21º

Orar em segredo

Shemá: Deuteronômio 6: 4 a 9; 11: 13 a 21 e Números 15: 37 a 41. Shemonê Esrê: As Dezoito. Repetir diariamente. Orações fixas para cada ocasião. Três orações fixas. A terceira: 9:00 horas; a sexta: meio dia; a nona: 15:00 horas.

 

5 - E quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.

         ORARDES - Por seu exemplo Tendo-as despedido, subiu ao monte, a fim de orar a sós. Ao chegar a tarde, estava ali, sozinho. (Mateus 14: 23), como por suas instruções, Jesus ensinou aos discípulos o dever da oração e a maneira de fazê-la. A oração deve ser humilde diante de Deus (Lucas 18: 10 a 14), o fariseu e publicano, e diante dos homens (Mateus 6: 5 e 6); Mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa. (Marcos 12: 40), de coração mais do que com os lábios (Mateus 6: 7), confiante na bondade do Pai. (Mateus 6: 8; 7: 7 a 11), e insiste até a importunar (Lucas 11: 5 a 8; 18: 1 a 8). Ela é ouvida se feita com fé (Mateus 21: 22), no nome de Jesus (Mateus 18: 19 a 20; João 14: 13; e 14; 15: 7 e 16 23 a 27), e se pede coisas boas (Mateus 7: 11), tais como o Espírito Santo (Lucas 13: 11), o perdão (Mateus 11: 25), o bem dos perseguidores (5: 44; Lucas 23: 34), sobretudo a vinda do reino de Deus e a preservação durante a provação escatológica (Mateus 24: 20 e 26: 41; Lucas 21: 36; 22: 31 e 32) essa é toda a substância da oração modelo ensinada pelo próprio Jesus (Mateus 6: 9 a 15)[1].

Jesus se dirige a cada pessoa do público em forma individual mediante o emprego do pronome singular[2].

HIPÓCRITAS - No pensamento de Jesus, esse epíteto, que visa a todos os falsos devotos que apresentam uma piedade afetada e ruidosa, aplica-se especialmente a seita dos fariseus. (Mateus 15: 7; 22: 18; 23: 13 a 15.) Entre os judeus o termo grego hypockrités que traduz no hebraico hameph não designa apenas o homem de piedade fingida e exibicionista, mas de modo geral o homem de caráter pervertido e mau, o ímpio em suma[3].

Grego: hupokrités provem de um verbo que significa fingir, dissimular. Os judeus atendiam aos necessitados com contribuições impostas aos membros da comunidade segundo cada um pudesse pagar. Os fundos assim conseguidos eram aumentados por meio de doações voluntárias. Faziam-se pedidos especiais nas reuniões religiosas públicas nas sinagogas, ou em reuniões ao ar livre que costumavam realizar nas ruas. Nestas ocasiões, as pessoas se sentiam tentadas a prometer grandes somas de dinheiro para conseguir o louvor dos que estavam ali reunidos. Também costumavam permitir que o que tivesse contribuído com uma soma excepcionalmente grande se assentasse num lugar de honra junto aos rabinos. 

Com demasiada frequência, o desejo de ser louvado era o objetivo desses donativos. Ocorria que muitos prometiam grandes somas, mas depois não cumpriam suas promessas. A referência que Jesus fez à hipocrisia sem dúvida incluía também esta forma de fingimento[4].

PONDO-SE EM PÉ - A referência aqui é às horas regulares de oração, pela manhã e pela tarde. Habitualmente o templo e as sinagogas eram os lugares de oração. Quem não podia orar nesses lugares estabelecidos, podiam orar no campo, em casa ou em sua cama. Mais tarde, a tradição estabeleceu que certa oração devesse pronunciar-se de pé, outras enquanto se estava sentado, caminhando, montado em burro, sentado ou deitado em cama Talmud Berakoth 30a; ver também o Midrash de Sal. 4, sec. 9, 23b[5].

Comentário: Lucas 1: 9. Tocou-lhe em sorte. Grego: lagjáno, obter por sorte. Como tinha muitos sacerdotes nem todos podiam oficiar num determinado período. Jogavam-se sortes para determinar quem serviria cada manhã e cada tarde. Segundo a tradição judaica Mishnah Yoma 2. 2, 4, os sacerdotes se colocavam em semicírculo, e cada um levantava um ou mais dedos para ser contados. O presidente dizia um número, como por exemplo, 70, e começava a contar. Contava até que ao completar a recontagem de dedos levantados um era eleito. A primeira sorte definia quem limparia o altar do holocausto e prepararia o sacrifício. A segunda decidia quem ofereceria o sacrifício e limparia o candeeiro e o altar do incenso. A terceira sorte assinalava quem devia oferecer o incenso, o qual se considerava como o trabalho mais importante. A quarta sorte determinava quem tinha que queimar as partes do sacrifício no altar e devia fazer a parte final do serviço. As sortes, que se jogavam na manhã, valiam também para o serviço vespertino; mas se voltava a jogar sortes para saber quem ofereceria o incenso. 

Oferecer o incensoConsiderava-se que o oferecimento do incenso era a parte mais sagrada e mais importante dos serviços diários da manhã e a tarde. Estas horas de culto, nas quais se sacrificava um cordeiro (Êxodo 29: 38 a 42) como holocausto eram as horas do sacrifício matutino e vespertino (II Crônicas 31: 3; Esdras 9: 4 e 5) ou à hora do incenso (Lucas 1: 10; Êxodo 30: 7 e 8). Estas eram horas de oração para todos os israelitas, já assistissem ao serviço ou estivessem em sua casa ou ainda num país estrangeiro. Enquanto subia o incenso do altar de ouro, as orações dos israelitas ascendiam com ele para Deus (Apocalipse 8: 3 e 4), rogando por si mesmos e por sua nação em diária consagração. Nesse serviço o sacerdote oficiante implorava o perdão dos pecados de Israel e rogava pela vinda do Messias. 

O privilégio de oficiar no altar de ouro em favor de Israel era considerado como uma alta honra, e Zacarias era, em todo sentido, digno dele. Esse privilégio costumava corresponder a cada sacerdote só uma vez na vida, e era o momento culminante de sua vida. Como regra geral, nenhum sacerdote podia oficiar no altar mais de uma vez, e é possível que algum dos sacerdotes nunca tivesse esta oportunidade. 

O sacerdote sobre quem recaía a sorte de oferecer o incenso, neste caso Zacarias, elegia a dois de seus colegas no sacerdócio para que lhe ajudassem. Um devia tirar as brasas anteriores do altar, e o outro tinha que colocar as brasas novas tomadas do altar do holocausto. Estes dois sacerdotes se retiravam do lugar santo depois de ter concluído sua tarefa, e o sacerdote escolhido por sorte colocava então o incenso sobre as brasas enquanto intercedia em favor de Israel. Quando se levantava a nuvem de incenso, enchia o lugar santo e passava acima do véu até o lugar santíssimo. O altar do incenso estava frente ao véu e muito cerca dele, e ainda que estivesse em realidade no lugar santo, parece que se considerava como parte do lugar santíssimo. O altar de ouro era o altar de intercessão perpétua, porque dia e noite o sagrado incenso difundia seu fragrância pelo santo recinto do Templo[6]

Comentário: Salmo 141: 2. Como o incensoO incenso do santuário se preparava cuidadosamente (Êxodo 30: 34 a 36). E se o queimava com fogo santo para apresentá-lo ante Deus. Os sacerdotes o ofereciam de manhã e tarde no altar do incenso (Êxodo 30: 7 e 8)O incenso representava os méritos e a intercessão de Cristo, sua perfeita justiça..., o único que pode fazer o culto dos seres humanos aceitável a Deus. 

Oferenda. Hebraico: minjah, a oblação ou oferenda de cereais que acompanhava ao holocausto diário (Êxodo 29: 38 a 42)[7].

         Comentário: Levítico 2: 1. Oferecer oblaçãoUma oferenda de cereal, Hebraico: minjah como oferenda qorban. A palavra minjah não tinha originalmente o sentido de oferenda religiosa, senão que designava um presente apresentado a um superior. O presente que Jacó deu a Esaú era minjah Gênesis 32: 13. Também era o presente que os irmãos de José levaram para o Egito. (Gênesis 43: 11.)

Usava-se essa palavra para indicar o tributo pago por povos vencidos (II Samuel 8: 2 e 6). Estes presentes indicavam submissão e dependência. 

