19º

DO AMOR AO PRÓXIMO

43 - Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.

OUVISTE - O ensino tradicional era transmitido oralmente, sobretudo nas sinagogas[1].

Jesus apresenta agora exemplos específicos de sua interpretação da lei. Como Autor e seu único verdadeiro Expositor. Pondo de lado a casuística rabínica, Jesus restaurou a verdade a sua formosura original. A expressão ouvistes implica que a maioria dos ouvintes nesta ocasião não tinham lido a lei. Isto era de se esperar, porque a maioria deles eram rudes lavradores e pescadores. Quando conversou mais tarde com os eruditos sacerdotes e anciãos, Jesus perguntou: Nunca lestes nas Escrituras? Mateus 21: 42. No entanto, nesse mesmo dia um grupo de pessoas comuns do povo, dentro do átrio do Templo, dirigiu-se a Jesus dizendo: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre. João 12: 34[2].

Cristo apresenta sua quarta ilustração do espírito da lei em contraste com a mera formalidade de obedecê-la. Os versos 38 a 42 têm que ver com o proceder de um cristão quando é prejudicado por outros[3].

AMARÁS - Os gregos tinham três verbos para expressar esta ideia: ágape, filéo e Eros.

Grego: agapáô, cuja rica gama de matizes não é refletida adequadamente pelo verbo amar. A palavra amar implica tantas ideias diferentes, que o verdadeiro significado do verbo agapáô se tergiversa. Os gregos tinham três verbos para expressar as ideias que se expressam por meio do verbo chamar: agapáô, filéô, eráô

Filéô descreve em geral o amor afetuoso, baseado em emoções e afetos. É o amor entre amigos, entre familiares; é a retribuição do carinho para quem nos têm dado carinho. Traduz-se corretamente como querer em João 21: 15 a 17. O verbo eráô não aparece no NT. Refere-se ao amor sensual. É a raiz da palavra erotismo, e como tal descreve o amor que se manifesta no plano físico. O verbo agapáô se relaciona com o respeito e a estima. É um princípio de ação e não uma ação regida por sentimentos. Põem em ação as faculdades superiores da mente e da inteligência. Ao passo que o verbo filéô implica amar a quem nos ama, o verbo agapáô expressa respeitar, estimar e amar ainda a quem não nos amam. Demonstra um amor altruísta, enquanto o verbo eráô descreve um amor puramente egoísta, e ainda o sentimento expressado com filéô pode estar tingido de egoísmo. 

O substantivo correspondente com este verbo é agápê. Encontra-se quase exclusivamente na Bíblia. O agápê do NT é o amor mais puro e excelso, amor que não pode ser igualado, amor que obriga uma pessoa a sacrificar-se em bem de outros João 15: 13. Implica reverência para Deus e respeito ao próximo. É um princípio divino de pensamento e de ação que modifica o caráter, governa os impulsos, controla as paixões e enobrece os afetos. Lucas 6: 30[4].

PRÓXIMO - A boa árvore produzirá bom fruto. Se o fruto for de sabor desagradável e sem valor, a arvore é má. Assim o fruto dado na vida testifica das condições do coração e da excelência do caráter. As boas obras jamais poderão comprar a salvação; mas é um indício da fé que opera por amor e purifica a alma. A recompensa eterna não é concedida em virtude de nossos méritos, será em proporção à obra realizada por meio da graça de Cristo[5].

Para os judeus, um próximo era outro israelita, já fora por nascimento ou por conversão. Os samaritanos, mistura de judeus com outras raças, estavam excluídos e eram considerados como estrangeiros. Na parábola do Bom Samaritano Lucas 10: 29 a 37, Jesus destruiu esse conceito tão estreito e proclamou a irmandade de todos os homens. O amor cristão tenta o bem-estar de todos, sem distinção de raça nem de credo. Próximo do latim proximus significa literalmente nosso próximo. Todo o que está perto de nós[6]

ODIARÁS TEU INIMIGO - Aborrecerás a teu inimigoEsta frase não aparece em Levítico 19:18, mas sem dúvida era um provérbio popular. Odiar a outros ou menosprezá-los é um produto natural do orgulho. Considerando que os filhos de Abraão João 8: 33; Mateus 3: 9 se julgavam superiores aos outros, os judeus desprezavam os gentios, É como se Jesus lhes tivesse dito que se a lei mandava amar o próximo, ele ordenava amar também aos inimigos verso 44. Cristo prossegue explicando por que se deve amar os inimigos: porque Deus assim faz versos 45 a 48 e porque somos filhos de Deus – verso 45; I João 3: 1 e 2[7].

 

O AMOR CRISTÃO

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelo que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair à chuva sobre justos e injustos. Com efeito, se amais aos quer vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos a mesma coisa? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios a mesma coisa? Com efeito, se amais aos quer vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos a mesma coisa? Portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito.

 

1. Seu significado – Grego

O investigador judeu C. G. Montefiore chama este texto: A seção central e mais famosa do Sermão do Monte. É indubitavelmente certo que não há nenhuma outra passagem no NT que contenha uma expressão tão concentra­da de ética cristã das relações pessoais. Para qual­quer pessoa normal, esta passagem descreve o Cristianismo essencial em ação, e até a pessoa que jamais pisou numa igreja sabe que Jesus disse estas coisas, e condena os professos cristãos por querer ter vantagens em suas demandas.

Quando estudamos esta passagem, devemos em primeiro lugar tratar de descobrir o que Jesus estava realmente dizendo, e o que ensinava a Seus seguidores. Se vamos tratar de modo de vida, obviamente devemos antes de qualquer coisa estar completamente seguros de que nos pede. Que quer dizer Jesus com amar a nossos inimigos?

O grego é uma língua rica em sinônimos; suas palavras tem a muitas variáveis que não possui o português. No grego existem quatro palavras diferentes para amor.

1. A palavra storguê, com o verbo correspondente storguein. Estas palavras são as mais características da família amor. São as que descrevem o amor dos pais aos filhos, e dos filhos aos pais. Um filho, dizia Platão ­ama, storguein e é amado pelos que lhe trouxeram ao mundo. Doce é um pai a seus filhos, dizia Filemom, se lhes tem amor storgue. Estas palavras descrevem o afeto familiar.

2. A palavra erôs, com o verbo correspondente eran. Descrevem o amor entre um homem e uma mulher; com paixão e sempre amor sexual, físico. Sófocles descrevia erôs como um anelo terrível. Nestas palavras não existe nada essencialmente mau; simplesmente descrevem a paixão do amor humano; mas, com o passar do tempo foi inserida a ideia de concupiscência, e não aparece nunca no NT.

3. A palavra fileo, com o verbo correspondente filein. São palavras gregas mais cálidas e melhores para definir o amor. Descreve o amor verdadeiro, o afeto. A palavra grega filuntes, é o particípio de presente, que descreve os amigos mais autênticos e íntimos de uma pessoa. Se usa no famoso dito de Menandro: Os deuses amam, e morrem jovens. Filein: acariciar ou beijar. Indica a classe mais sublime de amor, afeto, cálido e terno.

4. Agapê, com o verbo correspondente agapan. Indicam uma benevolência inconquistável, uma boa vontade invencível. Se olharmos uma pessoa com agapê, não importa o que a pessoa nos faça, como nos trata; que nos insulte ou injurie ou ofenda: Não deixaremos que nos invada o coração nenhuma amargura contra ela, seguirmos olhando com esta benevolência inconquistável, boa vontade e procuraremos seu bem supremo. Daqui surgem algumas coisas.

1. Jesus não está pedindo nunca que amemos a nossos inimigos da mesma maneira que amamos nossos íntimos e mais próximos. A palavra é diferente; amar a nossos inimigos da mesma maneira que amamos a nossa família não seria possível nem justo. Esta é uma classe de amor diferente.

2.  Onde está a diferença? No caso de nossos fa­miliares, não podemos evitar amá-los. Falamos de enamorarmos; é algo que nos sucede sem buscarmos; é algo que nasce das emoções do coração. Porém no caso de nossos inimigos, o amor não é algo somente do coração; é tam­bém algo da vontade. Não é algo que não podemos evitar; é algo que temos que estimular a fazer. É uma vitória sobre o que sucede instintivamente ao homem natural:

Agapê não quer dizer um sentimento do coração, que não podemos evitar, e que nos sucede sem querer nem buscar; é uma decisão da mente mediante a qual conseguimos esta inconquistável boa vontade para os que nos fazem dano ou nos ofendem. Agapê, é o poder para amar os que nos amam. Só podemos ter agapê quando Jesus Cristo nos permite conquistar nossa tendência natural contra a ira e o res­sentimento, e lograr esta boa vontade invencível para com todo mundo.

3. O que o que não quer dizer agapê, é o amor chamado cristão, que deixemos fazer absolutamen­te o que dá na cabeça, sem nossa mínima intervenção. Nada diria que um pai que ama muito seu filho lhe deixa fazer e viver como lhe dá na cabeça. Se olharmos uma pessoa com muita boa vontade, a menos que temos que castigar, reprimir, disciplinar e proteger contra si mesma. Não a castigaremos para satisfazer o desejo de vingança, mas para que se realize como pessoa. Toda disciplina e todo castigo cristão deve propor, não a vingança, mas a cura. O castigo não deve ser meramente retributivo; mas curativo.

4. Jesus estabeleceu este amor como a base para as relações pessoais. As pessoas usam esta passagem como base para o pacifismo e como um texto em relação com as relações internacionais. Inclui tudo, o primeiro e principal passo é o que se refere a nossas relações pessoais com nossa família e com nossos vizi­nhos e com as pessoas que encontramos em nossa vida diária. É muito mais fácil ir por aí declarando que não deveria haver tal coisa como guerra entre as nações, que viver uma vida em que nunca permitamos que as desavenças invadam nossas relações com os que tratamos no dia a dia. Em primeiro lugar, este mandamento de Jesus se refere a nossas relações pessoais. Isto é para mim.

5. Este mandamento só é possível para um cristão. Só a graça de Jesus Cristo pode capacitar uma pessoa para ter esta benevolência e boa vontade em suas relações pessoais com os outros. Só quando Cristo vive em nossos corações chega a morrer a amargura e nasce este amor em nossa vida. Este mundo seria perfeito se as pessoas vivessem segundo os princípios do Sermão do Monte; mas de fato nada pode começar em nosso coração segundo estes princípios sem a ajuda de Jesus Cristo. Necessitamos de Jesus para que nos capacite para obedecer a seu mandamento.

6. Finalmente, e pode ser o mais importante de tudo devemos notar que este mandamento não implica em deixar que as pessoas façam o que querem conosco; implica que nós devemos fazer algo por eles. Nos manda orar por eles. Não podemos orar por outra pessoa e seguir odiando. Quando nos apresentamos ante Deus com a outra pessoa que tem a tentação de odiar, algo sucede. Não podemos seguir odiando e querer estar presente ante Deus. A maneira mais eficaz de acabar com a amargura é orar pela pessoa que estamos tentados a odiar[8].

2. Seu significado - Hebraico

Deus é amor, e Ele nos criou a sua imagem para amar. Nossa prioridade mais elevada é amar: tanto a Deus como aos demais seres humanos. Assim quando amamos, estamos cumprindo o propósito de Deus para nós. O que queremos dizer com a palavra amor? No AT se mostram muitas classes de amor: algumas classes são admi­ráveis, outras vergonhosas. Todas tem sido traduzidas como amor; mas cada realidade, tem uma variedade de significados.

A palavra hebraica mais comum para amor é aba. Essa palavra descreve a maioria dos tipos de afeto. Se usa para designar os sentimentos de Deus para conosco, e o nosso amor para com outras pe­ssoas, comidas, ou diversos objetos. Entre pessoas ahab significa mais que um sentimento romântico; significa uma relação total.

Outra palavra agab, é traduzida geralmente como luxúria, e se usa na Bíblia em sua maioria no livro de Ezequiel para descrever Israel que corre atrás da Assíria contrariando as instruções de Deus. Como disse o profeta, se enamorou de seus amantes os assírios. Ezequiel 23:5.

