18o

DA VINGANÇA

38 - Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.

OUVISTE - O ensino tradicional era transmitido oralmente, sobretudo nas sinagogas[1].

Jesus apresenta agora exemplos específicos de sua interpretação da lei, como Autor e seu único verdadeiro Expositor. Pondo de lado a casuística rabínica, Jesus restaurou a verdade à sua formosura original. A expressão ouvistes implica que grande parte dos ouvintes nessa ocasião não tinham lido eles mesmos a lei. Isto era de se esperar, porque a maioria deles era composta de rudes lavradores e pescadores. Quando conversou mais tarde com os eruditos sacerdotes e anciãos, Jesus perguntou: Nunca lestes nas Escrituras? (Mateus 21: 42). No entanto, esse mesmo dia um grupo de pessoas comuns do povo, dentro do átrio do Templo, dirigiu-se a Jesus dizendo: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre (João 12: 34)[2].

Cristo apresenta sua quarta ilustração do espírito da lei em contraste com a mera formalidade de obedecê-la. Os versos 38 a 42 têm que ver com o proceder de um cristão quando é prejudicado por outros[3].

FOI DITO - Ao citar a antigos expositores da lei, os rabinos com frequência apresentavam o que esses eruditos tinham dito, com as palavras que Jesus emprega aqui. Nos escritos rabínicos estas palavras se usam também para apresentar citações do AT[4].

Esta citação se baseia em: Se alguém matar outro por astúcia, tu o arrancarás até mesmo do meu altar, para que morra (Êxodo 21: 14); fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. O dano que se causa a alguém, assim também se sofrerá (Levítico 24: 20); que teu olho não tenha piedade (Deuteronômio 19: 21)[5].

Olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe (Êxodo 21: 24 e 25).

 Esta é a lei do talião (Levítico 24: 17 a 20; Deuteronômio 19: 21), que se encontra no código de Hamurabi e nas leis assírias, é de natureza social, não individual. Prevendo um castigo igual ao dano causado, visa limitar os excessos da vingança (Gênesis 4: 23 e 24). O caso mais claro é a execução de um assassino (versos 31 a 34; Êxodo 21: 12 a 17; Levítico 24: 17). De fato, a aplicação dessa regra parece ter perdido desde muito cedo a sua brutalidade primitiva. As obrigações do vingador do sangue go’el (Números 35: 19) foram se purificando até se limitarem ao resgate (Rute 2: 20) e à proteção (Salmo 19: 15; Isaias 41: 14). O enunciado do princípio continua em uso, mas sob formas mais brandas (Eclesiástico 21: 25 a 29; Sabedoria 11: 16; 12: 22). O perdão era prescrito para o povo israelita (Levítico 19: 17 a 18; Eclesiástico 10: 6; 27: 30 a 28, 7) e Cristo acentuará ainda mais o mandamento do perdão (Mateus 5: 38 e 39; 18: 21 e 22)[6].

Esta lei também estava muito generalizada entre as nações antigas. Sólon introduziu parcialmente esta lei no código de Atenas, e em Roma foi incluída nas Doze Tabelas. Numerosas leis de uma natureza similar foram incluídas no antigo Código de Hamurabi, rei de Babilônia que viveu no tempo de Abraão. 

Insistia-se na interpretação literal desta lei nos dias de nosso Senhor (Mateus 5: 38 a 42) deve ter sido criada pelos saduceus, pois eles recusavam ver na lei uma interpretação espiritual. Não tivesse conseguido nenhum bem requerendo literalmente olho por olho. Teria significado grande perda para quem fizesse o dano sem proporcionar o menor ganho ao prejudicado. O requerer com persistência uma compensação é muito diferente de um apaixonado desejo de vingança[7].

OLHO POR OLHO - Esta lei foi instituída para evitar os abusos do sistema de justiça comum na Antiguidade. Era prática corrente cobrar as dívidas ou danos com interesses exorbitantes. Esta lei era um estatuto civil, e o castigo devia fazer-se sob a supervisão dos tribunais. Mas não se justificava a vingança pessoal[8].

 

NOTA ADICIONAL ÊXODO 21.

Enquanto escavava a Acrópole de Susa, de dezembro de 1901 a janeiro de 1902, J. De Morgan encontrou três grandes fragmentos de uma pedra de diorita negra. Encaixaram-se perfeitamente, e quando foram unidas formaram uma Estela, ou uma coluna vertical, de 2, 21 metros de altura e cuja base tinha um diâmetro de 60 centímetros. Em sua parte superior, a Estela continha um relevo que representava Hamurabi, o sexto rei da primeira dinastia babilônica 1.728 a 1.686 a. C. de pé diante do deus sol Shamash que estava sentado. Toda superfície estava coberta com uma extensa inscrição escrita em caracteres babilônicos cuneiformes. Contém perto de 300 leis. Resultou ser o famoso Código de Hamurabi, que agora está no Museu do Louvre, em Paris. Uma cópia pode ser vista no Instituto Oriental de Chicago. 

A publicação desse código, no ano de sua descoberta, feita por V. Scheil, perito em escritura cuneiforme, da expedição produziu uma formidável sensação no mundo dos eruditos bíblicos. Demonstrou na falácia das afirmações de muitos eruditos das escolas da alta crítica, tinham negado a possibilidade de que existissem códigos tais como o de Moisés antes do primeiro milênio a. C. A opinião do mundo erudito a respeito da lei de Moisés, no tempo da descoberta do Código de Hamurabi, está bem refletida por Johannes Jeremias em seu livro Moisés e Hamurabi. 2a ed., Leipzig, 1903: 

Antes das escavações nenhum teólogo cientificamente educado levantaria a pergunta: Existe um Código de Moisés? Seria considerado irresponsável. Todavia seria impossível manter o pronunciamento literário crítico ante a escola de Kuenen-Wellhausen: Uma codificação anterior ao século nono. 

Fazendo-lhes lembrar a seus leitores uma afirmação feita por Wellhausen de que, em realidade, é tão impossível que Moisés seja o originador da Lei como que o Senhor Jesus seja o fundador da disciplina eclesiástica da Hessia meridional, Jeremias levantava a pergunta: Como julgaria hoje? Os críticos tinham negado enfaticamente que Moisés fora o autor das leis contidas no Pentateuco, já que estavam convencidos de que a existência de tais leis era historicamente impossível durante o segundo milênio a. C. Cedo descobriram uma coleção de leis que ninguém podia negar que nos tinham sido redigidas na primeira metade do segundo milênio, mesmo antes do tempo de Moisés. Para grande surpresa dos eruditos críticos, este Código de Hamurabi revelou que os estranhos costumes da era patriarcal, como se descrevem no Gênesis, tinham existido realmente e também revelou que as leis civis do antigo Israel mostravam grande semelhança com as leis civis da antiga Babilônia. 

Devido à grande importância deste código, apresentamos uma descrição da história da Estela onde se encontram dois conteúdos de suas leis. Originalmente na Estela havia 3.624 linhas, divididas em 39 colunas de escritura. Foi erigida por Hamurabi na Babilônia, capital de seu reino. Quando essa cidade foi conquistada por um rei elamita, a coluna foi transportada a Susã como troféu de guerra e colocada no palácio real. Os elamitas apagaram cinco colunas da inscrição, mas, por alguma razão desconhecida, não as substituíram com nenhuma inscrição própria. Finalmente a coluna foi rompida em pedaços numa das destruições de Susa, e já estava sepultada no tempo dos reis persas, quando viveram Ester e Mardoqueu. 

O código contém um prefácio, ou prólogo, no qual o rei pretende ter sido comissionado pelos deuses para atuar como um governante sábio e justo e para julgar a seu reino. No epílogo, ou observações finais, o rei reafirma sua intenção de ir ajudar os oprimidos e prejudicados, e convida a cada um implicado num caso judicial para que vá e leia na coluna como está seu caso de acordo com a lei do rei. Entre o prólogo e o epílogo se encontram as 282 seções da lei, todas de uma natureza puramente civil. Tratam da escravatura e os delitos criminosos, regulam aluguéis, salários e dívidas, e tratam as questões relativas à propriedade, o casal, os direitos de embarque e os deveres dos médicos e outros. 

Em várias passagens do Gênesis (16:2, 6; 31:2, 39) explicou-se que o Código de Hamurabi ilustra e aclara alguns costumes aparentemente estranhos da era patriarcal. Um estudo cuidadoso das disposições do Código de Hamurabi dá como resultado um quadro interessantíssimo da vida social e dos costumes nos dias de Abraão e em todo o período patriarcal. 

De interesse especial para o estudante da Bíblia são aquelas leis que mostram semelhanças com a lei de Moisés. Tenho aqui uma comparação de algumas das leis de Hamurabi, sob a abreviatura CH, com as disposições correspondentes na lei de Moisés.

HAMURABI

ÊXODO 22: 1 a 4

CH 8. Se um cidadão roubar um boi, uma ovelha, um asno, um porco ou uma cabra pertencente ao deus (ou) pertencente ao palácio, pagará trinta vezes seu valor; se pertence a um cidadão, pagará dez vezes seu valor; se o ladrão não tiver suficiente para fazer a restituição, será morto.

Quando alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por aquele boi pagará cinco bois, e por aquela ovelha quatro ovelhas... Fará completa restituição; se não tiver com que, será vendido por seu furto. Se for achado com o furto na mão, vivo, seja boi ou asno ou ovelha, pagará o dobro.

