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Justos, Mas Não o Suficiente

 

 

 

20 - Com efeito, eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.

 

VOSSA JUSTIÇA - A justiça ensinada pôr Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só podem tornar justos, à medida que tem fé em Deus, e mantém vital ligação com Ele. Então a verdadeira piedade lhes elevará os pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizam com a interior pureza cristã. As cerimônias exigidas no serviço de Deus não são nesse caso ritos destituídos de sentido, como o dos fariseus e hipócritas [[1]].

 

Deve recordar-se que Cristo estava se dirigindo ao recém constituído círculo íntimo de discípulos, os doze em especial, e a todos os outros que eram cidadãos futuros do reino recém estabelecido. Cristo expõe aqui em linguagem inconfundível a excelsa norma que deviam atingir esses cidadãos [[2]]. 

 

NÃO EXCEDER - For maior. A justiça dos cidadãos do reino dos céus deve ultrapassar à dos escribas, expositores oficiais da lei, e dos fariseus, que se jactavam de ser mais piedosos do que os demais. Era como se numa concorrência atlética, os discípulos, tão só aficionados, fossem obrigados a medir com profissionais e campeões, e se lhes dissesse que o menos do que deviam fazer era superar a esses campeões [[3]].

 

ESCRIBAS E FARISEUS - A justiça dos escribas e fariseus consistia em prestar uma obediência externa à letra da lei. Cristo queria que se compreendessem os princípios nos quais se baseia a lei e que se vivesse de acordo com eles. Bem como o fazem alguns modernos mestres de religião, escribas escusavam as debilidades da natureza humana, menosprezando a seriedade do pecado. Dessa maneira faziam que fosse fácil desobedecer a Deus e animavam aos homens a fazê-lo. O Rabino Akiba 135 d. C. afirmava que o homem tem de ser julgado pela maioria de seus fatos; isto é, se suas boas ações excedem a suas más ações, Deus o declarará justo Mishnah Aboth 3. 16. A fim de compensar as más ações, os escritos rabínicos prescreviam um sistema de justiça por obras, por meio do qual uma pessoa podia ganhar suficientes méritos para superar o balanço desfavorável de sua conta. Muitos fariseus criam que seu sistema de justiça por obras era um passaporte seguro para o céu; com este fim eram fariseus. Nesta passagem, Jesus apresenta a ineficiência do sistema legalista para conseguir que os homens sequer passem o umbral do reino. Os esforços por obter justiça mediante atos formais ou fatos considerados como meritórios, carecem em absoluto de valor Romanos 9: 31 a 33 [[4]].

 

NÃO - O grego emprega o dobro negativo ou m, sua forma mais enfática, equivalente a nunca jamais [[5]]. 

 

Fariseus São Boas Pessoas

 

Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus. Mateus 5: 20.

 

Essa é a afirmação mais assustadora em todo o repertório de idéias de Jesus. Deve ter deixado Seus discípulos e demais ouvintes muito perplexos.

 

Como poderia alguém ter mais justiça do que os escribas e fariseus? Tal pensamento parecia à maior impossibilidade na mente dos judeus do primeiro século.

Os escribas eram uma classe de pessoas que passavam todo o seu tempo ensinando e expondo a lei de Deus. Sua vida inteira era dedicada ao estudo da Palavra de Deus. Dedicação, os escribas a tinham em abundância.

 

Nos tempos de Jesus, os fariseus eram uma classe seleta de aproximadamente 6.000 homens. A vida deles era totalmente dedicada a promover a vinda do Messias; a palavra grega equivalente a Messias é traduzida como Cristo por meio de um viver perfeito.