Uma terceira palavra para descrever o amor é raham, derivada da palavra ventre, que naturalmente tem a conotação de compaixão e se usa para descrever o amor de uma mãe por seus filhos. Os homens podem demonstrar esta atitude amante por outros. O filho de Oseias recebeu o nome de Lo Ruhama, que significa não amado, ou não compadecido. Mais tarde o nome foi mudado para amado.

Uma quarta palavra para amor é dowd, que denota o amor apaixonado. Relacionada com a palavra pechos Provérbios 5:19; caricias, é a palavra usada em Provérbios para dizer: embriaguemos , de amores. Provérbios 7:18, e em Cantares para o amor que é melhor que o vinho. Cantares 1:2 a 4. A sulamita chama a Salomão dodi, que significa meu amante.

Finalmente a quinta palavra iashaq. A raiz significa: abrasadora; apego, tal como uma ferramenta para unir duas coisas que se usava na construção. Por extensão a palavra se refere a um anelo apaixonado, ou um desejo de se apegar a. Hamor, o príncipe de Siquém, sentiu este desejo quan­do viu Diná, a filha de Jacó. E foi atraído por ela e a amou. Gênesis 34 3.

Os casais mencionadas na Bíblia revelam muitos outros aspectos do amor. As histórias de amor neste livro se concentram em um aspecto para cada casal, mas a maioria das relações tinham muitas facetas que incluíam ou excluíam o respeito, a confiança, a devoção, a lealdade, a familiaridade, o apoio e a generosidade[9].

 

44 - Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelo que vos perseguem;

Jesus revela um novo conceito de amor que não busca seus interesses, mas é um sentimento de afeto para com todos os membros da humanidade, é universal não tem fronteiras, e mesmo os que nos perseguem deveríamos orar para serem tocados por este amor transformador ao mais embrutecido.

EU, PORÉM VOS DIGO - Os rabinos citavam as tradições como autoridade na qual baseavam sua interpretação da lei. Cristo falou por sua própria autoridade, e este fato distinguia seu ensino dos rabinos, o que o povo observou sem demora Mateus 7:29. A expressão, mas eu vos digo aparece seis vezes em Mateus 5, nos versos 22, 28, 32, 34, 39, 44. Jesus demonstrou que suas demandas iam muito além da mera letra da lei, e que incluíam o espírito que teria de dar vida e significado ao que de outro modo não era senão forma. Apresentou seis exemplos específicos a fim de deixar clara a distinção entre os fatos visíveis e os invisíveis que levam a realizar essas reações. Este contraste, que percorre como uma fibra de ouro o Sermão do Monte, faz com que o discurso seja a declaração suprema da filosofia cristã da vida, a máxima exposição de ética de todos os tempos. 

Cristo destacou quão abarcantes são em verdade os requerimentos da lei e fez ressaltar que a mera conformidade exterior com a lei de nada serve[10].

AMAI VOSSOS INIMIGOS - Romanos 12:20. A palavra traduzida como amai é uma forma do verbo agapáô, é o amor que implica respeito, e não filéô, expressa amor de tipo afetivo amor filial, pode existir entre os membros de uma família Mateus 5:43. A ordem seria impossível de cumprir se exigisse que todos os homens amassem do verbo filéô a seus inimigos, porque não poderiam sentir para com seus inimigos o mesmo calor emotivo de afeto que se sente para com os membros imediatos da família. Isso não é o que se espera. O amor indicado pelo verbo filéô é espontâneo, emotivo e em nenhuma passagem do NT se manda amar desta forma. Pode-se requerer o amor do tipo do verbo agapáô, porque este está sob o domínio da vontade. Amar no sentido do verbo agapáô aos inimigos mais acérrimos é tratá-los com respeito e cortesia e considerá-los bem como Deus os considera[11].

ORAI - Abençoai. A evidência textual tende a confirmar o texto: Amai a vossos inimigos e rogai pelos que vos perseguem. A passagem paralela de Lucas 6:27 e 28 aparece em forma mais completa[12].

 

Jesus Exige Mais

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Mateus 5: 43 e 44.

Em quanto, exatamente, nossa justiça precisa exceder a dos es­cribas e fariseus? Essa é a questão.

Desde Mateus 5:21 até aqui, Jesus tem estado a ilustrar a justiça que deve exceder. E ela tem excedido ao extremo. Ele já nos disse que não devemos ter pensamentos de ódio e desejos pecaminosos, nem divorciar­-nos com facilidade, e que nossos pensamentos e palavras devem ser pu­ros. E definiu pecado de tal forma que ele se tornou mais do que um comportamento. Pecado inclui também pensamentos e motivações.

Nos versos 38 a 42 Jesus parece ter chegado ao clímax, dizendo que não podemos nos vingar daqueles que nos maltratam. Agora, nos versos 43 e 44, Ele vai mais além ainda. Para mim, uma coisa é magoá-lo quan­do você me magoa; mas outra bem diferente é amá-lo quando você me trata injustamente e orar por você quando me maltrata e me persegue. Jesus exigiu algo muito difícil. Como pode alguém fazer tais coisas? Não é normal.

Exatamente. Amar nossos inimigos não é normal, mas é uma ati­tude cristã, e nos próximos versos Jesus nos diz por que isso é cristia­nismo.

O parágrafo que menciona o amor aos inimigos está integralmen­te relacionado ao anterior, ordenando que não devemos usar de reta­liação. O primeiro parágrafo versos 38 a 42 coloca o princípio em termos negativos, dizendo-nos o que não devemos fazer, enquanto o parágrafo que estamos considerando versos 43 a 48 o coloca em ter­mos positivos, dizendo-nos o que fazer.

Aqui, nos versos 43 a 48, atingimos o ápice do que significa ser cristão: amar nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem.

Você já tentou fazer essas coisas? Você consegue, pela graça habi­litadora de Deus, praticá-las em sua vida diária?[13]

O Significado do Amor

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho único, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16.

Amor é definido por diferentes pessoas de maneiras diversas, al­gumas delas nada amáveis.

O idioma grego é rico em palavras para o amor. Ele usa quatro di­ferentes palavras. A primeira é storgé, que é o amor familiar, aquele amor que o pai ou mãe tem pelo filho ou filha.

A segunda palavra grega para amor é erõs, que dá origem à palavra erótico. Esse é o amor de um homem por uma mulher e vice-versa, e inclui o amor sexual.

A terceira palavra é philia. Podemos reconhecer essa palavra em Philadelphia, a cidade do amor fraternal. Philia representa o amor afe­tivo, o amor que as pessoas sentem por seus melhores amigos.

A quarta e a mais importante das palavras gregas para amor é agapé. Agapé representa bondade insuperável, invencível boa vontade. Quando consideramos uma pessoa com agapé, amamos aquela pessoa sem nos importarmos com o que ela nos tenha feito, ou quanto nos te­nha magoado. Queremos o melhor para as pessoas, a despeito da ma­neira como elas nos tenham tratado. Agapé é totalmente incondicio­nal. Jesus usa a palavra agapé em Mateus 5:44. Esse é o tipo de amor que devemos demonstrar abundantemente aos nossos inimigos.

A essa altura, deve-se reconhecer que o amor agapé não é um senti­mento, mas um princípio profundo. E um princípio do coração e da mente. É a determinação de amar as pessoas a despeito de suas ações e de nossos sentimentos humanos. Representa uma determinação da men­te. Agapé é o poder de amar até mesmo aquelas pessoas de quem não gos­tamos e que não gostam de nós. É parte dos frutos da conversão.

Jesus ordena que amemos nossos inimigos. Ele não disse que temos de gostar deles. Podemos não gostar de todas as pessoas, mas é nos or­denado amar a todas elas. Esse mandamento é o mais abrangente em toda a Bíblia; é o mais impossível.

Ajuda-me hoje, Senhor, a fazer o impossível. Suplico um derrama­mento especial da Tua graça[14].

45 - deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair à chuva sobre justos e injustos.

FILHOS - A igreja reprova, como contrária à vontade de Cristo, qualquer espécie de discriminação de raça ou de cor, de condição social ou de religião. E, por isso, seguindo o exemplo dos santos apóstolos, exorta ardentemente os cristãos a que, tendo bom proceder entre os gentios, I Pedro 1:2, 12, enquanto possível vivam em paz, com todos os homens de maneira que se tornem verdadeiramente filhos do Pai que está nos céus[15].

Os filhos se parecem com o Pai em caráter. A prova do amor a Deus é o amor a nosso próximo I João 4:20[16]

PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS - Esta expressão é característica de Mateus[17]

MAUS - Mediante esta óbvia ilustração tomada da natureza, Jesus desaprova o erro popular judaico de que Deus concede suas bênçãos a seus santos e as nega aos pecadores João 9:2. Os judeus atribuíam a Deus o mesmo espírito de ódio para com os pecadores e os que não eram judeus que eles mesmos sentiam. Mas, ao tratar das bênçãos da natureza ou salvação, Deus não faz acepção de pessoas. Atos 10:34 e 35[18].

O Significado de Pai

Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque Ele faz nascer o Seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Mateus 5:44 e 45.

Uma das palavras-chave no verso 45 é Pai. Essa imagem está situada no centro do Sermão do Monte. Pai, para a maioria das pes­soas, denota sentimentos calorosos de proteção e cuidado. Quando a Bíblia usa a palavra Pai com relação a Deus, ela fala em termos de bondade. Nosso Pai é aquele em quem podemos confiar. O Pai faz provisões para nós. Isso é parte do que Jesus quer dizer quando Ele cha­ma a Deus de nosso Pai.

Esse conceito de Deus é especial para a Bíblia. As religiões não cristãs têm a tendência de considerar o Ser Supremo como um objeto que inspira temor em vez de amor. Com frequência, essas pessoas O apresentam como um Deus irado, que precisa ser apaziguado com ofer­tas. A Bíblia, porém, apresenta Deus como um Pai amoroso, que tan­to amou o mundo que deu Seu único Filho. O quadro de Deus que Je­sus pinta é revolucionário, mas também confortador.

Deus Se torna nosso Pai quando nos tornamos cristãos, quando nascemos de novo da água e do Espírito e passamos a fazer parte da fa­mília Dele. João escreve que a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no Seu no­me; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. João 1: 12 e 13.

Deus é Pai para os cristãos. Para outros, Ele é o Deus Criador ou o Deus Legislador. Isso não significa que Deus não ama os não cristãos, apenas que Ele não é Pai deles da mesma maneira que é nosso Pai.

Esse fato, naturalmente, nos torna Seus filhos. Como resultado, te­mos um conjunto de princípios diferentes, as Bem-aventuranças, da­queles que pertencem a outra família. Nosso Pai é um dos mais ricos símbolos do NT. É um símbolo genuinamente cristão[19].

O Significado de Próximo

Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado. Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor. Levítico 19:17 e 18.

O próximo, para os judeus do tempo de Cristo, significava seu próprio povo. Próximos eram os outros judeus. Não é difícil com­preender essa definição quando pensamos na sua história. Eles foram levados para o cativeiro porque adoraram os deuses de seus vizinhos, os cananeus. Como resultado, depois de retornarem, nos dias de Esdras e Neemias, eles decidiram ficar afastados de toda possível contamina­ção, para evitar os não judeus. Eles estavam constrangidos e determi­nados a permanecer puros. Os fariseus se tornaram líderes da separação judaica. Outras nações eram consideradas inimigas e com as quais não deviam se associar.

É nesse contexto que a parábola do bom samaritano assume signifi­cado especial. Essa parábola é a mais exata definição de quem é nosso próximo. Jesus está respondendo particularmente à pergunta: Quem é o meu próximo? Lucas 10:29. Sua resposta abalou as classes farisaicas.

É importante que Jesus respondeu à pergunta ilustrando a boa ação do samaritano. Os judeus desprezavam os samaritanos porque estes eram vistos como apóstatas da religião verdadeira, eram uma mistura da religião verdadeira e da falsa.