Notar-se-á que a lei bíblica acerca do roubo é mais humana do que a babilônia; a última até castiga com a pena capital em certos casos. No entanto, o princípio de que um ladrão deve fazer restituição por seu crime é o mesmo em ambas as leis. 

O tráfico de escravos era considerado um grave delito contra a sociedade tanto por Hamurabi como por Moisés:

CH 14. Se um cidadão roubou o filho de um cidadão, será morto. 

Assim mesmo o que roubar uma pessoa e a vender, ou se for achada em suas mãos morrerá (Êxodo 21: 16).

As leis que tratam da escravatura voluntária são similares em princípio:

CH 117. Se um cidadão tem uma obrigação e, portanto a vendido sua esposa, seu filho, ou sua filha, ou os deu como garantia, trabalharão na casa de seu comprador, ou do que tem a garantia, durante três anos; no quarto ano se sancionará sua libertação.

Quando um de teus irmãos, hebreu ou hebreia, te for vendido, seis anos servir-te-á, mas, no sétimo o despedirás livre. E quando o despedires livre, não o deixarás ir vazio. Liberalmente, lhe fornecerás do teu rebanho (Deuteronômio 15: 12 a 14).

Quando um babilônio caia em escravatura por dívidas, tinha que servir três anos sem nenhuma compensação, ao passo que o escravo hebreu servia durante um período mais longo, mas recebia uma recompensa ao fim de seu termo de serviço.

CH 138. Se um cidadão quer divorciar-se de sua esposa que é estéril, lhe dará a ela dinheiro pela quantidade do preço de seu casal, e a compensará por seu dote que ela trouxe da casa de seu pai; então poderá divorciar-se dela. 

Quando alguém tomar mulher e se casar com ela, se não lhe agradar por ter achado nela alguma coisa indecente, lhe escreverá carta de divórcio, e se a entregasse em sua mão, e a despedirá de sua casa (Deuteronômio 24: 1.)

         A lei babilônica permitia o divórcio no caso de esterilidade feminina, fazia compensação, ao passo que a lei hebraica só permitia o divórcio se o esposo fosse enganado, segundo o rabino Shamay, o rabino Hillel era liberal e permitia o divórcio por razões menores, se sua esposa não fosse a mulher pura ou sã que tinha pretendido ser.

 CH 195. Se um filho golpear o seu pai, sua mão seja cortada. 

O que ferir a seu pai ou a sua mãe morrerá (Êxodo 21: 15).

A severidade da lei mosaica se deve a que, de acordo com a disposição divina, a paternidade era mais sagrada para os hebreus do que para os babilônios. 

CH 196. Se um cidadão destrói o olho do filho de um cidadão. Seu olho será destruído. 

CH 197. Se ele rompe o osso de um cidadão, seu osso será rompido.

 CH 198. Se ele destrói o olho de um subordinado; ou rompe o osso de um subordinado, pagará uma mina de prata.

CH 200. Se um cidadão de um golpe lhe saca um dente a um cidadão, seu dente lhe será sacado de um golpe. 

O que causar lesão no seu próximo segundo fez, assim lhe seja feito: rompimento por rompimento, olho por olho, dente por dente; segundo a lesão que tenha feito a outro, tal se fará a ele (Levítico 24: 19, 20).

 

 

 

E não lhe terá piedade; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé (Deuteronômio 19: 21).

Ambas as leis garantem a cada homem vida, saúde e bem-estar. Encontra-se uma marcada diferença no fato de que havia duas classes de cidadãos na Babilônia, os que eram plenamente cidadãos, livres, e outra classe, a dos que poderiam ser chamados servos, palavra traduzida como subordinados, ao passo que os hebreus não faziam tais distinções. O conceito de que todos os homens eram iguais parece ter-se originado com o povo de Deus. A dignidade do homem não pode ser plenamente compreendida a menos que tenha um reconhecimento do Deus verdadeiro e dos princípios partilhados a Israel.

CH 199. Destrói-se o olho do escravo de um cidadão, ou rompe o osso do escravo de um cidadão, pagará a metade do preço que compra.

Se algum ferir o olho de seu servo, ou o olho de sua serva, e o prejudicar, lhe darão liberdade por razão de seu olho (Êxodo 21: 26).

É manifesta a diferença nestas leis. A lei babilônica tão-só fala de danos ocasionados ao servo de outro homem, e os trata como se tivessem sido infligidos contra o amo do servo, mas a lei bíblica reconhece o direito humano de um escravo, que tinha de ficar livre se por alguma razão o lesava seu amo. Isto mostra claramente que a lei hebraica não considerava um escravo como a propriedade incondicional de seu amo, princípio que não é reconhecido em nenhuma outra parte do antigo Oriente.

CH 206. Se um cidadão golpeou um cidadão numa disputa e lhe ocasiona uma lesão, este cidadão jurará: Não o golpeei deliberadamente, no entanto pagará a fatura do médico. 

Se alguém brigar, e ferir seu próximo com pedra ou com o punho, e este não morrer, mas cair em cama; se levantar e andar fora sobre seu báculo então será absolvido o que o feriu; somente lhe reembolsará pelo que esteve sem trabalhar, e fará que lhe curem (Êxodo 21: 18, 19).

Estas duas leis são quase idênticas.

CH 209. Se um cidadão golpeou a filha de um cidadão, e lhe ocasiona um aborto, pagará dez ciclos de prata pelo feto dela. 

Se brigarem, e ferirem a uma mulher grávida, e esta abortar, mas sem ter morte, serão culpados conforme ao que lhes impuser o marido da mulher e julgarem os juízes (Êxodo 21:22).

O castigo deste crime era mais severo entre os hebreus do que entre os babilônicos devido ao conceito que tinham os hebreus da santidade da vida. 

O hebreu autor do crime não ficava inteiramente livre ao arbítrio do esposo, já que qualquer demanda do esposo tinha que ser confirmada pelos juízes.

CH 210. Se essa mulher morreu, a filha dele será morta. 

Mas se tiver morte, então, pagarás vida por vida (Êxodo 21: 23).

Neste caso as disposições são mais semelhante já que houve uma perda de vida humana. No entanto, a lei babilônica permitia que um homem pagasse por seu homicídio com a vida de sua filha invés de pagá-lo com a sua própria, uma injustiça para a filha que não permitia a lei de Moisés (Ezequiel 18: 20).

CH 249. Se um cidadão alugou um boi, e Deus o feriu e morreu, o cidadão que alugou o boi, jurará por Deus ser inocente, e então ficará livre. 

    CH 250. Se um boi, quando estava indo pela rua, chifrar um cidadão e o matar, este caso não está sujeito a reclamo. 

    CH 251. Se o boi de um cidadão é chifrador e a prefeitura da cidade do cidadão lhe fez saber que era chifrador, mas ele não lhe cortou os chifres ou não atou seu boi, e o boi chifrou até a morte ao filho de um cidadão, ele dará média mina de prata.

Se alguém tiver dado a seu próximo um asno, boi, ovelha, ou qualquer outro animal a guardar, e este morrer ou for estragado, ou for levado sem vê-lo ninguém; juramento de Iahweh terá entre ambos de que não meteu sua mão aos bens de seu próximo; e seu dono o aceitará, e o outro não pagará (Êxodo 22:10, 11.)

 

    Se um boi chifrar um homem ou mulher, e por causa disso morrer, o boi será apedrejado, e não será comida sua carne; mas o dono do boi será absolvido.  (Êxodo 21: 28).

 

    Mas se o boi for chifrador, e seu dono foi notificado, e não o guardou, e matar a homem ou mulher, o boi será apedrejado, e também morrerá seu dono. (Êxodo 21:29).

Estes são alguns exemplos nos quais as leis de Hamurabi mostram grande semelhança com as leis mosaicas. Há certas diferenças fundamentais, devidas principalmente a diferentes conceitos quanto aos direitos dos seres humanos e à santidade da vida. No entanto, também se deve lembrar que muitas das leis de Hamurabi não mostram absolutamente qualquer semelhança com as leis bíblicas. Contudo, é óbvio para qualquer que tenha estudado estas leis, que há alguma relação entre os códigos bíblico e babilônico. Este fato se pode explicar de três maneiras:

(1) As leis mosaicas são base do Código de Hamurabi.

(2) Moisés se valeu das leis de Hamurabi.

(3) Ambas as coleções se remontam à mesma origem. 

         A primeira destas três teorias não pode ser verdadeira, já que o Código de Hamurabi foi escrito muito antes do tempo de Moisés. Que as leis bíblicas foram tomadas das babilônias foi sustentado pelos críticos que crêem que o Pentateuco começou a existir tão só após que os judeus se relacionaram com os babilônios durante o primeiro milênio a. C. Esta teoria não é aceitável para os que crêem que Moisés recebeu suas leis de Deus no monte Sinai, em meados do segundo milênio a. C. A melhor explicação é concluir de que ambas as leis se remontam a uma origem comum. 

Já que está confirmado que Abraão estava familiarizado com as leis e mandamentos de Deus quatro séculos antes do Êxodo (Gênesis 26: 5); as leis dadas no monte Sinai só podem ter sido uma repetição dos preceitos divinos que tinham sido comunicados à humanidade muito antes desse tempo. 

