160 Texto:

 

O Olhar Adúltero  

 

 

27 - Ouvistes que foi dito: não cometerás adultério.

 

OUVISTE - Novamente Jesus reporta-se ao Decálogo, lembrando do Escrito Sagrado, não contesta a grandeza da lei, mas amplia a sua abrangência.

 

O ensino tradicional se transmitia oralmente, sobretudo nas sinagogas[1].

 

Jesus apresenta agora exemplos específicos de sua interpretação da lei. Como Autor e seu único verdadeiro Expositor. Pondo de lado a casuística rabínica, Jesus restaurou a verdade a sua formosura original. A expressão ouvistes implica que a maioria dos ouvintes nesta ocasião não tinham lido eles mesmos a lei. Isto era de se esperar, porque a maioria deles eram rudes lavradores e pescadores. Quando conversou mais tarde com os eruditos sacerdotes e anciãos, Jesus perguntou: Nunca lestes nas Escrituras? Mateus 21: 42. No entanto, esse mesmo dia um grupo de pessoas comuns do povo, dentro do átrio do Templo, dirigiu-se a Jesus dizendo: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre João 12: 34[2].

 

FOI DITO - Ao citar a antigos expositores da lei, os rabinos com freqüência apresentavam o que esses eruditos tinham dito, com as palavras que Jesus emprega aqui. Nos escritos rabínicos estas palavras se usam também para apresentar citações do AT[3].

 

NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO - Esta proibição não só abarca o adultério como a fornicação e impureza de qualquer classe, em atos, palavras e pensamentos Mateus 5: 27 e 28. É um dever para com o próximo que implica em respeito, honra princípios vitais para a existência de uma família. A relação matrimonial é tão importante para os cristãos como a própria vida Hebreus 13: 4. O casamento faz do esposo e esposa uma só carne Gênesis 2: 24. Ser desleal a esta união sagrada, ou induzir outro a fazê-lo, é desprezar o que é sagrado, é crime. Este mandamento se aplica com força ao marido como a esposa Apocalipse 21: 8[4].

 

28 - Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração.

 

EU, PORÉM VOS DIGO - Os rabinos citavam as tradições como autoridade na qual baseavam sua interpretação da lei. Cristo falou por sua própria autoridade, e este fato distinguia seu ensino dos rabinos, o que o povo observou sem demora Mateus 7: 29. A expressão, mas eu vos digo aparece seis vezes em Mateus 5 versos 22, 28, 32, 34, 39, 44. Cristo demonstrou que suas demandas iam muito além da mera letra da lei, e que incluíam o espírito que teria de dar vida e significado ao que de outro modo não era senão forma. Apresentou seis exemplos específicos a fim de deixar em claro a distinção entre os fatos visíveis e os invisíveis que levam a realizar essas reações. Este contraste, que percorre como uma fibra de ouro o Sermão do Monte, faz que o discurso seja a declaração suprema da filosofia cristã da vida, a máxima exposição de ética de todos os tempos. 

 

Cristo destacou quão abarcantes são em verdade os requerimentos da lei e fez ressaltar que a mera conformidade exterior com a lei de nada serve. [5]

 

Essencialmente, os ensinos de Jesus a respeito da relação matrimonial e suas responsabilidades se baseiam no plano original de Deus para o lar que aparece em Gênesis. 2: 21 a 24; Mateus 19: 8, e não na lei mosaica Deuteronômio 24: 1 a 4. Segundo esse plano, o casal devia satisfazer a necessidade de companheirismo Gênesis 2: 18, e devia proporcionar um lar e a devida educação para os filhos que nascessem Gênesis 1: 28; 18: 19; Provérbios 22: 6; Efésios 6: 14. O lar foi estabelecido como um ambiente ideal no qual tanto pais como filhos pudessem aprender de Deus e desenvolvessem caracteres que estivessem à altura dos elevados ideais inerentes no propósito divino que levou a sua criação[6]

 

OLHAR PARA UMA MULHERA beleza feminina é um dom do amante Criador, de quem procede toda verdadeira beleza. A limpa apreciação dessa formosura é correta. A atração que cada sexo tem para o outro foi implantada nos homens e as mulheres pelo Criador, e quando se manifesta dentro dos limites ordenados por Deus, é intrinsecamente boa, mas quando se perverte para servir a interesses ímpios e egoístas, transforma-se numa das maiores forças destruidoras do mundo[7]

 

DESEJO LIBIDINOSO - Cobiçá-la. Grego epithuméó significa: almejar, desejar intensamente, cobiçar. Emprega-se tanto no sentido bom como no mau. Jesus disse aos doze que tinha desejado com intensidade epithumía, epethúmesa comer a páscoa com eles Lucas 22: 15 Neste sentido positivo epithuméo aparecem também em Mateus 13: 17; Lucas 17: 22; Hebreus 6: 11; I Pedro 1: 12; etc. 

 

O substantivo da mesma raiz epithumía, desejo aparece em Filipenses 1: 23; I Tessalonicense 2: 17. Um dos equivalentes hebraicos do verbo epithuméo é hamad, desejar, comprazer-se. Esta é a palavra que se traduz como cobiçar no décimo mandamento Êxodo 20: 17; Deuteronômio 5: 21 e desejar em Isaias 53: 2. Cristo sem dúvida pensava no décimo mandamento quando advertiu na contramão de olhar a uma mulher para cobiçá-la. Isto é, o homem que põe seus afetos e sua vontade em harmonia com o décimo mandamento, dessa maneira se protege de violar o sétimo[8]

 

CORAÇÃO - Grego: kardía, coração, mas que se refere melhor ao intelecto, os afetos e a vontade. Porque qual é seu pensamento em seu coração, tal é ele. Provérbios 23: 7. Cristo destaca que o caráter determina não tanto pelos atos visíveis como pelos sentimentos que motivam esses atos. O externo meramente reflete e incrementa os sentimentos. Aquele que comete ações más se está seguro de que ninguém o saberá e que se reprime de cometê-las só por esse temor, é culpado à vista de Deus. O pecado é em primeiro lugar um ato das faculdades superiores da mente, da razão, do livre arbítrio, da vontade Provérbios 7: 19. A ação visível é meramente um resultado da decisão interna[9].

 

 

O DESEJO PROIBIDO

 

Mateus 5: 27 a 28:

Ouvistes o que foi dito: Não deveis cometer adulté­rio. Eu poém vos digo: O que olha para uma mulher de tal forma que desperte em sí mesmo desejos proibidos em relação a ela, já cometeu adultério com ela em seu coração.

 

Aqui temos o segundo exemplo do novo nível de Jesus. A Lei estabelece: Não cometerás adultério. Éxodo 20: 14. Os mestres judeus tinham uma opinião tão séria sobre o adultério que as partes culpadas podiam ser castigadas com a morte Levítico 20: 10; uma vez mais Jesus esta­belece que não constitui delito aos olhos de Deus somente a ação proibida, mas o pensamento proibido.

 

É nescessário que entendamos o que Jesus está dizendo. Não está falando de um desejo natural, normal, que é parte do instinto e da natureza humana. Segundo o sentido literal da origem o homem que se condena porque olha uma mulher com intenção deliberada de desejar aproveitar-se dela. O homem é condenado por usar deliberada­mente seus olhos para despertar sua concupiscencia, o homem que olha de tal maneira que desperta a paixão e estimula delibe­radamente o desejo.

 

Os rabinos judeus conheciam muito bem a maneira em que se podem usar os olhos para estimular os maus desejos. Tinha em seus ditos: Os olhos e as mãos são os agentes do pecado. O olho e o coração são as duas assistentes do pecado. As paixões se apossam somente do que se vê. Ai de quem segue seus olhos, porque são adúlteros! Há um desejo interior do qual o adultério é somente o fruto.

 

Num mundo de pecado tem muitas coisas desenhadas delibe­radamente para excitar o desejo: livros, cartões, revistas, fo­tografías, películas e anúncios. O homem que Jesus condena no texto é o que usa deliberadamente seus olhos para estimular seus desejos; o homem que encontra um estranho prazer em coisas que despertam sua atração pelo proibido. Todas as coisas são lim­pas para os limpos. Mas o homem cujo coração está contaminado encontra algo para despertar e excitar o mal desejo em qualquer situação[10].

 

Mais que Adultério

 

Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. Mateus 5: 27 e 28.

 

Isto é muito sério. Lembro-me da primeira vez que tentei compreender essa passa­gem. Eu tinha 19 anos de idade, fora batizado poucos meses antes, e havia sido um agnóstico.

 

Ali estava eu em uma loja de conveniências, olhando tolamente para uma mulher enquanto esperava minha esposa. Lógico que eu não estava simplesmente olhando, estava pensando o mesmo tipo de coi­sas que pensava antes de me tornar cristão.

 

De repente, isto me ocorreu com o peso de uma tonelada. O Espí­rito Santo falara à minha consciência de maneira clara e audível. Vo­cê não deve fazer isso. É errado desejar uma mulher e abrigar pensa­mentos como os que você está acolhendo.

 

Não me importei muito com a lição. Eu estivera inocentemente me deleitando, e Ele interrompeu minha meditação. Senti vontade de dizer ao Espírito Santo que fosse passear.

 

Na realidade, eu chegara à fronteira entre a tentação e o pecado. A tentação pode se tornar pecado no momento em que me conscientizo dela, quando reconheço que meus pensamentos vaguearam em terreno proibido. A essa altura, tenho duas escolhas. Posso rejeitar a tentação através do poder de Deus, ou posso escolher me demorar mais na ten­tação e acariciá-la um pouco. Em outras palavras, posso pedir que Deus tome conta de minha vida para que eu consiga vencer, ou posso pedir-­Lhe que suma a fim de que eu possa desfrutar a lascívia pessoal[11].