 

A maioria dos cristãos precisa revisar sua concepção dos fariseus. Eles não eram simplesmente bons homens; eram os melhores homens. Não só eram moralmente retos, mas extremamente sinceros em buscar a Deus e na veneração e defesa do Seu santo nome, Sua lei e Sua palavra. Certamente a igreja e o mundo estariam infinitamente melhores se um maior número de nós viesse a Deus diariamente com a principal pergunta farisaica: Que farei para herdar a vida eterna? Lucas 10: 25; Mateus 19: 16. Aqui estava um povo totalmente dedicado a servir a Deus, desde o momento em que se levantaram de manhã até quando se deitavam à noite.

 

Deturparemos a imagem do NT se deixarmos de ver a bondade dos escribas e fariseus.

 

Quanto poderia a igreja fazer se cada um de nós fosse tão dedicado como eles eram! Isso, porém, não quer dizer que eles faziam tudo certo, embora pareça sugerir que sua dedicação e devoção a Deus eram incontestáveis.

 

Ajuda-me Senhor, a aprender a lição positiva de dedicação dos escribas e fariseus. Ajuda-me a levar a sério a Tua Palavra [[6]].

 

A Bondade dos Fariseus

Não matarás, e não adulterarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado; que me falta ainda? Mateus 19: 18 a 20.

 

Jesus não contradisse o jovem fariseu que alegava ter guardado os mandamentos desde sua infância. Ele também não discutiu com o fariseu que orava em Lucas 18, agradecendo a Deus por não ser como os demais homens, ladrões, injustos e adúlteros, verso 11.

 

Podemos aprender uma lição examinando o lado bom desse dedicado grupo. Vamos observar suas qualidades dignas de louvor.

 

Em primeiro lugar e acima de tudo, eles eram amantes e defensores da Bíblia como a Palavra de Deus. Sua tradição verbal se estabelecera para preservar o verdadeiro significado das Escrituras.

 

Em segundo lugar, os fariseus eram totalmente dedicados à lei de Deus. Amava a lei de todo o coração. R. Travers Herford apresenta esse aspecto de farisaísmo de maneira concisa, quando afirma que a preocupação principal dos fariseus era fazer Torah lei o guia supremo da vida, em pensamento, palavra e ação, através do estudo do seu conteúdo, da obediência aos seus preceitos e, como base de tudo, um serviço consciencioso a Deus, o qual dera a Torah.

 

Sua dedicação para guardar a Lei de Deus os inspirava a desenvolver milhares de diretrizes, para nem sequer chegarem perto da aparência do mal. Assim, eles tinham cerca de 1 regra verbal sobre como observar o sábado. Essas leis abordavam todos os aspectos de sua vida.

 

Além dessas qualidades, os fariseus eram cheios de zelo missionário e evangelístico e eram bons adventistas. Quer dizer, esperavam a vinda do Messias com grande expectativa.

Muitos deles criam que o Messias Cristo viria se a Torah; lei fosse observada com perfeição por um dia.

 

Os fariseus se assemelham a alguns membros da igreja. Eles acreditam em todas as coisas boas e desejam fazer o bem.

 

Mas aqui está a tragédia: eles não alcançavam o reino. Precisamos estar alerta para não acabarmos sendo como os fariseus. Sabe, de alguma forma eles não eram suficientemente bons[7].

 

Bons, Mas Não o Suficiente

 

 

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo! Mateus 23: 25 e 26.

 

Os fariseus eram boas pessoas, mas não suficientemente boas. Ninguém pode ler os Evangelhos, mesmo de maneira superficial, sem compreender que não havia coisa mais irritante para Jesus do que a religião dos escribas e fariseus.

 

Por quê? Por que Jesus não gritava com as prostitutas e os coletores de impostos? Por que Ele não gastava mais tempo condenando a classe de sacerdotes mundanos os saduceus ou o descuidado povo comum? Por que os fariseus, que de acordo com toda a aparência exterior, eram os melhores homens?

 

O último ponto é o problema. A religião deles tinha boa aparência no exterior. Eles eram pessoas brilhantes, que usavam a vestimenta certa, moravam no melhor tipo de vizinhança e faziam as coisas certas.