Como Abraão, os povos de Mesopotâmia conheciam essas leis e as transmitiram de geração a geração, primeiro oralmente e depois por escrito. Mas os conceitos idólatras e de politeísmo gradualmente corromperam, não só as práticas religiosas e morais, senão também os princípios legais. Por isso as leis de Hamurabi diferem de seu equivalente bíblico e são menos humanas. 

Durante 45 anos se pensou que o Código de Hamurabi era a mais antiga coleção de leis. No entanto, foram encontradas várias coleções de leis muito mais antigas. De Nippur procede o Código de Lipitishtar, publicado em 1948. Foi escrito em sumério, um ou dois séculos antes do Código de Hamurabi, mas é muito similar a ele e mesmo contém várias leis idênticas às deste último. No mesmo ano, 1948, foi publicado outro código que tinha sido descoberto em Harmal, perto de Bagdá, o Código do rei Bilalama de Eshnunna, que governou uns 300 anos antes de Hamurabi. Evidentemente, este código é precursor das leis de Lipitishtar e Hamurabi.

Em 1954 se publicou um código legislativo mais antigo do que qualquer dos três mencionados, conhecido como o Código de Urnammu. Contém leis muito mais humanas do que quaisquer das outras conhecidas até então. Isto mostra que um código desta natureza quanto mais de perto se relaciona com a fonte original, que foi divina, melhor revela o caráter do verdadeiro doador da lei: Deus. Em qualquer código de leis que formem parte, todos os princípios corretos refletem a justiça e a misericórdia do Autor da retitude e da verdade[9].

OLHO POR OLHO - Êxodo 21: 14. A Lex talionis a Lei da retaliação, era o meio mosaico de terminar com disputas e rixas, mas Cristo mostrou outro meio de fazê-lo Mateus 5: 39 42. Levítico 24: 20. A lei da retaliação permitia uma justiça exata, não a vingança, e dizia respeito á justiça pública, não a vingança particular[10].

 

 

A LEI ANTIGA

Ouviste o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu porém vos digo: não resistais ao homem mau, antes aquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda; e aquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obrigar a andar uma milha, caminha com ele duas. Dá ao que te pede enão voltes as costas ao que te pede emprestado.

Poucas passagens do NT contém tanta essên­cia de ética cristã como esta. Aqui temos a ética característica da vida cristã, e a conduta que deveria distinguir os cristãos dos que não são cristãos.

Jesus inicia citando a lei mais antiga do mundo olho por olho, e dente por dente. Esta lei é conhecida como a Lex Talionis,Lei do Talião e pode ser descrita como a lei do toma lá dá cá aplicada as ofensas. Aparece nos códigos de leis mais antigas de que se conhece, o Código de Hamurabi, que reinou em Babilônia de 2.285 a 2.242 a.C. O Código de Hamurabi faz uma curiosa distinção entre o senhor e o trabalhador: Se alguém causa a perda de um olho de um senhor, perderá um olho seu. Se tem ocasionado dano ao membro de um senhor, o seu membro correspondente será lesado. Se tem sido a causa de que um pobre perca um olho, o olho correspondente será tirado, pagará uma mina de prata... Se tem causado ferimento aum semelhante se lhe cair um dente, se lhe fará cair um dos seus. Se tem feito que se caia um pobre, pagará um terço de uma mina de prata. O princípio está claro: Se um homem anflige uma injúria ao próximo, deverá sofrer uma injúria semelhante.

Esta lei chegou a formar parte integrante da ética do AT. A encontramos estabelecida pelo menos em três vezes: Mas se houver dano grave, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, pé po pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe (Êxodo 21:23 a 25). Se um homem ferir um compatriota, desfigurando-o, como ele fêz assim se lhe fará: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. O dano que se causa a alguém, assim também se sofrerá (Levítico 24: 19 e 20). Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, que teu olho não tenha piedade (Deuteronômio 19:21). Estas leis citadas entre as mais sanguinarias, salvagens e sem piedade do AT; mas antes de criticar, deveríamos notar certas coisas.

1. A Lei do Talião, a lei do toma lá dá cá, longe de ser uma lei salvagem e sanguinária, é de fato o princípio da mi­sericórdia. Sua finalidade original era sem dúvida a limitação da vingança. Nos dias mais primitivos a vingança de sangue era característica da sociedade tribal: Se um homem de uma tribo causava um dano a um hombem de outra tribo, imedia­tamente todos os membros da tribo prejudicada saiam para vingar-se de todos os membros da tribo que havia feito o dano; e a vingança desejada não era nunca menos que a morte. Esta lei limita deliberadamente a vingança. Estabelece que somente o homem que causou o dano deve ser castigado, e seu castigo não deve exceder ao equivalente do que ele mesmo causou. Vista no fundo de sua situação histórica, esta não é uma lei sanguinária, mas sim de misericórdia.

2. Esta não foi nunca uma lei que lhe dera à pessoa, individualmente, o direito a vingar-se por si mesma; sempre foi uma lei que estabelecia um juiz de um tribunal legal para estipular o casti­go Os juizes investigarão cuidadosamente. Se a testemunha for uma testemunha falsa, e tiver caluniado seu irmão, então vós trareis conforme ela própria maquinava tratar seu próximo. Deste modo extirparás o mal do teu meio (Deuteronomio 19: 18). Esta lei nunca teve a finalidade de dar ao indivíduo o direito a aceitar nem sequer a vingança do toma lá dá cá. Sempre se pretendeu que fosse um guia para um juiz a estipulação do castigo que devia receber qualquer obra vio­lenta ou injusta.

     3. Esta lei jamais se cumpriu literalmente, pelo menos em nenhuna das sociedades civilizadas. Os juristas judeus arrrazoavam acertadamente que se cumpriria literalmente poderia ser de fato o contrário da justiça, porque obviamente poderia supor o pagamento de um bom olho ou um bom dente com um mal olho ou um mal dente. E se chegou muito próximo a compensar o dano causado com dinheiro; e a lei judaica estabelece meticulosamente no tratado Baba Kamma como se tem que reparar um dano. Se uma pessoa prejudicou outra, pode ter sido de uma destas cinco maneiras: Com injúria, dor, tratamento médico, perda de tempo, e indignidade. Quanto à injúria, o injuriado se considera como un escravo que se põe a venda no mercado. Seu valor antes e depois da injúria se estipula, e o responsável da injúria tem que pagar a diferença. Havia sido o responsável da perda do valor da pessoa injuriada. Quanto à dor, se estimava quanto dinheiro aceitaria uma pessoa por estar disposta a sofrer a dor da injúria infligida, e o responsável da injúria teria que pagar esta soma. Quanto ao tratamento médico, o causador do mal teria que pagar todos os gastos do tratamen­to médico necessário até que se chegasse a uma cura total. E quanto à perda de tempo, o ofensor teria que pagar a compensação pelos salários perdidos enquanto o ofendido estivesse incapacitado para trabalhar, e também teria que pagar a compensação se o ofendido havia tido uma posição bem paga, a consequência do dano, quando o capacitado somente puder executar um trabalho menos remunerado. E quanto à indignidade, o ofensor teria que pagar os danos pela humi­lhação e a indignidade que a injúria havia infligido. Nessa prática legal, o tipo de compensação que estabelecia a Lei do Talião é surpreendente e moderna.

4. O mais importante de tudo: Há que se recordar que a Lei do Talião não é muito menos importante que toda a ética do AT. Há momentos e até esplendores de misericórdia no AT. Não te vingarás e nem guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu Sou Iahweh (Levítico 19:18). Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá lhe de beber (Provérbios 25: 21). Não digas:Segundo me fez, assim lhe farei! Devolverei a cada um segundo sua obra! (Provérbios 24:29). Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios (Lamentações 3:30). Há abundante misericórdia no AT.

Assim, a ética antiga se baseava na lei do toma lá dá cá. É verdade que essa lei era misericordiosa; é verdade que era uma lei para um juiz e não para a pessoa individualmente; é verdade que nunca se levava a cabo literalmente; é verdade que havia acenos de misericórdia que se percebiam ao mesmo tempo. Porém, Jesus obliterou o mesmo princípio dessa lei, porque a vingan­ça, por muito controlada e restringida que seja, não tem lugar na vida cristã[11].

 

A Lei da Desforra

Vocês ouviram o que foi dito: Olho por olho, dente por dente (Mateus 5: 38).

Aqui temos uma referência ao antigo código da lei de Talião, a lei da retaliação. Ele está entre os mais primitivos códigos de leis hu­manas. Assim, estava no Código de Hamurabi, que reinou na Babilô­nia antes do tempo de Moisés, mas de forma menos justa do que no AT.

A lei básica de Talião é encontrada em pelo menos três lugares no AT. Em Deuteronômio 19: 21, lemos: Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente... Em Le­vítico 24: 19 e 20, lemos: Se alguém causar defeito em seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará.

Por razões óbvias, essas leis são frequentemente citadas pelos críti­cos como sendo as mais brutais do AT. Mas, antes de criticarmos demais, precisamos considerar a intenção das mesmas.

Em primeiro lugar, é importante compreender que o objetivo des­sas leis do AT não era a crueldade legalizada, mas a mi­sericórdia. Pense por um momento na impetuosidade humana e na desforra. Minha tendência humana, quando alguém faz algo que me prejudica, é fazer pelo menos algo tão mau como o que me foi feito ou pior, se puder. Assim, a desforra descontrolada aumenta à medida que cada um retribui de maneira mais brutal. Uma inimizade sangui­nária entre famílias em guerra é o possível resultado.