No monte Sinai, minjah passou a ser a designação oficial de um presente a Deus, uma oferenda feita como homenagem, em reconhecimento da superioridade Daquele a quem se dava. Indicava que o homem dependia de Deus para receber todas as coisas boas da vida; reconhecia a Deus como dono e doador. Ao apresentar tal oferta, o homem admitia ser somente um mordomo das coisas que se lhe tinham confiado. 

A oblação de Levítico 2 era uma oferta de cereais, farinhas preparadas em diversas formas. Nas leis mosaicas, não se usa a palavra minjah para referir-se a ofertas de animais, ainda que em Gênesis 4: 4 Abel ofereceu como minjah um cordeiro. 

Bem como tinha holocaustos públicos e individuais ou particulares, tinha também oblações públicas e individuais. As oblações particulares eram voluntárias, e podiam ser oferecidas a vontade, em qualquer momento. As oblações públicas eram obrigatórias e existiam regras fixas para sua apresentação. 

A principal oblação pública era o pão da proposição, ou pão da Presença, colocado cada sábado sobre a mesa no primeiro compartimento do santuário. Apresentava-se ao Senhor; logo permanecia durante uma semana sobre a mesa, e finalmente era comido pelos sacerdotes. Se o chamava o pão da Presença, ou literalmente o pão da face, já que estava continuamente sobre a mesa na presença de Deus, ou ante seu rosto, A mesa do pão da proposição também recebe o nome de mesa limpa. (Levítico 24: 6.) 

A oferenda do pão da proposição consistia em 12 pães, cada fato com algo mais de 2,4 kg de farinha. Eram, pois de bom tamanho. Os pães se colocavam sobre a mesa em duas pilhas de seis cada uma. Os sacerdotes que tinham oficiado durante essa semana, ofereciam os sacrifícios do sábado de manhã, e permaneciam até que os sacerdotes que tinham chegado à sexta-feira, para oficiar durante a semana entrante, ofereciam os sacrifícios vespertinos do sábado. Os sacerdotes que se retiravam do serviço no santuário tiravam o pão da mesa, e os sacerdotes que começavam a servir colocavam o pão fresco. Tinha-se cuidado de não tirar o pão até que estivesse pronto o outro, fresco, para pô-lo sobre a mesa, sempre devia ter pão sobre ela, como devia ter sempre um holocausto sobre o altar. O holocausto se chamava holocausto contínuo e se fala da colocação contínua dos pães da proposição. (Êxodo 29: 42; 2 Crônicas 2: 4). O pão da proposição era oferecido a Deus em sinal de pacto perpétuo. (Levítico 24: 8.) Era o depoimento perpétuo de que Israel dependia de Deus para receber sustento e vida; da parte de Deus, era uma promessa contínua de que manteria a seu povo. A necessidade de Israel estava sempre diante de Deus, e a promessa de Deus estava sempre diante do povo. 

Uma libação acompanhava aos sacrifícios matutinos e vespertinos (Êxodo 29: 40; Números 15: 5). Por isso sobre a mesa dos pães da proposição tinha pratos, colheres, talheres e taças, as fontes, os copos, os jarros e as xícaras para as libações. (Êxodo 25: 29). Esta libação era derramada no lugar santo, ante o Senhor. 

Não há grande diferença entre a mesa dos pães da proposição do AT e a mesa do Senhor do NT (Lucas 22: 30; I Coríntios 10: 21). O pão é o corpo de Cristo, quebrantado por nós. A copa é o novo pacto em seu sangue (I Coríntios 11: 24 e 25). O pão da Presença simboliza àquele que vive sempre para interceder por nós, o pão vivo que desceu do céu (Hebreus 7: 25; João 6: 51)

Sua oferenda seráEsta oferenda podia ser apresentada por qualquer pessoa que desejasse fazer-lhe um agrado a Deus. Consistia em flor de farinha, azeite e incenso. Algumas vezes se apresentava como oferta aparte, mas geralmente se oferecia junto com um holocausto. 

A flor de farinha, ou farinha fina, é o produto da cooperação entre Deus e os homens. Deus coloca o princípio de vida na semente, dá sol e chuva, e a faz crescer. O homem semeia a semente, a cuida, a colheita, a mói para fazer farinha, e logo apresenta esta farinha ante o Senhor, ou a prepara em bolos cozidos ao forno. É a soma do dom original de Deus mais o trabalho do homem. É devolver a Deus o seu com interesse. É símbolo da obra da vida do homem, de talentos aperfeiçoados. 

Deus lhe dá a cada homem talentos segundo a capacidade que tenha para empregá-los. Alguns têm vários talentos; ninguém carece totalmente deles. Deus não se compraz quando os homens só lhe devolvem a quantidade de semente que lhes foi confiada. Deus quer que os homens semeiem a semente, cuidem, colham, limpem de toda impureza, a moam entre as duas pedras do moinho, tirando dela toda a vida mediante a trituração, e logo a apresente como flor de farinha. Deus espera que cada talento seja melhorado, refinado e enobrecido[8].

         Comentário: Hebreus 9: 4. IncensárioGrego: thumiatlrion, literalmente lugar ou recipiente para queimar o incenso; poderia tratar-se de um incensário ou do altar do incenso. Como exemplos deste último significado, pode ver-se em Josefo, Guerra v. 5. 5; Antiguidades iii. 6. 8; S. 3; cf. Heródoto 2. 162. É possível que em Hebreus se faça referência ao altar do incenso. Esse altar era o móvel mais importante do lugar santo, e seria raro que o autor não o mencionasse, tendo especialmente em conta que está enumerando os móveis de cada compartimento. 

1. A tradução altar do incenso apresenta um problema; pois esse altar parece apresentar-se aqui como se estivesse no lugar santíssimo, mas esse móvel estava no primeiro compartimento do antigo tabernáculo (Êxodo 30: 6). Deve ter-se em conta que o autor não afirma que o altar do incenso estava dentro do segundo compartimento; só diz que o lugar santíssimo tinha esse altar ou incensário. Isto poderia singelamente indicar que o altar tinha relação com o lugar santíssimo. 

A relação entre o altar e o lugar santíssimo que aqui se indica poderia ser que sua função estava intimamente relacionada com o lugar santíssimo. O incenso que se oferecia diariamente sobre esse altar no lugar santo era dirigido ao propiciatório do lugar santíssimo. Deus manifestava ali sua presença entre querubins, e à medida que o incenso ascendia com as orações dos que rendiam culto, enchia tanto o lugar santíssimo como o santo. O véu que separava a ambos os compartimentos não chegava até o teto, e o incenso que se oferecia no lugar santo, o único lugar onde podiam entrar os sacerdotes, chegava até o segundo compartimento, o lugar para onde era dirigido. Em (I Reis 6: 22) se diz que o altar do incenso o templo de Salomão estava frente ao lugar santíssimo, que estava relacionada com ele, ou que pertencia por função ao lugar santíssimo. 

Do pacto. Chama-se assim a arca porque continha as tábuas do concerto, as duas tábuas de pedra sobre as quais Deus tinha escrito os Dez mandamentos. Em Deuteronômio 4: 13 se declara que os Dez mandamentos são o pacto que Deus ordenou a seu povo e o pusesse por obra.

Vara de Aarão(Números 17: 1 a 11). Aqui aparentemente se declara que a vasilha e a vara de Aarão estavam no arca. No AT se diz que estavam diante de Iahweh ou diante do depoimento. (Êxodo 16: 33 e 34; Números 17: 10). Isto não significa necessariamente que tenha uma discrepância, pois estas últimas expressões poderiam também indicar uma posição dentro do arca. A declaração de I Reis 8: 9 de que na arca nenhuma coisa tinha senão as duas tábuas de pedra que ali tinha posto Moisés, poderia implicar que uma vez teve na arca outras coisas tais como as que aqui se mencionam. 