As igrejas de hoje, inclusive as chamadas adventistas, iriam disparar em busca dessas pessoas para registrá-las no livro de membros da igreja. Sem dúvida, muitos deles até se tornariam líderes leigos ou eclesiásticos. Seus talentos seriam bem utilizados.

 

Entretanto, eles tinham uma falha. Sua religião era de fachada, não vinha do coração. Jesus foi claro nesse ponto. Se a religião não abranda o coração e transforma a vida de dentro para fora, ela é sem valor.

 

Jesus economizou Suas mais violentas palavras para esses bons membros de igreja, porque eles eram hipócritas inconscientemente. Faziam tudo certo, mas a própria bondade exterior era seu narcótico. Sua bondade os embalava em um sono de condescendência própria, que os deixava imunes ao senso de suas verdadeiras falhas e necessidades espirituais.

 

Eles precisavam ser despertados para o fato de que a mera bondade exterior definitivamente não é bondade. Precisavam compreender a profundidade do cristianismo.

 

Eu também preciso! Senhor dá-me olhos para ver a minha verdadeira condição e ouvidos para ouvir os Teus conselhos [[8]].

 

Pior do que sem Religião

 

 

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos Céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando! Mateus 23: 13.

 

Aquela jovem buscava a Deus com toda sinceridade. E queria encontrar a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Como estava feliz. Quão sincera era ela! Como era transparente!

Ela descobriu que algumas coisas no adventismo eram diferente daquilo que conhecera antes, mas tinha um desejo ardente de se enquadrar ali, de agradar os membros efetivos e fazer a vontade de Deus.

 

Ela já havia freqüentado a igreja por um mês, quando foi anunciado um almoço em conjunto na semana seguinte. Ela ficou entusiasmada.

 

Tendo aprendido de alguma forma que os almoços adventistas eram vegetarianos, ela fez o melhor que pôde da cozinha vegetariana. Estava empolgada por fazer parte do povo de Deus. Mas a refeição foi um desastre. Certa matrona da igreja notou que o prato daquela jovem não era suficientemente bom. Ele continha queijo, e aquela “santa mulher” já vencera aquele tipo de alimento. Ela deixou transparecer o que sentia sobre o assunto.

 

E o resultado? Nossa jovem amiga ficou oprimida. Perplexa, ela se dirigiu a outro lugar em busca de alimento espiritual.

 

Algumas variações dessa história são contadas vez após outra. Experiências de diáconos grosseiros, de observações feitas a respeito de jóias ou vestidos, e acerca do tratamento de jovens que são um pouco diferentes, são abundantes no adventismo.

 

Como resultado, multidões têm ido para outro lugar. E depois de ler o NT, acredito que Jesus teria ido com elas.

 

A religião do NT conduz homens e mulheres a Deus porque reflete o caráter de Jesus. Ela aceitava as pessoas muito melhor do que muitos de nós. A própria aceitação, logicamente, ofendia os escribas e fariseus, assim como ofenderia alguns adventistas [[9]].

 

Que Tipo de Justiça?

Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?... Também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Tiago 2: 14 e 17.

 

Uma das palavras-chave em Mateus 5: 20 é justiça. Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus.

 

Note que Jesus não destaca aqui a Sua própria justiça que nos é imputada. Não. Ele fala da vossa justiça.

 

Jesus não faz rodeios quando fala sobre o cristianismo que influencia nossa vida diária. Ele está falando a respeito da justiça que salva, baseada na fé. Em Mateus 5: 20, a atenção é focalizada inteiramente na obediência humana à vontade de Deus.

 

O fato se torna muito mais evidente quando Jesus começa a ilustrar Seu ponto de vista nos versos 21 até 48. Vez após outra, Ele diz aos ouvintes exatamente como sua justiça deve exceder a dos escribas e fariseus. Cada uma de Suas seis ilustrações tem a ver com coisas que nós, cristãos, fazemos na vida cotidiana. E Jesus termina essa importante passagem, dizendo que precisamos ser perfeitos como é perfeito o Deus do Céu. Verso 48. Isso indica quanto nossa justiça precisa exceder a dos escribas e fariseus.