A legislação do AT foi dada para colocar limites na desforra. Assim ninguém pode insistir num castigo maior do que o merecido pelo crime.

Em segundo lugar, a lei não era imposta por indivíduos, mas pelo governo, na tentativa de manter a ordem civil. Era o juiz quem estabe­lecia os termos da punição. Na realidade, os judeus de épocas posterio­res geralmente trocavam a lei de Talião por punições monetárias.

Mesmo o que parece ser o lado cruel do AT preci­sa ser considerado à luz de um Deus misericordioso[12].

 

Considere Todos os Fatos

Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra (Provérbios 24: 29).

É sempre perigoso pegar um verso aqui, outro ali, e dizer que is­so é o que a Bíblia ensina sobre o assunto. É importante ponderar sobre o quadro completo.

Temos aqui considerado alguns versos nos quais a lei de Talião ou do olho por olho era ensinada. Percebemos que aquilo que parecia ser uma lei brutal, era, na verdade, um aspecto de misericórdia da legisla­ção, no sentido de que ela limitava o grau da vingança.

Mas o ideal de misericórdia divina é muito mais amplo do que is­so no AT. Esse pode ter sido o limite legal da vingan­ça, mas o verdadeiro ideal de Deus para Seu povo era um ideal de gra­ça. Por isso, como vemos no texto bíblico, as pessoas são acon­selhadas a não dar o troco aos outros pelo que eles lhes fizeram, não desforrar-se à moda da lei de Talião. Em Levítico 19: 18, lemos: Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor. E em Provérbios 25: 21: Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer.

Assim sendo, mesmo no AT, o ideal de Deus para Seu povo individualmente era de misericórdia e não de justiça estrita. Graça é a nota tônica em ambos os testamentos. Deus a concede a nós. Nosso dever é passá-la adiante.

Prejuízos não imagináveis sobrevieram ao povo de Deus por meio daqueles que estavam em seu meio escolhendo as mais fortes declara­ções da Bíblia para impô-las sobre ou­tras pessoas, sem levar em consideração o contexto ou o equilíbrio dos fatores.

 Mensagens Escolhidas, vol. 3, págs. 285-287 nos adverte contra aqueles que escolhem as expressões mais fortes dos testemunhos e querem impô-las em todos os casos a despeito do seu contexto. Não apanhem os indivíduos as declarações mais fortes, feitas a pessoas e famílias, impondo essas coisas porque de­sejam usar o açoite e ter algo para impor.

Esse conselho se aplica também à Bíblia. Considere todos os fatos a respeito de determinado assunto[13].

 

39 - Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau; antes, aquele que te fere na face direita oferece-lhe também à esquerda.

EU, PORÉM VOS DIGO - Os rabinos citavam as tradições como autoridade na qual baseavam sua interpretação da lei. Cristo falou por sua própria autoridade, e este fato distinguia Seu ensino dos rabinos, o que o povo observou sem demora Mateus 7: 29. A expressão, mas Eu vos digo aparece seis vezes em Mateus 5 versos 22, 28, 32, 34, 39, 44. Cristo demonstrou que Suas demandas iam muito além da mera letra da lei, e que incluíam o espírito que teria de dar vida e significado ao que de outro modo não era senão forma. Apresentou seis exemplos específicos a fim de deixar em claro a distinção entre os fatos visíveis e os invisíveis que levam a realizar essas reações. Esse contraste, que percorre como uma fibra de ouro o Sermão do Monte, faz com que o discurso seja a declaração suprema da filosofia cristã da vida, a máxima exposição de ética de todos os tempos. 

Cristo destacou quão abarcantes são em verdade os requerimentos da lei e fez ressaltar que a mera conformidade exterior com a lei de nada serve[14].

RESISTAIS - Trata-se do mal pelo qual somos pessoalmente prejudicados; é proibido resistir a ele por meio de vingança, pagando o mal com o mal, segundo a regra judaica do Talião cf. v.38, Êxodo 21: 25; Salmos 5: 11. Jesus não proíbe que alguém se oponha dignamente aos ataques injustos (João 18: 22 e 23), e menos ainda que alguém combata o mal no mundo[15].

Jesus não nos convida a ficar passivos diante do mal, da opressão, da violência, mas que não nos deixemos levar pelo espírito de vingança e de violência, sob o pretexto de defender os direitos próprios ou os do próximo. Reinterpreta assim a antiga lei do Talião (Êxodo 21: 23 a 25), que permitia responder a violência com violência, cuja finalidade era coibir arbitrariedades contra os direitos humanos. O melhor caminho para romper o círculo da violência, da opressão e da injustiça é responder ao mal com o bem. (Romanos 12: 14 a 21).

Isto é, não tenteis vingar-vos pelos males sofridos. Aqui Jesus parece referir-se a uma hostilidade ativa e não a uma resistência passiva. O cristão não deve responder à violência com violência. Deve vencer com o bem o mal (Romanos 12: 21) e amontoar brasas de fogo sobre a cabeça do quem o prejudica (Provérbios 25: 21 e 22)[16]

FACE DIREITA - Bem como ocorre com as outras ilustrações que aparecem nos versos 21 a 47, Jesus se preocupa mais com o espírito que motiva o ato do que com o ato em si mesmo. O cristão não deve lutar pelo que considera que é seu direito. Sofrerá o dano antes que tentar se desforrar. Jesus mesmo observou plenamente o espírito dessa ordem, ainda que literalmente não tenha atraído sobre Si sofrimentos adicionais (João 18:22 a 23; Isaías 50:6; 53:7). Também não o fez Paulo (Atos 22: 25; 23: 3; 25: 9 e 10). Na cruz, Cristo manifestou o espírito do qual falou aqui quando pediu ao Pai que perdoasse a quem o atormentava (Lucas 23: 34)[17].

 

O FIM DO RESSENTIMENTO E DA VINGANÇA

Assim, para o cristão, Jesus aboliu a antiga lei da vingança limitada, e introduz o novo espirito que exclui o ressentimiento e a vingança. Passo a dar três exemplos de espirito cristão em ação. Se tomarmos o dito com um literalismo curto e obtuso perderemos totalmente seu ensino. É necessário compreender o que Jesus está dizendo.

Diz que se alguém te der uma bofetada no rosto direito deves oferecer tambem o outro lado. Existe no texto um conceito bem mais abarcante do que parece à simples vista, muito mais que uma mera questão de bofetadas.

Suponhamos que o homem é destro, e quer dar uma bofetada tal que tem diante dele a face direita do opositor, como faria? A menos que faça contorsões mais complicadas, o qual privaria toda sua força ao golpe, não pode dar a bofetada mais que de uma maneira: Com o revés da mão. Agora, segundo a lei judaica rabínica, golpear uma pessoa com o revés da mão era duplamente insultante como se lhe houvesse dado com a direita de sua mão. O que Jesus está dizendo é: No caso de um homem te dirigir um insulto calculado e maldoso, não deves se vingar de nenhuma maneira e nem guardar o menor ressentimento.

Não é provável que nos suceda, quase nenhuma vez, que alguém nos dê uma bofetada; porém uma ou outra vez a vida nos brinda com insultos, grandes ou pequenos; Jesus está dizen­do que o verdadeiro cristão tem aprendido a não ter ressentimento nem buscar vingança de ninguém, insulto ou despre­zo. Jesus mesmo foi chamado de glutão e beberrão. Chamaram-nO amigo de publicanos e de prostitutas, sugerindo que era como eles. Os primeiros cristãos foram chamados de canibais e incen­diários, e os acusaram de imoralidade brutal, porque seus cultos incluíam A Festa do Amor. Quando Shaftesbury assumiu a causa dos pobres e dos oprimidos, advertiram-lhe que isto queria dizer: tornar-se-ia impopular com seus amigos e as pessoas de sua própria classe, e que teria que renunciar a toda esperança de chegar a ser um membro do parlamento. Cuando Wilberforce iniciou sua cruzada para libertar os escravos divulgaram deliberadamente acusações caluniosas sobre ele ser um cruel marido, de golpear sua esposa, e de que estava casado com uma negra.

Uma ou outra vez na igreja alguém pode ter se sentido ofendido porque não o convidaram a uma festa, de terem omitido seu nome no voto de agradecimento, ou não ter-lhe dado o posto de reconheci­mento que merecia. O verdadeiro cristão não se entristece quando o insultam; já aprendeu de seu Mestre a aceitar qualquer insulto sem ressentimento, e sem buscar jamais a vingança[18].

 

O Papel do Governo Civil

Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra (Mateus 5:39).

Não resistais ao mal. Aí está uma declaração revolucioná­ria. É também uma das mais controvertidas do NT. Alguns acham que essa declaração se aplica ao governo. Assim, não resistir ao mal sugere que está errado ter polícia ou exército. Não resistais ao mal. Será que essa frase quer dizer que é errado resistir a pessoas como Hitler, Stalin ou criminosos secretos? Será que devemos deixar as pessoas cruéis fazer o que quiserem? Alguns acredi­tam ser assim. Mas é isso que a Bíblia ensina?

Para responder a essas perguntas precisamos examinar o contexto de Mateus 5: 39. A quem Jesus está falando? A quem Ele está ordenan­do que não resista ao mal?