Em Sua parábola, Jesus conta a respeito de um judeu que foi ata­cado por salteadores na estrada para Jericó. Vários judeus passaram por ali, mas não ajudaram seu compatriota. O samaritano, porém, um ini­migo, atravessou a estrada para cuidar daquele judeu da melhor manei­ra possível. O judeu não teria feito o mesmo se o samaritano estivesse em problema. Assim, a parábola ilustra o amor aos inimigos. Ilustra o verdadeiro amor ao próximo.

Quem é meu próximo? Qualquer pessoa que está oprimida por cau­sa do pecado, enfermidade ou qualquer outra dificuldade. O próximo do cristão é toda e qualquer pessoa.

Assim, Jesus continua a expandir nossa compreensão a respeito do significado e da profundidade da lei. Não há fim nem limite para o de­ver de amar[20].

Comentário Lucas 10:29 a 37 – O GRANDE MANDAMENTO

         Somente o Evangelho de Lucas relata o episódio do Bom Samaritano.

         A história do Bom Samaritano ilustra a natureza da verdadeira religião. Mostra que consiste não em sistemas, credos ou ritos, mas no cumprimento de atos de amor, no proporcionar aos outros o maior bem, na genuína bondade[21].

         Contribui de modo significativo para o interesse geral demonstrado por Lucas para com os estrangeiros, os rejeitados, os pobres e os humildes, os quais recebem as misericórdias de Deus[22].

         25 - E eis que um legista se levantou, e disse para embaraçá-lo: Mestre que farei para herdar a vida eterna?

         EIS - Jesus vai a sua última viagem da Galileia a Jerusalém. O relato dá a entender que este acontecimento sucedeu em Jericó... O episódio, do qual havia sido protagonista o samaritano e a vítima do roubo havia acontecido pouco tempo atrás.

         Imediatamente após o encontro com o intérprete da lei e a narração da história do bom samaritano, Jesus esteve em Betânia depois de viajar desde Jericó. É possível que estivesse a caminho de Jerusalém para assistir a festa da dedicação, Mateus 19:1, e depois regressara a Pereia, João 10:39 a 40. João situa a ressurreição de Lázaro logo após Jesus retirar-se da Pereia, João 10:39 a 40[23].

         LEGISTA - O Doutor da Lei. Enquanto Cristo ensinava, ele perguntou. Respiração suspensa esperou o vasto auditório a resposta. Os sacerdotes e rabis haviam pensado enredar Jesus com essa pergunta do doutor da lei. O Salvador não entrou em discussão. Fez com que o próprio doutor respondesse a si mesmo. Os judeus ainda acusavam a Jesus de menosprezo para com a lei dada no Sinai; mas Ele fez sentir que a salvação depende da observância dos mandamentos divinos[24].

         EMBARAÇÁ-LO - A pergunta que fez o intérprete da lei a Jesus havia sido cuidadosamente pensada pelos dirigentes religiosos[25].

         A pergunta foi feita, não à procura de informações, mas, sim, para ver se Jesus não conseguiria responder à altura, e tivessem uma oportunidade de desmascará-lo[26].

         MESTRE - No sentido de pessoa que ensina. Como o intérprete é um mestre profissional da lei, ele apresenta um problema discutido muito entre os escribas[27].

         QUE FAREI - Mostra que estava pensando em alguma forma de salvação pelas obras, e que não tinha entendimento algum da graça divina[28].

         O doutor da lei não estava satisfeito com a atitude e as obras dos fariseus. Estivera estudando as Escrituras com o desejo de aprender-lhes a verdadeira significação. Tinha interesse vital no assunto, e, em sinceridade indagara: que farei? Em sua resposta quanto às reivindicações da lei, passara sobre toda a massa de preceitos cerimoniais e rituais. Não lhes atribuiu valor, mas apresentou os dois grandes princípios de que dependem toda a lei e os profetas. O merecer essa resposta o louvor de Cristo, colocou o Salvador em terreno vantajoso para com os rabis. Não podiam condenar por sancionar que fora afirmado por um expositor da lei[29].

         A pergunta do intérprete da lei revela um conceito de justiça completamente equivocado. Para ele, como para a maioria dos judeus de seu tempo, ganhar a salvação consistia essencialmente nas ordenanças dos escribas. Consideravam poder obter a salvação por meio de obras[30].

         26 - Ele disse: Que está escrito na Lei? Como lês?

         ELE DISSE - Seguindo o estilo rabínico, Jesus responde a pergunta com outra pergunta.

         O QUE ESTÁ ESCRITO - Jesus aprovou o resumo feito pelo Doutor da Lei, embora a lei judaica contivesse 613 mandamentos, 365 negativos e 248 positivos

         O Códice israelita consistia em quatro tipos de lei:

         O Código do Concerto: A mais antiga lei hebraica, datando da época de Moisés. Sua característica mais importante: Ela fora sancionada pelo Senhor como sua lei para o seu povo.

         O Código Deuteronômio: Deuteronômio 12:25. Ao tempo de Josias, as antigas leis foram adaptadas às novas circunstâncias e novas leis mais apropriadas às novas circunstâncias foram acrescentadas.

         O Código de Santidade: Levítico 17 a 26. Essa lei começava com Eu o Senhor sou Santo e tratava o santuário, os sacerdotes e a comunidade do Concerto.

         Compilação Final das Leis: Compilada cerca de 450 a. C. por Esdras[31].

         COMO LÊS - O intérprete deveria saber a resposta a sua própria pergunta. Era professor da lei judaica, e por conseguinte era inteiramente apropriado que tivesse capacidade de responder. A pergunta de Jesus não é necessariamente uma repreensão. Era um ato de cortesia dar oportunidade de contestar a sua própria pergunta[32].

         A escrita pode ser uma só, mas as leituras e interpretações são diversas dependendo do enfoque do leitor, Jesus deu oportunidade para que o doutor da lei revelasse sua leitura. Particularmente como nós estamos lendo os escritos sagrados; fazendo leitura própria ou pedindo ao Mestre dos Mestres que nos revele o que está escrito.

         27 - Ele, então, respondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração de toda a alma, com toda tua força e de todo entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo.

         AMARÁS - O intérprete da lei cita Deuteronômio 6:5, de onde Jesus dá mais tarde a mesma resposta a esta pergunta que fez outro intérprete da lei. As palavras de Deuteronômio 6:5 eram recitadas de manhã e a tarde por todo judeu piedoso como parte do shemá. Os judeus que compreendiam a lei sabiam que seus preceitos não eram arbitrários, mas sim baseados no que era justo, no qual se resume o mandamento de amar.

         Amar a Deus como é apresentado é dedicação de todo o serviço, ser, afetividades da vida e a faculdades físicas e do intelecto. É o cumprimento da lei. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor - Romanos 13:10. É o amor que a pessoa permanece na graça de Cristo, e decide observar os mandamentos de Jesus. Deus enviou seu Filho ao mundo com o propósito de salvar e revelar seu amor. Deste modo a justiça pode ser cumprida em nós. Sede vós perfeitos como perfeito é vosso pai celeste. Mateus 5:48; Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda seus mandamentos, é mentiroso, e Nele não está à verdade. Aquele, entretanto, que guarda sua palavra, Nele verdadeiramente tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos Nele; aquele que diz que permanece Nele, esse também deve andar assim como Ele andou. I João 2:4 a 6[33].

         PRÓXIMOGrego: plesíon O intérprete da lei cita Levítico 19:18, onde o próximo; é um compatriota israelita, porém Jesus obviamente amplia a definição incluindo o samaritano, inclui os não judeus[34].

         28 - Jesus disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.

         CORRETAMENTE - A resposta de Jesus havia passado por alto os extensos comentários, orais e escritos, sobre a lei e todos os seus preceitos específicos. Referindo-se aos dez mandamentos é uma expressão, extensão e aplicação do princípio do amor. A resposta do intérprete da lei era correta, o que faltava era o discernimento espiritual para aplicar este princípio a sua vida. Conhecia a letra da lei, porém não conhecia seu espírito. Estes conhecimento só se obtêm quando os princípios da lei são aplicados na vida[35].

         FAZE ISTO - Apresentou a lei como uma unidade divina, e ensinou nessa lição não ser possível guardar um preceito e transgredir outro; pois o mesmo princípio os liga a todos. O destino do homem será determinado por sua obediência à inteira lei. Motivos Amor supremo para com Deus e imparcial amor para com os homens, eis os princípios a serem desenvolvidos na vida.

         O doutor achou-se um transgressor da lei. Sentiu-se convicto, em face das penetrantes palavras de Cristo. A justiça da lei, que pretendia compreender, não a praticara. Não manifestara amor para com seus semelhantes. Era necessário haver arrependimento; em lugar disso, porém, procurou justificar-se. Em vez de reconhecer a verdade, procurou demonstrar quão difícil de ser cumprido é o mandamento. Esperava assim colocar-se em guarda contra a convicção e justificar-se perante o povo. As palavras do Salvador haviam demonstrado a inutilidade de sua pergunta, visto ser ele capaz de a ela responder por si mesmo. Todavia formulou ainda outra: Quem é o meu próximo?[36].

         Aparentemente a dificuldade do intérprete da lei, como a do jovem rico, era que pensava que havia guardado todas estas coisas desde a sua juventude, Mateus 19:20; porém sentia que faltava algo às sua vida espiritual. A justiça legal nunca satisfaz a alma, porque carece de algo vital que é o amor de Deus, Pois a caridade de Cristo nos compele, quando consideramos que um só morreu por todos e, por conseguinte todos morreram. II Coríntios 5:14. Só quando uma pessoa se entrega por completo a influência deste amor poderá verdadeiramente observar o espírito da lei[37].

         VIVERÁS - Em seus ensinos sempre apresentava a lei como uma unidade divina, mostrando que é impossível guardar um preceito e violar outro; porque um mesmo princípio os anima a todos. O destino do homem será determinado pela obediência a toda à lei.

         Cristo sabia que ninguém poderia obedecer à lei por sua própria força. Desejava induzir o doutor da lei a uma investigação mais esclarecida e minuciosa para que achasse a verdade. Somente aceitando a virtude e a graça de Cristo podemos observar a lei. A fé na propiciação pelo pecado habilita o homem caído a amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo[38].

         Viver no pleno sentido da palavra, tanto aqui como no mundo futuro, João 10:10; sem dúvida o contexto mostra que Jesus se referia em primeiro lugar à vida eterna[39].

PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

         29 - Ele, porém, querendo justificar, disse a Jesus: E quem é meu próximo.

         JUSTIFICAR-SE - O intérprete da lei como o jovem rico não estavam satisfeitos com o conceito de justiça. Compreendia como o jovem rico que algo lhe faltava e inconscientemente sentiam que Jesus podia proporcionar-lhes. Porém, como Nicodemos, vacilava em admitir a si mesmo, e, portanto, para satisfazer-se intimamente procurou justificar-se fazendo parecer o amor ao próximo uma grande dificuldade[40].

         O doutor sabia que não guardara nem os primeiros quatro, nem os últimos mandamentos. Foi convencido pelas palavras de Cristo, mas em vez de confessar seu pecado, procurou justificar-se. Em vez de reconhecer a verdade, tentou mostrar o quão difícil é cumprir os mandamentos. Desse modo esperava rebater a convicção e justificar-se aos olhos do povo[41].

         PRÓXIMO - O propósito desta pergunta era justificar-se. Quando uma pessoa faz perguntas sutis da qual óbvio sabe a resposta ou poderia saber, geralmente é porque reconhece que é culpado de algo, e busca razão ou pretexto para que sua consciência não diga o que fazer. Segundo pensava este intérprete, os pagãos, os samaritanos estavam excluídos da categoria de próximo; a dúvida que tinha era saber qual de seus compatriotas israelenses podia considerar como próximo[42].

         Entre os judeus, essa questão dava lugar a infindáveis disputas. Não tinham dúvidas quanto aos gentios e samaritanos; esses eram estranhos e inimigos. Mas como fazer a distinção entre os do seu próprio povo e as várias classes sociais? A quem deveriam os sacerdotes, os rabis, os anciãos, considerar como seu povo próximo? Passavam a vida numa série de cerimônias para se purificarem a si mesmos. O contato com a multidão ignorante descuidada os ensinavam, ocasionava contaminação. E o remover esta, exigiria esforço enfadonho. Deveriam considerar os imundos seu próximo[43].