 

Já descobri que o desejo, pelo pecado voluntário me abandona quando me entrego à oração. E o Espírito de Deus que vem em meu so­corro quando oro, não só para me causar repugnância pelo desejo pe­caminoso, como também para estimular em meu coração o amor cris­tão aos semelhantes, a mim mesmo e a Deus. A partir de então, não desejarei praticar atos que venham prejudicar nem destruir pessoas e relacionamentos.

 

Deus deseja ajudar-nos até mesmo no que se refere aos nossos pen­samentos, se nós Lhe permitirmos.

 

Considerando a Leitura da Bíblia

 

Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus. Lucas 16: 15.

 

O verdadeiro problema dos escribas e fariseus era que eles nun­ca leram os Dez Mandamentos da maneira adequada. Se o tivessem fei­to, teriam visto sua profundidade e compreendido que eles não podem ser lidos isoladamente um do outro. Notamos a poucos dias que, pa­ra Paulo, a lei assumiu novo significado quando ele finalmente com­preendeu o décimo mandamento: Não cobiçarás.

 

Nesse ponto, a magnitude da lei o atingiu em cheio. De repente, ele compreendeu que os Dez Mandamentos abrangem muito mais do que as ações; eles falam dos pensamentos que cercam as ações. Só quando Paulo compreendeu a natureza mental de Não cobiçarás foi que entendeu o significado da lascívia.

 

O problema com a leitura legalística da Bíblia é que ela deixa de al­cançar a intenção e a extensão das recomendações e advertências bíbli­cas. Como resultado, os fariseus dos dias de Cristo sentiam que estariam fora de perigo se evitassem o ato físico do adultério. Concluíram que enquanto não fossem na realidade culpados do ato em si, o sétimo man­damento não lhes dizia respeito e seriam perfeitamente inocentes nes­se aspecto. Quanto ao sexto mandamento, eles tomaram a letra da lei e a reduziram a um aspecto em particular, desse modo invalidando-o.

Esse tipo de leitura das palavras de Jesus, em Mateus 5: 28, deixava a mulher praticamente livre para desejar um homem. Afinal, não ti­nha Jesus falado só a respeito do homem desejando uma mulher?

 

No Sermão do Monte, Jesus coloca um ponto final a toda essa lei­tura legalística de meras palavras. De ponto em ponto, Ele leva à com­preensão do significado mais profundo que as palavras encerram. Ele conduz a mente para além da letra até o significado espiritual que dá vida às palavras. Ele deseja que leiamos com maior entendimento[12].

 

Mais do que os Olhos Vêem

 

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu (Gênesis 3: 6).

 

Quando foi que Eva pecou? Quando tomou o fruto, ou antes de tomá-lo? Pare e pense sobre o assunto. Qual é a sua resposta e que razões vo­cê dá para justificá-la? Quais são as implicações dessas razões? Que re­lação têm essas razões com Mateus 5: 27 e 28?

 

Pense a respeito da seqüência dos fatos em Gênesis 2 e 3. Deus dis­se a Adão e Eva que evitassem a árvore do conhecimento do bem e do mal Gênesis 2: 17, mas o maligno sugeriu a Eva que não se podia con­fiar em Deus Gênesis 3: 1 a 5. Em resultado, Gênesis 3: 6 relata que Eva tomou o fruto e comeu.

 

Ela tomou. Mas observe que algo aconteceu na mente e no cora­ção de Eva antes dela tomar o fruto. Quando tomou o fruto, ela já havia pecado. Em outras palavras, ela dissera a Deus que Se afastasse, que ela sabia melhor do que Ele o que era bom para si mesma. Ela rejeitou a palavra e a vontade Dele, substituindo-as pela própria sabedoria e von­tade. Antes de alcançar o fruto, ela já colocara a sua vontade acima da vontade de Deus. Colocara o eu no trono da sua vida, no centro do seu universo, destronando desse modo o próprio Deus. Na realidade, con­centrara seu amor em si mesma, em vez de concentrá-lo em Deus. Es­sa é a essência do pecado.

 

Eva cometeu pecado no momento em que amou a si mesma e ao de­sejo próprio mais do que a Deus e a Sua vontade. Ela cometeu pecado em seu coração. E o pecado do coração a levou a tomar o fruto e comer. Pecados íntimos do coração conduzem a pecados por meio de atos.

 

Essa é a perspectiva que Jesus está desenvolvendo no Sermão do Monte. Pecado é muito mais do que os olhos podem ver. Pecado en­volve muito mais do que atos. Só porque evito cometer o ato, não quer dizer que sou reto diante de Deus[13].

 

A Profundidade do Pecado

 

Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Romanos 7: 14 e 15.

 

O filósofo grego Platão não era cristão, mas observava atenta­mente a atividade humana. Platão comparou o eu interior das pessoas a alguém cuja tarefa era conduzir dois cavalos. Um cavalo era manso e obediente às rédeas e às palavras de ordem, mas o outro era selvagem, indomável e rebelde. O primeiro cavalo se chamava razão, enquanto o segundo se chamava obsessão.

 

Conquanto a maneira como Platão classificou o problema possa não estar totalmente correta do ponto de vista bíblico, sua análise do problema humano está bem próxima da de Paulo, e ilustra muito bem a luta que enfrentamos dentro de nós mesmos na vida diária.

 

Até mesmo cristãos convertidos têm de lidar com os resíduos do pecado em sua vida. Podemos ter novo coração e nova mente, mas os velhos modos de pensar e agir estão escondidos abaixo da superfície, prontos a saltar para fora e assumir o controle. Por isso, como diz Pau­lo, precisamos morrer dia após dia I Corintios 15: 31. Ou como escreveu Frank Belden, um adventista compositor de hinos: O eu é pior do que um gato com sete vidas, e precisa ser destruído por meio da Palavra diariamente. A santificação progressiva é verdadeiramente uma obra da vida inteira.

 

A raiz do problema humano é a obstinação da natureza pecamino­sa. Quando me uni à igreja, achei que todos que ali estavam desejavam sempre fazer as coisas certas. Fiquei extremamente desapontado. Des­cobri que alguns pensavam estar sempre fazendo a coisa certa; mas eram tão semelhantes aos escribas e fariseus, que fiquei imaginando se eles já haviam se deparado com a primeira parte das bem-aventu­ranças. Sua arrogância espiritual simplesmente fazia com que criticas­sem os outros.

 

É importante que, como cristãos, compreendamos a profundidade do problema do pecado em nossa vida. Só então entenderemos nossa necessidade da generosa graça de Deus para perdão e para verdadeira­mente guardarmos Sua lei[14]

 

O Poder de Deus e o Poder do Pecado

 

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jeremias 17: 9).

 

         Jesus não temia chamar o pecado pelo devido nome. Através dos séculos, os fariseus e outros semelhantes a eles quiseram definir peca­do unicamente como transgressão da lei, apenas como um ato. Mas Je­sus deu fim a tal definição entre os cristãos. O pecado é primeiramen­te algo interior. Depois torna-se exterior.

 

O aspecto interior do pecado pode ser muitas coisas. Primeiro, é a força que escraviza a pessoa. Isso fica claro em Romanos 6: 16, quando Paulo diz que os que praticam o pecado são na verdade seus escravos. A tradução de Romanos 3: 9, na versão da Bíblia na Linguagem de Ho­je, capta essa idéia quando diz que as pessoas estão debaixo do poder do pecado. Os pecados exteriores não são senão os sintomas de uma enfermidade chamada pecado. Contudo, os sintomas não têm impor­tância, mas a doença.

 

Em segundo lugar, ele é sutil. Ele nos ilude e engana, sugerindo ao nosso coração a idéia de que não seremos tão maus, se tão-somente evitarmos atos pecaminosos. Muitos homens e mulheres altamente respeitados, que jamais cometeriam adultério, levam uma vida mental de adultério ou de impureza. Muitas dessas pessoas são fanáticas pelas novelas, pela coluna de divórcios no jornal, ou por formas visuais ou impressas de estimular o erotismo. E muitos são adúlteros vicários.

 

Em terceiro lugar, o pecado exerce um efeito perverso sobre a na­tureza humana. Desse modo, as dádivas divinas do sexo e outros dese­jos ficam desfiguradas de seu propósito legal. E como resultado, exce­lentes e preciosas dádivas são usadas de maneira incorreta.

 

Jesus veio para nos libertar da escravidão, do efeito sutil e perver­so do pecado. O evangelho de Sua graça pode dar-nos força para nos libertar do poder do pecado.

 

Deus deseja me ajudar hoje. Ele deseja agora ajudá-lo também. Hoje é o dia da nossa salvação. Vamos convidá-Lo a entrar em nosso coração e vida agora mesmo, para que possamos neste dia estabelecer uma comunhão mais íntima com Ele. Uma comunhão mais íntima com Deus pode também significar um melhor relacionamento com nosso cônjuge, nossos pais, filhos e demais pessoas[15].

 

29 - Caso teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti, pois é preferível que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado na Geena.

 

TEU OLHO DIREITO- Mateus 18: 8 e 9. Registrou-se Mateus 5: 28 que Cristo, indo além da ação, chamou o atendimento ao motivo que a produz, isto é, a intenção ou forma de pensar que provoca a ação. Aqui vai além do motivo ou a intenção para assinalar as vias pelas quais o pecado consegue entrar na vida: os sentidos que se comunicam com o sistema nervoso. Para a maioria das pessoas os mais fortes incentivos ao pecado são os que chegam à mente pelo caminho dos nervos óptico, auditivo e outros nervos sensoriais[16].