Alguns trataram de resolver esta aparente discrepância fazendo que a frase na que se refira à parte do tabernáculo chamada o Lugar Santíssimo. (Hebreus 9: 3). Ainda que seja gramaticalmente possível, a sintaxe geral não aceita tal relação. O fato de que as tábuas do concerto estejam incluídas na lista de coisas que vêm depois, é um poderoso argumento para indicar que aqui se está fazendo referência ao arca e não ao lugar santíssimo[9]

         NAS ESQUINAS - Nestes lugares públicos se realizavam as transações comerciais. Se os fariseus se encontravam em nas esquinas das ruas à hora designada para a oração, assumiam uma atitude de oração e em alta voz recitavam as frases formais que comummente empregavam para orar. Sem dúvida muitos se as arrumavam para estar em lugares públicos há essas horas especiais[10]

JÁ RECEBERAM SUA RECOMPENSA - Já têm seu recompensa. O grego faz ressaltar a ideia de que já receberam plenamente sua paga. O verbo grego que aqui se traduz têm aparece com frequência em recibos escritos em antigos papiros gregos onde significa cancelado ou recebido. Jesus disse que os hipócritas já tinham recebido tudo o que teriam de receber. Praticavam a caridade como uma transação estritamente comercial, mediante a qual esperavam comprar a admiração pública; não se preocupavam por aliviar a desgraça do pobre. Essa recompensa seria a única que teriam de receber[11].

 

COMO NÃO ORAR

E quando orardes, não sejais como os hipócritas, porque eles gostam de fazer oração pondo-se em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e fechando a porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê em segredo, te recompensará. Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidades antes de lho pedirdes. (Mateus 6: 5 a 8).

Quando fizeres oração, não sejas como os hipócritas, porque eles gostam de se colocar em pé para orar nas sinagogas e nas esquinas das ruas para que todos vejam. Asseguro que já receberam sua recompensa. Porém tu, quando orares, entra em tua casa, e fecha a porta, e ora a teu Pai Que está em oculto; e teu Pai, Que vê o que se passa nos lugares ocultos te recompensará abundantemente.

Quando orares, não repitas frases sem sentido como fazem os pagãos, porque eles creem que multiplicando as palavras. Serão atendidos, porque nosso Pai sabe do que necessitamos antes que nós peçamos.

Não tem nação que tivesse uma ideia mais elevada de oração que os judeus; e nenhuma religião que valorizasse a oração como prioridade. Grande é a oração, diziam os rabinos, maior que todas as boas obras. Uma das coisas mais preciosas que se tem omitido sobre o culto familiar.

A máxima rabínica: O que pratica a oração dentro de sua casa é rodeada por um muro protetor que é mais forte que o ferro. O que sentiam os rabinos era que não era possível passar todo o dia orando.

Haviam sido introduzidos alguns defeitos nos hábitos da oração. Estes defeitos não são menos exclusivos, alguns peculiares das ideias judaicas acerca da oração; e de fato ocorre em todas as partes. Há que dizer que só podiam ocorrer em uma comunidade na que a oração se tomara tão profundamente séria. Não são defeitos por negligência, mas por devoção mal entendida.

1. A oração pretendia formalizar-se na piedade judaica. Havia duas rezas que estavam prescritas para o uso diário entre os judeus.

A primeira era o Shemá, que consistia em três breves passagens da Escritura: Deuteronomio 6: 4 a 9, 11: 13 a 21; Números 15: 37 a 41. Shemá é um imperativo do verbo hebraico ouvir, e o Shemá toma seu nome da primeira palavra do verso que é a essência e o centro de todo este assunto: Ouve, oh Israel: O Senhor nosso Deus é único Senhor.

O Shemá tinham que recitar todos os judeus diaria­mente pela manhã 9:00 horas ao meio dia 12:00 e a tarde 15:00 horas. Havia que dizê-la o mais cedo possível, tão pronto como houvesse suficiente luz do dia como para distinguir o azul do branco; ou, como dizia o Rabino Eliezer, entre azul e verde. Em todo caso havia que dizê-la antes da hora terceira, 9:00 horas que era às nove da manhã; e pela tarde, antes da hora nona 15:00 horas. Chegava-se o último momento em que era possível dizer o Shemá, não importava onde se encon­trasse a pessoa, se em casa ou na rua no trabalho na sinagoga, teria que parar e dizer.

Havia muitos que amavam o Shemá, e que a repetiam com reverência, adoração e amor; era inevitável que muitos a dissessem apressadamente, e seguiam seu caminho. O Shemá estava obviamente em perigo de se converter em uma repetição, que as pessoas recitava como um salmo ou fórmula mágica. Nos os cristãos não temos o menor direito de criticar, porque todo o dito acerca de dizer apressada­mente o Shemá se pode aplicar a muitas das orações e rezas privadas e públicas.

A segunda coisa que todos os judeus deviam repetir diaria­mente eram as chamadas Se monê 'Esrê, que quer dizer As Dezoito. Consistia em recitar dezoito orações, e que fazia parte essencial do culto na sinagoga. Com o tempo chegaram a ser dezenove, mas segue usando o antigo nome. A maior parte destas orações são curtas, e quase todas são muito bonitas.

A décima segunda diz:

Que Tua misericórdia, oh Senhor, se apresente sobre os retos, os humildes, os anciãos de Teu povo Israel e os demais mestres; mostre Teu favor com os estrangeiros piedosos que habitam entre nós, e com todos nos. Recompensa generosamente aos que confiam em Teu nome sinceramente, para que tenhamos sorte entre elos e no mundo vindouro, para que nossa esperança não resulte em falência. Louvado sejas Tu, oh Se­nhor, Que és a esperança e a confiança dos fiéis!

A quinta diz:

Faz nos volver a Tua Lei, oh Pai nosso; faz nos volver, oh Rei, a Teu serviço; converte-nos a Ti com verdadeiro arrependimento. Louvado sejas, oh Senhor, Que aceitas nosso arrependimento!

Nenhuma igreja tem uma liturgia mais linda que as Semonê 'Esrê. A lei mandava recitar três vezes ao dia todos os judeus, uma vez por semana, outra depois do meio dia e outra pela tarde. E se dava outra vez o mesmo caso. Os judeus devotos faziam estas orações com devoção amo­rosa; havia muitos para quem estas séries de precio­sas orações haviam chegado a ser um rolo enfadonho. Até havia a sua disposição um resumo que se podia usar caso não se tivesse tempo ou memória para repetir as dezoito completas. A repetição das Semonê 'Esrê se converteu em nada menos que um Salmo ou um encantamento. Outra vez devemos dizer que os cristãos não tem nenhum direito de criticar, porque muitas vezes fazemos exatamente o mesmo com a oração que Jesus nos ensinou e outras.

 

COMO NÃO ORAR

2. A liturgia judaica provia orações fixas para todas as ocasiões. Seria difícil encontrar um sucesso ou uma situação da vida que não tivesse sua fórmula de oração particular. Havia orações para antes e depois de cada refeição; em relação com a luz, o fogo, o raio; ao ver a lua nova, cometas, chuva, tempestade, o mar, lagos, rios; ao receber boas notícias, ao estrear novos móveis, ao entrar e sair de uma cidade, etc. Tudo tinha sua oração. Está claro que aqui tem algo infinitamente precioso. Revela a intenção de que tudo o que sucedesse na vida se traria para a presença de Deus. Precisamente porque as orações se prescreviam tão meticulosa e literalmente, todo o sistema se prestava ao formalismo, e o perigo era que se musicaram as orações dando pouco sentido. A tendência era repetir rotineiramente a oração correta no momento correto. Os grandes rabinos a reconheciam e tratavam de evitar. Se uma pessoa, ensinavam, diz suas orações para sair do passo, isto não é orar. Não consideres a oração um dever formal, mas um ato de humildade para obter a misericórdia de Deus. Rabi Eliezer estava tão preocupado com o perigo do formalismo que tinha o costume de compor uma oração nova todos os dias, para que fosse sempre algo inusitado. Está muito claro que esta classe de perigo não está confinada a religião judaica. Até os que iniciam seus momentos devocionais podem acabar no formalismo de um ponto rígido ritualista e de horário.

3. O devoto judeu tinha horas fixas de oração. Eram a terceira, a sexta e a nona, às nove da manhã, às doze ao meio dia e às três da tarde. Onde quer que se encon­trasse estava obrigado a orar. Podia ser, sem dúvida, que se apresentava a Deus genuinamente; porém poderia ser que estivesse cumprindo com um formalismo habitual. Os muçulmanos têm o mesmo costume. Conta-se que um muçulmano ia perseguindo um inimigo com um punhal desembainhado para matar. No hora do almoço fez a chamada; o homem parou, desenrolou seu rolinho de oração, se ajoelhou e rezou o mais depressa que podo; logo se levantou e seguiu com seu objetivo perseguindo para assassinar. É precioso aproximar-se de Deus pelo menos três vezes ao dia; mas existe o perigo real de que se faça isto três vezes ao da, mas sem pensar em Deus.