         A esta pergunta Cristo respondeu com a Parábola do bom samaritano. Mostrou que nosso próximo não significa unicamente alguém da igreja ou fé a que pertencemos. Não faz referência a raça, cor ou distinção de classe. Nosso próximo é toda pessoa que carece de nosso auxílio. Nosso próximo é toda alma ferida e magoada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus[44].

         30 - Jesus retomou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado espancado, foram-se, deixando-o semimorto.

         RETOMOU - Uma vez mais Se eximiu Jesus da discussão. Não denunciou a hipocrisia dos que O estavam espreitando para condenar. Mas, mediante uma singela historia, apresentou aos ouvintes tal quadro do trasbordamento do amor de origem celestial, que tocou os corações e arrancou do doutor da lei a confissão da verdade.

         O meio de dissipar as trevas é admitir a luz. O melhor meio de tratar com o erro, é apresentar a verdade. É a manifestação do amor de Deus, que torna evidente a deformidade e o pecado do coração concentrado em si mesmo[45].

         UM HOMEM - Isso não era uma cena imaginária, mas uma ocorrência verídica, que se sabia ser tal qual era apresentada. O sacerdote e o levita que tinham passado de largo, encontravam-se entre o grupo que escutava as palavras de Jesus[46].

         DESCIA - Estrada fortemente inclinada em curvas junto a lugares pedregosos que podiam facilmente abrigar salteadores[47].

         Jornadeando de Jerusalém 792 m acima do nível do mar para Jericó 213 m abaixo do nível do mar, o viajante tinha de passar por um trecho deserto da Judéia. O caminho descia por entre abruptos e pedregosos barrancos, e era infestado de ladrões, sendo frequentemente cena de violências. Aí foi o viajante atacado, despojado de tudo quanto levava de valor, ferido e machucado, sendo deixado meio morto à beira do caminho...[48].

Desceu do céu (Credo)

Um homem descia de Jerusalém a Jericó. Cristo não disse alguém descia, mas um homem descia, porque a passagem diz respeito a toda a humanidade. Esta, na sequência do pecado de Adão, abandonou o local elevado, repousante, maravilhoso e sem sofrimento que era o Paraíso, adequadamente chamado Jerusalém; nome que significa a Paz de Deus; e desceu para Jericó, local plano e escavado, onde o calor é sufocante.

Jericó é a vida febril deste mundo, vida que separa de Deus... Assim, pois, uma vez que a humanidade se afastou do bom caminho para esta vida... os demônios selvagens vêm atacá-la à maneira de um bando de malfeitores. Despojam-nas das suas vestes de perfeição, não lhe deixando qualquer vestígio de força de alma, de pureza, de justiça ou de prudência, ou de qualquer dos elementos que caracterizam a imagem divina Gênesis 1:26; mas, atingindo-a com os golpes repetidos dos diversos pecados, derrubam-na e abandonam-na meio morta... A lei dada por Moisés vigorou..., mas faltava-lhe força, não podia conduzir a humanidade a uma cura completa, não elevava aquele que jazia por terra... É que a Lei oferecia sacrifícios e oferendas que não podiam tornar perfeitos, em consciência, aqueles que praticavam este culto, porque é impossível que o sangue dos touros e dos carneiros tire os pecados. Hebreus 10:4. Passou finalmente um samaritano. Cristo dá a Si próprio o nome de samaritano. Porque... foi Ele mesmo quem veio,
realizando o desígnio da Lei e fazendo ver, pelas suas obras, quem é o próximo e o que significa amar os outros como a si mesmo[49].

         31 - Casualmente, descia por este caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante.

         PASSOU ADIANTE - Enquanto assim jazia, passou o sacerdote por aquele caminho; mas apenas deitou um rápido olhar ao pobre ferido[50].

         Passou como se não tivesse visto nada, em realidade não se deteve porque não se importava com o que via. Sua hipocrisia o cobria e não via a dor do que necessitava. O desafortunado viajante, seminu e ferido, sem dúvida estava coberto de terra e de sangue. Se esse infeliz estivesse morto, tocá-lo significaria contaminação para o sacerdote e o levita, Números 19:11 a 22; e havia a possibilidade de ser um samaritano ou gentil. De qualquer maneira era ilegal a um sacerdote tocar um cadáver de qualquer pessoa que não fosse um parente, Levítico 21:1 a 4; Muitas destas desculpas passaram pela mente destes homens procurando justificar sua conduta[51].

         32 - Igualmente um levita, atravessando este lugar, viu-o e prosseguiu.

         LEVITA - Apareceu em seguida o levita. Curioso em saber o que acontecera, deteve-se e contemplou a vítima. Sentiu a convicção do que devia fazer; não era, porém, um dever agradável. Desejaria não haver passado por aquele caminho, de modo a não ter visto ferido. Persuadiu-se a ir mesmo de que nada tinha com o caso.

         Ambos esses homens ocupavam postos sagrados, e professavam expor as Escrituras. Pertenciam à classe especialmente escolhida para servir de representantes de Deus perante o povo. Deviam compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados, para que pudessem levar os homens a compreender o grande amor de Deus para com a humanidade. A obra que haviam sido chamados a fazer era a mesma que Jesus descrevera como sendo Sua, quando dissera: O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os quebrantados de coração e apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos. Lucas 4:18.

         Os anjos de Deus contemplam a aflição de Sua família na Terra, estão preparados para cooperar com os homens em aliviar a opressão e o sofrimento. Em Sua providência, Deus levara o sacerdote e o levita a passarem pelo caminho onde jazia a vítima dos ladrões, a fim de verem a necessidade que tinham de misericórdia e auxílio. Todo o Céu observava, para ver se o coração desses homens seria tocado de piedade pela desgraça humana. O Salvador era Aquele que instruíra os hebreus no deserto; da coluna de nuvem e de fogo, ensinara uma lição bem diversa daquela que o povo ora recebia de seus sacerdotes e mestres. As misericórdiosas providências da lei estendiam-se até os animais inferiores, que não são capazes de exprimir em palavras suas necessidades e sofrimentos. Por intermédio de Moisés foram dados aos de Israel instruções nesse sentido: Se encontrares o boi de teu inimigo, ou o jumento, desgarrado, sem falta lho reconduzirás. Se vires o asno daquele que te aborrece deitado debaixo de tua carga, deixarás, pois de ajudá-lo. Certamente o ajudarás juntamente com ele. Êxodo 23:4 e 5. Mas o homem ferido pelos salteadores apresentou Jesus o caso de um irmão em sofrimento. Quanto mais o coração deles não deveria ter se enchido de piedade daquele do que por um animal de carga.  Fora-lhes dada por meio de Moisés a mensagem que o Senhor Deus o Deus grande, poderoso e terrível. Faz justiça ao órfão e a viúva e ama o estrangeiro. Portanto ordenou: Ama-o como a ti mesmo.

         Jó dissera: O estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viajante. E quando os dois anjos, em aparência de homens, foram a Sodoma, Ló inclinou-se por terra e disse: Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de vosso servo, e passai nela a noite. Com todas estas lições estavam os sacerdotes e levitas familiarizados, mas não as introduziram na vida prática. Educados na escola do fanatismo social, haviam se tornado egoístas, estreitos e exclusivistas. Ao olharem para o homem ferido, não podiam dizer se pertencia a sua nação. Pensaram que talvez fosse samaritano e desviaram[52].

         33 - Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão.

         SAMARITANO - De um lado, quem estava em Israel, mais obrigado a observar a lei da caridade, e de outro, o estrangeiro e herege (João 8:48 e Lucas 9:53), do qual não se esperava senão ódio[53].

         Os samaritanos eram descendentes de colonos gentios que os reis assírios haviam enviado para a Palestina depois da queda de Samaria em 721 a. C. Eram desprezados pelos judeus por causa de seu sangue meio gentio e pela religião paralela, centralizada no monte Gerizim. João 4:20 a 22[54].

         O samaritano sabia que se ele estivesse ferido à beira do caminho, não poderia esperar misericórdia de um judeu. Mesmo assim resolveu ajudar a indefesa vítima.

         A misericórdia manifestada pelo samaritano reflete de um modo real o espírito que moveu o Filho de Deus a vir a este mundo resgatar a humanidade. Deus não estava obrigado a resgatar o homem caído. Poderia passar por alto os pecadores, assim como o sacerdote e o levita passaram por alto o desafortunado viajante no caminho de Jericó. O Senhor esteve disposto a ser tratado como nós merecemos a fim de que nós pudéssemos ser tratados como Ele merece[55].

         Cristo foi o inesperado Bom Samaritano para Zaqueu, Bartimeu, Maria Madalena, a multidão faminta, o centurião, a menina que ressuscitou, a mulher doente e Saulo de Tarso[56].

         34 - Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois o colocou em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados.

         APROXIMOU-SE - Fosse ele judeu, bem sabia o samaritano que, invertidas as posições, o homem lhe cuspiria no rosto e passaria desdenhosamente. Mas nem por isso hesitou. Não considerou que ele próprio se achava em perigo de assalto, se demorasse naquele local. Bastou o fato de estar ali uma criatura humana em necessidade e sofrimento. Tirou o próprio vestuário, para cobri-lo. O óleo e o vinho, provisão para sua viagem, empregou-os para refrigerar o ferido. Colocou em sua cavalgadura, e pôs se a caminho, devagar, a passo brando, de modo que o estranho não fosse sacudido, aumentando-se-lhe assim os sofrimentos. Conduziu-o a uma hospedaria, cuidou dele durante a noite, velando-o carinhosamente[57].

         ÓLEO E VINHO - Eram os remédios caseiros comuns na antiga Palestina.

         35 - No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei.

DOIS DENÁRIOS - A base do trecho de Mateus 20:2 aprendemos que o salário ordinário de um trabalhador era de um denário por dia. Se tomarmos por base o trecho existente em Marcos 6:37 veremos que era suficiente para pagar a refeição de vinte cinco homens. O que o samaritano deu era uma oferta bem liberal. Além dos dois denários deu também carta branca, prometendo pagar qualquer despesa adicional. Verificamos estágios sucessivos de sentimentos humanitários do samaritano:

1. Interrompeu sua viagem.

2. Empregou provisões que trouxera para seu sustento.

3. Continuou a viajar a pé, e o ferido no animal.

4. Correu o risco de ser assaltado e ferido.

5. Contribuiu livremente com dinheiro para as despesas do ferido.

6. Não esperava qualquer recompensa[58].

 

         36 - Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?

         PRÓXIMO - Grego: plesíon. O sacerdote, o levita e o samaritano haviam estado próximos do desventurado no momento de necessidade, somente um deles atuou como próximo. Ser próximo não depende da proximidade como da vontade para compartilhar as cargas alheias. Ser bem próximo é uma expressão prática do princípio de amor para com o que necessita[59].

         37 - Ele respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Jesus então lhe disse: Vai, e também tu faze o mesmo.

         RESPONDEU - O doutor nem ainda então quis tomar nos lábios o nome do samaritano[60].

         USOU - Grego: poieo, fazer. Pensamentos de misericórdia nada mais, em tais circunstâncias, não teriam nenhum valor, só valiam os atos. O intérprete compreendeu imediatamente o relato. Sua pergunta recebeu uma resposta apropriada e efetiva. Com este relato Jesus evitou uma discussão legal sobre quem é o nosso próximo. Este é todo aquele que necessita de ajuda.

         Possivelmente aquele judeu que a vida foi salva, era um dos amigos do intérprete da lei, e reconheceu que a definição dada por Jesus era a única que valia. Pode ver com mais profundidade o significado da lei, e compreendeu com que tato Jesus respondeu às suas perguntas[61].

         DISSE - A pergunta quem é meu próximo? ficou para sempre respondida. Cristo demonstrou que nosso próximo não é simplesmente alguém de nossa igreja ou da mesma fé. Não tem que ver com distinção de raça, cor, ou classe. Nosso próximo é todo aquele que necessita de nosso auxílio. Nosso próximo é toda a alma que se acha aflita e quebrantada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus.

