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Cristãos: Sal da Terra

 

 

13 - Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, se não para ser lançado fora e pisado pêlos homens.

 

VÓS - Em grego, o pronome é enfático: Vós mesmos sois o sal da terra. É importante recordar que Jesus se estava dirigindo a seus discípulos, especialmente aos doze, em sua nova condição de fundadores do reino de sua divina graça. Tinham outros que estavam escutando, principalmente lavradores e pescadores, mas também tinha espiões enviados pelos fariseus [[1]].

 

         SAL - Não vos aparteis do mundo, a fim de escapar à perseguição. Deveis permanecer entre os homens, para que o sabor divino do amor seja como o sal a preservar o mundo da corrupção.

 

         Corações que correspondem à influência do Espírito Santo são condutos pôr onde fluem as bênçãos divinas. Fossem os servos de Deus tirados da terra, e seu Espírito retirado dentre os homens, este mundo seria entregue a desolação e destruição, o fruto do domínio de Satanás. Conquanto os ímpios não o saibam, deve até mesmo as bênçãos desta vida, à presença do povo de Deus no mundo, esse povo que desprezam e oprimem. Mas se os cristãos são apenas de nome, são como o sal que perdeu o sabor. Não exercem nenhuma influência para o bem no mundo. São, pela falsa representação de Deus, piores que os incrédulos [[2]].

 

 Na Palestina o sal se recolhia na costa do Mediterrâneo ou do mar Morto e suas cercanias. Pela forma em que se a recolhia, ficava bastante impura. Ao umedecer o sal, por ser muito solúvel na água se desvanecia e só ficavam as impurezas que eram insípidas. 

 

A idéia básica na comparação dos cidadãos do reino com o sal é que ela serve para preservar. Antes que tivesse refrigeração ou outros métodos modernos para conservar os alimentos, para esse fim se empregavam muito o sal e as especiarias. Na antiga Palestina se usava sal quase exclusivamente para esse propósito e para sazonar a comida Jó 6: 6. Do mesmo modo, o cristão, ao converter-se em instrumento para a salvação de outros por meio da difusão do Evangelho, exerce uma influência preservadora e purificadora no mundo. Os discípulos tinham de reconhecer que a salvação de seus próximos era sua primeira responsabilidade. Não deviam retirar-se da sociedade por causa de uma perseguição Mateus 5: 10 a 12 nem por outras razões, senão tinham de permanecer em estreita relação com seus próximos. 

 

Em sua apresentação do Sermão do Monte, Lucas não inclui o conteúdo de Mateus 5: 13 a 16, ainda que cite uma declaração similar de Cristo, pronunciada em outra ocasião Lucas 14: 34 e 35. Marcos também registra numa passagem similar as palavras pronunciadas só aos discípulos em outras circunstâncias Marcos 9: 50, e aplicadas particularmente à característica de levar-se bem mutuamente. O fato de que se lhe atribuam a Jesus os mesmos ditos, ou ditos similares, em diferentes momentos de seu ministério, induziu a alguns a pensar que os evangelistas atribuíram esses ditos a certas ocasiões da vida de Cristo em forma descuidada e arbitrária, sem considerar quando Jesus fez realmente essas afirmações. Esta conclusão se baseia na idéia um tanto ingênua de que Jesus expressou uma determinada idéia só uma vez durante seu ministério. No entanto, não há uma razão válida para supor que Jesus não teria repetido suas palavras, parcial ou totalmente, em vários momentos, frente a diferentes públicos e ainda ante aproximadamente as mesmas pessoas [[3]]. 

 

INSOSSO - Desvanecer-se. Isto é, volta-se insípida. Seria tão ilógico que o cristão perdesse suas características essenciais e ainda fosse cristão, como que o sal perdesse seu sabor e ainda se a considerasse como sal e se a empregasse como tal. Se os cristãos o são só de nome, sua cidadania nominal no reino dos céus se converte numa farsa. Não são cristãos se não refletem o caráter de Cristo, não importa qual seja sua profissão [[4]].