4. Existia a tendência de relacionar a oração com lugares, e especialmente na sinagoga. É inegavelmente certo que há alguns lugares em que se sente a presença de Deus bem; mas havia alguns rabinos que chegavam até dizer que a oração não era eficaz a menos que se oferecesse no Templo ou na sinagoga. Assim se produziu um costume de ir ao Templo nas horas de oração. Nos primeiros dias da Igreja Cristã, até os discípulos de Jesus pensavam nestes termos, porque lemos que Pedro e João se dirigiram ao Templo na hora da oração (Atos 3: 1).

Havia um perigo: de pensar que Deus está confinado a certos lugares sagrados, e esquecer que toda Terra é Templo de Deus. Os rabinos mais sábios viram este perigo. Deus disse a Israel: Orai na sinagoga de vossa cidade; se não podeis, orai no campo; se não podeis, orai em vossa casa; se não podeis, orai na cama; se não podeis, meditai em vosso coração estando em vossa cama, e guardai silencio.

O problema de qualquer sistema não está no sistema, mas em quem usa. Um pode fazer qualquer sistema de oração um meio de devoção ou um puro formalismo, praticando rotineiramente e inconscientemente.

5. Os judeus temiam uma tendência indiscutível de prolongar as orações. Esta tendência tampouco era exclusiva dos judeus. Nos cultos escoceses do século 18, a orações longas eram inter­pretadas como devoção. E aqueles cultos escoceses havia uma leitura bíblica verso por verso que durava uma hora, e um sermão que durava outra hora. As orações eram longas e improvisadas. O doutor W. D. Maxwell escreve: A eficácia da oração se media pelo ardor e a fluidez, e não menos por seu tamanho. O rabino Levi dizia: O que faz orações longas é ouvido. Outra máxima: Quando os justos fazem orações longas, suas orações são ouvidas.

Havia, e, todavia há, uma espécie de ideia inconsciente de que se batemos suficientemente a porta de Deus, e con­testar; o que se pode falar, e até molestar a Deus, até Ele nos ouvir. Os rabinos mais sábios eram conscientes deste perigo: Um deles dizia: Está proibido prolongar sem necessidade o louvor ao Santo. Se nos diz nos Salmos: Quem pode expressar as poderosas obras do Se­nhor, ou proclamar toda sua grandeza? (Salmo 106: 2). Só Ele pode prolongar e mostrar sua misericórdia e ninguém pode. Sejam sempre poucas as palavras de um homem diante de Deus. Não te precipites com tua boca nem se apresse teu coração a proferir palavra diante de Deus; porque Deus está no céu e tu sobre a terra; portanto, sejam poucas tuas palavras. (Eclesiastes 5: 2). A melhor adoração consiste em guardar silêncio. É fácil confundir a falação com a piedade, e a conversa com a devoção; e neste erro caiam muitos judeus, e outros.

6. Havia outras formas de repetição que os judeus, como outros povos orientais, eram propensos a usar e abusar. Os povos orientais tinham o costume de auto-hipnotizar-se mediante a incessante repetição de uma frase ou até de uma palavra. Em I Reis 18: 26 vemos que os profetas de Baal passaram meio dia gritando: Baal responde-nos! Em Atos 19: 34 vemos que os gentios efésio esteviram duas horas gritando: Grande é a Artemisa dos efésios! Alguns muçulmanos passam horas e horas repetindo uma palavra sagrada, corren­do em círculos até que se provoca um êxtase, e caem por fim inconscientes e esgotados. Os judeus faziam com o Shemá. É como substituir a oração pelo auto-hipnotismo.

Havia outra forma em que a oração judaica caia em repetições. Aglutinavam-se todos os títulos e adjetivos imagináveis quando se dirigia uma oração a Deus. Uma das mais famosas dizia: “Bendito, louvado e glorificado, exaltado, honrado, magnificado e laudeado seja o nome do Santo!”

Há uma oração judaica que começa com dezesseis adjetivos diferentes que se aplicam ao nome de Deus. Existia uma intoxicação com palavras. Quando se começa a pensar mais no que dizer do que como dizer, a oração morre nos lábios.

7. Na última fala de Jesus se encontrava alguns dos judeus que faziam orações para serem notados. O método judaico de oração facilitava que se caísse na ostentação. Os judeus oravam em pé, com os braços estendidos, as palmas das mãos acima da cabeça inclinada. Faziam orações às 9 da manhã, ao meio dia e às 3 da tarde. Faziam onde se encontravam, e era fácil a quem quisesse assegurar-se de que a esta hora estaria em alguma esquina, ou em alguma praça abarrotada de gente, para que todos contemplassem o piedoso que estava orando. Era fácil deter-se nos lugares públicos ou na entrada da sinagoga, e fazer ali sua oração longa e eloquente para que fosse admirado por sua excepcional piedade. Representava uma cena de oração a vista do público.

Os mais sábios dos rabinos judeus compreendiam plenamente e condenavam incansavelmente esta atitude. Uma pessoa hipócrita atrai a ira de Deus sobre o mundo, e sua oração não é atendida. Quatro classes de pessoas não percebem o resplendor da glória de Deus: os burladores, os hipócritas, os mentirosos e os caluniadores. Os rabinos diziam que ninguém pode orar a menos que tenha o coração sintonizado para Nele. Estabeleciam que para a perfeita oração se necessitasse antes uma hora de preparação pessoal, e uma hora de meditação depois. O sistema judeu de oração se prestava a ostentação se havia orgulho no coração de um homem.

Jesus estabelece duas grandes regras para oração.

1. Insiste em que toda verdadeira oração deve ser dirigida a Deus. O fato verdadeiro e que Jesus criticava era que eles ofereciam a oração ao público, e não a Deus. Um grande pre­gador descreveu uma vez uma oração elaborada e adornada que foi pronunciada em uma igreja de Boston: A oração mais eloquente que foi oferecida jamais a uma audiência de Boston. O orador havia preocupado mais em impressionar a congregação que estabelecer contato com Deus. Tanto na oração privada como na pública, não devemos abrigar nenhum pensamento na mente nem o desejo no coração que se aparte de Deus.

2. Insiste em que devemos ter presente que ao Deus a Quem oramos é um Deus de amor, Que está mais disposto a nos conceder o que nos estamos a pensando pedir. Não temos que nos omitir dos dons da graça como se não estivesse disposto a conceder-nos. Não acudimos a um Deus Que não nos quer atender, ou contestar nossas orações, Seu único desejo é dar. Quando recor­damos isto, não há dúvida que Deus é suficiente para nos acudir com um suspiro e desejo no seu coração, e nos seus lábios as palavras: Faça Tua vontade[12].

 

O Pecado me Seguiu até a Igreja

E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. (Mateus 6: 5).

A coisa mais chocante acerca deste texto são suas implicações a respeito da extensão e onipresença do pecado.

Quando falamos em pecado, geralmente pensamos em algo que acontece no escuro, num lugar distante e em segredo. Quando falamos em pecadores, pensamos em viciados em heroína, traficantes, ladrões ou adúlteros.

Mas, em Mateus 6: 1 a 18 encontramos o pecado acontecendo jus­tamente dentro da igreja. Encontramo-lo em nossas devoções a Deus. Encontramo-lo em nossa oferta, em nossa oração e em nosso jejum.

Agora você pode estar perguntando: Se não pudermos escapar dos efeitos do pecado na oração, onde escaparemos? A dolorosa res­posta é: Em lugar nenhum. O pecado mancha tudo o que fazemos. O problema com os escribas e fariseus é que eles deixavam de ver a pro­fundidade e a extensão do pecado. Em consequência disso, o pecado os surpreendia mesmo nos seus atos de devoção. Foi por isso que Jesus de­dicou tanto tempo a esse assunto. Em sua busca pela perfeição diante de Deus, eles caíam novamente na armadilha de Satanás.

No Sermão do Monte, Jesus está dizendo a Seus ouvintes que os fariseus, na realidade, não compreendiam o pecado. Pensavam que era uma ação que precisava ser evitada. Mas repetidas vezes Ele insistiu na desconcertante verdade de que o pecado é uma tendência que infecta toda a nossa vida. É uma egolatria vaidosa que nos segue aonde quer que vamos. Mesmo quando alegamos estar adorando a Deus, estamos muitas vezes empenhados ativamente na adoração de nós mesmos.

É isso que Jesus está nos dizendo por meio desses vigorosos ensinos sobre oração, jejum e esmola. Está nos dizendo que há pecado peca­minoso e pecado religioso.