         FAZE - O samaritano obedecera aos ditames de um coração bondoso e amorável, demonstrando-se assim um observador da lei. Cristo recomendou ao doutor. Fazer, e não meramente dizer, eis o que se espera dos filhos de Deus. Aquele que diz que está Nele, também deve andar como Ele andou. I João 1:6.

         Fazei pela fé e pela oração, recuar o poder do inimigo. Proferi palavras de fé e de ânimo, que serão como bálsamo eficaz para os quebrantados e feridos. Muitos têm desfalecido e perdido o ânimo na luta da vida, quando uma bondosa palavra de estímulo os haveria revigorado. Nunca devemos passar por uma alma sofredora, sem buscar comunicar-lhe do conforto com que nós mesmos somos por Deus confortados.

         Isso é o cumprimento do princípio da lei, ilustrado na história do bom samaritano, e manifesto na vida de Jesus. Seu caráter revela o verdadeiro significado da lei, e mostra como amar o nosso semelhante como a nós mesmos. E quando os filhos de Deus manifestam bondade e misericórdia, e amor para com os homens, estão dando um testemunho do caráter dos estatutos do Céu. Estão testificando: a lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma. Salmo 19:7. E quem não manifestar este amor estará transgredindo a lei que professa reverenciar. Pois o espírito que manifestamos com nossos irmãos, declara qual o nosso espírito para com Deus. O amor de Cristo no coração é a única fonte de amor para com nosso semelhante: Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu como pode amar a Deus, a quem não viu? Amados se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeita a sua caridade. I João 4:20 e 12[62].

 

CONCLUSÃO

         Na história do bom samaritano, Jesus ofereceu uma descrição de Si mesmo, e de Sua missão. O Homem fora enganado, ferido, despojado e arruinado por Satanás, sendo deixado a perecer; o Salvador, porém, teve compaixão de nosso estado de desamparo. Deixou sua glória, para vir em nosso socorro. Achou-nos quase a morrer, e tomou-nos a Seu cuidado. Curou-nos as feridas. Cobriu-nos com suas vestes de justiça. Proveu-nos um seguro abrigo, e tomou, à Sua própria custa plenas providências em nosso favor. Morreu para nos resgatar. Mostrando seu próprio exemplo, diz a seus seguidores: Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei a vós, que também uns aos outros vos ameis. João 15:17; 13: 34.

         Três conceitos estão implícitos na parábola: O Ladrão: O que é teu é meu. O sacerdote e o levita: O que é meu é meu e o que é teu é teu. O Bom Samaritano: O que é meu é teu.

A parábola do bom samaritano foi dada para ilustrar o importantíssimo mandamento da lei: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nessa importante parábola aprendemos que:

Jesus nos ensina um importante princípio da ética humanitária: o próximo pode ser uma pessoa inteiramente desconhecida;

Que o próximo pode ser de uma raça diferente, e até mesmo rejeitada ou desprezada;

O próximo pode ser pessoa de outra religião, até mesmo conhecida como herética. Próximo não significa meramente a pessoa que mora por perto, mas qualquer um com quem entremos em contato.  Aprendemos, desde o AT, que os cuidados de Deus por toda a humanidade devem manifestar-se nas vidas de todos quantos são chamados povo de Deus. Não basta falar de Cristo; é necessário viver e agir como Cristo. Nossa pregação deve ser a nossa vida, que deve tornar-se a imagem de Cristo. Nossa relação com o nosso próximo deve seguir o exemplo de Cristo, que em nenhum momento humilhou ou menosprezou pessoas. Ninguém deve colocar limitações no amor ao próximo, antes, pelo contrário, a pessoa deve querer fazer o bem ao próximo quanto gosta de fazer o bem a si mesmo.

Em Mateus 12:20 aprendemos que Jesus não humilha as pessoas, ao contrário, Ele conserta vidas quebrantadas, levanta o ânimo dos abatidos, demonstrando amor e misericórdia até mesmo para com os abandonados e excluídos pela sociedade hipócrita e injusta que trata as pessoas pela aparência, esquecendo-se que Deus dá importância à disposição e caráter interiores do ser humano. I Samuel 16:16.

Igualmente, Jesus mostra a ineficácia da religiosidade aparente. Nem o levita nem o sacerdote, conhecedores da Palavra, demonstraram amor e misericórdia para com o homem ferido. Porém, um samaritano, raça desprezada pelos judeus teve a atitude de amor que a lei exigia. Em I João 4:20 lemos que se alguém diz que ama a Deus, mas odeia o seu próximo, esse é mentiroso, pois quem não ama o seu próximo a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê. Para Jesus não há fronteiras, nem raça, nem cor, nem crença, nem condição social. Qualquer forma de discriminação é pecado que desagrada o bom Deus, que não faz acepção de pessoas.

Reflita sobre o seu passado e olhe o seu próximo com misericórdia e amor. O seu olhar reflete o que vai ao seu coração, e  Deus o vê como ele realmente é. Ele não julga pela aparência...[63].

Ser Semelhante a Deus – I

Em Ti esperam os olhos de todos, e Tu, a seu tempo, lhes dás o alimento. Abres a mão e satisfazes de benevolência a todo vivente. Salmo 145:15 e 16.

Ser semelhante a Deus! Eis aí um pensamento que deve nos ame­drontar e nos deixar perplexos. Jesus falou categoricamente, em Ma­teus 5:45, que devemos demonstrar que somos filhos do Pai em nossa vida diária.

Mas como? Como podemos ser semelhantes a Deus? Está Ele nos pedindo o impossível?

Mais uma vez precisamos nos lembrar de que é o contexto de qual­quer passagem da Bíblia que nos ajuda a entender o que está sendo di­to. E o contexto de Mateus 5:45 fala alto e de maneira clara.

Ser semelhante a Deus é amar nossos inimigos. Ser semelhante a Deus é orar pelos que nos perseguem.

Mas, cuidado com isso aqui. É fácil ler essas declarações na teoria. Não é tão difícil amar nossos inimigos em geral. Não é humanamente impossível amar perseguidores indistintos, que são extensões dos nos­sos processos de pensamento.

Se, porém, colocarmos um rosto nesses perseguidores, teremos que fazer intenso esforço. Isso me faz lembrar de Harry Orchard, um profis­sional contratado para matar o governador do Estado de Idaho nos pri­meiros anos do século XX.

H. Orchard cumpriu sua missão com eficiente frieza. Mas foi apa­nhado e levado à prisão.

Como você se sentiria se fosse a esposa do governador assassinado? Agora você tem um inimigo que tem rosto. Esse é o desafio. Acontece que a esposa do governador era adventista do sétimo dia. O que você faria na situação dela? Pense um pouco nessa pergun­ta. Discuta o assunto com aqueles que estiverem presentes ao você ler esta meditação.

A esposa do governador sabia o que fazer. Ela precisava amar seu inimigo. Isso significava visitar Orchard na prisão, orar com ele, per­doar e fazer-lhe o bem.

O resultado foi que Harry Orchard se converteu. Tornou-se adven­tista do sétimo dia e prisioneiro exemplar. Tal é o poder do amor. Con­seguir expressar tal amor é ser semelhante ao Pai[64].

Ser Semelhante a Deus - II

Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores... Porque,... Nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho. Romanos 5:6 a 10.

Você enviaria seu filho jovem e inocente a um covil de assassi­nos e ladrões? Enviaria seu filho para que contasse a eles que você é realmente uma pessoa maravilhosa? Seria capaz de fazer isso, mesmo sabendo que eles zombariam dele, o rejeitariam e tendo oportunidade o matariam, embora ele estivesse tentando ajudá-los?

Felizmente não precisamos fazer essa escolha. Mas Deus o fez. Ele amou tanto o mundo que deu Seu único Filho para vir e morrer por nós, para que pudéssemos ter a vida eterna. Assim é o Deus a quem ser­vimos. Essa é a qualidade de amor que Ele tem. Conforme o texto bí­blico de hoje apresenta, Jesus morreu por nós enquanto ainda éramos Seus inimigos. Jesus falava sério quando disse que, se quisermos ser co­mo nosso Pai celeste, precisamos amar até os nossos inimigos e dese­jar-lhes o melhor.

Deus não só demonstrou o que significa amar um inimigo Mateus 5:44 quando enviou Jesus para morrer por nós; Ele demonstra tam­bém Seu amor pelos Seus inimigos diariamente fazendo nascer o Seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. verso 45. O amor e cuidado de Deus são uma constante em nossa vida.

A natureza humana não renovada não pode agir como Deus age. Ela pensaria em fidelidade e chegaria à conclusão de que as pessoas más não merecem chuva e sol. Essa conclusão estaria correta.

Mas o interessante em tudo isso é que Deus não nos dá o que me­recemos. Ele nos dá o que precisamos.

Como cristãos, somos chamados a amar. Somos convidados a imi­tar o Pai, Aquele que ama até mesmo Seus inimigos[65].

Ser Semelhante a Deus - III

Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também. João 13:15.

Como podem as pessoas realmente saber se são semelhantes ao Pai do Céu? Não é sendo membros da igreja. Ser membro da igreja sig­nifica pertencer à igreja; significa ter seu nome registrado nos livros da igreja em algum lugar; quer dizer que exteriormente você aceitou um grupo de doutrinas mantidas por aquela igreja. Mas isso pode ter bem pouco a ver com o fato de ser semelhante ao Pai. Na realidade, muitos dos que são membros da igreja e até líderes dela têm a tendência de agir mais como o diabo do que como o Pai.

Pertencer ao quadro de membros da igreja é importante porque a igreja idealmente proporciona um companheirismo entre os membros, que encoraja e fortalece uns aos outros na vida cristã. A igreja a des­peito de todas as suas falhas tem preservado a mensagem cristã atra­vés dos séculos. Mas a igreja não é Deus, assim como ser membro de uma igreja não significa ser cristão.

Ser cristão significa ser como o Pai, que ama até mesmo Seus ini­migos. Significa seguir o exemplo de Jesus. Jesus acertou em cheio o que significa ser cristão quando disse: Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros. João 13:15. O ele­mento decisivo é que amemos aos outros como Deus nos tem amado. A ordem de Jesus para mim, é que preciso ser como meu Pai[66].

Descartando o Deus dos Deístas

Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do Seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder. Hebreus 1:1 a 3.

O século XVIII testemunhou a ascensão de uma ramificação do cristianismo chamada deísmo. Deísmo era uma religião fundamentada no raciocínio humano, em vez de na revelação divina. Foi grandemen­te estimulada pela ascensão da ciência moderna.

Descobertas como a lei da gravidade, por Isaac Newton, estabele­ceram o cenário para os deístas. Eles começaram a ver o Universo co­mo uma grande máquina que funcionava por si mesma, de acordo com as leis da natureza. Naturalmente, ainda assim precisavam de um Deus para criar a máquina e especificar as leis de seu funcionamento. Mas parecia óbvio aos deístas que, uma vez em funcionamento, a máquina cósmica podia funcionar muito bem sem a interferência de Deus.

Assim sendo, o Deus deles não interferia nos assuntos da Terra e de seus habitantes. Depois da criação, Ele saiu de férias, por assim di­zer, e deixou a humanidade por conta própria. Como resultado, eles desacreditaram de milagres, revelações sobrenaturais e de todos os ou­tros elos de aproximação entre o divino e o humano.

O Sermão do Monte assume uma posição firme contra tais teorias. Não só era Jesus um divino elo entre o Céu e a Terra por meio da en­carnação, mas esse próprio Deus, de acordo com o capítulo 1 de He­breus, é o Deus Criador e Mantenedor do dia-a-dia da existência. Somos agradecidos a Deus porque Ele faz nascer o Seu sol e vir chuvas[67].

46 - Com efeito, se amais aos quer vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos a mesma coisa?