 

O que se nega a ver, escutar, agradar, cheirar ou tocar o que incita ao pecado, ganhou boa parte da batalha para evitar os pensamentos pecaminosos. O que imediatamente elimina os maus pensamentos, quando fugazmente passam como um relâmpago em sua consciência, evita assim a formação de uma maneira de pensar que se faz hábito e que condicionam a mente para que peque quando se apresente a oportunidade. Cristo viveu uma vida sem pecado porque não tinha nele nada que respondesse aos sofismas de Satanás[17]

 

LEVE A PECAR - Grego: skandalízó, ser motivo de tropeço. O termo skándalon, refere-se ao mecanismo que faz funcionar uma armadilha Romanos 11: 9; 14: 13; I João 2: 10; Apocalipse 2: 14[18]

PERCA UM DOS TEUS OLHOS - Num sentido seria melhor viver esta vida sendo cego ou lesado, que perder a vida eterna. Aqui as palavras de Cristo são figuradas. Não pede que se mutile o corpo, senão que se controlem os pensamentos. Negar-se a contemplar o mal é tão efetivo como cegar-se, e tem a vantagem de que se retém a faculdade da vista que pode empregar-se para ver o bom. Algumas vezes, um animal que caiu numa armadilha se corta uma pata a fim de escapar. Do mesmo modo, um lagarto sacrifica sua fila ou um gafanhoto de sacrificar uma de suas pernas. Ao falar de arrancar o olho ou cortar a mão, Cristo fala em forma figurada da ação resolvida da vontade para precaver-se do mau. O cristão fará bem em seguir o exemplo de , quem fez um pacto com seus olhos Jó 31: 1; I Corintios 9: 27[19].

 

GEENA DE FOGO - Era um vale ao sul de Jerusalém, para o qual se deitava todo o lixo da cidade. Lá em tempos anteriores faziam os sacrifícios ao deus Moloch. Era considerado o símbolo do castigo dos maus[20].

 

Literalmente geenna de fogo. Geenna é a transliteração das palavras hebraicas ge" hinnom, vale de Hinom, ou ge ben hinnom, vale do filho de Hinom. Josué 15:  8. Este vale está a sudeste de Jerusalém e se encontra com o vale de Cedron, imediatamente ao sul da cidade de Davi e o tanque de Siloé Jeremias 19: 2. O ímpio rei Acaz parece ter iniciado nos dias de Isaías o bárbaro costume pagão de queimar os meninos, oferecendo a Moloch num alto chamado Tofet, no vale de Hinom II Crônicas 28: 3; Esses ritos abomináveis se descrevem em Levitico 18: 21; Deuteronômio 18: 10; 32: 17; II Reis 16: 3; 23: 10; Jeremias 7: 31. Manasses neto de Acaz, restabeleceu essa prática II Crônicas 33: 1 6; Jeremias 32: 35. Anos depois, o bom rei Josias profanou cerimonialmente os altos do vale de Hinom onde se tinha realizado esse atroz tipo de culto II Reis 23: 10, com o qual se acabaram esses sacrifícios. Como castigo por esse e outros males, Deus advertiu a seu povo que o vale de Hinom num dia seria o Vale da Matança por causa dos corpos mortos deste povo. Jeremias 7: 32 e 33; 19: 6; Isaias 30: 33. Por isso os fogos de Hinom se converteram num símbolo do fogo consumidor do último grande dia de juízo e do castigo dos ímpios Isaias 66: 24. Segundo as idéias escatológicas judaicas, derivadas em parte da filosofia grega, geenna era o lugar onde se reservavam as almas dos ímpios sob castigo até o dia do juízo final e das retribuições. 

 

A tradição que afirma que o vale da Gehenna era uma forma latina do nome era o lugar onde se queimavam os desperdícios, e que, portanto era uma figura do fogo do dia final, parece ter-se originado com o rabino Kimchi, erudito judeu dos séculos XII e XIII. A antiga literatura judaica não contém nada disto. Os rabinos mais antigos basearam a idéia da Gehenna como um símbolo do fogo do último dia em Isaias 31: 9. Ver artigo Hell em Seventh-day Adventist Bible Dictionary[21].

 

De sorte que seus teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Pureza e firmeza de propósito são condições para receber a luz de Deus. Aquele que deseja conhecer a verdade, deve estar disposto a aceitar tudo que ela mostra. Não pode ter nenhuma transigência com o erro. Estar vacilante e morno com a verdade, é preferir as trevas do erro e o engano de Satanás[22].

 

A Cura Cirúrgica

 

Portanto, se o seu olho direito faz você pecar, arranque-o e jogue-o fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ser atirado no inferno (Mateus 5: 29).

 

Arranque-o ... corte-a. Estas são expressões radicais para os problemas mais sérios do mun­do. Será que realmente espera-se que eu arranque meu olho ou corte minha mão, se estes me levam a pecar?

Orígenes, um dos principais líderes da igreja do século III, pensa­va assim. Como resultado, ele combinou os textos de Mateus 5:29 e Mateus 19:12, com sua declaração de que há alguns homens que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos Céus, e por isso se castrou.

 

Um rápido movimento de faca pode solucionar todo o seu proble­ma de pecado. Certo?

 

Errado! Afinal, se você arrancar um olho, ainda terá o outro. Não é o olho esquerdo tão incômodo como o direito? E outra vez, se você simplesmente cortar fora a mão direita, ainda terá a importuna mão es­querda.

 

Talvez a resposta para o problema do pecado seja arrancar ambos os olhos, cortar fora as duas mãos, amputar as duas pernas, e assim por diante. Então você terá o seu problema de pecado resolvido. Certo?

 

Errado outra vez! Porque você ainda terá a sua memória e o seu ra­ciocínio. A única solução para esses problemas seria explodir seu cérebro. É isso que Jesus deseja que façamos? Não, mas é a resposta óbvia e coerente para aqueles que dizem que as Escrituras não precisam ser in­terpretadas. Considere esse texto de maneira literal e você não terá ou­tra alternativa senão uma cirurgia.

 

O sentido que Jesus dá é muito mais radical, muito mais tempestuo­so. Ele quer que compreendamos a seriedade da natureza de nossos pro­blemas. E mais que isso, Ele quer que sujeitemos nossa vida e todos os membros do nosso corpo a Ele, de modo que não mais sejamos instru­mentos do pecado. Além disso, Ele deseja transformar esses próprios ins­trumentos importunos de pecado em instrumentos de justiça. As mãos e os olhos da pessoa salva devem ser colocados ao serviço de Deus[23].

 

30 - Caso a tua mão direita te leve a pecar, corta-a e lança-a para longe de ti, pois é preferível que se perca um dos membros do que todo o teu corpo vá para a Geena.

 

MÃO DIREITA - Instrumento dos maus desejos.

 

CORTA-A - Jesus usa de linguagem figurada em relação aos sentidos, que em comunicação com o sistema nervoso trazem fortes incentivos a mente. O Mestre fala em direcionar os sentidos a uma nova orientação, cortados todo impulso ou desejo que leve a pensamentos pecaminosos, Jesus exorta para que o mal seja cortado em sua raiz.

 

O REMÉDIO CIRÚRGICO

 

Assim é, se teu olho direito vai fazê-lo cair em pecado, arranca-o; porque é melhor perder uma parte de teu corpo que todo teu corpo ir para a gehena. E se tua mão direita te vai fazer cair em pecado, corta-a e tira-a; porque é melhor perder uma parte de teu corpo do que todo teu corpo ir  para a gehena (Mateus 5: 29 e 30).

 

Aqui Jesus faz uma grande demanda, uma demanda cirúr­gica. Insiste em que tudo o que cause, e o que seduz ao pecado deve ser eliminado totalmente da vida.

 

A palavra que se usa para fazer cair é interessante. É a palabra skándalon. Skándalon é uma forma da palavra skandalêthron, que quer dizer o soporte de uma armadilha. Era o pauzinho em que se fixava a armadilha e que operava para caçar o animal seduzido para sua própria destruição. Em sentido figurado a palavra chegou a significar qualquer coisa que causa a destruição de uma pessoa.

 

No fundo disto existem duas figuras. A primeira é a de uma pedra escondida em um atalho na que alguém pode tropeçar, ou uma corda colocada através de um atalho deliberadamente para fazer que com que alguém caia; a segunda é a figura de um poço escavado num solo e tampado enganosamente com uma capa coberta de ramos e folhas disposta para que o viajante desavisado pise e caia irremediavelmente no poço. O skándalon, é a pedra de tropeço, é algo que faz tropeçar e cair, que traz a sua própria destruição, algo que lhe seduz para sua própria ruina.

 

Estas palavras de Jesus não tem um sentido estritamente literal. O que quer dizer é que se tem que desarraigar da vida sem sentimentalismos qualquer coisa que sirva para seduzir ao pecado. Se temos um hábito que pode ser um convite para o mal, ou uma relação que nos pode levar, a um prazer que podería acabar por arruinar nossa saúde física ou moral, teremos que extirpá-lo cirúrgicamente de nossa vida.

 

Vendo como segue imediatamente depois de que se trata dos pensamentos e desejos proibidos, esta passagem nos impulsiona a perguntar: Como podemos nos ver livres destes  desejos imundos e pensamentos contaminantes? É um fato da experiência que os pensamentos e as imagens se intro­duzem involuntariamente em nossa mente, e é a coisa mais difícil do mundo fechar a porta.