As boas novas são que Ele quer nos purificar de toda a injustiça. Mas sabe que primeiro precisamos reconhecer a gravidade do pecado, para que recorramos a Ele, através da oração, pedindo purificação em profundidade[13].

 

Pecados Vegetarianos

Jesus declarou: Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo... Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. João 3: 3 a 5.

A espécie mais esquiva e enganosa de pecado é a que se pode chamar de pecado vegetariano.

Podemos perguntar o que são pecados vegetarianos?

São os tipos de pecados ilustrados por Jesus em Mateus 6: 1 a 18: pe­cados essencialmente ligados às práticas religiosas, tais como orar e ajudar os pobres. Eu os chamei de vegetarianos porque eles parecem tão bons, tão saudáveis.

Mas nisto está o seu poder de pegar-nos desprevenidos. Esse peca­do é enganoso porque aparenta e dá a impressão de ser religioso. Ele pode ser verdadeiramente religioso ou pode ser apenas outra maneira de fazer-nos sentir bem a respeito de nós mesmos, exceto que, dessa vez, o que dá prazer não é quão ímpio eu sou, mas quão justo sou. O poder enganador dos pecados vegetarianos reside no próprio fato de fa­zer-nos sentir limpos, mesmo quando ainda estamos cheios da polpa podre do pecado: a orgulhosa autossuficiência.

Jesus quer nos salvar até de nossa autossuficiência, até de nosso or­gulho espiritual e até mesmo da satisfação por nossas realizações na vi­da religiosa.

E como Ele Se propõe a fazer isso? Da mesma forma como lida com a prostituição e o tráfico de drogas. Ele quer que nosso espírito orgu­lhoso caia aos pés da cruz e seja crucificado. Ele quer que crucifique­mos as atitudes erradas da adoração e a atitude de achar que somos su­periores às pessoas das outras igrejas ou às pessoas que não têm igreja nenhuma.

Mas além da crucificação de nossa vaidosa justiça própria, Jesus quer proporcionar o nosso renascimento por meio da vida no Espírito. Ele quer que nasçamos de novo com uma nova atitude. Quer que nasçamos do alto. Quer salvar-nos até mesmo dos pecados vegetarianos. E as boas novas são que Ele é capaz de fazer isso. Ou seja, Ele pode fazê-lo, se humildemente clamarmos, neste e em todos os dias, por Seu auxílio[14].

 

A Importância da Oração Para os Fariseus

Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração. (Deuteronômio 6: 4 a 6).

A passagem bíblica de hoje é importante tanto para cristãos co­mo para judeus. Os cristãos a reconhecem porque, quando pergunta­ram a Jesus acerca do maior mandamento da lei, Ele apresentou Deu­teronômio 6: 5, com o seu amor a Deus.

Mas essa passagem era importante para os judeus antes de Jesus nascer. Era importante porque fazia parte do Shema. O Shema consistia de três breves passagens da Escritura: Deuteronômio 6: 4 a 9; 11: 13 a 21; e Números 15: 37 a 41 que tinham de ser recitadas sob a forma de ora­ção pelos judeus toda manhã e toda tarde.

O Shema não era a única oração que os judeus deviam recitar dia­riamente. Era seu dever também recitar o que se tornou conhecido co­mo As Dezoito, que consistiam de 18 orações. As Dezoito tinham que ser recitadas três vezes ao dia: uma vez pela manhã, uma vez à tarde e uma vez à noite.

Os judeus eram um povo de oração. Levavam suas orações a sério. Não rezavam apenas o Shema e As Dezoito, mas também tinham ora­ções para quase todo acontecimento da vida. Assim, tinham orações para antes e depois de cada refeição; e havia orações ligadas a coisas como a luz, o fogo e o relâmpago; ao verem a lua nova, cometas, chu­va e tempestades; ao verem o mar, lagos, rios; ao receberem boas notí­cias; ao usarem mobília nova; ao entrarem ou saírem de uma cidade, e assim por diante. Para tudo havia sua oração.

Como cristãos, temos algo a aprender com isto. Precisamos tam­bém ver a santidade de tudo que existe ou do que acontece em nossa vida. Precisamos ter o senso da constante presença de Deus. Devemos também ter a vida inundada pela oração.

Mas também devemos acautelar-nos dos perigos nos quais os ju­deus caíram. Satanás pode perverter até mesmo a oração. Mas Jesus pode fazer melhor. Pode dar nova vida à oração e santificá-la em nos­sa vida diária[15].

 

A Religião é uma Coisa Boa - Às Vezes

Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e aumentam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens.... Mas quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23: 5 a 12).

A religião é uma coisa boa, às vezes. Eu digo às vezes porque até mesmo a religião pode ser pervertida.

Ontem vimos que os fariseus eram praticantes entusiásticos da ora­ção. Tinham não apenas o Shema duas vezes por dia e As Dezoito três vezes por dia, mas também contavam com orações específicas para quase todas as ocasiões. Isso era bom. O que havia de mau era que al­guns deles às vezes utilizavam as ocasiões de oração para se exibirem e teatralizarem. Isso acontecia pelo menos de duas maneiras diferentes.

A primeira forma de perversão tinha que ver com o local. Já que certas orações deviam ser recitadas em ocasiões específicas do dia, era bastante fácil para alguns judeus planejarem as coisas de tal maneira que a hora da oração acontecesse quando eles se encontrassem em lu­gar público. Assim, pareceria uma coincidência estarem eles numa ex­tremidade de uma rua movimentada ou num quarteirão da cidade api­nhado de gente quando chegasse a hora. O resultado: todo o mundo po­deria testemunhar a devoção de alguém orando. Era fácil, por exemplo, estar no topo da escada da entrada para a sinagoga quando chegasse a hora. Naquele local, uma oração longa, expressiva e fervorosa podia ser feita de um modo que muitos pudessem apreciar a piedade envolvida.

Uma segunda forma de perversão era a maneira de fazer a oração. O sistema judaico de oração tornava a ostentação muito fácil. O judeu orava de pé, com as mãos estendidas, as palmas voltadas para cima e a cabeça inclinada. Quem passava não podia deixar de ver que essa pes­soa estava orando.

Os rabinos judeus mais sábios condenaram inteiramente essa tea­tralização. Jesus também a condenou.

Jesus sabia que orar é falar com Deus, uma experiência espiritual. Ele quer que oremos de coração e recebamos a extensiva bênção de Deus[16].

 

Diferentes Maneiras de Orar

O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado. (Lucas 18: 13 e 14).

Talvez a melhor ilustração que Jesus apresentou para exemplifi­car a atitude correta e a incorreta na oração foi a parábola do fariseu e do publicano, encontrada em Lucas 18: 9 a 14.

O fariseu, neste caso, era um crente superficial, aquele tipo com o qual Jesus foi bem firme em Mateus 6 e 23. Jesus nos dá um breve, mas notável perfil desse religioso afetado. Diz-nos que ele confiava em suas capacidades e realizações justas, e que desprezava os outros que não ha­viam alcançado sua exaltada condição espiritual. Ele orou, enfati­zando o fato de não ser pecador como os demais, inclusive como um cobrador de impostos que, por acaso, estava também orando nas pro­ximidades. O fariseu continuou a listar suas devoções religiosas. Era dizimista fiel e jejuava duas vezes por semana. De modo geral, ele es­tava bastante satisfeito consigo.

Em contraste, Jesus descreve o cobrador de impostos como alguém que, humildemente, orava e suplicava a Deus que fosse misericordioso para com ele devido às suas muitas faltas.

É muito interessante o que Jesus tem a dizer sobre essas orações. O fariseu, disse Jesus, não orava a Deus, mas orava consigo. Estava apresentando uma carta de recomendação, e chamava isso de oração.

Lembramo-nos do Rabi Simeão Ben Jochai, que afirmava: Se houver apenas dois homens justos no mundo, esses dois somos eu e meu filho; se houver apenas um, esse sou eu.

O publicano, por outro lado, orava a Deus. Não apenas isso, mas era ouvido por Deus. Saiu dali justificado e perdoado, enquanto o fari­seu permaneceu em seu pecaminoso orgulho, perdido, sem ao menos dar-se conta disso.

De que maneira eu oro? É a pergunta que devo fazer depois de ler essa parábola. Como devo orar? Como posso hoje melhorar minha vi­da de oração?[17].

 

Dizer e Praticar

Então, falou Jesus às multidões e aos Seus discípulos: Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. (Mateus 23: 1 a 3).