QUE RECOMPENSA TEREIS - Que mérito especial teriam por fazer isso? Que teria de maravilhoso em amar aos que os amavam? Ver Mateus 7:12; Lucas 6:32 a 35[68]

PUBLICANOS - Cobradores de impostos, que pela sua profissão, exercida com rapinagem, eram votados ao desprezo público[69].

A Justiça que Excede

Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Mateus 5:46 e 47.

A fluência do argumento em Mateus 5 faz uma mudança inespe­rada nos versos 46 e 47. Até aí, Jesus vinha argumentando que nossa justiça precisa exceder a dos escribas e fariseus. Jesus nos forneceu seis ilustrações sobre como eles deixaram de compreender a lei. Seis vezes Ele contrastou Sua interpretação da lei com a interpretação deles.

Mas agora, no auge do Seu argumento, Jesus menciona duas vezes os publicanos. Por quê? Por que mencionar essas pessoas, se elas estão no outro extremo social e religioso em relação aos escribas e fariseus? Se os fariseus se orgulhavam de sua separação de todos os gentios in­clusive os romanos, os injustos cobradores de impostos publicanos colaboravam com o inimigo. Se os fariseus eram escrupulosos em sua observância dos deveres religiosos, os publicanos faziam as coisas à sua moda. Eles não se importavam com os mínimos detalhes da religião. Estavam procurando se divertir.

Portanto, somos forçados a perguntar mais uma vez, por que Jesus ilustrou Seu assunto mencionando os publicanos, quando Ele podia com a maior naturalidade dizer que até os fariseus amavam os que os amavam, e que nossa justiça deve exceder a deles?

A resposta parece ser que Jesus estava salientando o fato de que a re­ligião legalista e a falta de religião são regidas pelos mesmos princípios: os princípios do mundo. Em resumo, a verdadeira justiça dos escribas e fariseus nada tinha de mais, nem sequer excedia a dos publicanos.

Tanto os religiosos legalistas como os liberais galardoam aqueles que gostam deles, que os saúdam e os convidam para uma refeição. Mas a justiça dos seguidores de Deus é radicalmente diferente da do mun­do. À semelhança de Deus, Seus seguidores precisam aprender até a bendizer seus inimigos, amá-los e desejar-lhes o que há de melhor.

Essa é a essência da religião radical. É a essência do verdadeiro cristianismo e da justiça que deve exceder a dos escribas e fariseus[70].

47 - E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios a mesma coisa?

SAUDAIS - A saudação universal do Próximo Oriente shalom ou salaampaz – expressa o desejo de que aquele a quem se dirige a saudação possa gozar de toda bênção espiritual e material[71]

OS GENTIOS - Não há de meritório nem digno de menção especial em fazer o que todo mundo faz[72]

         Pessoas Normais e Pessoas Anormais

Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Romanos 7:22.

Os cristãos não são normais! Pelo menos não conforme o mun­do define a pessoa normal. Vez após outra em nosso estudo do Sermão do Monte, observamos que cristianismo não é a soma da crença em Jesus e uns poucos bons hábitos na velha vida. Pelo contrá­rio, a velha vida foi crucificada com Cristo e ressuscitou para uma no­va maneira de pensar e agir. Mesmo as vidas consideradas boas preci­sam morrer para o orgulho e o preconceito. Cristianismo é uma vida transformada, uma nova criação, a experiência de um nascimento do alto. Qualquer coisa inferior a isso não é cristianismo.

Assim sendo, perguntamos novamente, o que é que envolve esse de mais mencionado em Mateus 5:47? D. Martin Lloyd-Jones, em seu excelente estudo do Sermão do Monte, provê alguns detalhes sobre es­se assunto. Em, primeiro lugar, o cristão convertido não pensa como os mundanos normais. A pessoa natural pode prestar obediência com murmurações, mas o cristão tem prazer na lei de Deus. Cristão é aque­le que assimilou o espírito da lei de amor, não meramente sua letra.

Aqueles que se apegam à letra não chegam a atingir o verdadeiro significado do que é ser cristão. Por isso, uma segunda distinção entre pessoas normais e cristãos, é que a pessoa natural sempre pensa no pecado em termos de ações, coisas que fazemos ou deixamos de fazer. Em contraste, o cristão está interessado no coração. Esse tem sido o ponto principal de Jesus desde o verso 20 do capítulo 5 de Mateus. Tanto o pecado como a justiça que excede, estão enraizados no ínti­mo do ser do cristão.

Mas essa justiça flui na vida diária de acordo com a lei de amor que excede em muito a dos fariseus e dos publicanos. Essa é a terceira dis­tinção entre a própria religião normal e o cristianismo genuíno.

Uma quarta diferença entre os dois grupos é a atitude do cristão em relação a si mesmo. Enquanto a vida do mundano ou dos religiosos legalistas é impregnada de orgulho, o verdadeiro cristão tem a humil­dade de espírito e a fome e sede da justiça, que são a essência das Bem-­aventuranças. Os cristãos são realmente pessoas mais do que normais[73].

48 - Portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito.

DEVEIS SER - Sede, poisCom estas palavras Cristo começa a conclusão que deve TIRAR das seis ilustrações da aplicação mais excelsa e espiritual da lei do reino dos céus, que se apresentou nos versos 21 a 47, ainda que seja provável que a ideia do verso 48 esteja mais acertada ao conteúdo dos versos 43 a 47. Em todas estas ilustrações Jesus demonstrou que no reino que ele veio estabelecer, são os propósitos e motivos íntimos dos que determinam a perfeição do caráter e não só os atos visíveis. O homem pode olhar o que está adiante de seus olhos, mas Iahweh olha o coração. I Samuel 16:7[74]

PERFEITOS - Grego teleios, maturidade. No uso bíblico do conceito, as pessoas são teleios, perfeitas quando são adultas ou atingiram a estatura plena. Assim, um estudante que tem um conhecimento maduro de matemática é teleios, maduro ou perfeito em comparação com o aprendiz que está apenas começando.

Um tesouro de bondade - Cristo anelava um mundo de paz e um gozo que seriam similares aos existentes no mundo celestial[75].

Perfeição na edificação do caráter - O Senhor exige perfeição de sua família redimida, perfeição na edificação do caráter. Pais e mães necessitam especialmente compreender os melhores métodos para educarem seus filhos a fim de cooperarem com Deus. Homens, mulheres, crianças e jovens, são medidos na balança do céu de acordo com o que revelam em sua vida na terra. A religião prática exerce uma influência incomensurável[76].

A vida de um homem perfeito - Nosso Salvador como Filho de Deus, levou ao céu a verdadeira relação do ser humano. Somos filhos e filhas de Deus. Para sabermos como nos comportar devidamente, devemos seguir as pisadas de Cristo. Ele viveu a vida de um homem perfeito durante trinta anos, cumprindo com mais excelsa norma de perfeição[77].

Plural do grego téleios, acabamento, completo, o que atingiu a meta. Provem do vocábulo télos, fim, cumprimento, limite. Na literatura grega se emprega a palavra téleios para descrever às vítimas perfeitas para o sacrifício, ou os animais já crescidos, ou os seres humanos adultos, maduros, profissionais bem preparados e bem qualificados para seu trabalho. Paulo fala dos téleioi plural, e a RVR traduz os que atingiram maturidade I Coríntios 2:6 e perfeitos Filipenses 3:15. Ao mesmo tempo, compreende que há novas alturas a atingir e que ele mesmo não atingiu a perfeição final. No NT se emprega a palavra téleios para descrever a homens que são física e intelectualmente maduros I Coríntios 14:20; Hebreus 5:14. Com referência à palavra tam, o equivalente hebraico, ver Jó 1:1; Provérbios 11:35.

Jesus não fala aqui de uma impecabilidade absoluta nesta vida. A santificação é uma obra progressiva.

Muitos judeus se esforçavam arduamente para ser justos mediante seus próprios esforços, para ganhar a salvação mediante obras. Mas em seu minucioso legalismo prestavam tanto atendimento aos detalhes diminutos da letra da lei, que perdiam completamente de vista seu espírito Mateus 23:23. No Sermão do Monte Cristo tentou desviar seu atendimento da casca ao trigo. 

Tinham convertido a lei num fim em si mesma, algo que devia guardar porque tinham esquecido que seu propósito era que levantassem os elevados ideais de supremo amor a Deus e amor altruísta para com o próximo Mateus 22:34 a 40. Alguns rabinos ensinavam que injustiça consistia em ter uma conta no céu de mais ações boas do que ações más. 

É importante notar a relação entre os versos 45 e 48, porque ser filhos de vosso Pai que está nos céus verso 45 equivale a ser perfeitos, como vosso Pai que está nos céus é perfeito. V. 48[78].

O AMOR CRISTÃO

2. Sua razão de ser

Já temos visto o que queria Jesus dizer quando nos mandou ter este amor cristão; e agora devemos passar a ver porque nos ensina o que fazer. Por que, ensina Jesus que uma pessoa tenha este amor, esta benevolên­cia inconquistável e esta boa vontade? A razão é muito clara: Este amor faz que a pessoa se pareça com Deus.

Jesus ensinava a ação de Deus no mundo, que é a sua benevolência. Deus faz que Seu sol brilhe sobre os bons e sobre os maus; envia Sua chuva sobre os justos e os injustos. Rabi Yoshua Ben Nehemiah dizia: Tem se fixado que a chuva caia no campo A, o que é justo, e não no campo B, que é injusto? E que o sol aqueça e brilhe sobre Israel, que é justo, e não sobre os gentis, que são malvados? Deus faz que Seu sol brilhe tanto sobre Israel como sobre as nações, porque o Senhor é bom com todos. Até este rabino judeu se comovia e se impressionava com a grande benevolência de Deus, o mesmo com os santos que com os pecadores.

Há uma lenda rabínica que conta a destruição dos egípcios no Mar Vermelho. Quando as águas cobriram os egípcios, assim diz a história, os anjos iniciaram um hino de louvor; porém Deus disse tristemente: A obra de Minhas mãos está sepultada aqui no mar, e vocês querem cantar diante de Mim? O amor de Deus é tal que não pode comprazer-se nunca pela destruição de nenhuma das criaturas que tem formado Suas mãos. O salmista diz: Os olhos de todos esperam por Ti, e Tu lhes dá sua comida a seu tempo. Abres Tua mão e satisfazes de bênçãos a todo ser vivente. Salmo 145:15. Em Deus há esta benevolência universal até para com os que tem que­brantado Suas leis e Seu coração.

Jesus diz que devemos ter este amor para chegar a ser filhos de nosso Pai que está no céu. O hebraico não é rico em adjetivos; por esta razão usa muitas vezes Filho de... com um nome abstrato onde nós usaríamos um adjetivo. Por exemplo: um filho de paz é uma pessoa pacífica; um filho de consolação é um homem consolador. Assim que um filho de Deus é um homem que se parece com Deus. A razão por que devemos ter esta benevolência e boa vontade é que Deus as tem; e, se temos chegamos a ser nada a menos que filhos de Deus, são pessoas que se parecem com Deus.

Aqui temos a chave de uma das frases mais difíceis do NT: A frase com que termina esta passagem. Jesus diz: Portanto, deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito. A primeira vista, isto soa como um mandamento que não é possível que se refira a nós. Não há nada que considere que possamos nem aproximar da per­feição de Deus.

A palavra grega para perfeito é teleios. Esta palavra se usa no grego num sentido muito especial. Não tem nada que ver com o que poderíamos chamar perfeição abstrata o metafísica. Uma vítima que é apta para o sacrifício a Deus, que não tem defeito, é teleios. Um homem que tem alcançado sua plena estatura é teleios em contraposição a um menino que está crescendo. Um estudante que tem alcançado um conhecimen­to maduro de seu estudo é teleios em oposição a outro que não tem feito mais que estudar e que não capta suficientemente as ideias.

A ideia grega de perfeição é funcional. Uma coisa é perfeita se cumpre plenamente o propósito para o que foi pensada, nada diz, mas faça. De fato, este sentido implica os derivados desta palavra. Teleios é o adjetivo que se forma do nome telos que quer dizer fim, propósito, objetivo, meta. Una coisa é teleios, se cumpre o propósito para o que foi planificado; uma pessoa é perfeita se cumpre o propósito para a qual foi criada.

