra como no Céu (Mateus 6:10)

A vontade de Deus exprime-se nos preceitos de Sua santa lei, e os princípios desta lei são os mesmos princípios do Céu. Os anjos celestes não atingem mais alto conhecimento do que saber a vontade de Deus; e fazer Sua vontade é o mais elevado serviço em que se possam ocupar suas faculdades. 

No Céu, porém, o serviço não é prestado no espírito de exigência legal. Quando Satanás se rebelou contra a lei de Iahweh, a ideia de que existia uma lei ocorreu aos anjos quase como o despertar para uma coisa em que não se havia pensado. Em seu ministério, os anjos não são como servos, mas como filhos. Existe perfeita unidade entre eles e seu Criador. A obediência não lhes é pesada. O amor para com Deus torna o Seu serviço uma alegria. Assim, em toda alma em que Cristo, a esperança da glória, habita, ecoam Suas palavras:Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração (Salmo 40:8).

A petição:Seja feita a Tua vontade, tanto na Terra como no Céu.Mateus 6:10 é uma oração para que o reino do mal termine na Terra, o pecado seja para sempre destruído, e o reino da justiça se venha a estabelecer. Então, na Terra como no Céu se cumprirá todo o desejo da Sua bondade (II Tessalonicenses. 1:11)[16].



[1] CBASD, vol. 5, p. 337.

[2] CBASD, vol. 5, pp. 309 e 310.

[3] CBASD, vol. 5, p. 500.

[4] Desejado de Todas as Nações, Ellen Gold White, CPB, pp. 19 e 20.

[5] Desejado de Todas as Nações, Ellen Gold White, CPB, pp. 231 e 235.

[6] CBASD, vol. 5, p. 337.

[7] Comentário ao Novo Testamento, Willian Barclay, Editora Clie Mateus, vol. 1, pp. 242 a 246.

[8] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 211.

[9] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 212.

[10] O Grande Conflito, Ellen Gold White, CPB, pp. 641 a 645.

[11] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 213.

[12] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 214.

[13] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 215.

[14] A Psiquiatria de Deus, Charles L. Allen, Editora Betânia, pp. 76 a 86.

[15] O Grande Conflito, Ellen Gold White, CPB, pp. 662 a 679.

[16] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 107 a 110.