É mais fácil falar do que praticar. Todo pai sabe disso; todo ma­rido e mulher, todo pastor, todo chefe. Mas praticar é o ponto princi­pal. Praticar é tudo. Ainda assim, eu preferiria apenas falar.

E assim procediam os fariseus. Muitas de suas ideias eram bastante úteis e verdadeiras, mas eles deixavam de viver o espírito de sua reli­gião. Guardavam as leis e praticavam as devoções religiosas externa­mente, embora demasiadas vezes lhes faltasse profundidade interior.

Esse era o problema da oração mencionada em Mateus 6: 5. Eles ora­vam não somente porque desejavam falar com Deus, mas também por­que queriam que os outros pensassem que eles eram homens de oração.

O ponto importante para nós hoje é que algumas vezes agimos com a mesma motivação dos fariseus do passado. Algumas vezes tam­bém oramos para efeitos externos. Também somos por vezes tentados a ter a reputação de uma pessoa que ora divinamente bem ou que é profundamente espiritual. Jesus, no Sermão do Monte, diz que a fon­te dessa ambição não é Deus. Ao orarmos, não devemos concentrar nosso interesse em nós mesmos ou em nossa reputação, mas Naquele a quem oramos. Podemos não estar orando ostentosamente nas esqui­nas das ruas, nem fazendo tocar trombeta diante de nós para que todos saibam que estamos orando, mas algumas vezes permitimos que saibam que estamos cansados ou refeitos, conforme o caso porque levanta­mos às 3:00 da madrugada para orar fervorosamente a Deus. Essa tática é sutil, mas não é secreta.

Outros caem na armadilha da oração farisaica nas orações públicas das manhãs de sábado. Eles gostam que os outros comentem como foi bela a sua oração. Tudo o que realmente conta, seja em público ou em particular, é a oração sincera. É mais importante que as orações se­jam comoventes do que belas. É absolutamente decisivo que o ponto focal delas seja Deus.

Senhor, hoje, como no passado com Teus discípulos, nosso coração clama: Ensina-nos a orar[18].

 

         6 - Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e fechando a porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê em segredo, te recompensará.

TU, PORÉM - II Reis 4: 33. Em grego o pronome traduzido tu está em posição enfática[19].

Comentário Isaias 26: 20. Indignação. A indignação de Deus contra seus inimigos. A indignação final de Deus se sintetiza nas sete pragas futuras. (Apocalipse 14: 10; 15: 1; cf. Isa. 34: 2; Naum 1: 6). O povo de Deus teve que permanecer dentro de suas casas enquanto eram mortos os primogênitos de Egito (Êxodo 12: 22 e 23). Deus convida a seu povo a que se esconda nele durante as sete últimas pragas, para que ele possa ser-lhe amparo e fortaleza, nosso cedo auxílio nas tribulações (Salmo 46: 1). Protegido desta maneira, seu povo não precisa temer, ainda que a terra seja removida, e se traspassem os montes do coração do mar. (Salmo 46: 2; 25: 5; 91: 1 a 10). A indignação divina não dura senão um momento. (Isaias 54: 8; Salmo 30: 5). Para o Senhor a obra do juízo é uma estranha obra. (Isaias 28: 21). Mas à hora da indignação divina contra os ímpios é também à hora da libertação e o triunfo do povo de Deus[20].

QUANDO ORARES - Jesus se dirige a cada pessoa do público em forma individual mediante o emprego do pronome singular[21]

NO SEGREDO - É provável que esta expressão queira dizer, que ouve o que se diz em segredo, como o insinua o contexto[22]

EM SEGREDO - no secretoDeus vê o que os homens não podem ver, vê ainda o que se faz em secreto[23]

 

Ore a Deus

Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mateus 6: 6).

Parece estranho que eu tenha intitulado a leitura de hoje de Ore a Deus. Mas foi isso o que Jesus nos disse para fazer em Mateus 6: 6. Deves orar a teu Pai.

Mas, perguntará você, a quem mais poderíamos orar? Suponho que há uma porção de respostas para essa pergunta. Jesus forneceu uma em Lucas 18: 11 na história do fariseu e do publicano. Ele disse que o fari­seu orava para si mesmo, em vez de orar a Deus. O simples fato de passarmos tempo em oração não significa que estamos orando a Deus.

Há vários pontos que devemos considerar ao orar a Deus. O pri­meiro é o que se pode pensar como processo de exclusão. Quando ora­mos ao Pai, devemos excluir certas coisas. Precisamos deixar fora a multidão de pensamentos e cuidados diários que criam obstáculos en­tre nós e Deus. Precisamos nos concentrar na comunicação com Ele, assim como prestamos atenção total a qualquer pessoa que respeitamos e com a qual nos importamos. Na oração secreta, precisamos, por as­sim dizer, entrar num quarto com Ele, a fim de que somente nós dois fiquemos conversando. Precisamos buscar a Deus e louvá-Lo de todo o nosso coração, mente e alma. Esse quarto pode ser um aposento de ver­dade ou pode ser um ônibus superlotado. Podemos orar a Deus de ma­neira secreta e exclusiva em qualquer lugar.

Um segundo ponto que precisamos considerar, ao pensarmos em orar a Deus, é que quando oramos, entramos realmente em Sua presen­ça. Estamos na sala de audiência do Infinito. E o Pai, sendo Pai, preo­cupa-Se conosco exatamente como nós nos preocupamos com nossos filhos. Ele nos escuta!

Terceiro, quando oramos a Deus, podemos ter confiança. Podemos nos aproximar confiantemente do trono da Graça, por causa do que Je­sus fez por nós no Calvário e está fazendo por nós no Céu.

Estas são as boas novas. Por que então não orar a Deus com maior frequência?[24].

 

Lugar Secreto de Oração

E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava Ele, só. (Mateus 14: 23).

Jesus era um homem de oração. O NT chama frequentemente a atenção para o fato de que Ele Se afastava para passar toda a noite em oração. Houve ocasiões em que Ele orou em público, como em João 17. Ele não subestimava o papel da oração pública, mas também acreditava na oração particular e a praticava. Algumas vezes Ele sentiu necessidade de ficar sozinho com o Pai.

Nós temos a mesma necessidade. Precisamos afastar-nos dos cuida­dos da vida para estar com Deus. Ir à igreja, aos cultos de oração e à Escola Sabatina é bom, mas todo cristão precisa, individualmente, de um tempo especial na sala de audiência do Rei. Precisamos disso para louvar o Seu nome, agradecer-Lhe por Sua bondade, confessar nossos pecados, pedir força, interceder pelos outros e apenas conversar infor­malmente com Aquele que Se importa.

Em resumo, cada um de nós precisa, cada dia, separar tempo sagra­do para oração em nosso lugar secreto. Precisamos levar nossa vida devocional a sério. Precisamos nutrir nossa natureza espiritual, assim como nos nutrimos física, social e mentalmente. E essa nutrição exige tempo. A nutrição apropriada não é obra de um breve minuto. Muitos acham que a melhor hora para seu período secreto com o Pai é bem cedo de manhã. Acham que, se deixarem o momento devo­cional para mais tarde, o fluxo dos deveres urgentes acabam por torná-­lo impossível ou irregular.

Durante nosso momento com Deus, precisamos não apenas falar a Ele em oração, mas ouvir o que Ele diz por meio de Suas palavras na Bíblia. Esse ouvir deve ser mais profundo do que apenas ler a medita­ção matinal, algumas páginas de Ellen White ou a lição da Escola Sa­batina. Precisamos tornar-nos o po­vo da Bíblia.

Dediquei um dia a esse assunto porque os cristãos adventistas do sétimo dia estão ficando cada vez mais presos aos negócios deste mun­do. Isto tem feito com que se dê menos ênfase à devoção pessoal.

Hoje é o dia de mudar essa situação[25].

 

A verdadeira oração. O Pai nosso

Vós, porém, orareis assim: Pai Nosso...