 

Essas são poderosas palavras, especialmente quando compreendemos que Jesus está falando da nossa justiça e não da Sua justiça imputada a nós.

 

Nisso, Mateus e Tiago se assemelham. Para ambos, a fé produz boas obras. Para ambos, a fé resulta em uma vida religiosa que faz bem aos semelhantes na comunidade. Ambos acham que a fé em Deus leva a pessoas a exemplificar o caráter de Cristo na vida diária. Tanto para Mateus como para Tiago, a adoração a Deus resulta em mudança de vida. Conduz à nossa justiça. E essa justiça precisa exceder a dos mais dedicados zelotes da história, os fariseus.

Cabe a nós prestar muita atenção ao que Jesus está dizendo a respeito da justiça no restante do capítulo 5 de Mateus. Ele tem palavras que a igreja realmente precisa ouvir [[10]].

 

Não Confunda Mateus com Paulo

 

Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem que se gloriar, porém não diante de Deus. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Romanos 4: 2 e 3.

 

         Muitas pessoas se inquietam com relação aos ensinos de Mateus acerca da justiça. Como resultado, a fim de escapar da justiça pelas obras de Mateus, eles sugerem que aqui Jesus não está falando acerca da nossa justiça, mas da justiça de Jesus que nos é imputada.

 

         Muito cuidado aí. Permita que o Jesus de Mateus fale por Si mesmo. Ele não está falando da justiça de Cristo. Está enfatizando a vossa justiça. F.D. Bruner está correto quando diz que, conquanto seja louvável a intenção dos que querem ver a justiça de Cristo em vez da nossa sendo abordada em Mateus 5: 20, sua posição está em falta com a exegese. Ela não se enquadra no contexto.

 

         Deixe Mateus falar por si mesmo, adverte Bruner. Não tenha pressa de considerá-lo como se fosse Paulo. Como você pode ver, Mateus tem sua própria maneira de ensinar o evangelho. É muito diferente da maneira de Paulo, mas não menos bíblica.

 

         A opinião de Mateus a respeito da justiça, conforme é expressa nos versos 17 a 48 do capítulo 5 e nas Bem-aventuranças, oportunamente nos levará ao Pai em busca de perdão Mateus 6: 12 e graça Mateus 19: 16 a 20: 16. Mateus não está em falta no evangelho da graça espontânea, mas em Mateus 5: 20 ele apresenta a necessidade da nossa justiça. Ele está falando do nosso relacionamento para com a lei de Deus, nossa observância da mesma em espírito e verdade.

 

Mateus e Paulo têm um só evangelho, não dois. Mas como Bruner menciona: Paulo, de maneira mais abrangente do que Mateus, nos mostra a fonte da justiça divina. Por outro lado, Mateus, de maneira mais clara do que Paulo, nos mostra o alvo da justiça cristã [[11]].

 

Verdadeira Santidade

 

 

Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quer e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores. Mateus 9:13.

 

         Jesus não nos deixa em dúvida no Sermão do Monte. Ele está interessado em nossa justiça, preocupado com nossa santidade de vida.

 

         E em que consiste essa justiça e santidade? Certamente não no formalismo exterior dos escribas e fariseus. Aquele tipo de vida religiosa é condenado constantemente por nosso Senhor. A justiça cristã é muito mais do que dar o dízimo ou guardar o sábado.

 

         Ela atinge o âmago do problema humano. No evangelho de Mateus e no restante do NT Jesus está procurando conduzir-nos a uma religião genuína, além dos rituais religiosos; uma religião de coração, que nos leve a interessar-nos pelos outros, assim como Deus Se interessa por nós.