 

Há uma maneira em que não se consegue nada frente a estes pensamentos e desejos, que é sentando e dizendo: Não vou pensar mais nestas coisas. Quanto mais nos dizemos que não vamos pensar em tal e tal coisa, tanto mais se concentra ela em nosso pensamento.

 

O exemplo da manera errônea de tratar com tais pensamentos e desejos era a dos monjes e eremitas que iam viver no deserto nos primeros tempos da Igreja. Eram homens que queriam estar livres das coisas da terra, e especialmente dos desejos sensuais. Para eles se retirar ao deserto do Egito com o propósito de viver iso­ladamente e não pensar nada mais que em Deus.

 

O mais famoso deles foi Santo Antonio. Vivia como um eremita; jejuava; se privava do sono; torturava seu corpo. Assim viveu trinta e cinco anos no deserto que foi uma batalha sem descanso nem trégua com as tentações. Lemos em sua biografía: Em primeiro lugar, o diabo tratou de apartar de uma disciplina, sussurrando a lembrança de suas riquezas, os cuidados de sua irmã, os direitos de sua família, o amor ao dinheiro e a glória, os diversos prazeres da mesa e os demais relacionamentos da vida; e, por último, a dificuldade da virtude e seus trabalhos... Ele sugeria com pensamentos imun­dos,  e o outro respondia com orações; ele lhe incitava com a luxúria, e ele, como parecendo ruborizar-se, fortalecia seu corpo com orações, fé e jejuns. O diabo, até uma noite se apresentou em forma de mulher, e imitou todas suas artimanhas sescive­lmente para seduzir a Antonio. Assim prosseguiu a luta durante tinta e cinco anos.

 

O fato é que se alguém buscava problemas este alguém era Antonio, e seus amigos igualmente. Esta inevitável lei da natu­reza humana que, quanto mais se diz que não vai pensar em algo, tanto mais este algo estará presente em seus pensamentos. Não há mais que duas maneiras de derrotar os pensamentos proibidos.

 

A primeira é a ação cristã. A melhor maneira de derrotar tais pensamentos é fazer algo, ocupar a vida a tal ponto de trabalhos e serviços cristãos que não nos tome tempo para estes pensamentos; pensar tanto nos outros que acabemos por não pensar tanto en nós mesmos; nos livramos de uma introspecção doentia e egocêntrica e concen­tramos, não em nós mesmos, mas no próximo. A cura real dos maus pensamentos não se consegue a não ser que nos consagremos as boas ações.

 

A segunda é ocupar a mente com bons pensamentos. Há uma cena famosa na peça de Peter Pan de Barrie. Peter está no dormitório dos meninos, que tinham visto ele voar, e eles querem voar também. Provaram desde o solo, e desde as camas, com um resultado nulo. Como tu fazes?, lhe perguntou John. E Peter lhe respondeu: Não tens mais que pensar coisas bonitas, pensamentos maravilhosos, e eles te levantam pelos ares. A única maneira de vencer os maus pensamentos é começar a pensar em outras coisas.

 

Se você está assediado por pensamentos de coisas impuras e proibidas, pode estar seguro de que nunca os vencerá reti­rando-se da vida e dizendo: “Já não vou pensar mais nestas coisas”. Conseguirá somente se submergir na ação cristã e no pensamento cristão. Nunca conseguirá tratando de salvar sua própria vida; só conseguirá dedicando-se, ou dando-se ao próximo[24].

 

Entrar Mancando no Céu

 

Se a sua mão direita faz você pecar, corte-a e jogue-a fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno. Mateus 5: 30.

 

É melhor entrar mancando no Céu do que saltando no inferno. O que será que Jesus está tentando falar em Mateus 5: 30? Ontem nos concentramos na inadequabilidade da solução cirúrgica, de que decepar a mão ou arrancar o olho de alguém não é uma solução sufi­ciente. O problema do pecado é muito mais profundo do que os atos executados pelos membros do nosso corpo. Jesus está dizendo que o problema tem suas raízes no coração e na mente.

 

Hoje queremos nos concentrar nas palavras: é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno. Essa idéia foi repetida por Jesus duas vezes nos versos 29 e 30, porque Ele estava procurando enfatizar alguma coisa.

 

A parte que fala de arrancar e cortar prepara o cenário para a parte mais importante do Seu ensino nesses versos. A declaração acer­ca da amputação chama a atenção do povo. Ninguém na encosta da­quela montanha cochilou depois daquelas palavras.

 

Uma vez que Jesus conseguira a atenção de todos, Ele passou a apresentar o ponto mais importante.

E que ponto era esse? O fato de que não há nada mais importante em nossa vida do que nosso destino final. Ele salientou um ponto se­melhante quando disse: Se alguém... não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não po­de ser Meu discípulo. Lucas 14: 26.

 

Nas duas passagens, o que Ele quer dizer é que qualquer coisa que se interponha entre nós e Deus nos é prejudicial. Qualquer coisa que se oponha à pessoa e sua salvação é considerada um inimigo e deve ser combatida. Não devemos permitir que nada se interponha entre nós e nosso destino eterno.

 

Jesus não está dizendo que há algo de errado com as partes do nos­so corpo nem com nossos familiares, mas que eles precisam ser coloca­dos no devido lugar em nossa lista de prioridades. E melhor entrar mancando no Céu do que saltando no inferno[25].

 

Levando o Pecado à Funerária

 

Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, vivereis. Romanos 8: 13.

 

Eu não posso, disse certo líder cristão da antigüidade, evitar que um passarinho sobrevoe minha cabeça. Mas certamente posso evi­tar que ele faça ninho no meu cabelo ou que dê uma bicada no meu nariz.

 

Jesus está dizendo em Mateus 5 que precisamos levar a sério a ques­tão do pecado. Isso quer dizer, em parte, que os cristãos precisam parar de brincar com a tentação e o pecado. Se não o fizermos, ele acabará nos matando. A sutileza do pecado faz com que pensamentos ilícitos e prazeres carnais pareçam o modo normal de vida. Mas, como a prover­bial serpente venenosa na grama, o caminho do pecado é o caminho da morte.

 

O caminho que a Bíblia aponta é não deixar que o pecado nos se­duza e leve à destruição, mas mortificá-lo, levá-lo à funerária. De acor­do com o texto de hoje, Deus dá Seu Santo Espírito para ajudar-nos nessa guerra. Não somos deixados a lutar em nossa própria força. Pelo contrário, devemos mortificar os feitos do corpo através do Espírito. Precisamos implorar o poder do Espírito a cada passo do caminho.

 

Mas como pode o Espírito ajudar-nos? Uma coisa é certa, precisa­mos de Sua ajuda, para que possamos evitar nutrir a carne nossa na­tureza pecaminosa. Revistam-se do Senhor Jesus Cristo, ordena Paulo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da car­ne. Romanos 13: 14. Existe uma chama ardente dentro de cada um de nós. É loucura aproximar a chama de mais combustível. Precisamos permanecer longe dessas situações, programas, livros e pessoas que fa­zem com que a chama do pecado ganhe nova força. Devemos arrancar e cortar certas coisas de nossa vida.

 

Precisamos, porém, ser cuidadosos aqui., pois é fácil nos tornarmos confiantes demais em nossas habilidades. E necessário estar em cons­tante oração durante o dia todo, para que não procuremos lutar con­tra o inimigo em nossa própria força. Fazer isso seria garantir a derro­ta. Unicamente através do poder de Deus é que podemos mortificar o pecado em nossa vida[26].

 

Como Lidar com o Problema do Pecado

 

Se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, do povo de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, se comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Filipenses 3: 4 a 8.

 

Algumas pessoas, como Paulo antes de sua conversão, acham que o esforço humano é o caminho para a salvação. O que se pode di­zer dos fariseus do tempo de Paulo e de todas as outras gerações é que eles são tremendamente sinceros em procurar corrigir o seu problema com o pecado, a fim de estar bem com Deus.

Considere Martinho Lutero 1483 a 1546, por exemplo. Antes de aprender sobre a justificação pela fé, no livro de Romanos, como mon­ge agostiniano ele passou noites inteiras afligindo o próprio corpo em penitência. Procurou limpar como que com uma draga todo pecado que algum dia fora tentado a cometer. Mas era um processo sem-fim. Mal acabara de pensar que completara a tarefa, e tinha que se arrepen­der da tentação de orgulhar-se de sua realização. Lutero buscou inces­santemente obter paz de espírito, mas jamais conseguiu isso por meio do seu ascetismo.

 

Um caso semelhante é o de Anthony aproximadamente 251 a 356 d.C., que jejuava, não dormia e torturava seu corpo. Durante 20 anos viveu no deserto em constante batalha contra o diabo. No entanto, ao final de sua vigília, Anthony não estava mais perto da vitória do que no princípio.

 

Paulo nos advertiu contra a inutilidade de tal tentativa para alcan­çar santidade. Paulo, o rígido e austero fariseu, finalmente conseguiu vitória e paz por meio da aceitação do sacrifício de Jesus no Calvário.

 

Não é de admirar que Paulo considerasse sem valor tudo o que ante­riormente entesourava, uma vez que aceitou a Cristo como seu Salva­dor pessoal. Paulo finalmente encontrou o que Lutero, Anthony e to­dos nós estamos procurando. Jesus nos diz: Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. ... Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve. Mateus 11: 28 a 30[27].

 

O Melhor Caminho

 

Eu vos afirmo que, de igual modo, há jubilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. Lucas 15: 10.

 

O orgulho humano sussurra em nossos ouvidos que somos capa­zes de solucionar nossos próprios problemas, se tão-somente nos esfor­çarmos o suficiente. Lembro-me de quando me tornei adventista, com a idade de 19 anos. Olhei ao meu redor na igreja e cheguei a uma con­clusão: Que confusão!