A resposta é que Ele está falando a pessoas cristãs, que estão viven­do de acordo com as bem-aventuranças, e que portanto são mansas e pacificadoras. Ele está falando a pessoas convertidas, que por definição não são como o mundo, que Paulo chama de homem natural. Jesus está falando às pessoas cuja justiça deve exceder a dos escri­bas e fariseus.

Ele não está falando a governos nacionais ou a indivíduos não con­vertidos que não vivem de acordo com as bem-aventuranças. Para tais pessoas, a ordem de resistir ao mal seria loucura. Viver a vida cristã é um assunto do espírito.

Os governos, em suas funções legais e policiais, estão ainda debaixo da lei de talião. Isso está claro em Romanos 13, onde lemos que os go­vernos não trazem a espada sem motivo. Eles devem castigar o que pra­tica o mal (V 4). O exército, a polícia e os tribunais de justiça são necessários em um mundo de pecado. E, de acordo com Romanos 13, Deus Se utiliza dos governos para manter a ordem e resistir ao mal.

Mas esse não é o papel de cristãos individualmente. Não devemos impor a lei com as próprias mãos. Não devemos viver uma vida de re­taliação. Devemos viver de acordo com as bem-aventuranças; devemos ser pacificadores e amar nossos inimigos[19].

 

Oferecendo o Outro Lado

Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança (I Pedro 3: 8 e 9).

Oferecer o outro lado não é muito fácil quando você acabou de ser ferido do lado direito. Um tapa no rosto era o insulto pessoal má­ximo para um judeu. E Jesus agora diz que devemos oferecer o outro la­do. Impossível!

Está Jesus dizendo que se um bêbado ou um lunático violento vem e me fere no rosto, devo imediatamente lhe oferecer o outro lado? Tal instrução faria os ensinos do Senhor parecer ridículos.

O que, então, está Ele querendo defender? Novamente precisamos analisar o contexto e a quem Jesus está Se dirigindo.

Em parte, Ele referia-se aos costumes dos escribas e fariseus. Na tradição rabínica, cada pessoa tinha permissão para desforrar-se até a letra da lei do olho por olho. Era permitido que toda pessoa se tor­nasse juiz, jurado e algoz. A lei de Deus era usada pelos que liam um lado só do AT para justificar a retaliação. Por isso, Je­sus está falando acerca da justificação legalista deles mesmos.

Mas Jesus está falando também aos Seus seguidores, cuja justiça deve exceder a dos líderes religiosos judaicos. Seu destaque, em Ma­teus 5: 39, tem mais a ver com o que não devemos fazer do que com o que devemos. Oferecer o outro lado simboliza o espírito não vingati­vo, humilde e manso que deve caracterizar os cidadãos do reino.

Nas três ilustrações dadas em Mateus 5: 39 a 41, Jesus está dizendo, em suma, que devemos morrer para nós mesmos. Ele deseja mudar tan­to nosso coração como nossas expressões exteriores. No momento em que sou ferido, quero me desforrar. Isso é o que preocupa Jesus. Ele diz que devemos nos libertar desse espírito. Devemos morrer para nós mes­mos e para nosso orgulho. Precisamos aprender a ser como Jesus, que aguentava insultos pessoais sem retribuir. Devemos deixar a vingança com Deus.

Para isso, precisamos da graça[20].

 

40 - E àquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também veste.

PLEITEAR - Na pelejas jurídicas muitas vezes era solicitado um penhor para a causa, e muitas pessoas que eram pobres não possuíam qualquer outro bem a não ser uma túnica ou capa, grego: himatiom, manto exterior. A lei de Moisés proibia o penhor durante a noite (Êxodo 22:22 a 27).

Isto é, fazer comparecer adiante de um tribunal. No grego diz que não se tratava de um, juízo já iniciado, senão que simplesmente existia a possibilidade de uma ação legal[21]

TÚNICA - Grego: jiton, a prenda, similar a uma camisa, que se levava sobre a pele[22]

DEIXA-LHE - O cristão tem de se submeter calado e manso ante um agravo[23]

VESTE - CapaGrego: himátion, o manto exterior, ou capa, que costumava usar como coberta pela noite, e que era diferente de um jiton. Muitas vezes um pobre não tinha nenhuma outra coisa que dar como prenda senão sua capa. No entanto, a lei de Moisés proibia que o credor retivesse essa vestimenta como prenda durante a noite (Êxodo 22: 26 a 27). Em vista de que a capa era considerada mais essencial do que a túnica, ou vestimenta interior, cedê-la sem resistência demonstraria uma concessão maior, sobretudo em vista de que a lei outorgava ao dono certos direitos sobre sua capa[24].

Jesus passa a dizer que se alguém tratar de tomar a túnica em juízo, não só devemos permitir isto, mas oferecer também a capa. Aqui tem um ensino bem maior do que aparece a simples vista.

A túnica, jitôn, era a camisa larga interior que se fazia de algodão ou de linho. Até o mais pobre tinha uma muda de túnicas. A capa era a peça de roupa exterior grande, de abrigo que se colocava sobre a túnica, e que se usava como manta para a noite. Desta o judeu não possuía mais que uma. Dizia expressamente a lei judaica que a túnica de um homem se lhe poderia reter como penhor, porém não a capa: Se tomares o manto de teu próximo em penhor, tu lho restituirás antes do por do sol. Porque é com ele que se cobre, é a veste do seu corpo: em que se deitaria? Se clamar a mim, eu ouvirei, porque sou compassivo (Êxodo 22: 25 e 26). O detalhe é que não era legal reter de uma pessoa a capa permanentemente.

O que Jesus está dizendo é que: O cristão não insiste jamais em seus direitos; nunca discute seus direitos legais; não considera que tem direitos legais em absoluto.

Há pessoas que não fazem mais que insistir em seus direitos, que se debatem em seus privilégios e não se deixa arrebatar, vão aos tribunais militantemente antes que sofrer o que consideram a menor infração deles. As igrejas estão tragicamente cheias de pessoas assim: carregadas cujo território tem sido invadido, o aos que não se tem assegurado um lugar me­recido; das juntas que realizam seu criticam com o regulamento sempre em cima da mesa, não seja que invada alguém seus direitos.

 Estas pessoas não tem nem sequer iniciado sua vida cristã. O cristão não pensa em seus direitos mas nos seus deveres; não em seus privilégios, mas em suas responsabilidades. O cristão é uma pessoa que esquece se tem direitos ou não; e o que luta até a morte legal por seus direitos, dentro o fora da igreja, está longe do caminho cristão[25].

 

Morrendo Para Si Mesmo

E, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa (Mateus 5: 40).

Isso não é fácil de ser colocado em prática. Semelhante ao verso 39, que diz que devemos oferecer o outro lado do rosto, esse verso, a respeito de deixar também a capa, atinge o centro de nossa defesa pes­soal.

Para compreendermos o que Jesus quer dizer em Mateus 5: 40, pre­cisamos analisar melhor as Suas palavras. A túnica era uma veste inte­rior, tipo saco, feita de algodão ou linho. Todas as pessoas, exceto as mais pobres, possuíam mais de uma túnica. A capa, por outro lado, era uma veste exterior quente, tipo de um cobertor, que a pessoa usava co­mo manto durante o dia e como cobertor à noite. A pessoa comum só tinha uma capa.

A lei judaica sustentava que a túnica de uma pessoa podia ser re­cebida como garantia, mas não a capa, a menos que fosse devolvida an­tes do pôr do sol (Êxodo 22: 26 e 27). O fato é que, por lei, a capa de uma pessoa não podia ser tomada de modo permanente.

Bem, você pode estar se perguntando: O que está Jesus nos dizen­do, então? Ele está nos dando um conselho que não queremos ouvir. Es­tá nos dizendo que a preocupação com os nossos direitos não deve ser o centro de nossa vida cristã. Jesus está dizendo mais uma vez que pre­cisamos morrer para nós mesmos. William Barclay faz a seguinte colo­cação: O cristão não pensa em seus direitos, mas em seus deveres; não pensa em seus privilégios, mas em suas responsabilidades. Cristão é uma pessoa que se esqueceu de que tem algum direito; e, aquela que lu­ta até a morte por seus direitos legais, dentro ou fora da igreja, está lon­ge do caminho cristão.

O ensino de Jesus acerca da capa não quer dizer que um cristão jamis lutará pelos direitos de outros ou pela integridade da lei e da or­dem. Mas quer dizer que ele morreu para si mesmo. Essa era a lição do verso anterior também. Naquele verso, entretanto, tinha a ver com a nossa pessoa; nesse tem a ver com as nossas propriedades. Jesus real­mente espera que sejamos semelhantes a Ele[26].

 

41 - e se alguém te obriga andar uma milha, caminha com ele duas.

OBRIGA - Grego: aggaréuô, obrigar a servir. A palavra ággaros é um vocábulo tomado do persa, e relacionado com o verbo anterior. Significa correio de cavaloOs persas usavam este termo para designar os correios reais do sistema imperial de postais que eles aperfeiçoaram até chegar a um magnífico grau de eficiência Ester 3: 13. Nos tempos dos romanos, aggaréuô e ággaros se referiam ao serviço obrigatório do transporte de apetrechos militares. Epicteto iv. 1. 79 aconselha com respeito a este serviço: Se há um requisito e um soldado toma o asno, deixa-o ir. Não te resistas nem te queixes, porque caso contrário te espancarão no final, perderás o asno também. Resistir era provocar um trato cruel. Em Mateus 27: 32 e Marcos 15: 21 se emprega o verbo aggaréuô quando se obrigou Simão que levasse a cruz de Cristo. 