 

SALGAREMOS - Salgada. Isto é, como se restaurariam suas características essenciais de sal que lhe dão utilidade? Quando da vida de um professo cristão desaparecem o amor, o poder e a justiça de Cristo, não há outra fonte da qual possa obter o que lhe falta. Um cristão nominal não pode compartilhar com outros que ele mesmo não possui. No antigo rito cerimonial, adicionava-se sal a todos os sacrifícios Levítico 2: 13; Ezequiel 43: 24; Marcos 9: 49; sem sal não eram aceitáveis. Neste caso o sal simbolizava a justiça de Cristo. A fim de que nossas vidas sejam um sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Romanos 12: 1 deve ser preservadas e sazonadas com a perfeita justiça de Jesus Cristo Gálatas 2: 20  [[5]]. 

 

PARA NADA MAIS SERVE - Um cristão cuja vida perdeu a graça e o poder de Cristo, como cristão não serve mais para nada. Ainda mais, converte-se num verdadeiro prejuízo para a causa do reino porque vive uma vida que tergiversam os princípios do reino [[6]]. 

 

PISADA PELOS HOMENS - Desde onde a multidão estava sentada podia-se ver as linhas brancas de sal, jogado ali porque tinha perdido seu valor [[7]].

 

SAL: 26 PASSAGENS BÍBLICAS

 

1. Ora a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal. Gênesis 19: 26.

 

2. Salgarás toda oblação que ofereceres e não deixarás de pôr na tua oblação o sal da aliança do Teu Deus; a toda oferenda juntarás uma oferenda de sal a teu Deus; Levítico 2: 13.

 

SAL - Atribuia-se ao sal um valor purificdor Ezequiel 16: 4; II Reis 2: 20; Mateus 5: 13. Entre os assírios, era utilizado no culto, e entre os nômades, na refeição de amizade ou de aliança, donde a expressão aliança de sal Números 18: 19 para exprimir a estabilidade da aliança entre Deus e os seu povo [[8]].

 

3. Todas as oferendas que os filhos de Israel trazem a Iahweh, das coisas santas dou a Ti, bem como a teus filhos e a tuas filhas, como estatuto perpétuo; É uma aliança eterna de sal, diante de Iahweh é, para ti e para a tua descendência contigo. Números 18: 19.

 

4. Enxofre e sal, toda sua terra está queimada; ela não será mais semeada, nada mais fará germinar e nenhuma erva nela crescerá! Foi como a destruição de Sodoma e de Gomorra, de Adama e de Seboim, que o Iahweh destruiu em sua ira e furor. Deuteronômio 29: 23.

 

5. Nibsã, a Cidade do Sal, e Engadi; seis cidades com suas aldeias. Josué 15: 62.

 

6. Abimeleque atacou a cidade o dia inteiro. Depois de tomá-la massacrou seus habitantes, destruiu a cidade, e espalhou sal sobre ela. Juízes 9:45.

 

ESPALHOU SAL SOBRE ELA – Ato simbólico com o objetivo de esterilizar a terra. As escavações de Siquém testemunham uma destruição da cidade no decorrer do século XII a. C. [[9]].

 

7. Davi aumentou a sua fama quando venceu os edomitas no vale do Sal, em número de dezoito mil. II  Samuel 8: 13.

VALE DO SAL - A Arabá, o vale que se prolonga ao sul do mar Morto [[10]].

 

8. Disse ele: Trazei-me um prato novo, e ponde nele sal. E eles lho trouxeram. II Reis 2:20.

 

9. Ele foi à fonte das águas, lançou-lhe sal e disse: Assim fala Iahweh: Eu saneio estas águas; e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade. II Reis 2: 21.

 

10. Venceu os edomitas no vale do Sal, num total de dez mil homens, e tomou de assalto a Rocha e deu-lhe o nome de Jecetel, que ela conserva até hoje. II Reis 14: 7.

 

12. Abisai, filho de Sárvia, venceu os edomitas em número de dezoito mil  no Vale do Sal. I Crônicas 18:12.

 

13. Não sabeis que Iahweh o Deus de Israel deu a Davi para sempre a realeza sobre Israel, é uma aliança de sal inviolável para ele e para seus filhos. II Crônicas 13:5.

 

14. Amazias resolveu partir a frente de seu exército, chegou  ao Vale do Sal; e derrotou dez mil dos filhos de Seir. II Crônicas 25: 11.

 

15. Ser-lhes-á dado cada dia, sem falta, segundo as indicações dos sacerdotes de Jerusalém, tudo o que lhes for necessário para os holocaustos do Deus do céu: novilhos, carneiros, e cordeiros, trigo, sal, vinho e óleo. Esdras 6: 9.