Sem Jesus, não sabemos verdadeiramente o que é um Pai. Foi na sua oração que isso se tornou claro e esta oração pertence-lhe intrinsecamente. Um Jesus que não estivesse perpetuamente mergulhado no Pai, ou que não estivesse em permanente comunicação com Ele, seria um ser totalmente diferente do Jesus da Bíblia e do verdadeiro Jesus da História. A sua vida parte do núcleo da oração; foi a partir dela que Ele compreendeu Deus, o mundo e os homens… Surge então uma nova questão: será esta comunicação… também essencial ao Pai que Ele invoca, de tal modo que também Ele fosse diferente se não fosse invocado sob este nome? Ou trata-se de algo que apenas O aflora sem nele penetrar? A resposta é a seguinte: pertence ao Pai dizer Filho como pertence a Jesus dizer Pai. Sem essa invocação, Ele próprio também não seria Ele. Jesus não tem apenas um contato exterior a Ele; é parte integrante do ser divino de Deus, enquanto Filho. Antes mesmo de o mundo ser criado, Deus já é o Amor do Pai e do Filho. E, se pode tornar-se nosso Pai e a medida de toda a paternidade, é porque Ele próprio é Pai desde toda a eternidade. Na oração de Jesus é a própria interioridade de Deus que se torna visível; vemos como é Deus; a fé no Deus trinitário não é senão a explicação daquilo que se passa na oração de Jesus. Nesta oração, a Trindade aparece em toda a sua clareza… Ser cristão significa, pois: participar na oração de Jesus, entrar no seu modelo de vida, ou seja, no seu modelo de oração. Ser cristão significa:
dizer Pai com Ele e tornar-se assim criança, filho de Deus, na unidade do Espírito que nos faz ser nós próprios, agregando-nos à unidade de Deus. Ser cristão significa: olhar o mundo a partir deste núcleo, tornando-se assim livre, cheio de esperança, decidido e confiante[26]
.

 

7 - Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos.

NAS VOSSAS ORAÇÕES - E orandoOu ao orar. O que segue é uma continuação do mesmo tema, não a introdução de outro assunto[27]

NÃO USEIS VÃS REPETIÇÕES - Grego: battalogéô, verbo que só aparece aqui no NT. Pelo uso que se lhe dá à palavra, sugere que deve ser traduzida: parolar, falar sem pensar o que se diz balbuciar, ou palavreado excessivo. Jesus não proibiu toda repetição porque ele mesmo empregou a repetição (Mateus 26: 44)[28]

COMO OS GENTIOS – (Atos 19: 34). Os tibetanos creem que quando gira a roda das rezas se repete a mesma prece incontáveis milhares de vezes sem pensamento nem esforço de parte do devoto[29].

Comentário I Reis 18: 26. Não tinha voz. Como podia tê-la? Baal não era senão um produto da imaginação do homem, e não podia responder à oração. 

Andavam saltando. Dançavam coxeando. Era uma dança ritual muito movimentada, que chegavam a cair num estado de frenesi. Diz-se que essas práticas às vezes foram acompanhadas por manifestações de poder demoníaco, e sem dúvida se esperava que por esse meio tivesse fogo. Mas o Senhor interveio: reteve a Satanás e seus anjos, e não teve fogo[30]

         Comentário de Atos 19: 34. Todos a uma vozA multidão tinha agora em que centrar sua alvoroço, e durante duas horas repetiram seu clamor. Isto demonstra que os judeus não eram populares. A ira que o discurso de Demétrio tinha produzido contra o judeu Paulo, estava agora a ponto de voltar-se contra todos os judeus de Éfeso[31]

 

Qualidade, e Não Quantidade

E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. (Mateus 6: 7).

É uma coisa maravilhosa orar várias vezes por dia e até mesmo ter horários fixos para a oração particular. Daniel, em Babilônia, ora­va três vezes ao dia, com o rosto voltado para Jerusalém. E os cristãos de nosso tempo dão graças pelo alimento e fazem preces ao se levantar pela manhã e ao ir para a cama à noite.

Há, porém, um perigo nisto tudo. É fácil a oração tornar-se formal em vez de sincera. Ela se torna algo que você faz em certas ocasiões ou em determinados momentos. Em consequência disso, fica fácil res­mungar a oração de uma maneira ininteligível. Em minha própria vi­da tem havido ocasiões em que as orações à mesa ou ao pé da cama se tornaram tão rotineiras que eu não conseguia lembrar se havia orado. A oração rotineira tem seus perigos.

Em nosso texto de hoje, Jesus fala sobre as vãs repetições na ora­ção, ou, conforme traduz a Nova Versão Internacional, alguns pen­sam que por muito falarem serão ouvidos.

Isto tem sido verdade em muitas culturas. Assim é que em I Reis 18: 26 lemos que os profetas de Baal clamaram: “Ah! Baal, responde-­nos!” por quase meio dia. E em Atos 19: 34 lemos como a multidão dos efésios gritaram por quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios! E há alguns cristãos que dizem repetitivamente suas orações por meio de um rosário, enquanto os hindus usam as contas de oração com o mesmo propósito. Na história protestante, muitas vezes tem-se pensa­do que a duração de uma oração é uma indicação de devoção.

Jesus nos diz que todas essas ideias estão erradas. Deus quer que oremos a Ele, da mesma maneira como o fazemos quando conversamos inteligentemente com nossos melhores amigos. Não devemos julgar nosso sucesso pelo palavreado empregado nessas situações, nem deve­mos pedir as coisas num estilo repetitivo. Não. Sabemos que Deus nos ouve e Se importa conosco. Em consequência disso, derramamos pe­rante Ele o nosso coração[32].

 

8 - Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes. 

VOSSO PAI SABE - Alguns manuscritos antigos dizem: Deus vosso pai; mas a evidência textual tende a confirmar o texto tal como aparece na RVR. A oração não dá a Deus informações que de outro modo não poderia saber. Não é um meio para convencê-lo de que faça o que de outro modo não quereria fazer. A oração nos une com o Onipotente e condiciona nossa vontade para que cooperemos eficazmente com a vontade divina[33].

 

O Pai Ideal

Porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que Lho peçais. (Mateus 6: 8).

Omito algumas palavras do início do nosso texto de hoje. Na ver­dade, ele começa assim: Não vos assemelheis, pois, a eles.

A eles, quem? Àqueles que no verso 7 pensavam que pelo seu mui­to falar Deus os ouviria. Não sejam como eles. Por quê? Porque o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que Lho peçais.

Nesse verso, a palavra Pai é usada em seu verdadeiro sentido. Al­guns de nós que lemos essa passagem somos pais. Outros são mães. Ne­nhum de nós caso sejamos normais deixamos nossos filhos mendiga­rem aquilo que precisam na vida. Na verdade, até os dissuadimos de implorar e choramingar para conseguirem o que querem. Não quere­mos reforçar esse tipo de atitude manipuladora.

Além disso, somos bastante perspicazes no que diz respeito às necessi­dades de nossos filhos. Muitas vezes conhecemos suas esperanças, temores e desejos. Não apenas fomos filhos um dia, mas temos criado esses filhos especiais desde a infância. Em geral, sabemos do que precisam.

Mas, de qualquer jeito, gostamos que eles nos peçam. É um sinal de reconhecimento de que somos pais cuidadosos e protetores. Além disso, é uma indicação, da parte deles, de que nos respeitam. É impor­tante que eles digam por favor e obrigado. O pedido e o agradeci­mento que fazem é para eles um lembrete de que os amamos. Natural­mente, não damos tudo o que pedem. Nem tudo quanto desejam seria bom para eles.

Nosso relacionamento com Deus se assemelha muito à relação sau­dável do pai com o filho, exceto no aspecto de que Deus realmente sabe tudo o que desejamos e tudo o que seria bom para nós.

Embora Ele não queira que mendiguemos as coisas, deseja que nos di­rijamos a Ele de maneira respeitosa em nossas petições. É prazer de nosso Pai atender às nossas necessidades da maneira mais saudável e útil.

O fato de Deus ser nosso Pai é um dos ensinamentos mais impor­tantes do NT. Hoje precisamos vê-Lo mais como um amante Pai do que como um juiz vingativo. Ele é o Deus que Se im­porta o bastante para responder às nossas orações[34].

 

Pedir é Importante

         Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo... E nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar o novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. (Lucas 15: 28 29 e 31).

Que tragédia!

O filho mais velho da parábola havia ficado em casa a vida toda, mas não compartilhara das bênçãos do pai.

Por quê? Porque nunca as pediu. Trabalhou duro para guardar a lei verso 29 e evitar determinados pecados verso 30, mas deixou de compreender a generosidade do pai. Não percebeu que o pai anelava derramar suas bênçãos sobre cada filho.

Que tragédia viver na casa do pai, mais como um empregado do que como um filho! Precisamos lembrar-nos das palavras que o pai dis­se ao filho: Tudo o que é meu é teu.