 

Vamos deixar que Jesus fale sobre a verdadeira justiça no livro de Mateus. É ser misericordioso e pacificador nas Bem-aventuranças 5: 1 a 9; é interessar-se pelos rejeitados, tais como os leprosos e os pagãos, em Mateus 8: 1 a 17; é Sua repetida admoestação à misericórdia em passagens como Mateus 9: 13 e 12: 7; é Sua homenagem para amarmos em Mateus 5: 43 a 48 e 22: 34 a 40; é tornar-nos como crianças em Mateus 18: 1 a 5 e 19: 14; é o chamando à humildade em Mateus 5:5 e 23:8-12; e é o convite para sofrer em Mateus 10: 16 a 39 e 16: 24 a 28.

 

         Santidade é tudo isso e muito mais. É dar um copo de água fria ao sedento, é alimentar o faminto, é amar a Deus de todo o nosso coração e entendimento.

 

         A vossa justiça, ou santidade na opinião de Jesus, é algo todo-abrangente. Envolve todos os aspectos da nossa vida. É uma atitude, é um modo de vida, é a maneira de ser. Quando Jesus disse que a nossa justiça precisa exceder em muito a dos escribas e fariseus, Ele Se referiu a todas as partes de nossa vida, tanto interior como exteriormente.

 

         Senhor, ao compreendermos mais plenamente o que significa ser cristão, suplicou Tua habilitadora graça em nossa vida; queremos ser sensíveis tanto à Tua vontade como às necessidades de outras pessoas [[12]].

 

O que Jesus Quer Dizer?

 

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimente qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Romanos 12: 2.

 

         O capítulo 5 de Mateus, em seus primeiros 20 versos, nos conduziu através de águas turbulentas. Primeiro, vimos qual deve ser o nosso caráter, nas Bem-aventuranças. Depois, Ele diz que nossa justiça precisa exceder a dos escribas e fariseus.

 

         O que Jesus quer dizer? A explicação é realmente bem simples. Ele quer que sejamos exatamente o oposto que somos por natureza. Nas palavras de João, isso pode ser descrito como nascer de novo João 3: 5 e 7. Nas palavras de Paulo, em II Coríntios 5: 17 são tornar-se uma nova criatura. Mas de todas essas descrições, acho que a de Romanos 12:2 é a mais pitoresca.

 

         Paulo nos diz que precisamos ser transformados. A palavra transformar é muito interessante. Ela vem da palavra grega metamorphoo. Esse é o mesmo termo que dá origem à palavra metamorfose, usada pelos biólogos.

 

         E o que é metamorfose? De acordo com o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, é uma mudança notável ou completa na fortuna, no estado, no caráter de uma pessoa, etc.

 

         Metamorfose é o que acontece com a larva ou a lagarta quando ela se torna uma borboleta. Para mim, essa é a melhor ilustração gráfica daquilo que acontece com a pessoa quando ela encontra Jesus.

 

Deus nos encontra em nosso egocentrismo, orgulho, e caminho condescendente então nos toma e transforma nossa vida. Isso, sim, é um milagre! Talvez seja o maior de todos os milagres. Deus quer tomar uma larva como eu e me ensinar a voar. Deus quer tomar répteis desbotados, e pintá-los em lindos matizes e dar-lhes asas.

 

E o melhor de tudo é que Ele pode fazer isso. Louvado seja Deus! Ele deseja me transformar. Quer que minha justiça exceda até mesmo a dos escribas e fariseus. Ele deseja fazer de mim algo que eu não sou. Deseja tornar-me uma nova criatura à imagem de Jesus [[13]].

 

Excedendo o Extraordinário

Portanto, santificai-vos e sede santos, pois Eu sou o Senhor, vosso Deus. Guardai os Meus estatutos e cumpri-los. Eu sou o Senhor, que vos santifico. Levítico 20:7 e 8.

 

         Se justiça é uma das palavras-chave em Mateus 5: 20, a segunda é exceder. Porque nos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus, disse Jesus.