    Jesus se refere a tais casos como quando um soldado romano exigia a um civil judeu que levasse sua bagagem durante uma milha, como o mandava a lei em Lucas 3: 14. O cristão deveria prestar um serviço duplo do exigido pela lei, e deveria fazê-lo com alegria. Em Cafarnaum tinha uma guarnição militar romana e enquanto Jesus falava, os que escutavam viam passar um grupo de soldados romanos por um caminho vizinho. Os judeus esperavam e criam que o Messias humilharia o orgulho de Roma. Aqui Jesus aconselhou submissão ante a autoridade romana[27].

3. Jesus passa então a falar de que lhe obrigue a andar uma milha; e diz que em tal caso, o cristão deve estar disposto a ir duas milhas.

Aqui temos uma cena que se refere a um país ocupado. A palavra que se usa para obrigar é o verbo angareuein, que é uma palavra com história. Deriva do nome angareus, que era a palavra persa para um correio. Os persas desenvolveram um sistema postal maravilhoso. Todas as rodovias estavam divididas em etapas a serem percorridas em um dia. Em cada etapa havia comida para o correio e água e pensão para os cavalos, local de repouso. Porem, se algo faltasse, se podia requisitar a qualquer pessoa, obrigando a dar co­mida, alojamento, cavalos, ajuda, e até a levar mesmo a mensagem a próxima etapa. A palavra que indicava esta obrigação era angareuein.

Finalmente esta palavra acabou sendo usada para qualquer classe de requisição obrigatória para qualquer serviço em um país ocupado. Em tal situação se podia obrigar aos cidadãos a que providenciassem alimentos, e alojamento, e levassem o equipamento. Algumas vezes o poder imponha seu direito de requisitar da maneira mais tirânica e desconsiderada. Este perigo sempre pendia sobre as cabeças dos cidadãos. A Palestina era um país ocupado. Em qualquer momento um soldado romano podia dar um golpe no ombro de um homem com a ponta da espada, e sabia que o cidadão estava obrigado a servir, até da maneira mais vulgar. Isto foi o que se passou com Simão de Cirene quando lhe obrigaram (angareuein) a levar a cruz de Jesus.

Assim, o que Jesus está dizendo é: Suponha que teus amos te apresentam e te obrigam a atuar de guia ou acompanhá-lo por uma milha. Não vás com ressentimentos amargos. Esteja disposto a ir duas milhas com boa disposição e graça. E Jesus continua: Não fiques sempre pensando em tua liberdade para fazer o que te dê prazer; pensa sempre em teu dever e em teu privilégio de ser útil aos outros. Quando se te impuserem uma tarefa, mesmo que seja injusta e odiosa, não a cumpras com maldade e com ressentimento; mas como um serviço que se faz de bom grado.

Há duas maneiras de se fazer as coisas. Pode-se fazer o mínimo irredutível, e nenhum milímetro mais; se pode fazer de forma que seja bem claro que seja asqueroso o assunto; pode fazer com o mínimo de eficácia, e nada mais. Ou se pode fazer com alegria, com simpatia cortesia; com o propósito, não só de fazer o que seja, mas de fazê-lo bem e com agrado. Pode fazer, não só tão bem como se deve, mas muito melhor do que nada tenha direito a esperar de um. O obreiro incompetente, o subordinado ressentido, o ajudante obrigado, não tem sequer ideia do que é a vida cristã. Ao cristão não lhe corresponde fazer as coisas como quer, mas simplesmente ajudar, ainda que a demanda de ajuda seja descortês, irrazoável e tirânica.

Nesta passagem, sob a orientação de quadros gráficos, Jesus estabelece três grandes regras: O cristão não deve ter ressentimento nem buscar revanche por um insulto, por muito calculado e humilhante que seja; o cristão não deve ser regido por seus direitos legais ou outros que creia possuir; o cristão não deve reclamar seu direito com a finalidade de levar vantagem, mas saber que seu dever é sempre ajudar. A questão é: Como se conseguir isto?[28].

 

A Segunda Milha

Se alguém te obrigar a andar a uma milha, vai com ele duas (Mateus 5: 41).

A figura de linguagem em nosso verso é estranha para nós, mas bem conhecida entre os ouvintes de Jesus. A lei romana da­va a um soldado o direito de recrutar um civil para andar uma milha romana carregando a mochila dele. A Palestina era um território ocu­pado; a qualquer momento um judeu podia sentir no ombro o toque de uma lança romana e saber que estava sendo coagido a servir os roma­nos. Isso foi o que aconteceu com Simão Cireneu, quando foi coagido a carregar a cruz de Jesus.

A lei se destinava a aliviar o soldado, mas era considerada vil por­que fazia com que os oprimidos carregassem o equipamento de seus opressores. Essa tarefa incitava o temperamento de muitos judeus.

Aqui reaparece o radicalismo de Jesus. Não só deviam Seus segui­dores carregar as cargas pela distância exigida, como também deviam se oferecer para andar uma segunda milha, sem ressentimento. Jesus está dizendo aos Seus seguidores que eles nunca devem resmungar por causa de coisas pequenas. Devem cumprir seu dever com um sorriso, mesmo que não estejam sendo tratados com a dignidade da qual se consideram merecedores. Os cristãos não devem jamais ser trabalhado­res ineficientes, servos ressentidos, ou ajudantes descorteses. Ao con­trário, os cristãos devem desempenhar toda tarefa com alegria, fazen­do o melhor. Eles não defraudam nos impostos quando sentem o toque da espada de lâmina larga do governo.

As três ilustrações que temos estudado em Mateus 5: 39 a 41 salientam o mesmo ponto. As ilustrações de oferecer o outro lado do rosto, entregar também a capa e andar uma segunda milha sugerem a crucifixão do eu, o ponto central dos ensinos de Jesus. É a defesa do eu e seus direitos que nos leva a assumir o papel de Deus e desforrar-nos contra erros supostos ou reais. Jesus ilustrou isso em termos de nossa pessoa, nossas propriedades ou nosso trabalho. Como cristãos, deve­mos renunciar a nossa defesa e sensibilidade próprias. Se realmente as­sim fizermos, a igreja será um lugar maravilhoso[29].

 

42 - Dá ao que te pede e não voltes às costas ao que te pede emprestado.

A base dos cidadãos do reino do céu e dar e não receber, em contraposição aos desejos humanos de poder, de ser servido por todos, o cristão almeja cada vez servir mais, e a generosidade lança fora um mal: o egoísmo.

NÃO VOLTES - cidadãos do reino dos céus sentirão impulsos generosos e atuarão conforme a eles (Lucas 6: 30)[30].

 

O DAR GENEROSO

Por último, Jesus nos convida a dar a todos o que nos peçam, e não nos evadirmos de quem quer que lhe emprestemos algo. Em suma, a lei judaica de dar era encantadora. Baseia-se em Deuteronômio 15: 7 a 11.

Quando houver um pobre em teu meio, que seja um só de teus irmãos numa só das tuas cidades, na terra que Iahweh teu Deus te dará, não endurecerás teu coração, nem fecharás a mão para com este teu irmão pobre, pelo contrário: abre-lhe a mão, emprestando o que lhe falta, na medida da sua necessidade. Fica atento a ti mesmo, para que não surja no teu coração um pensamento vil, como dizer: Eis que se aproxima o sétimo ano, o ano da remissão, e o teu olho se torne mau para com te irmão pobre nada lhe dando: ele clamaria a Iahweh  contra ti, e em ti haveria um pecado. Quando lhe deres algo, não dês com má vontade, pois em resposta a este gesto, Iahweh teu Deus te abençoará em todo teu trabalho, em todo empreendimento de tua mão. Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde, e do teu pobre em tua terra!

O detalhe do sétimo ano é que a cada sete anos se cance­lavam todas as dívidas, e quem fosse mesquinho poderia se recusar a emprestar quando se aproximava esse ano, cancelando-se a dívida e quitando-se o que tivesse emprestado.

Essa passagem se baseava na lei judaica sobre dar. Os rabinos estabeleceram cinco princípios que deviam governar a dádiva.

1. Não se pode negar nada. Tem cuidado de não recusar a caridade, porque a todos os que recusam se põe na mesma categoria que dos idólatras. Se uma pessoa se negava a dar, poderia chegar o dia que tivesse que pedir esmola, e talvez das mesmas pessoas as quais lhes houvesse negado sua ajuda.

2. O que se deve corresponder à pessoa a quem se lhe dá. A lei de Deuteronômio havia dito que se deve dar à pessoa que necessite.  Diz que não se deve dar só imprescindível para seguir vivendo, mas o necessário para reter ao menos algo de nível e comodidade que teve um dia. Assim, se diz que Hilllel entregou as coisas para que o filho de uma família nobre, que havia vindo, se lhe desse, não simplesmente o necessário para que não morresse de fome, mas, para ter um cavalo e poder cavalgar, e um escravo para que corresse adiante dele; e uma vez, quando não havia nenhum escravo disponível, Hillel mesmo atuou como seu escravo e foi correndo diante dele. Há muito de generosidade e de en­canto na ideia de que dar não deve ser exclusivamente para sobrelevar a pobreza, mas para aliviar a humilhação de quem recebe.