 

Eu acreditava que sabia qual era o problema. Os adventistas e outros cristãos simplesmente não se esforçavam o suficiente. Caso se empe­nhassem com maior esforço, certamente venceriam e se tornariam per­feitos. Foi nessa altura da minha vida que fiz um voto de ser o primeiro cristão perfeito, depois de Jesus. Em minha mente, não havia dúvida al­guma quanto ao sucesso. À semelhança de Martinho Lutero e outros monges medievais, me propus a derrotar o dragão do pecado por meio de minha conduta e de esforços próprios. E tentei, com todo o coração.

 

Menos de uma década depois, porém, desisti sentindo-me total­mente fracassado. Seguiram-se anos de desânimo e apostasia de tudo o que eu sabia ser a verdade.

 

Só mais tarde é que encontrei o Jesus do Calvário. Eu fora adven­tista, mas não conhecia a Jesus. Por isso, tive que me arrepender de mi­nha auto-suficiência; tive que me arrepender de procurar a salvação pelo método dos fariseus.

 

A essa altura, compreendi que o único caminho para a vitória so­bre o pecado é sujeitar minha vontade a Deus e aceitar a vontade dE­le e Seus caminhos em minha vida. Esse caminho é o caminho da cruz.

 

A cruz é a resposta de Deus para o problema do pecado. Se os se­res humanos pudessem vencer o pecado pelas próprias forças, não ha­veria razão para Jesus vir a este mundo; não haveria razão alguma para a Sua morte na cruz.

 

Aqueles que não reconhecem a profundidade e a magnitude do problema do pecado ainda procuram salvar-se por meio de esforços pes­soais. Como Paulo, Martinho Lutero e uma multidão de outras pessoas, porém, mais cedo ou mais tarde se depararão face a face com o fracas­so. Só então serão capazes de verdadeiramente se arrepender abando­nar sua auto-suficiência e voltar-se a Deus de modo submisso[28].

 

A Solução do Evangelho

 

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de em fé, como está escrito: o justo viverá por fé. Romanos 1: 16 e 17.

 

Houve um tremendo clarão no horizonte. A princípio não pu­de compreender do que se tratava. Mas quando vi uma quantidade enorme de terra sendo lançada ao ar, em poucos momentos pude ouvir e sentir a força da explosão à medida que o som seguiu a luz e me al­cançou a uma distância de 25 a 30 quilômetros da explosão. Só então compreendi que testemunhara uma poderosa explosão de dinamite. Enquanto continuei olhando através do limpo ar do deserto, pude ver que a explosão mudara a aparência de uma montanha.

 

Deus quer usar dinamite para mudar nossa vida. Há poucos dias consideramos a cirurgia para o problema do pecado, conforme é des­crito em Mateus 5: 29 e 30. Pudemos notar seus pontos fracos. A solução que Deus oferece é muito mais radical do que uma cirurgia. É po­der sobrenatural.

 

O texto de hoje nos diz que o evangelho boas novas é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Essa palavra poder me fascina porque, em grego, ela tem a mesma raiz da palavra dinami­te.

 

Paulo está dizendo que o evangelho funciona como dinamite em nossa vida quando permitimos a entrada de Deus, quando Lhe damos autorização para reformar nossa vida, tornando-a semelhante à de Jesus.

 

Deus não entra e simplesmente poda este ou aquele problema. Não, Ele está interessado em chegar à raiz do problema, destruí-lo com uma explosão e então recriar nossa vida, tornando-a muito mais bela.

 

Essa é realmente uma boa nova. A verdade é que a solução de Deus para o problema do pecado não só oferece perdão, mas também a possibilidade de uma nova vida Nele.

 

Você já permitiu que a dinamite de Deus opere em sua vida? Ou teme as mudanças que Ele poderá fazer, se você permitir que o Seu po­der assuma o controle?[29]

 

Vida Nova

 

E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. II Coríntios 5: 17.

 

Temos analisado a profundida­de do pecado e a grandeza do plano de Deus para lidar com ele. As pro­messas de Deus são muito maiores e mais abrangentes do que a maio­ria de nós percebe.

 

A Bíblia descreve o processo de tornar-se cristão como a morte e um novo nascimento. Ser salvo em Cristo não é uma experiência par­cial. É uma experiência total, que afeta todos os aspectos da minha vi­da, inclusive a maneira como penso a respeito do sexo oposto e até co­mo me visto para estimular pensamentos impróprios. Com muita fre­qüência, ao lermos Mateus 5: 29 e 30, pensamos naqueles que nutrem pensamentos de adultério. Acho que o princípio que o texto encerra tem algo a ver com a maneira como nos vestimos, falamos e agimos, uma vez que temos responsabilidade para com os outros.

 

Como resultado, se estou agindo como cristão, minha conversa não será sugestiva, meu vestuário não transmitirá uma mensagem erra­da. Quando Deus diz que todas as coisas em nossa vida podem se tor­nar novas, Ele está falando sério.

 

Mas, por favor, observe mais uma vez que não fazemos de nós mes­mos novas criaturas. Isso é obra do Deus Criador em nossa vida. Tor­nar-se cristão significa uma transformação total de coração e mente, de modo que aquelas coisas que uma vez odiamos, agora amamos, e as coi­sas que antes amávamos, passamos a detestar.

 

Sim, isso afeta a maneira como consideramos o sexo. Muitos de nós fomos criados com idéias egoístas a respeito do sexo. Era a lei da rua selva. Vá e aproveite o que conseguir, e não se preocupe com as con­seqüências. Para alguns, era mais sutil, mas geralmente ainda egoísta.

 

O fato de tornar-se cristão muda tudo isso. De repente, percebe­mos que o sexo não é tanto um ato como um relacionamento. O sexo é uma dádiva de Deus aos homens e mulheres. Dentro do relaciona­mento do casamento é uma das dádivas mais preciosas de Deus.

Que Deus nos ajude a pensar de modo cristão a respeito do sexo. Possa Ele ajudar-nos a crescer e a nos tornarmos verdadeiros cristãos que amam[30].

 

31 - Foi dito: Aquele que repudiar sua mulher dê-lhe uma carta de divórcio

 

REPUDIAR - Grego: apolúo, livrar, soltar, com o sentido de divorciar.

 

CARTA DE DIVÓRCIO - Grego: apotásion certificado de separação, Esta palavra vem do verbo afistêmi, separar, abandonar. A palavra apostasia procede da mesma raiz. Como Cristo ressaltou mais tarde, o divórcio não faz parte do plano de Deus, foi aprovado transitoriamente na lei de Moisés devido à dureza dos corações dos homens. Mateus 19: 7 e 8. Em relação com a natureza e o propósito da lei de Moisés com respeito ao divórcio, Deuteronômio 24: 1 a 4. Deveria destacar-se que a lei de Moisés não instituiu o divórcio. Pôr ordem divina Moisés tolerou o divórcio com o propósito de evitar abusos. O matrimônio cristão deve basear-se em Gênesis 2: 24 e Deuteronômio 24: 1[31].

 

32 - Eu, porém, vos digo: todo aquele que repudia a sua mulher, a não pôr motivo de fornicação, faz com que ela adultere; e aquele que se casa com a repudiada comete adultério.

 

FORNICAÇÃO - Grego: pornéia, termo genérico empregado para designar relações sexuais ilícitas. A escola liberal de Hillel ensinava que o homem poderia divorciar-se pelas causas mais triviais, desde um prato de comida mal preparado. A escola de Shammai mais conservadora, interpretava que alguma coisa indecente, Deuteronômio 24: 1 falta de castidade Mishnah Gittin 9, 10. Jesus especificou que não deveria haver divórcio salvo em caso de infidelidade conjugal. A relação matrimonial havia sido pervertida pelo pecado, e Jesus veio restaurar a pureza e formosura originalmente dada pelo Criador.

 

Em sua providência Deus quis que o matrimônio fosse uma benção para elevar a humanidade. O companheirismo entre marido e mulher foi ordenado pôr Deus, como um ambiente ideal para o aperfeiçoamento de um caráter cristão. A maior parte das dificuldades matrimoniais demandam da sujeição do domínio próprio que algumas vezes significam abnegação e sacrifício. O verdadeiro amor sofre, é benigno, não busca seus próprios interesses, tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta - I Coríntios 13: 4 a 7. Quando os cristãos iniciam um relacionamento matrimonial deveriam aceitar as responsabilidades e aplicar os princípios aqui expostos, e permitir que a graça de Jesus opere em suas vidas, encontrará momentos felizes, e nenhuma dificuldade poderá prejudicar[32].

 

COMETE ADULTÉRIO - Faz que ela adultereUma esposa repudiada naturalmente tentaria encontrar um novo lar. Mas ao casar-se de novo, cometeria adultério porque seu casamento anterior não tinha sido dissolvido à vista de Deus Marcos 10: 11 e 12. Cristo eliminou com toda clareza a tradição rabínica de seus dias, especialmente a da escola de Hillel, a qual permitia o divórcio por qualquer causa. Ao que parece, era relativamente fácil que o esposo se livrasse dos vínculos matrimoniais em forma legal. Jesus fez ressaltar que o casal tinha sido divinamente instituído, e que recebia a aprovação divina quando se entrava devidamente nesse estado. O que Deus tinha unido nenhuma prática nem tradição rabínica podia separar[33].