Deus quer nos abençoar. Por que somos tão relutantes em pedir? Por que não somos encontrados mais vezes em oração? Tudo o que é meu é teu é a mensagem de Deus.

Uma das grandes lições do Sermão do Monte é a de que Deus é nosso Pai. Insiste-se repetidamente nessa lição. Precisamos hoje tomar nosso coração e ir a Deus em oração reivindicar nosso direito de pri­mogenitura como filhos do Rei.

Deus quer que tenhamos fome e sede de Seus dons; quer que oremos sem cessar. Ele é nosso Pai e Se deleita em abençoar Seus fi­lhos. Está mais pronto a dar do que estamos para receber.

Hoje é o dia em que podemos começar a crescer na oração da fé. Aproximemo-nos de nosso Pai, buscando Sua bênção para nossa vida e para a vida dos que estão ao nosso redor. Lembre-se: Estamos lidan­do com Alguém que possui coração infinitamente mais amoroso do que o melhor pai terreno. Ele quer que nos acheguemos a Ele com fé. Quer que vamos a Ele como filhos humanos vão aos pais com seus pe­didos[35].

 

LEITURA ADICIONAL

         Quando orares, não sejas como os hipócritas. (Mateus 6: 5)

Os fariseus tinham horas designadas para oração; e quando, como frequentemente acontecia, eles estavam fora, no tempo determinado para isso, paravam onde estivesse, talvez na rua ou nos lugares de comércio, entre as multidões apressadas, e ali, em altas vozes, repetiam suas formais orações. Tal culto, prestado apenas para glorificação própria,  suscitou severa censura da parte de Jesus. Ele não desanimou, entretanto, a oração em público; pois Ele mesmo orou com os Seus discípulos e na presença da multidão. Ensina, porém, que a oração particular não deve ser feita em público. Na devoção íntima nossas orações não devem chegar aos ouvidos de ninguém mais senão do Deus que ouve as orações. Nenhum ouvido curioso deve receber o fardo de tais petições. 

Quando orares, entra no teu aposento. (Mateus 6: 6). Tenha um lugar para a oração particular. Jesus tinha lugares especiais para comunhão com Deus, e o mesmo devemos fazer. Precisamos retirar-nos frequentemente para algum canto, por humilde que seja, onde nos possamos encontrar a sós com Deus. 

Ora a teu Pai,... Que está oculto. (Mateus 6: 6). Podemos, em nome de Jesus, chegar à presença de Deus com confiança infantil. Homem algum precisa servir de mediador. Mediante Jesus, é-nos dado abrir o coração a Deus como a alguém que nos conhece e ama. 

No lugar secreto de oração, onde olho algum senão o de Deus nos pode ver, ouvido algum senão o Seu pode escutar, é-nos dado exprimir nossos mais íntimos desejos e anelos ao Pai de infinita piedade. E, no sossego e silêncio da alma, aquela voz que jamais deixa de responder ao clamor da necessidade humana, falará ao nosso coração. 

O Senhor é muito misericordioso e piedoso. (Tiago 5: 11). Ele aguarda com incansável amor ouvir as confissões do extraviado, e aceitar-lhe o arrependimento. Ele observa a ver qualquer resposta de gratidão de nossa parte, assim como uma mãe observa o sorriso de reconhecimento de seu amado filho. Ele desejaria que levássemos nossas provações a Sua compaixão, nossas dores ao Seu amor, nossas feridas à Sua cura, nossa fraqueza à Sua força, nosso vazio à Sua plenitude. Jamais foi decepcionado alguém que fosse ter com Ele. Olharam para Ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficarão confundidos. (Salmo 34: 5)

Aqueles que buscam ao Senhor em segredo, contando-Lhe suas necessidades, e pedindo auxílio, não rogarão em vão. Teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. (Mateus 6: 6). À medida que fizermos de Cristo nosso companheiro diário, havemos de sentir que as forças de um mundo invisível se encontram todas ao redor de nós; e, pelo contemplar a Jesus, seremos transformados à Sua imagem. Somos transformados pela contemplação. O caráter é abrandado, refinado e enobrecido para o reino celeste. O seguro resultado de nosso trato e convívio com nosso Senhor será o acréscimo de piedade, de pureza e fervor. Haverá progressiva inteligência na oração. Recebemos assim uma educação divina, o que é ilustrado por uma vida de diligência e zelo. 

A alma que se volve para Deus em busca de auxílio, de apoio, de poder, mediante diária e fervorosa oração, terá aspirações nobres, percepções claras da verdade e do dever, altos propósitos de ação, e uma contínua fome e sede de justiça. Mantendo comunhão com Deus, seremos habilitados a difundir para os outros, através de nosso convívio com eles, a luz, a paz e a serenidade que reinam em nosso coração. A força obtida na oração a Deus, unida ao perseverante esforço no exercitar a mente na reflexão e no cuidado, prepara a pessoa para os deveres diários, e mantém o espírito em paz em todas as circunstâncias. 

Se nos achegarmos a Deus, Ele porá em nossos lábios uma palavra para dirigir-Lhe, isto é, um louvor ao Seu nome. Ele nos ensinará o acento do cântico dos anjos, ações de graças a nosso Pai celestial. Em todo ato da vida, manifestar-se-ão a luz e o amor de um Salvador a residir em nós. As perturbações exteriores não atingem uma vida vivida pela fé no Filho de Deus. 

Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios. Mateus (6: 7). Os pagãos consideravam suas orações como possuidoras em si mesmas do mérito de expiar pecados. Assim, quanto mais longas as orações, tanto maiores os merecimentos. Se pudessem tornar santos por seus esforços, teriam em si mesmos, alguma coisa de que se regozijar, algo de que se vangloriar. Essa ideia da oração é fruto do princípio de expiação individual, o qual jaz na base de todos os falsos sistemas religiosos. Os fariseus haviam adotado essa ideia pagã acerca da oração, a qual não se acha de modo algum extinta em nossos dias, mesmo entre os que professam o cristianismo. A repetição de frases feitas, habituais, quando o coração não sente nenhuma necessidade de Deus, é da mesma espécie que as vãs repetições dos pagãos. 

A oração não é uma expiação pelo pecado; não possui em si mesma qualquer virtude ou mérito. Todas as palavras floreadas de que possamos dispor não equivalem a um único desejo santo. As mais eloquentes orações não passam de palavras ociosas, se não exprimirem os reais sentimentos do coração. Mas a oração que provém de um coração sincero, quando se exprimem as simples necessidades da alma, da mesma maneira que pediríamos um favor a um amigo terrestre, esperando que o mesmo nos fosse concedido, eis a oração da fé. Deus não deseja nossos cumprimentos cerimoniais; mas o abafado grito de um coração quebrantado e rendido pelo senso de seu pecado e indizível fraqueza, esse alcançará o Pai de toda a misericórdia[36].



[1] BJ, p. 1848.

[2] CBASD, vol. 5, p. 335.

[3] BJ, p. 1848.

[4] CBASD, vol. 5, p. 334.

[5] CBASD, vol. 5, p. 334.

[6] CBASD, vol. 5, pp. 657 e 658.

[7] CBASD, vol. 1. P. 940.

[8] CBASD, vol. 1. pp. 731 e 733.

[9] CBASD, vol. 1. p. 464.

[10] CBASD, vol. 5, p. 334.

[11] CBASD, vol. 5, pp. 334 e 335.

[12] Comentário ao Novo Testamento, Willian Barclay, Editora Clie, Mateus, vol. 1, pp. 221 a 228.

[13] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 190.

[14] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 191.

[15] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 192.

[16] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 193.

[17] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 194.

[18] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 195.

[19] CBASD, vol. 5, p. 335.

[20] CBASD, vol. 4, p. 244.

[21] CBASD, vol. 5, p. 335.

[22] CBASD, vol. 5, p. 335.

[23] CBASD, vol. 5, p. 335.

[24] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 196.

[25] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 197.

[26] Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, Der Gott Jesu Christi.

[27] CBASD, VOL. 5, P. 335.

[28] CBASD, VOL. 5, P. 335.

[29] CBASD, VOL. 5, P. 335.

[30] CBASD, vol. 2, p. 816.

[31] CBASD, vol. 6, p. 378.

[32] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 198.

[33] CBASD, vol. 5, p. 336.

[34] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 199.

[35] Caminhando com Jesus, no Monte das Bem Aventuranças, MM 2.001, George Knight, p. 200.

[36] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 83 a 87 .