 

         Nessa passagem, Jesus definitivamente alerta Seus seguidores de que o cristianismo não é fácil. O único alvo dos escribas e fariseus era satisfazer às exigências da lei. Eles procuravam ser santos, mas não compreendiam a intensidade da santidade. Deixaram de ver que a verdadeira santidade não é meramente uma rotina exterior de obrigações religiosas, mas um motivo interior de amor para com Deus e as demais pessoas, o qual constantemente encontra expressão na vida.

 

         Ser santo é viver uma vida santificada. A palavra santificar quer dizer purificar, consagrar ou separar. Assim foi dito a Moisés para purificar, santificar, todo o poço de Israel ao Senhor. Êxodo 30: 25 a 29; 40: 9 a 11; Levítico 8: 10 a 13.

 

         A palavra do Novo Testamento traduzida como santificar significa tornar santo. Assim, um santo aquele que foi santificado é uma pessoa que foi separada por Deus para um santo propósito.

 

         O NT fala frequentemente da santificação como um fato realizado. Como resultado, Paulo pode escrever aos coríntios como aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos. I Corintios 1: 2.

 

         Ser um verdadeiro cristão significa permitir que o nosso eu seja separado para um santo propósito. Significa viver para Deus. Quer dizer, viver a vida de Deus como foi retratado por Jesus.

 

         Quando Jesus usou a palavra exceder, no Sermão do Monte, Ele falou com grande seriedade. Como logo veremos nos versos 21 a 48 de Mateus 5, Sua opinião a respeito da espiritualidade é muito mais profunda e ampla do que a dos judeus. Através do poder do Seu Espírito, Ele quer que excedamos os extraordinários [[14]].

 

 

Nossa Justiça: Ponto de Salvação

 

Alegremo-nos, exultemos e demos-Lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos. Apocalipse 19: 7 e 8.

 

         Algumas pessoas não gostam desse tipo de conversa. Se assim é, elas não gostam do tipo de conversa que Jesus usa. Em Mateus 5: 20, Ele afirmou categoricamente que a menos que a justiça de uma pessoa excedesse a dos escribas e fariseus, ela não entraria no reino dos Céus.

 

         Frederick D. Bruner, teólogo presbiteriano, apresenta de maneira apropriada o intento de Jesus: Vemos que entre os versos 17 a 20, a ordem passa gradativamente da teoria para a prática. E finalmente Jesus nos deixa com a suprema advertência: Se a Escritura não nos torna justos, justos além da justiça das pessoas mais sérias da comunidade do antigo povo de Deus, os instrutores da Bíblia e os membros do farisaísmo separatista, não entraremos no reino. O propósito da Escritura, afinal, não é tanto a doutrina correta que ela encerra, mas a obediência pessoal a ela. O alvo da Escritura é a piedade da obediência. O assunto do pingo nos is e o corte nos tês, é o comportamento daqueles que os lêem. O verso final da doutrina da Escritura de Jesus Mateus 5: 20 é completamente moral e até mesmo salvífico. Jesus nos adverte de que se a Escritura não atingir sua finalidade em nós, a justiça, ela dará fim a nós. A vida ou morte depende da nossa resposta a este Livro.

         Com o texto de Mateus 5: 20, Jesus monta o palco para o que vem em seguida. Nos versos 17 a 20, Ele não só informa que Seu ensino não é discordante da lei e dos profetas, o AT, como também indica que é bem diferente do ensino dos escribas e fariseus.

 

         Agora estamos prontos para examinar tanto a coerência como as diferenças, enquanto Jesus, o legislador, pessoalmente nos mostra e expõe a profundidade e a amplitude do significado da lei [[15]].

 

 

LEITURA ADICIONAL

 

Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos Céus. Mateus 5: 20.