 

O VÍNCULO QUE NÃO SE DEVE ROMPER

 

1. O matrimônio entre os judeus

Também foi dito: O que se divorcia de sua mulher, que lhe dê um certificado de divórcio. Eu porém vos digo que quem se divorcia de sua mulher por algo que não seja a fornicação, a obriga a cometer adultério; e quem se casa com uma mulher divorciada, comete adultério. Mateus 5: 31 e 32

Quando Jesus estabeleceu esta lei para o matrimônio, o fêz tendo como fundo uma situação determinada. Não houve nenhuma época da historia antiga na qual o vínculo matrimonial houvesse estado em maior perigo de destruição que nos dias en que chegou ao mundo o Cristianismo. Naquele tempo o mundo estava em perigo de ser testemunha do total desaparecimento do matriônio e de um colapso nesta instituição.

 

O Cristianismo teve históricamente um duplo fundo. Tinha o fundo do judaísmo, e o do mundo gre­go romano. Consideremos o ensino de Jesus sobre estas duas culturas.

 

Na teoria, não havia nação que tivesse um conceito mais elevado do matrimônio que a nação hebraica. O matrimô­nio era um dever sagrado que havia de assumir todo varão. Podia abster-se dele somente por uma razão: para dedicar todo seu tempo ao estudo da Lei. Se negasse a casar e gerar filhos se dizia que havía quebrado o mandamento positivo de dar fruto e multiplicar-se, e que havia reduzido a imagem de Deus no mundo e matado sua posteridade.

 

No princípio, os judeus aborreciam o divórcio. A voz de Deus havia dito: Eu aborreço o divórcio. Malaquías 2: 16. Os rabinos tinham ditados preciosos. Encontramos que Deus é longânimo com todos os pecados exceto com o da falta de castidade. A falta de castidade faz partir a glória de Deus. Qualquer judeu deve dar a vida antes de come­ter idolatría, assassinato ou adultério. O mesmo altar derrama lágrimas quando um homem se divorcia da esposa de sua juventude.

 

O trágico era que a prática se aproximava muito da ideal. Havia algo que viciava toda relação matrimonial: uma mulher era, aos olhos da lei, uma coisa. Estava totalmente a disposição de seu pai ou de seu marido. Virtualmente não tinha nenhum direito legal. Não podia, em nenhum caso, divorciar-se de seu marido por nenhum motivo, mas o marido podia divorciar-se dela por qualquer razão. Ele pode divorciar-se de uma mulher, dizia a lei rabínica, mesmo sem a vontade dela; basta a vontade dele.

 

O assunto se complicava pelo fato de que a lei judaica do divórcio se formulava muto sensivelmente, porém seu signi­ficado era discutível. Se baseava em Quando um homem tiver tomado uma mulher e consumado o matrimônio, mas esta logo após não encontra graça em seus olhos, porque viu nela algo de inconveniente, ele lhe escreverá então uma ata de divórcio e a entregará, deixando-a sair de casa em liberdade. Deuteronômio 24: 1: Quando alguém toma uma mulher e se casa com ela, se não se agrada por haver ela falado alguma coisa indecente, lhe escreverá carta de divórcio, se entregará nas suas mãos e a despedirá de sua casa. Este proceso de divorcio era extre­madamente fácil de se obter. O documento de divórcio dizia explicitamente:

Seja isto por tua escritura de divórcio e carta de despedida e ata de libertação, para que tu possas casar com quem queiras.

 

Tudo o que o marido tinha que fazer era entregar este papel à sua mulher na presença de duas testemunhas, e estava divorciado. Está claro que o ponto básico do assunto estava na in­terpretação da frase alguma coisa indecente. Em todos os assuntos da lei judaica havia duas escolas. A escola de Sammay, que era a mais estrita, severa e austera; e a escola de Hillel, que era a escola liberal, ampla e generosa. Sammay e sua escola definiam alguna coisa indecente como falta de castidade e nada mais. Ainda que uma esposa seja tão impura como a mulher de Acabe, diziam; que se não for por adultério não se pode divorciar. Para a escola de Sammay não havia mais base legal para o divórcio que o adultério e a imoralidade sexual.

 

Por outra parte, a escola de Hillel definia alguma coisa indecente da maneira mais geral. Diziam que queria dizer que um homem podia divorciar de sua esposa se preparasse a comida colocando sal em maior quantidade, o se aparecia em público com a cabeça descoberta, se falava com homens na rua, se era alvoroçada, se falava sem o devido respeito dos pais de seu marido em sua presença, se era cautelosa ou litigiosa. O famoso rabí Akibá disse que a frase queria dizer se não se resulta agradável, e que isto lhe dava direito a um marido a divorciar-se de sua mulher se encontrava outra que lhe parecesse mais atrativa.

 

Sendo como é a natureza humana, é fácil supor qual das duas escolas chegou a ter mais influência. No tempo de Jesus Cristo o divórcio havia sido cada vez mais fácil até tal ponto que as jovens não queriam casar, porque o matrimônio era inseguro.

 

Quando Jesus disse isto não estava falando como idealista teórico, mas como reformador social prático. Tratava de sanar uma situação na qual a estrutura da vida familiar estava em colapso, e na qual a moralidade nacional se ia fazendo cada vez mais baixa.

 

2. O matrimônio entre os gregos

 

Vimos como estava o matrimônio na Palestina no tempo de Jesus; mas não passaría muito tempo antes de que o Cristianismo saisse da Palestina, é nescessário que vejamos como estava o matrimônio no mundo mais global quando chegaram os ensinamentos cristãos.

 

Em primeiro lugar, vamos ver como estava o matrimônio entre os gregos. Duas coisas marcavam a situação do matrimô­nio no mundo grego.

 

O grande investigador clássico A. W. Verrall dizia que uma das principais enfermidades de que morreu a civilização antiga era o baixo conceito que tinham as mulheres. O que primeiramente arruinou a situação do matrimônio entre os gregos foi o fato de que as relações extra matrimoniais não tinham nenhum estigma, e até era algo esperado e aceito. A tais relações não se lhes dava a menor importância; eram parte da rotina da vida. Demóstenes estabeleceu como prática reconhecida e aceita: Temos prostitutas para o prazer; concubinas, para a cohabitação diária, e esposas, para ter filhos legítimos e uma fiel guardiã dos assuntos caseiros. Posteriormente, quando as idéias gregas haviam se introduzido e haviam arruinado a moralidade romana, Cícero, em sua Na defesa de Cecilio, disse: “Se há alguém que pensa que há que negar aos jovens o amor das prostitutas, seria extremamente severo. Não posso negar o princípio em que se apoia; mas estaria em desacordo, não só contra a permissi­vidade de sua própria idade, mas também com os costumes e contra a licença de nossos antepassados. Quando não se tem feito assim? Quando se tem considerado que era reprovado? Quando se negou a licença? Quando não tem sido legal o que é agora?” O ponto de vista de Cícero, como havía sido o de Demóstenes, era que as relações extra matrimoniais eram perfeitamente normais e aceitáveis.

 

O ponto de vista grego do matrimônio era um tremendo paradoxo. A decência grega exigia que a mulher respeitável vivesse em tal estado de isolamento que nem sequer podería ir caminhar pela rua sozinha, e que não comia suas comidas nas mesmas habitações dos homens. Não tomava a menor parte na vida social. Os gregos lhes exigiam de suas mulheres a mais absoluta pureza moral, entretanto para eles reclamavam a licença moral mais absoluta. Para dizer claramente: Os gregos se casavam para que a mulher desempenhasse as obrigações da segurança doméstica, mas  buscavam o prazer em outra parte. Até Sócrates dizia: Há alguém a quem confiar questões mais sérias que a tua mulher, e alguém com quem fales menos? Vero, o colega de Marco Aurélio no poder imperial, lhe dizia na cara de sua mulher para associar-se com outras mulheres. Sua resposta era que tería que ter presente que o nome da esposa era um título de dignidade, e não de prazer.

 

Assim pois, na Grécia surgiu uma situação extraordinária. No templo de Afrodite de Corinto tinha um milhar de sacerdotisas, que eram na realidade prostitutas religiosas. Baixavam às ruas de Corinto pelas tardes para levar a cabo sua missão, o que deu origem a um ditado: Nem todo o mundo se pode permitir uma viajem a Corinto. Esta surpreendente aliança da religião com a prostituição se pode ver nas situações tão incríveis como que Solón fosse o primeiro em permitir a entrada de prostitutas em Atenas e a construção de bordéis, com o produto dos quais construiu um templo novo a Afrodite, a deusa do amor. Aos gregos não lhes parecia mal construir um templo com os rendimentos da prostituição.

 

Mas, totalmente aparte da prática da prostituição corrente, surgiu na Grécia uma classe surpreendente de mulheres chamadas as hetairai. Eram as queridas de homens famosos; eram as mulheres mais cultas e melhor situadas na sociedade de seu tempo; seus lugares não eram nada menos que salões, e muitos de seus nomes passaram para a história compartindo a fama com a dos homens com os que estuveram associadas. Thais foi a hetaira de Alexandre O Grande, com sua morte passou a ser esposa de Ptolomeo a mãe da família real egípcia.

 

Aspásia foi a hetaira de Péricles, provavelmente o maior governante e orador de Atenas; e se diz que foi ela que ensinou a Pericles oratória e escrevia seus discursos. Epicuro, o famoso filósofo, teve a sua igualmente famosa Leontion, e Sócrates, a Diotima. Como se consideravam estas mulheres se pode deduzir da visita que lhe fêz Sócrates a Theodota, que nos conta Xenofonte. Foi ver se era tão formosa como se dizia. Lhe falou com amabilidade; lhe disse que fechara a porta aos insolentes e que cuidara de suas amantes na enfermidade e se congratulara con suas honras, e que amara ternamente aos que lhe dessem seu amor.