Tomemos uma analogia muito clara. Suponhamos que temos uma porta com problema na fechadura em casa e queremos ajustá-la. Contratamos um especialista em fechaduras, e vemos que se ajusta perfei­tamente a fechadura a porta. Não é nem demasiado grande nem demasiado pequeno, nem demasiado áspero nem dema­siado suave. O ajuste se encaixa perfeitamente. Damos as voltas necessárias e a fechadura se fixa. No sentido grego, e especialmente no NT, este especialista é teleios, porque cumpre perfeitamente o propósito para o que nós necessitamos.

Uma pessoa é teleios se cumpre o propósito para o qual foi criada. Com que propósito foi criada a pessoa humana? A Bíblia não nos deixa a menor dúvida sobre isto. Na historia antiga da criação Deus nos fala de dizendo:

Façamos o homem a Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança. Gênesis 1:26. O homem foi criado para pare­cer-se com Deus. A característica de Deus e a benevolência universal, esta inconquistável boa vontade, esta constante busca do bem supremo de cada criatura. A grande característica de Deus é Seu amor o santo e ao pecador por igual. Não importa o que os homens Lhe façam: Deus não busca nada mais que seu bem supremo. Este é o que vemos em Jesus.

Quando se reproduz a vida de uma pessoa a benevo­lência incansável, perdoadora, e sacrifício de Deus, esta pessoa se parece com Deus, e é portanto perfeita no sentido da palavra no NT. Para dizer de uma maneira mais clara: A pessoa que se interessa mais pelo próximo será a pessoa mais perfeita.

O ensino da Bíblia é unânime em dizer que reali­zamos nossa humanidade somente parecendo nos com Deus. Unicamente o que nos faz semelhantes a Deus é o amor que nunca deixa de se preocupar pelos homens, e façam o que fizer. Realizamos nossa humanidade, alcançamos a perfeição cris­tã, quando aprendemos a perdoar como Deus perdoa, e a amar como Deus ama[79].

Portanto

Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste. Mateus 5:48.

Portanto é a palavra-chave no verso 48. Portanto significa conclusão do que foi dito anteriormente.

O verso 48, com seu apelo pela perfeição à semelhança de Deus, precisa ser vinculado ao verso 20, o qual apela por justiça maior do que a dos escribas e fariseus. Esses dois versos colocam, como que entre parênteses, os seis exemplos de Jesus acerca da profundidade da lei. Eles apresentam o ideal de Deus antes e depois das ilustrações. Assim, há um sentido em que ser perfeito como o Pai é o mesmo que conservar o espírito da lei, em contraste com a letra legalista. Em certo sentido, cada uma das seis seções contidas nos versos 21 a 48 apela para a perfeição, cada uma apresenta uma ordem absoluta que não pode ser superada. Por exemplo: O que mais se pode fazer a respeito da cobiça, depois de expulsá-la do coração? Versos 17 a 30 E a quem mais se pode amar depois de ter amado aos inimigos? Versos 43 a 48.

Mas, embora a palavra portanto no verso 48 se refira em cer­to sentido a todos os ensinos de Jesus contidos nos versos 21 a 47, ela pertence aos versos 42 até 47 de um modo mais específico ainda. Isso pode ser demonstrado fazendo-se a comparação entre os versos 45 e 48. Esses são os únicos dois versos em toda essa passagem que apelam aos cristãos para serem semelhantes ao Pai que está no Céu. Os versos 43 e 47 tornam explícita a essência dessa semelhança.

Jesus não está lidando com coisas abstratas aqui. Ser semelhante ao Pai significa amar os próprios inimigos, assim como Deus amou Seus inimigos. Afinal, Ele não proporciona sol e chuva a bons e maus? Qual­quer pessoa, até os cobradores de impostos, podem amar seus amigos. Deus requer de Seus filhos um amor sobrenatural por todas as pessoas. Assim como o Pai tanto amou o mundo que deu Seu Filho para morrer por pessoas incrédulas e inimigas Dele, devem também os cristãos amar até mesmo aquelas pessoas que, mentindo, disserem todo mal contra eles. Isso é o máximo em piedade e semelhança de Deus.

Assim sendo, portanto é uma das mais importantes palavras em Mateus 5:48. Sem essa palavra, não poderíamos perceber claramente a que Jesus está Se referindo quando apela para que sejamos perfeitos[80].

Perfeição é um Processo

Disse ainda: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente a terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como. A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa. Marcos 4:26 a 29.

Ao escrever estas linhas, é primavera em Michigan. Os agricul­tores estão preparando seus possantes tratores para a semeadura. Logo mais o milho estará brotando. Então virá o crescimento incrivelmente rápido, enquanto os dias longos do Norte de Michigan partilham o bri­lho do sol com as plantas em desenvolvimento. Mas, pouco mais tarde, a estação relativamente curta do crescimento terminará e as ceifadeiras e debulhadeiras combinadas estarão nos campos recolhendo a safra.

Gosto muito de ver as plantas crescerem. Gosto de jardinagem, especialmente do cultivo de verduras. É agradável sair bem cedo ou ao anoitecer e examinar as plantas em crescimento. No decorrer dos anos, uma coisa me surpreendeu. Foi perceber que um fruto, perfeito por ocasião da colheita, passou por um processo que mostrou perfeição em cada etapa de seu desenvolvimento. Um tomate maduro, de forma­to perfeito, por exemplo, aperfeiçoava-se em cada etapa de seu desen­volvimento, embora se tornasse maduro só na etapa final.

Tornar-se semelhante a Deus funciona dessa maneira para o cris­tão em desenvolvimento. A perfeição se assemelha mais a uma linha do que a um ponto. Perfeição é um processo que começa por ocasião do novo nascimento do cristão e continua incessantemente através da eternidade. Um cristão se torna mais e mais semelhante a Deus sem ja­mais ficar exatamente igual a Ele. Assim é que Paulo pôde dizer que a pessoa pode ser perfeita, sem, contudo, ter alcançado a perfeição. Filipenses 3:15 e 12.

Ellen White apresenta-nos uma ideia semelhante quando compa­ra o desenvolvimento da vida cristã com uma planta em crescimento: Nossa vida pode ser perfeita em cada fase de desenvolvimento; con­tudo haverá progresso contínuo, se o propósito de Deus se cumprir em nós. Parábolas de Jesus, p. 65[81].

O Significado de Perfeição

Amados, amemos-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. I João 4:7 e 8.

A palavra perfeito, em Mateus 5:48, se origina na palavra gre­ga teleios. Essa palavra não tem nada a ver com o conceito absoluto de perfeição ou impecabilidade. Pelo contrário, teleios quer dizer maturi­dade, e assim é traduzida na maioria das versões modernas da Bíblia. No uso bíblico do conceito, as pessoas são teleios; perfeitas quan­do são adultas ou atingiram a estatura plena. Assim, um estudante que tem um conhecimento maduro de matemática é teleios maduro ou perfeito em comparação com o aprendiz que está apenas começando.

A ideia básica dessa palavra bíblica, e daquelas que estão intima­mente relacionadas com ela, é que todas as coisas têm um fim, um pro­pósito, um alvo, ou um objetivo. Esse conceito encontrou entrada no português através da palavra teleologia. Uma coisa é teleológica quan­do cumpre o propósito para o qual ela foi feita ou planejada.

Precisamos, portanto, perguntar para que fim ou propósito foram criados os seres humanos. A Bíblia não nos deixa dúvida alguma nes­se ponto. Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa seme­lhança. Gênesis 1:26. Os seres humanos devem ser semelhantes a Deus. Por isso, é muito natural para Jesus reivindicar em Mateus 5:48 que os cristãos se tornem teleios perfeitos ou maduros em amor, como o Pai no Céu. Afinal, Deus é amor. I João 4:8. Os cristãos devem agir com amor como Deus, e não agir como o diabo.

Assim sendo, de acordo com o NT, cristão perfeito é o cristão maduro, íntegro, completo. O mesmo acontece no AT, onde as palavras traduzidas como perfeito geralmente significam completo, reto, ou imaculado no sentido espiritual.

Você pode estar imaginando então, de onde surgiu a interpretação de perfeito, que significa absoluto, total, sem defeito ou pecado. Sur­giu da mesma apostasia da igreja medieval que aceitava outras ideias filosóficas dos gregos, tais como a consciência da alma na morte. Foi a falsa interpretação da Idade Média que literalmente impeliu as pessoas a tentativas monásticas de perfeição. Os planos de Deus são os melhores[82].

A Perfeição de Caráter

Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois Ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Lucas 6:35 e 36.

Os adventistas do sétimo dia têm se preocupado com a perfei­ção de caráter por boas razões. Não só Jesus assim ordena em Mateus 5:48, mas Ellen White tem muito a dizer sobre o assunto.

Uma das declarações mais notáveis de Ellen White sobre o assun­to se encontra no livro Parábolas de Jesus, à página 69, onde lemos o seguinte: Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfei­tamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus.

Infelizmente, muitos chegam a essa citação com a definição de perfeição que mais se identifica com a dos fariseus, dos filósofos gregos, e a dos ensinos da igreja medieval do que com a definição bíblica de perfeição. Como resultado, eles pensam que caráter é essencialmente uma lista de comportamentos, e imediatamente se propõem a colecio­nar citações de Ellen White para apoiar sua nova teologia.

Seria melhor analisarmos o contexto da declaração do livro Pará­bolas de Jesus, nas páginas 67 e 68. Ellen White deixa claro que Cris­to procura reproduzir-Se no coração dos homens. Como resultado, recebendo o Espírito de Cristo; o espírito do amor abnegado e do sa­crifício por outrem, crescerão e produzirão fruto. ...Sua fé aumenta­rá; suas convicções aprofundar-se-ão, seu amor será mais perfeito. Mais e mais refletirão a semelhança de Cristo em tudo que é puro, nobre e amável. (Itálicos acrescentados).

À semelhança de Jesus em Mateus 5, a definição de perfeição de caráter que Ellen White apresenta centraliza-se no desenvolvimento do cará­ter de amor de nosso Deus. Esse ponto de vista se aprofunda quando é comparado com a versão de Lucas para o Sermão do Monte. Depois de fornecer essencialmente a mesma palestra de Mateus 5:43-47, Lucas apresenta Jesus concluindo assim: Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Lucas 6:36. Assim, os escritores dos Evan­gelhos comparam o cristão maduro ou perfeito com o cristão miseri­cordioso. Essa equação é a essência da perfeição de caráter[83].

Voltando às Bem-Aventuranças

Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da Tua presença, nem me retires o Teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da Tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os Teus caminhos, e os pecadores se converterão a Ti. Salmo 51:9 a 13.

Entre os versos 20 e 48 de Mateus 5, Jesus falou não só que a nossa justiça deve exceder a dos escribas e fariseus, mas que as impli­cações da lei para a vida diária são muito mais profundas e amplas do que qualquer fariseu jamais sonhou.

Enquanto mantivessem sua estreita e limitada definição de pecado como um ato exterior, eles estavam seguros no que dizia respeito à sua compreensão de perfeição.

Mas Jesus fizera explodir a presunção deles vez após outra no capí­tulo 5 de Mateus. Não só é pecado o homicídio, mas também todo pensamento pecaminoso e palavra impura. Não só é pecado o adulté­rio, como também os pensamentos sensuais. E para completar, como cristãos não podemos sequer usar de desforra. Pelo contrário, somos or­denados a amar nossos inimigos e assim ser tão perfeitos como Deus.

Quem está apto para essas coisas? Ninguém de nós! Todos somos incapazes. Eu me considero uma pessoa de razoável força de vontade, e descobri que posso parar de fazer isso ou aquilo digamos, parar de co­mer creme de amendoim por minhas próprias forças. Mas minha sa­tisfação própria e autossuficiência são totalmente destruídas pelos en­sinos de Jesus em Mateus 5 . Não tenho condições de amar todos os meus inimigos o tempo todo, a não ser pelo poder da graça de Deus.