3. O dar se deve ser efetuado de maneira privada e secreta. Nada tem que estar presente. Os rabinos até chegaram a dizer que, na classe mais elevada de dar, o que dá não deve saber a quem se dá, e o que recebe não deve saber de quem recebe. Havia certo lugar no templo em que se ia secretamente para depositar as ofertas; e essas ofertas secretas eram usadas em segredo para ajudar os membros empobrecidos das famílias que haviam sido nobres, e para prover às filhas destas famílias empobrecidas os dotes, sem os quais não podiam se casar. Os melhores judeus haviam desprezado o ato de dar que se fizesse por prestigio, publicidade ou autoglorificação.

4. A maneira de dar deve estar em consonância com o caráter e o temperamento do que recebe. A regra era que se uma pessoa tivesse meios, mas era demasiada mesquinha para usá-los, deveria fazer uma doação, e logo reclamar de sua parte como um empréstimo. Mas se a pessoa era dema­siado orgulhosa para pedir ajuda, o rabino Ismael sugeria que o doador deveria dirigir-se a ela e dizer: Meu amigo, o melhor que necessitas é de um empréstimo. Assim se respeitava sua dignidade; porém logo não se reclamava o empréstimo, porque na realidade havia sido um presente. Chegava-se até a estabelecer que, se uma pessoa era incapaz de responder a um pedido de ajuda, sua negativa devia ser tal que mostrasse que, se não podia dar outra coisa, pelo menos contribuiria com sua simpatia. Até uma negativa havia de ser de tal maneira que ajudaria e não ofenderia. O dar havia de elevar-se de forma que a maneira como se fizesse ajudaria a aproximação.

5. O dar era ao mesmo tempo um privilégio e uma obrigação, porque na realidade era a Deus a Quem na realidade se dava. Dar alguma ajuda a uma pessoa necessitada era algo que não se escolha fazer, mas algo que se devia fazer; porque, se negava, Se estava negando realmente a Deus. Quem faz caridade ao pobre empresta a Iahweh, e ele dará sua recompensa (Provérbios 19:17). A todo aquele que tem misericórdia de outras pessoas se lhe mostra misericórdia desde o princípio; porém ao que não tem misericórdia dos demais, não se mostra misericórdia desde o princípio. Os rabinos se encantavam de indicar que a misericórdia era uma das poucas coisas na qual a lei não lhes punha limites.

Quer isto dizer que Jesus impôs aos homens somen­te o que poderia chamar-se um dar indiscriminado? Não se pode dar uma resposta sem combinações. Está claro que o efeito de dar no que recebe deve ter-se em consideração. O dar nun­ca deve ser tal maneira que o que recebe se anime a receber sem responsabilidade, porque seria só prejudicial. Mas, ao mesmo tempo, tem que se recordar que muitas pessoas que dizem que não darão nada mais e o farão somente através de canais oficiais, e que se negam a ajudar diretamente nos casos pessoais, estão na realidade frequentemente buscando uma desculpa para não dar, e estão suprimindo completamente o elemento pessoal de dar. E há que se ter presente também que é melhor ajudar a uma quantidade de pedintes frau­dulentos do que correr o risco de rechaçar a um que está ver­dadeiramente necessitado[31].

 

Devo Dar a Todos os Pedintes?

Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe empreste. (Mateus 5:42).

Será que isso quer dizer que, como cristão, devo dar a cada bêba­do que me pedir dinheiro? Quer dizer que os banqueiros cristãos nun­ca devem recusar um empréstimo, mesmo a um defraudador?

Assim como os ensinos de Jesus sobre o outro lado do rosto, a ca­pa e a segunda milha, esse ensino, se interpretado de maneira literal e mecânica, pode parecer ridículo.

Nosso Senhor não está nos encorajando a apoiar bêbados e defrauda­dores. Mas todos temos de enfrentar tais pessoas, por isso devemos anali­sar cuidadosamente o que Jesus quis dizer e o que significa ajudar alguém.

Lembro-me do tempo em que servi como pastor associado da Igre­ja Central de São Francisco. Parecia que mais pedintes do que seria a nossa cota vinham à porta da igreja pedir alguma coisa. A maioria de­les não pedia dinheiro para cerveja ou vinho. Geralmente diziam que tinham esposa e três filhos e precisavam de mantimento para eles.

O pastor geral e eu queríamos ser fiéis aos ensinos de Jesus, mas queríamos também ajudar de verdade essas pessoas. Não achávamos que devíamos dar dinheiro a elas, porque poderiam gastar em bebida.

Nossa solução foi fazer um acordo com o pessoal do armazém local para aceitar nosso cartão comercial com uma lista: leite, pão e frutas e nossa assinatura. Quando eles atendiam a uma pessoa necessitada com nosso cartão assinado, preparavam uma sacola de compras para aque­la pessoa e nos enviavam a conta.

O mais interessante é que a maioria dos cartões nunca chegava ao armazém, porque as pessoas não estavam interessadas em alimento. Mas a estratégia nos ajudou a ser fiéis às instruções dadas por Jesus e ao mesmo tempo procurar realmente ajudar as pessoas.

Jesus deseja que ajudemos os que verdadeiramente necessitam. É importante que, em caso de dúvida, presumamos o melhor para que não fechemos a porta aos que realmente necessitam. Esse, porém, é um caso em que precisamos ser prudentes.

O ato de dar, enquanto isso, abre nosso coração e nos ajuda a ser generosos em vez de egoístas. Nesse processo, estamos sendo transfor­mados à imagem de Jesus[32].

 

O Espírito de Tudo Isso

Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim (Gálatas 2:19 e 20).

Nos últimos dias temos estudado sobre o problema da retaliação, do desejo humano de ferir aqueles que nos ofendem. Afi­nal, achamos que eles merecem!

E provavelmente merecem mesmo, na maioria dos casos. Mas pen­se por um momento. O que seria de nós se Deus nos desse o que mere­cemos por termos ferido a Ele e a outros dentre Seus filhos? Mas reco­nheçamos que, se Deus nos desse o que merecemos, seríamos simples­mente umas manchas de graxa poluindo a paisagem.

Deus não nos dá o que merecemos. Ele dá o que precisamos.

E o que é que precisamos? Compreensão, perdão, amor... Isso é exatamente o que outras pessoas que nos prejudicam precisam tam­bém. O cristão deve agir com elas como Deus –deve dar às pessoas o que elas precisam e não o que merecem.

Mas você deve estar pensando que isso não é normal. Correto! Deus quer que vivamos uma vida anormal em termos de padrões deste mundo. Ele deseja que procedamos como Ele e não como o diabo.

Agora, isso sim é radicalismo. Sem dúvida! É o mais radical que al­guém pode ser. Significa crucificar os velhos hábitos de defesa pessoal, orgulho e desforra e nascer de novo à semelhança de Jesus, Aquele que tanto amou o mundo que morreu por ele – por mim e por você, uma vez por todas.

Religião é algo sério. Não é um jogo entre pessoas que são muito velhas para pecar ativamente. Pelo contrário, o cristianismo represen­ta uma mudança no coração, não na biologia. Significa deixar Jesus vi­ver Sua vida em nós.

O chamado não é para argumentar se devemos realmente oferecer a outra face ou andar uma segunda milha, mas para demonstrarmos sempre uma atitude serviçal e humilde.

Isso exige a graça divina - a graça que transforma e habilita[33].

 

Boas Razões Para Morrer Para Si Mesmo

E, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando­-Se obediente até à morte e morte de cruz (Filipenses 2:7 e 8).

Jesus sempre foi Deus. No entanto, veio a este mundo como um ser hu­mano. Esse é o mistério do Universo. É quase como se alguém se tornas­se uma formiga, exceto que, pelo que sabemos acerca do tamanho e da complexidade do Universo, é infinitamente mais fácil sermos compara­dos a formigas do que Deus aos seres humanos. A verdade é que Jesus Se humilhou para tornar-Se como nós, e Se humilhou ainda mais para mor­rer por nós, especialmente para morrer como criminoso, na cruz.

A ideia central nas passagens que tratam da segunda milha e de oferecer a outra face, conforme percebemos neste estudo, não é exatamente a maneira como devemos viver dia a dia, mas a atitude ou espírito com que devemos viver. Devemos viver a vida crucificada.

Por que devemos fazer isso? Porque nosso eu não crucificado é a maior causa de problemas pessoais. Pense nisso. Por que eu quero me desforrar? Porque alguém feriu meu orgulho, ou me derrotou em algu­ma recompensa financeira e assim por diante. Como resultado, minha defesa pessoal ou egoísmo imediatamente se inflama e estou pronto para a guerra.

O que torna o Sermão do Monte tão difícil é que ele diz claramen­te que precisamos deixar que Deus destrua essas atitudes e reações. Como cristãos, reconhecemos que o eu é a principal causa de in­felicidade. A defesa pessoal, a cobiça e a preocupação com a dignida­de própria nos consomem. Tais coisas não só destroem nossa paz, mas nos levam a destruir a paz dos outros e vice-versa. E o que se aplica em nível individual, se aplica também em nível internacional. Enquanto escrevo esta matéria, a guerra no território da antiga Iugoslávia au­menta cada vez mais, porque um lado sente-se impulsionado a recon­quistar as terras e o outro a proteger o que conquistou.