 

De modo que vemos na Grécia todo um sistema baseado em relacionamentos extra matrimoniais; vemos que essas relações se aceitavam e consideravam naturais e normais, e nada vergonhosas; vemos que estas relações podiam, de fato, chegar a ser um fator dominante da vida de um homem. Vemos uma situação surpreendente na que os gregos mantinham suas esposas absolutamente reclusas em uma pureza obrigatória, entretanto eles buscavam o prazer e até o amor em relações fora do matrimônio.

 

A segunda coisa que viciava a situação na Grécia era que o divórcio não requería o mínimo processo legal. Tudo o que se tinha que fazer era o homem despedir sua mulher na presença de duas testemunhas. A única cláusula que se lhe impunha era que tinha que devolver o dote na íntegra.

 

É fácil ver a incrível novidade que supunha o ensinamento cristão da castidade e fidelidade no matrimônio em uma civilização assim.

 

3. O matrimônio entre os romanos

 

A história do desenvolvimento da situação matrimonial entre os romanos é trágica.

 

Tanto a religião como a sociedade romanas estavam baseadas originalmente no mesmo lugar. A base da comunidade romana era a patria potestas, o poder do pai; o pai tinha literalmente poder de vida e morte sobre sua família. Um homem não era nunca considerado de maior idade enquanto o pai fosse vivo. Podia chegar a ser cônsul; podia chegar as mais altas honras e responsabilidades que o Estado pudesse oferecer; mas se seu pai estivesse vivo, seguia abaixo da autoridade de sua padre.

 

Para os romanos, a casa era tudo. A mãe romana não estava reclusa como sua equivalente na Grécia. Participava na vida totalmente. O matrimônio dizia o jurista latino Modestino, é uma instituição da vida de todos ls direitos divinos e humanos. Desde cedo, havia prostitutas; porém eram desprezadas, e associar-se com elas era vergonhoso. Houve, por exemplo, um magistrado romano que foi assaltado em um prostíbulo, e que se negou a denunciar o caso e foi levado aos tribunais, porque havia tido que confessar que havia estado en tal casa. O nível da moralidade romana era tão alto que; durante os primeiros quinhentos anos do Estado romano não houve nem um só caso de divórcio. O primeiro homem que se divorciou de sua mulher foi Spurius Carvilius Ruga, no ano 234 a.C., e o fêz porque a esposa era estéril, e ele queria ter filhos:

 

Então chegaram os gregos. No sentido militar e im­perial, Roma conquistou a Grécia; mas no sentido moral e social, a Grécia conquistou Roma. No século II a.C., a moralidade grega havia se infiltrado em Roma, e a queda foi catastrófica. O divórcio chegou a ser tão corrente como o matrimônio. Sêneca fala de mulheres que se casavam para divorciar, e que se divorciavam para casar. Diz que havia mulheres que contavam os anos, não pelos nomes dos cônsules, mas pelos de seus maridos. Juvenal escreveu: Lhe basta um marido Iberina? Antes a convencerías que se conformasse em não ter mais que um ohar. Cita o caso de uma mulher que teve oito maridos em cinco anos. Marcial cita o caso de uma mulher que tinha tido dez maridos. Um orador romano, Metillus Numidicus, fêz uma conferência extraordinária: Se pudesse amar se ter que casar, nós romanos, nos livra­ríamos de todos problemas; mas, como a lei da natureza não se pode viver tranquilo com elas nem sem elas, devemos nos responsabilizar pela continuidade da raça para o bem de nossa propria tranquilidade. O matrimônio havia chegado a ser uma necessidade desagradável. Havia um ditado romano cínico:  O matrimônio não nos dá nada mais que dois dias bons: o dia que o marido casa casa pela primeira vez con­tra seu peito, e no dia que a coloca em uma tumba.

 

A tal ponto chegaram as coisas que foi necessário subir os impostos dos solteiros e proibir-lhes terem cargos e receberem herenças. Se concediam privilégios especiais aos que tuvessem filhos, porque os filhos eram considerados uma desgraça. Até se manipulavam as mesmas leis para intentar resgatar a institução necessária ao matrimônio.

 

Ali estava a tragédia romana; o que chamavam Lecky: A eclosão de uma depravação ingovernável e quase frenética que siguiu ao contato com a Grécia. De novo nos resulta fácil ver com que alucinação ouviu o mundo antigo as exigências da castidade cristã.

 

Deixaremos a apresentação do ideal cristão do matrimô­nio para quando cheguarmos a Mateus 19:3 a 9. Deste momento basta notar que con o Cristianismo havia vindo ao mundo num ideal de castidade com o que a humanidade não havia nem sonhado[34].

 

Um Alto Conceito do Casamento

 

Foi dito: Aquele que se divorciar de sua esposa, deverá dar-lhe certidão de divórcio. Mas Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua esposa, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério. Mateus 5: 31 e 32.

 

Um ponto claro como cristal do Gênesis ao Apocalipse, é a santidade do casamento. Deus não só criou nossos primeiros pais, co­mo também abençoou o casamento e disse que os dois tornam-se uma só carne. Jesus defendeu a santidade do matrimônio, tanto em Mateus 5 como no texto com ele relacionado em Mateus 19: 1 a 9.

 

Michael Green observa que Jesus salientou diversos aspectos im­portantes do casamento nestas duas passagens. Primeiro, que o casa­mento foi planejado por Deus. É uma ordenança estabelecida por Deus e não um mero contrato social.

 

Em segundo lugar, o casamento é uma ordenança feita entre os dois sexos. Deus os criou; homem e mulher os criou. A intenção de Deus não era criar um mundo unissex. Conforme Green comenta: Há diferenças e funções complementares entre os sexos que são estabele­cidas por Deus. Isso é tão óbvio que só precisa ser declarado neste fim de século, quando o homossexualismo chegou a ser considerado uma alternativa igualmente válida para o casamento.

 

Em terceiro lugar, o plano é que o casamento seja permanente. Nun­ca houve a intenção de que o relacionamento conjugal fosse quebrado. Qualquer desvio da perpetuidade do casamento é um declínio do ideal.

 

Em quarto lugar, ele é exclusivo. As duas pessoas, não três, quatro ou cinco, devem tornar-se uma só carne. Um homem e uma mulher devem se unir. Esse ideal descarta os romances convenientes de tantos povos modernos e a poligamia dos antigos. Aparentemente, o fato de Deus permitir a poligamia no AT era uma concessão não ideal para um costume arraigado e uma fraqueza humana. Além do mais, provia segurança para o sexo feminino em culturas onde o mes­mo não tinha direito algum e nem havia homens suficientes.

 

Em quinto lugar, o casamento cria um núcleo familiar. Isso inclui deixar os pais e unir-se ao cônjuge. Assim, o casamento se torna o mais forte e o mais importante de todos os relacionamentos humanos[35].

 

Divórcio é Assunto Sério

 

Perguntaram eles: Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora? Jesus respondeu: Moisés lhes permitiu divorciar-se de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio. Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua esposa, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério. Mateus 19: 7 a 9.

 

         As palavras de Jesus não deixam dúvida de que o divórcio é um ato que não corresponde ao ideal de Deus. Por isso, Jesus concorda com o AT, onde Deus disse: Eu odeio o divórcio. Malaquias 2: 16. Todo cristão deve odiá-lo. Divórcio significa fracasso no cumprimento do ideal de Deus para duas pessoas.

 

Entretanto, acontecem divórcios neste mundo imperfeito, e aconte­cem também novos casamentos. O estigma do fracasso e a terrível reali­dade das famílias esfaceladas pesam tremendamente sobre a mente de muitas pessoas. A família é o bloco fundamental na edificação tanto da sociedade como da igreja. Temos todo o direito de nos entristecermos e até nos aborrecermos com o alto índice de divórcios na igreja.

 

O que deve ser feito? Tudo o que for possível, individualmente e como igreja, para conservar as famílias unidas. Seguramente precisa­mos dar apoio a famílias que estão enfrentando tempos difíceis. Mui­tos de nós necessitamos oferecer um coração amorável e um ouvido atento àqueles que lutam para manter seu casamento.

 

Mas o que dizer de maridos e esposas que fracassaram? Estão eles totalmente perdidos, especialmente se casarem com outra pessoa? Não, se cremos no NT.

 

Assim como os mexeriqueiros e aqueles que se orgulham de sua es­piritualidade, os que sofrem por causa de casamentos desfeitos são con­duzidos de volta às bem-aventuranças da pobreza de espírito, do cho­ro, da humildade e da fome e sede de justiça. Esses serão fartos.

 

De fato, as pessoas divorciadas têm talvez maior probabilidade de voltarem-se às bem-aventuranças e à cruz do que os mexeriqueiros e espiritualmente orgulhosos, porque as faltas e pecados do divorciado estão mais expostos e têm menos possibilidade de serem encobertos pela religiosidade do que os dos outros grupos, que podem não sentir sua necessidade. Todos, porém, precisam da purificação[36].

 

LEITURA ADICIONAL

 

Qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Mateus 5: 28.

 

Os judeus orgulhavam-se de sua moralidade, e olhavam com horror as práticas sexuais dos pagãos. A presença dos oficiais romanos que o governo imperial trouxera à Palestina, era um contínuo escândalo para o povo; com esses estrangeiros, viera uma inundação de costumes pagãos, concupiscência e desregramento. Em Cafarnaum, os oficiais romanos, com suas alegres amantes, frequentavam os logradouros públicos e os passeios, e muitas vezes o sons da orgia quebravam o silêncio do lago, ao singrarem as águas tranquilas seus barcos de prazer. O povo esperava ouvir de Jesus uma severa acusação a essa classe; mas qual não foi seu espanto ao escutarem palavras que punham a descoberto o mal de seus próprios corações.