 

    Os escribas e fariseus tinham acusado não somente Cristo, mas também Seus discípulos por sua desconsideração para com os ritos e observâncias rabínicos. Muitas vezes tinham sido os discípulos deixados perplexos e perturbados pela censura e a acusação daqueles a quem tinham sido habituados a reverenciar como mestres religiosos. Jesus revelou o engano. Declarou que a justiça a que os fariseus davam tão grande valor, nada valia. A nação judaica pretendia ser o povo peculiar, leal, favorecido por Deus; mas Cristo apresentava sua religião como vazia de salvadora fé. Todas as suas pretensões de piedade, suas invenções e cerimônias humanas, e mesmo o cumprimento das exigências exteriores da lei, não os podiam tornar santos. Não eram puros de coração ou nobres e semelhantes a Cristo no caráter. 

 

    Uma religião legal é insuficiente para pôr a alma em harmonia com Deus. A dura, rígida ortodoxia dos fariseus, destituída de contrição, ternura ou amor, era apenas uma pedra de tropeço aos pecadores. Eles eram como o sal que se tornara insípido; pois sua influência não tinha poder algum para preservar o mundo da corrupção. A única fé verdadeira é aquela que atua pelo amor. Gálatas 5: 6, para purificar a alma. É como o fermento que transforma o caráter. 

 

    Tudo isto deviam os judeus ter aprendido dos ensinos dos profetas. Séculos antes, o grito da alma pedindo justificação com Deus encontrara expressão e resposta nas palavras do profeta Miquéias: "Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil ribeiros de azeite?... Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus? Miquéias 6: 6 a 8

 

O profeta Oséias indicara o que constitui a própria essência do farisaísmo, nas palavras: Israel é uma videira estéril; dá fruto para si mesmo. Oséias 10: 1 Tradução Trinitariana. Em seu professo serviço a Deus, os judeus estavam na verdade trabalhando para o próprio eu. Sua justiça era o fruto de seus próprios esforços para guardar a lei, segundo suas próprias idéias, e para seu benefício pessoal, egoísta. Daí o não poder ser ela melhor do que eles mesmos. Em seu esforço por se tornarem santos, procuravam tirar uma coisa pura de outra imunda. A lei de Deus é santa como Ele próprio é santo, perfeita como Ele é perfeito. Ela apresenta aos homens a justiça de Deus. Impossível é ao homem, de si mesmo, guardar essa lei; pois a natureza do homem é depravada, deformada, e inteiramente diversa do caráter de Deus. As obras do coração egoísta são como coisa imunda; e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia. Isaias 64: 6

 

Embora a lei seja santa, os judeus não podiam atingir a justiça por seus próprios esforços para guardar a lei. Os discípulos de Cristo precisam alcançar a justiça de um caráter diverso daquela dos fariseus, se querem entrar no reino do Céu. Em Seu Filho, Deus lhes oferecia a perfeita justiça da lei. Caso abrissem plenamente o coração para receber a Cristo, a própria vida de Deus, Seu amor, habitaria então neles, transformando-os à Sua própria semelhança; e assim, mediante o dom gratuito de Deus, haviam de possuir a justiça exigida pela lei. Mas os fariseus rejeitavam a Cristo; não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça. Romanos 10: 3, não se submeteram à justiça divina. 

 

Jesus Se pôs a mostrar a Seus ouvintes o que significa observar os mandamentos de Deus, que isso é uma reprodução, neles próprios, do caráter de Cristo. Pois Nele Se manifestava Deus diariamente aos olhos deles [[16]].

 

 



[1] Desejado de Todas as Nações, p. 291.

[2] CBASD, vol. 5, p. 324.

[3] CBASD, vol. 5, p. 324.

[4] CBASD, vol. 5, p. 324.

[5] CBASD, vol. 5, p. 324.

[6] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 112.

[7] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 113.

[8] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 114.

[9] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 115.

[10] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 116.

[11] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 115.

[12] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 116.

[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 117.

[14] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 118.

[15] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 121.

[16] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 53 a 55.