Por isso, Mateus 5:21 a 48, e especialmente o verso 48, me levam de volta, vez após outra, às Bem-aventuranças, quando reconheço minha pobreza de espírito, minha falta de pureza e falta de misericórdia. Como Davi na antiguidade, quando considero minha vida, comparando-a com o que eu deveria ser, tenho fome e sede da justiça de Deus.

Agradeço a Deus diariamente porque Ele é misericordioso, perdoa­dor e amoroso, até mesmo para com aqueles que vacilam e caem, ou se tornam rebeldes. Ajuda-me, Senhor, a ser mais semelhante a Ti![84].

LEITURA ADICIONAL

Amai a vossos inimigos. Mateus 5:44

A lição do Salvador: Não resistais ao mal. Mateus 5:39 era dura de ouvir para os vingativos judeus, e eles murmuraram contra ela entre si. Jesus fez então uma declaração ainda mais forte: 

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos Céus. Mateus 5:43 a 45

Tal era o espírito da lei que os rabis tão mal haviam interpretado como um frio e rígido código de cobranças. Consideravam-se melhores que os outros homens, e como com direito ao especial favor de Deus em virtude de seu nascimento israelita; mas Jesus indicou o espírito de amor perdoador como aquele que evidenciaria serem atuados por motivos mais elevados do que os mesmos publicanos e pecadores a quem eles desprezavam. 

Ele encaminhou Seus ouvintes ao Governador do Universo, sob a nova designação: Pai Nosso. Queria que compreendessem quão ternamente o coração de Deus por eles anelava. Ensinou que Deus cuida de toda alma perdida; que como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem. Salmo 103:13.

Tal concepção de Deus não foi jamais dada ao mundo por qualquer religião senão a da Bíblia. O paganismo ensina os homens a olharem para o Ser Supremo como objeto de temor em vez de amor, uma divindade maligna a ser apaziguada por sacrifícios, e não um Pai derramando sobre Seus filhos o dom do Seu amor. Mesmo o povo de Israel se tornara tão cego ao precioso ensino dos profetas acerca de Deus, que esta revelação de Seu paternal amor era coisa original, uma nova dádiva ao mundo. 

Os judeus afirmavam que Deus amava aqueles que O serviam, segundo seu ponto de vista, aqueles que cumpriam as exigências dos rabinos, e que todo o resto do mundo jazia sob o Seu desagrado e maldição. Não assim, disse Jesus; o mundo inteiro, os maus e os bons, acham-se sob o sol do Seu amor. Esta verdade devíeis ter aprendido da própria Natureza; pois Deus faz que o Seu Sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. Mateus 5:45

Não é em virtude de um poder inerente que a Terra produz ano após ano sua abundância, e continua em seu giro ao redor do Sol. A mão de Deus guia os planetas, e os conserva em posição em sua bem ordenada marcha através dos céus. É por meio de Seu poder que verão e inverno, sementeira e sega, dia e noite se seguem em sucessão regular. É por meio de Sua palavra que a vegetação floresce, aparecem às folhas, desabotoam as flores. Todas as boas coisas que possuímos, todo raio de Sol e toda chuva, todo bocado de pão, todo momento de vida, é um dom de amor. 

Enquanto éramos ainda destituídos de amor e do que nos fizesse amáveis no caráter, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Tito 3:3, nosso Pai celestial teve misericórdia de nós. Quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a Sua misericórdia, nos salvou. Tito 3:4 e 5. Uma vez recebido o Seu amor, torna-nos, semelhantemente, bondosos e ternos, não somente para os que nos agradam, mas para com os mais faltosos e errantes pecadores. 

Os filhos de Deus são os que partilham de Sua natureza. Não é a posição terrena, nem o nascimento, nem a nacionalidade, nem os privilégios religiosos, o que prova ser membro da família de Deus; é o amor, um amor que envolve toda a humanidade. Mesmo os pecadores cujo coração não se ache inteiramente cerrado ao Espírito de Deus, corresponderão à bondade; conquanto devolvam ódio por ódio, darão também amor por amor. É, porém, unicamente o Espírito de Deus que dá amor em troca de ódio. Ser bondoso para o ingrato e o mau, fazer o bem sem esperar retribuição, é a insígnia da realeza celeste, o sinal certo pelo qual os filhos do Altíssimo revelam sua elevada condição. Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos Céus. Mateus 5:48

A palavra, pois implica em uma conclusão, uma dedução do que foi dito antes. Jesus estivera descrevendo a Seus ouvintes a infalível misericórdia e amor de Deus, e manda-lhes, portanto que sejam perfeitos. Pois que vosso Pai celeste é benigno até para com os ingratos e maus. Lucas 6:35, pois que Se abaixou para vos erguer, portanto, disse Jesus, podeis tornar-vos semelhantes a Ele no caráter, e apresentar-vos irrepreensíveis diante dos homens e dos anjos. 

As condições da vida eterna, sob a graça, são exatamente as mesmas que eram no Éden, perfeita justiça, harmonia com Deus, conformidade perfeita com os princípios de Sua lei. A norma de caráter apresentada no AT é a mesma apresentada no NT. Esta norma não é de molde a não podermos atingi-la. Em toda ordem ou mandamento dado por Deus, há uma promessa, a mais positiva, a fundamentá-la. Deus tomou as providências para que nos possamos tornar semelhantes a Ele, e cumpri-las-á para todos quantos não interpuserem uma vontade perversa, frustrando assim a Sua graça. 

Com amor indizível nos tem Deus amado, e nosso amor se desperta para com Ele ao compreendermos algo da extensão e largura e profundidade e altura desse amor que sobrepuja todo entendimento. Pela revelação da atrativa beleza de Cristo, pelo conhecimento de Seu amor a nós expresso enquanto éramos ainda pecadores, o coração obstinado abranda-se e é subjugado, e o pecador transforma-se e torna-se um filho do Céu. Deus não emprega medidas compulsórias; o amor é o meio que Ele usa para expelir o pecado do coração. Por meio dele, muda o orgulho em humildade, a inimizade e incredulidade em amor e fé. 

Os judeus haviam estado labutando penosamente a fim de atingir a perfeição mediante seus próprios esforços, e tinham fracassado. Cristo já lhes dissera que sua justiça jamais poderia entrar no reino do Céu. Agora Ele lhes indica o caráter da justiça que devem possuir todos quantos entram no Céu. Em todo o Sermão do Monte, descreve os frutos desse reino, e agora, em uma sentença, aponta-lhe a origem e a natureza: Sede perfeitos, como Deus é perfeito. A lei não passa de uma imagem do caráter de Deus. Contemplai em vosso Pai celestial uma manifestação perfeita dos princípios que são o fundamento de Seu governo. 

Deus é amor. Quais raios de luz vindos do Sol, o amor e a luz e a alegria procedem Dele para todas as Suas criaturas. Dar é Sua natureza. Sua vida mesma é o fluir de um desinteressado amor. Sua glória é dos filhos a felicidade, Sua alegria está nessa Paternidade.

Ele nos diz que sejamos perfeitos como Ele o é, da mesma maneira. Cumpre-nos ser centros de luz e bênção para o nosso pequeno círculo, da mesma maneira que Ele o é para o Universo. Nada temos de nós mesmos, mas a luz de Seu amor resplandece sobre nós, e devemos refletir-lhe a glória. Bons na bondade que Ele nos empresta, podemos ser perfeitos em nossa esfera, da mesma maneira que Deus é perfeito na Sua. 

Jesus disse: Sede... Perfeitos, como é perfeito vosso Pai. Mateus 5:48.

Se sois filhos de Deus, sois participantes de Sua natureza, e não podeis deixar de ser semelhantes a Ele. Todo filho vive pela vida de seu pai. Se sois filhos de Deus, gerados por Seu Espírito, viveis pela vida de Deus. Em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Colossenses 2:9; e a vida de Cristo se manifesta em nossa carne mortal. II Coríntios 4:11. Essa vida em vós produzirá o mesmo caráter e manifestará as mesmas obras que nele produziu. Assim estareis em harmonia com todo preceito de Sua lei; pois a lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma. Salmo 19:7. Mediante o amor, a justiça da lei será cumprida em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:4[85].

 



[1] BJ, p. 1.846.

[2] CBASD, vol. 5, p. 324.

[3] CBASD, vol. 5, p. 329.

[4] CBASD, vol. 6, p. 330.

[5] Desejado de Todas as Nações, EGW, CPB, p. 296.

[6] CBASD, vol. 6, p. 330.

[7] CBASD, vol. 6, p. 330.

[8] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 200 a 204.

[9] Na Alegria e na Tristeza, LES, Gordon Christo, Editora Sudamericana, pp. 5 e 6.

[10] CBASD, vol. 5, p. 325.

[11] CBASD, vol. 5 pp. 330 e 331.

[12] CBASD, vol. 5, p. 331.

[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 165.

[14] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 166.

[15] Bíblia, Edições Paulinas, tradução Matos Soares, p. 1.056.

[16] CBASD, vol. 5, p. 331.

[17] CBASD, vol. 5, p. 331.

[18] CBASD, vol. 5, p. 331.

[19] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 167.

[20] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 168.

[21] Desejado de Todas as Nações, p. 479.

[22] Lucas, Craig ª Evans, p. 201.

[23] CBASD, vol. 5, p. 762.

[24] Desejado de Todas as Nações, p. 479.

[25] CBASD, vol. 5, 762

[26] Lucas I. C. Leon L. Morris, 177

[27] CBASD, vol. 5, p. 762.

[28] Lucas I. C. Leon L. Morris,177.

[29] DTN 479.

[30] CBASD, vol. 5, p. 762.

[31] The New Bible Dictionary, art. Law, 683 e 684

[32] CBASD vol. 5, p. 792.

[33] CBASD vol. 5, pp. 762 e 763.

[34] CBASD vol. 5, p. 763.

[35] CBASD vol. 5, p. 763.

[36] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p.480.

[37] CBASD, vol. 5, p. 763.

[38] Parábolas de Jesus, Ellen Gold White, CPB, pp. 377 e 378.

[39] CBASD, vol. 5, p. 763.

[40] CBASD, vol. 5, p. 763.

[41] Parábolas de Jesus, Ellen Gold White, CPB, pp. 378 e 379.

[42] CBASD, vol. 5, p. 763.

[43] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p.480.

[44] Parábolas de Jesus, Ellen Gold White, CPB, p. 376.

[45] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p.481.

[46] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p.481.

[47] Bíblia Anotada, p. 1.289.

[48] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p.481.

[49] São Severo de Antioquia (c. 465-538), bispo Homilia 89.

[50] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p.481.

[51] CBASD, vol. 5, p. 764..

[52] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, págs. 481 e 482.

[53] BJ, pág. 1359.

[54] Bíblia Anotada, p. 1.290.

[55] CBASD, vol. 5, p. 764.

[56] Lições da Escola Sabatina, 3º Trimestre, a.996, Lição 9, p. 6.

[57] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, pp. 482 e 483.

[58] ONTIVV, Russel Norman Champlin, vol. 2, p. 110.

[59] CBASD, vol. 5, p. 64.

[60] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, p. 483.

[61] CBASD, vol. 5, p. 765.

[62] Desejado de Todas as Nações. Ellen Gold White, CPB, pp. 484 e 485.

[63] Rev. Enoc Teixeira Wenceslau

[64] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 169.

[65] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 170.

[66] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 171.

[67] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 172.

[68] CBASD, vol. 5, p. 331.

[69] BJ, p. 1289.

[70] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 173.

[71] CBASD, vol. 5, p. 331.

[72] CBASD, vol. 5, p. 331.

[73] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 174.

[74] CBASD, vol. 5, p. 331.

[75] Manuscrito 118, 1905.

[76] Manuscrito 34, 1899.

[77] Carta 69, 1897.

[78] CBASD, vol. 6, p. 331.

[79] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 205 a 207.

[80] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 175.

[81] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 176.

[82] Caminhando com Jesus, No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 177.

[83] Caminhando com Jesus, No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 178.

[84] Caminhando com Jesus, No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 179.

[85] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 73 a 78.