 

16. Até o limite de cem talentos de prata, cem coros de trigo, cem batos de vinho, e até cem batos de azeite; e sal à vontade. Esdras 7: 22.

 

17. Come-se um manjar insípido sem sal? Ou que gosto pode haver numa clara de ovo? Jó 6: 6.

 

18. Por ocasião do teu nascimento, ao vires ao mundo, não cortaram o teu cordão umbilical, não foste lavada para tua purificação, não foste esfregada com sal, nem foste enfaixada. Ezequiel 16: 4.

 

19. Oferecê-los-ás perante Iahweh e sobre eles os sacerdotes borrifarão sal, oferecêndo em holocausto a Iahweh. Ezequiel 43: 24.

 

20. Mas quanto a seus brejos e  pântanos, Estes não serão salubrificados; antes,  serão deixados como reservas de sal. Ezequiel 47: 11.

 

21. Por isso, por minha vida, oráculo de Iahweh dos Exércitos, Deus de Israel: Sim Moab será como Sodoma, e os filhos de Amom como Gomorra, um terreno de cardos, um montão de sal, um deserto para sempre. O resto do meu povo o saqueará, e o que sobrar de minha nação será o seu herdeiro. Sofonias 2:9.

 

22. Vos sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, se não para ser lançado fora e pisado pêlos homens. Mateus 5:13

 

23 - Pois todos serão salgados com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal. Marcos 9:49.

 

24 - O sal é bom; mas se o sal se tornar insípido, com retemperá-lo? Tende sal em vós mesmos, e vivei em paz uns com os outros. Marcos 9: 50.

 

25. O sal, de fato, é bom.Porém, se até o sal se tornar insosso, com que se há de temperar? Lucas 14: 34.

 

26. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um. Colossenses 4: 6.

 

Quando Jesus disse isto pôs à disposição da humanidade uma expressão que foi transformada no maior elogio que pode ser feito a qualquer pessoa. Quando nós queremos fazer menção do valor e do caráter da utilidade de alguém diga: Pessoas assim são o sal da terra.

 

No mundo antigo o sal era altamente apreciado. Os gregos chamavam o sal de divino: Theion. Uma frase que em latim é uma espécie básica, os romanos diziam: Não há nada mais útil que o sol e o sal. Nil utilius sole et sale. No tempo de Jesus o sal era relacionado com a mente das pessoas em três condições especiais:

 

1. O sal era símbolo de pureza. Provavelmente sua brancura resplandecente sugeria esta conexão. Os latinos diziam que o sal era a coisa mais pura, porque as coisas mais puras procediam do sol e do mar. O sal foi de fato uma das primeiras oferendas que se faziam aos deuses, e até nos últimos tempos os sacrifícios judaicos eram oferecidos com sal. O cristão é o sal da terra, é um exemplo de pureza.

 

Uma das características do mundo na época em que vivemos é que os níveis morais estão em descrédito. Os níveis de honra, diligência e de trabalho, de responsabilidade, moral, todos tendem a se reduzir. O cristão deve ser uma pessoa que mantém em alto nível sua pureza, sua maneira de falar, sua conduta e pensamento.

 

Um escritor dedicou um livro a J. Y. Simpson, que tem o melhor resultado possível. Nenhum cristão pode cair dos níveis de estrita honra. Nenhum cristão pode pensar em reduzir os níveis morais em um mundo em que tudo induz ao pecado. Nenhum cristão pode permitir gestos e conversas que induzem ao pecado. O cristão não pode se retirar do mundo, porém como diz Tiago o cristão pode guardar-se livre da corrupção do mundo. 1: 27.

 

2. No mundo antigo o sal era o mais popular de todos os conservantes. Usava-se para evitar que as coisas se deteriorassem e para conter a putrefação. Plutarco tem uma maneira curiosa de dizer: A carne é um corpo morto, e se deseja que a mesma não se decomponha, o sal a conservará e a manterá fresca, é como se injetasse vida num corpo morto.

 

Assim que o sal preserva da corrupção. Se o cristão é o sal da Terra, ele é uma influência anti-séptica para a vida.