Assim, a situação do mundo continua indefinidamente. Mas Jesus deseja colocar um fim nessa situação, primeiramente em nosso coração e finalmente, no sentido cósmico, por ocasião do segundo advento[34].

 

Santo Como Deus

Portanto, estejam com a mente pronta para agir; sejam sóbrios e coloquem toda a esperança na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado. Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância. Mas assim como é santo Aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: Sejam santos, porque Eu sou santo (I Pedro 1:13 a 16).

Ser santo é um mandamento da Bíblia. Mas o que significa ser santo? Alguns consideram como ponto central da santidade a manei­ra como guardam o sábado. Outros acham que ser santo é ser fiel no regime alimentar ou nos dízimos e ofertas, ou ainda em todas essas coi­sas e outras mais. Mas essas outras mais são definidas em termos de ações exteriores. Tal definição reproduz o mesmo problema contra o qual Jesus está falando: o problema da santidade deficiente dos escri­bas e fariseus.

Eles eram bons em todas essas coisas. Na verdade, se orgulhavam por sua conduta ser muito superior à de outras pessoas. Desse modo, seu comportamento se tornava parte do problema, embora estivessem exteriormente fazendo tudo para agradar a Deus.

Mas como pode ser isso? Como podiam eles ser deficientes em san­tidade, se eram escrupulosos na guarda do sábado, rigorosos nos dízi­mos e ofertas e cuidadosos no regime alimentar?

O problema deles era que a motivação para a santidade tinha suas raízes na coisa errada. Fundamentava-se no amor a si mesmos em vez de em seu amor a Deus e às outras pessoas.

A verdadeira santidade não se fundamenta essencialmente em ações, mas em atitudes. Afinal de contas, verdadeira santidade signifi­ca que fui liberto da vida centralizada no eu. Significa que minha vida está centralizada com Deus em Cristo. Quer dizer que o centro da mi­nha vida não está mais naquilo que outros pensam de mim ou podem fazer por mim, mas naquilo que eu posso fazer pelos demais.

Verdadeira santidade é a necessidade máxima do nosso mundo. É também a minha maior necessidade hoje. A santidade é a essência do reino de Deus. É desejo de Deus que eu seja santo como Ele é santo[35].

 

LEITURA ADICIONAL

Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra (Mateus 5: 39)

         Surgiam constantemente ocasiões de irritação para os judeus em razão de seu contato com a soldadesca romana. Destacamentos de tropas achavam-se estacionados em vários pontos através da Judéia e da Galileia, e sua presença lembrava aos judeus a própria degradação como um povo. Com amargura ouviam eles o alto soar da trombeta, e viam as tropas formando em torno das bandeiras romanas, curvando-se em homenagem ante este símbolo de seu poder. Frequentes eram os choques entre o povo e os soldados, choques que acendiam o ódio popular. Muitas vezes, quando algum oficial romano ia, apressado, de um lugar para outro, acompanhado de sua guarda, lançava mão dos camponeses judeus que trabalhavam no campo, forçando-os a carregar fardos, montanhas acima ou a prestar outro qualquer serviço de que necessitassem. Isto estava em harmonia com a lei e o costume romanos, e a resistência a exigências desta ordem apenas daria lugar a sarcasmos e crueldades. Dia a dia se aprofundava no coração do povo o anseio de sacudir o jugo romano. Especialmente entre os ousados galileus de rijos pulsos, era predominante o espírito de insurreição. Como cidade fronteiriça, era Cafarnaum sede de uma guarnição, e mesmo enquanto Jesus estava ensinando, a visão de um grupo de soldados evocou a Seus ouvintes a amarga lembrança da humilhação de Israel. O povo olhava ansiosamente para Cristo, esperando que fosse Ele que haveria de humilhar o orgulho romano. 

         Foi com tristeza que Jesus contemplou as faces voltadas para Ele. Observava o espírito de vingança que estampara seus maus traços sobre eles, conhecendo quão veementemente ansiava o povo o poder a fim de esmagar seus opressores. Com tristeza, Ele lhes ordena: Não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra (Mateus 5:39)

         Estas palavras não eram senão uma reiteração do ensino do AT. É verdade que a regra: olho por olho, dente por dente (Levítico 24:20) era uma providência nas leis dadas por intermédio de Moisés; era, porém, um estatuto civil. Ninguém seria justificado em se vingar a si mesmo; pois tinham as palavras do Senhor: Não digas: Vingar-me-ei (Provérbios 20:22). Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele (Provérbios 24:29). Quando cair o teu inimigo, não te alegres (Provérbios 24:17). Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e, se tiver sede, dá-lhe água para beber (Provérbios 25:21)

Toda a vida terrestre de Jesus foi uma manifestação desse princípio. Foi para trazer o pão da vida a Seus inimigos, que nosso Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem que se amontoassem sobre Ele calúnias e perseguições desde o berço até a sepultura, estas não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa. Por intermédio do profeta Isaías, Ele diz: As Minhas costas dou aos que Me ferem e a face, aos que me arrancam os cabelos; não escondo a face dos que Me afrontam e me cospem (Isaias 50:6). Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca (Isaias 53:7). E, através dos séculos, chega-nos da cruz do Calvário Sua oração pelos que Lhe causavam a morte, e a mensagem de esperança ao ladrão moribundo. 

A presença do Pai circundou a Cristo e nada Lhe sobreveio sem que o infinito amor permitisse, para a bênção do mundo. Aí estava Sua fonte de conforto, e ela existe para nós. Aquele que estiver impregnado do Espírito de Cristo habita em Cristo. O golpe que lhe é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua presença. O que quer que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao mal, porque Cristo é sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão de nosso Senhor; e todas as coisas que são permitidas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8: 28)

Ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta túnica, larga-lhe também a capa manto; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas (Mateus 5:40 e 41)

         Jesus ordenou a Seus discípulos que, em vez de resistir às exigências dos que se acham em autoridade, fizessem ainda mais do que lhes era exigido. E, o quanto possível, desempenhassem de qualquer obrigação, mesmo que fosse além do que exigia a lei da Terra. A lei, segundo fora dada por Moisés, recomendava uma mui terna consideração para com o pobre. Quando um homem pobre dava sua roupa em penhor, ou em garantia por uma dívida, não era permitido ao credor entrar-lhe em casa a fim de ir buscar; devia esperar na rua para que o penhor lhe fosse levado. E fossem quais fossem as circunstâncias, o penhor devia ser restituído a seu dono ao pôr do sol (Deuteronômio 24:10 a 13). No tempo de Cristo essas misericordiosas providências eram pouco atendidas; mas Jesus ensinou Seus discípulos a se submeterem à decisão do tribunal, mesmo que esta exigisse além do que autorizava a lei de Moisés. Ainda que requeresse uma parte de seu vestuário, deviam submeter-se. Mas ainda, deviam dar ao credor o que lhe era devido, se necessário entregando mesmo mais do que o tribunal o autorizava a tomar. Ao que quiser pleitear contigo, disse Ele, e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa (Mateus 5:40). E se os mensageiros vos exigirem que andeis com eles uma milha, ide com eles duas

Jesus acrescentou: Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes (Mateus 5:42). A mesma lição fora ensinada por intermédio de Moisés: Não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade (Deuteronômio 15:7 e 8). Esta escritura esclarece o sentido das palavras do Salvador. Cristo não nos ensina a dar indiscriminadamente a todos quantos pedem por caridade; mas diz: Livremente lhe emprestarás o que lhe falta; e isto deve ser uma dádiva, de preferência a um empréstimo; pois cumpre-nos emprestar sem nada esperar (Lucas 6: 35).

Aquele que se dá a si mesmo com sua esmola, está nutrindo a três de uma só vez: A sim, bem como ao próximo, a quem consola; nutre também a Mim[36].



[1] BJ, p. 1.846.

[2] CBASD, vol. 5, p. 324.

[3] CBASD, vol. 5, p. 329.

[4] CBASD, vol. 5, p. 324.

[5] CBASD, vol. 5, p. 329.

[6] BJ, p. 137.

[7] CBASD, vol. 1, pp. 628 e 629.

[8] CBASD, vol. 5, p. 629.

[9] CBASD, vol. 1, pp. 628 a 631.

[10] Bíblia Anotada, Editora Mundo Cristão, Charles C. Ryrie, 172 e 1.189.

[11] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 190 a 192.

[12] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 155.

[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 156.

[14] CBASD, vol. 5, p. 325.

[15] BJ, 1289.

[16] CBASD, vol. 5, p. 329.

[17] CBASD, vol. 5, p. 329.

[18] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 193 a 194.

[19] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 157.

[20] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 158.

[21] CBASD, vol. 5, p. 329.

[22] CBASD, vol. 5, p. 329.

[23] CBASD, vol. 5, p. 329.

[24] CBASD, vol. 5, p. 329.

[25] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 194 a 195.

[26] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 159.

[27] CBASD, vol. 5, pp. 329 e 330.

[28] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 195 a 197.

[29] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 160.

[30] CBASD, vol. 5, p. 330.

[31] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 197 a 200.

[32] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 161.

[33] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 162.

[34] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 163.

[35] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 164.

[36] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 69 a 73.