 

Se sua mão direita te escadalizar, corta-a e atira-a para longe de ti. Mateus 5: 30.

         A fim de impedir que a doença se alastre ao corpo e destrua a vida, um homem se submeteria mesmo a separar-se de sua mão direita. Muito mais deve ele estar pronto a entregar aquilo que põe em risco a vida da alma.

 

         Mediante o evangelho, almas degradadas e escravizadas por Satanás devem ser redimidas para partilhar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. O desígnio divino não é meramente livrar do sofrimento inevitável resultante do pecado, mas salvar do próprio pecado. A alma, corrompida e deformada, tem de ser purificada, transformada, afim de poder ser revestida da graça do Senhor Nosso Deus, conforme a imagem do Seu Filho. As coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Salmo 90: 17; Romanos 8: 29; I Coríntios 2: 9. Unicamente a eternidade pode revelar o glorioso destino a que o homem, restaurado a imagem de Deus pode atingir.

         Para podermos alcançar este elevado ideal, o que leva a alma a tropeçar deve ser sacrificado. É mediante a vontade que o pecado retém seu domínio sobre nós. A entrega da vontade é representada como o arrancar do olho ou o cortar da mão. Afigura-se-nos muitas vezes que, sujeitar a vontade de Deus é o mesmo que consentir em atravessar a vida mutilado ou aleijado. É melhor, porém, diz Cristo, que o eu seja mutilado, ferido, aleijado, contanto que possais entrar na vida. Aquilo que consideras um desastre, é a porta para mais elevado bem.

 

         Deus é a fonte de vida, e só podemos ter vida ao nos acharmaos em comunhão com Ele. Separados de Deus, a existência nos pertencerá por um pouco tempo, mas não possuímos a vida. A que vive em deleites, vivendo está morta. I Timóteo 5: 6. Unicamente por meio da entrega de nossa vontade a Deus, é lhe possível comunicar vida. Só mediante o receber Sua vida pela entrega do próprio eu é possível, disse Jesus, serem vencidos aqueles pecados ocultos que mencionei. É possível que o sepulteis em vosso coração e oculteis dos olhos humanos, mas como subsistireis na presença de Deus.

 

         Se vos apegais ao eu, recusando entregar a Deus a vossa vontade, estais preferindo a morte. Para o pecado, seja onde for que ele se encontre, Deus é um fogo consumidor. Se preferis o pecado, e vos recusais a abandoná-lo, a presença de Deus, que consome o pecado, tem de consumir-vos.

 

         Exigirá um sacrifício o entregar-vos a Deus; é, porém, um sacrifício do inferior pelo mais elevado, do terreno pelo espiritual, do perecível pelo eterno. Não é do desígnio de Deus que nossa vontade seja destruída; pois é unicamente mediante o exercício da mesma que nos é possível efetuar aquilo que Ele quer que façamos. Nossa vontade deve ser sujeita à Sua afim de que a tornemos a receber purificada e refinada, e tão ligada em correspondência com o Divino, que Ele possa, por nosso intermédio, derramar as torrentes de Seu amor e poder. Se bem que essa entrega possa parecer amarga e dolorosa ao coração voluntário, extraviado, ela te é, todavia, muito útil, a ti.

         Enquanto não caiu coxo e impotente sobre o peito do anjo do concerto, não conheceu Jacó a vitória da fé triunfante, recebendo o título de príncipe de Deus. Foi quando ele manquejava da sua coxa. Gênesis 32: 31. Que os armados bandos de Esaú foram acalmados diante dele, e o Faraó, orgulhoso herdeiro de uma linhagem real, abaixou-se para lhe anelar a bênção. Assim o Capitão de nossa salvação foi aperfeiçoado pelos sofrimentos. Hebreus 2: 10, e os filhos da fé da fraqueza tiraram forças e puseram em fuga os exércitos estranhos. Hebreus 11: 34. Assim os coxos roubarão a presa. Isaias 33: 23, e o fraco se tornará como Davi e a Casa de Davi... como anjo do Senhor. Zacarias 12: 8.

 

É lícito ao homem repudiar ua mulher? Mateus 19: 3. Entre os judeus era permitido ao homem repudiar sua mulher pelas mais triviais ofensas, e mulher se achava então em liberdade de se casar outra vez. Este costume levava a grande infelicidade e pecado. No Sermão do Monte, Jesus declarou plenamente que não podia haver dissolução do laço matrimonial, a não ser por infidelidade no voto conjugal. Qualquer, disse Ele que repudiar sua mulher, a não ser por ela cometer adultério, e qualquer que casar, com a repudiada comete adultério.

 

Quando posteriormente, os fariseus O interrogaram acerca da legalidade do divórcio. Jesus apontou a Seus ouvintes a antiga instituição do matrimônio, segundo foi ordenada na criação.Moisés disse Ele, por causa da dureza dos vossos corações vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas no princípio não foi assim. Mateus 19: 18. Ele lhes chamou a atenção para os abençoados dias do Édem, quando Deus declarou tudo muito bom. Então tiveram origem o matrimônio e o sábado, instituições gêmeas para a glória de Deus no benefício da humanidade. Então, ao unir o Criador as mãos do santo par em matrimônio, dizendo: Um homem deixará o seu pai e sua mãe, e apegarse-á a sua mulher, e serão ambos uma só carne. Gênesis 2: 24, enunciou a lei do matrimônio para todos os filhos de Adão, até o fim do tempo.. Aquilo que o próprio Pai Eerno declarou bom, era a lei da mais elevada bênção e `desenvolvimento para o homem.

 

Como todas as outras boas dádivas de Deus concedidas para a conservação da humanidade, o casamento foi pervertido pelo pecado; mas é o desígnio do evangelho restituir-lhe a pureza e a beleza. Tanto o VT como o NT, a relação matrimonial é empregada para representar a terna e sagrada união existente Cristo e seu povo, os remidos e quem ele comprou a preço do Calvário. Não temas diz Ele; porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o Seu nome; e o Santo de Israel é o Teu Redentor. Converte-vos, ó filhos rebeldes, diz o Senhor; porque Eu vos desposarei. Isaias 54: 4 e 5; Jeremias 3: 14. No Cântico dos Cânticos ouvimos a voz da esposa dizendo: O meu amado é meu, e eu sou Dele. E aquele que é para ela o primeiro entre dez mil, fala a sua escolhida Tu és toda formosa, amada Minha, e em ti não há mancha. Cantares 2: 16; 5: 10 4: 7.

Posteriormente Paulo, o apóstolo, escrevendo aos cristãos efésios, declara que o Senhor constituiu o marido a cabeça da mulher, para sevir-lhe protetor, o elo que liga os membros da família da mesma maneira que Cristo é a cabeça da igreja, e o Salvador do corpo místico. Portanto Ele diz: Assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a igreja, e a si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres. Efésios 5: 24 a 28.

 

A graça de Cristo, e ela somente, pode tornar esta instituição o que Deus designou que fosse: um meio para a bênção e erguimento da humanidade. E assim as famílias da Terra, em sua união, paz e amor, podem representar a família do Céu.

Hoje, como nos dias de Cristo, a condição da sociedade apresenta triste comentário ideal celeste dessa sagrada relação. No entantio, mesmo para os que depararam com amargura e desengano quando haviam esperado companherismo e alegria, o evangelho de Cristo oferece um consolo. A paciência e a gentileza que seu espírito pode comunicar, suavizará a condição  de amargura. O coração em que Cristo habitar, estará tão repleto, tão satisfeito com Seu amor, que se não consumirá no desejo de atrair simpatia e atenção para si próprio. E pela entrega da alma a Deus, Sua sabedoria pode realizar o que a sabedoria humana deixa de fazer. Por meio da revelação de sua graça, os corações que uma vez estiveram indiferentes ou desafeiçoados podem ser unidos em laços mais firmes e mais duradouros que os da Terra. Os áureos laços do amor que suportará o cadinho da provação[37].

 



[1] BJ, p. 1.846.

[2] CBASD, vol. 5, p. 324.

[3] CBASD, vol. 5, p. 324.

[4] CBASD, vol. 1, pp. 617, 618.

[5] CBASD, vol. 5, p. 326.

[6] CBASD, vol. 5, p. 326.

[7] CBASD, vol. 5, p. 326.

[8] CBASD, vol. 5, p. 326 e 327.

[9] CBASD, vol. 5, p. 327.

[10] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 173 a 174.

[11] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 133.

[12] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 134.

[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 135.

[14] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 136.

[15] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 137.

[16] Atos dos Apóstolos, p. 413.

[17] Desejado de Todas as Nações, p. 98.

[18] CBASD, vol. 5, p. 327.

[19] CBASD, vol. 5, p. 327.

[20] Bíblia, Missionários Capuchinhos, Lisboa, p. 979.

[21] CBASD, vol. 5, pp. 325 e 326.

[22] Desejado de Todas as Nações, p. 295.

[23] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 138.

[24] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 174 a 177.

[25] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 139.

[26] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 140.

[27] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 141.

[28] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 142.

[29] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 143.

[30] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 144.

[31] CBASD, vol. 5, p. 327.

[32] CBASD, vol. 5, pp. 327 e 328.

[33] CBASD, vol. 5, p. 328.

[34] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. I, William Barclay. Editora Clie, pp. 177 a 184.

[35] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 145.

[36] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 146.

[37] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 59 a  65.