 

Todos nós sabemos que existem certas pessoas em cuja companhia é fácil ser bons, e outras em que a companhia é fácil baixar á conduta moral. Existem pessoas que sua presença só traz obscenidades, e outras não, a presença do cristão deveria trazer pureza em qualquer sociedade que se encontre, deve ser uma pessoa que sua presença exclui a corrupção e trás um exemplo para que outros sejam limpos.

 

3. A maior qualidade do sal é que dá sabor aos alimentos. Os alimentos sem sal são tristemente insípidos e desagradáveis. O cristianismo é para a vida o que o sal é para comida. O cristianismo dá sabor à vida.

 

O trágico é que pessoas ao entrarem em contato com alguns cristãos não sentem isto. Identificam com algo que tiram o sabor da vida. Swinburne disse:

Tu tens conquistado pálido Galileu; o mundo está em cinzas ante teu alento.

 

Após Constantino ter oficializado o cristianismo como a religião oficial do império romano, subiu ao trono Juliano que queria atrasar o relógio e voltar a adorar os antigos deuses. Sua queixa era, como se expressa Ibsen:

Tens visto os rostos dos cristãos? Olhos caídos, bochechas pálidas, peitos de tábua, perdem a vida se remoendo, incentivados pela ambição, para eles brilha o sol, porém não vêem a terra lhes oferece sua plenitude, porém eles não a querem, a única coisa que querem é a renúncia, e sofrer para morrer o mais rápido possível.

 

Para o Juliano faltava vida ao cristianismo.

Oliver Wendell Holmes disse: Eu poderia ter me ingressado no ministério se alguns clérigos que conhecia não houvessem parecido e atuado tanto como coveiros. Robert Louis Stevenson escreveu uma vez em seu diário, como se recordasse algum fenômeno extraordinário: hoje fui à igreja, e não estou deprimido.

 

O mundo tem o direito de descobrir outra vez o fulgor perdido da fé cristã. É um mundo ansioso, o cristão deveria ser a única pessoa que se mantivesse serena. Em um mundo deprimido, o cristão deveria ser a única pessoa plena e com alegria de viver, ser sensível e falar palavras agradáveis. Onde for é o sal da terra, e difunde alegria.

 

Jesus passou a dizer se o sal tornar-se insípido, não serve para mais nada, é lançado para que todo mundo pise. E. F. F. Bishop, em seu livro: Jesus da Palestina, cita uma explicação plausível que deu F. E. Newton. Na Palestina, os fornos estão fora de casa e foram construídos de pedra sobre uma base de azulejos. Depois de certo tempo o sal se decompõe. E levanta o azulejo e se retira o sal é colocado no caminho até a porta do forno... Perde sua qualidade. Pode ser este sal que é representado no texto.

 

A idéia principal é algo que o NT insiste: A inutilidade convida ao desastre. Se um cristão não está cumprindo seu propósito como cristão, está fadado ao desastre. O sentido da vida consiste em sermos o sal da terra, e se não o fazemos estamos caminhando para o caos.

 

Na igreja primitiva se fazia um uso estranho deste texto. Na sinagoga, entre os judeus, havia o seguinte costume: Se um judeu se tornasse apóstata e retornasse logo a fé, antes de ser recebido novamente na sinagoga, teria como penitência que deitar-se à porta da sinagoga e convidar a todos que entrassem para que pisassem nele. Em alguns lugares, a igreja cristã adotou este costume, e um cristão que havia sido expulso da Igreja por disciplina, se obrigava, antes de ser admitido outra vez, a deitar-se na porta da igreja e convidar aos que entravam dizendo: Pisem-me porque sou como o sal que perdeu seu sabor [[11]].

 

O Segundo Passo

 

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Mateus 5:13.

 

Chegamos ao nosso primeiro ponto decisivo na caminhada com Jesus no Sermão do Monte. Nas bem-aventuranças de Mateus 5: 3 a 12, Jesus define os elementos essenciais do caráter cristão. Entretanto, na metáfora do sal e da luz, nos versos 13 a 16, Ele considera a influência do cristão.

 

Na verdade, essas duas seções do Sermão do Monte estão intimamente relacionadas. Afinal a influência do cristão depende do seu caráter. Sem um caráter cristão, não pode haver influência cristã.

 

Esta última sentença pode parecer muito trivial para a maioria de nós, para ter algum significado. O que queremos dizer quando falamos que sem um caráter cristão, não há influência cristã?

 

Simplesmente isto: que os assim chamados cristãos, que não são misericordiosos, mansos, nem puros de coração e outras coisas mais, não são realmente cristãos, embora pertençam à igreja. Essa pessoa exercerá alguma influência, mas sua influência não será cristã.

 

E aí está um problema para a igreja. Porque como a pessoa é chamada de cristã e pertence à igreja, suas ações são vistas pela comunidade em geral como representando aquilo que significa cristianismo. Mas isso é um falso testemunho. A maneira trapaceira de alguns fazerem negócios e o orgulho ou difamação de outros apresentam um falso testemunho à comunidade. Isso não é testemunho cristão. A pessoa precisa ser cristã conforme as bem-aventuranças, se ela quer exercer uma influência cristã.

 

Devemos observar também que Mateus 5: 13 diz que os cristãos são o sal da terra. Se eles são cristãos, não há outra escolha. Essa é a nona declaração de Jesus sobre os cristãos, sem Seu sermão. Assim sendo, como são os mansos e pacificadores, também serão o sal do mundo. E porque somos o sal do mundo, precisamos estudar cuidadosamente a utilidade do sal [[12]].

 

 

O Problema do Mundo

 

 

Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração; então se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na Terra. Gênesis 6:5 e 6.

 

Um ponto importante para se compreender nas palavras de Jesus, ao dizer que os cristãos são o sal da terra, ou do mundo, é que elas não só descrevem o cristão, mas inferem uma descrição do mundo onde o cristão deve atuar como sal. Jesus coloca o sal contra o mundo; Ele quer dizer que os cristãos são diferentes e distintos, podem eles ser reconhecidos como sal e ter efeito do sal.

 

Esse capítulo já descreveu o cristão, mas não descreve o mundo. Essa descrição é encontrada na Bíblia inteira.

 

A primeira descrição da Terra ou do mundo na Bíblia é: Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Gênesis 1: 31. Mas essa qualidade bom não perdurou. Gênesis 3 relata a entrada do pecado e da corrupção no mundo e na raça humana.

 

Gênesis 4 assimila essa descrição de corrupção e apresenta a situação do mundo através da história de Caim e Abel. No capítulo 6 encontramos Deus declarando que a Terra e seus habitantes haviam verdadeiramente se corrompido ao máximo.

 

Mais tarde, a Bíblia descreve o Dilúvio e Deus começando tudo de novo com Noé. O novo começo, porém, falhou. A corrupção continuou a se alastrar.

 

A Bíblia é a história de um mundo enfermo e de um Deus que procura resgatá-lo. É à luz desses fatos que precisamos ler as palavras de Jesus. G. Campbell Morgan disse com muita propriedade que: Ao contemplar Jesus a multidão de Seus dias, via corrupção, a desintegração da vida em todos os sentidos, seu colapso, sua ruína; e por causa do Seu amor às multidões, Ele sabia que a coisa que mais precisavam era o sal, a fim de que a corrupção fosse detida. Os cristãos têm uma função no mundo. Eles são o sal da Terra [[13]].

 

 

A Natureza do Sal

 

 

Não peço que os tires do mundo e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. João 17: 15 e 16.

 

Uma das grandes tensões da vida diária é que nós, cristãos, somos cidadãos de dois reinos ao mesmo tempo. Somos cidadãos do reino do Céu, mas nossa existência diária tem lugar em um dos reinos deste mundo. Jesus disse isso de maneira um pouco diferente quando observou que os cristãos vivem no mundo, mas não são do mundo.

 

Quer dizer, eles não vivem isolados do mundo. Aos cristãos é dito que sua mente e perspectivas devem se concentrar em outro mundo, mas nunca devem sair desse mundo ou deixar de se importar com o mundo. Esse foi o erro do monasticismo. De acordo com esse conceito, para viver a vida cristã suprema, a pessoa devia se afastar da sociedade e desfrutar uma vida de contemplação.

 

A declaração de Jesus a respeito do sal contesta categoricamente essa suposição. Os cristãos devem ser o sal da terra. Isso quer dizer, como Dietrich Bonhoeffer descreve, que eles “não devem somente pensar no Céu; eles têm uma tarefa a cumprir na Terra também”.

 

O sal tem muitas funções. Nas sociedades que não possuem refrigeração, ele é usado como preservativo. É friccionado na carne para evitar deterioração. Uma função positiva do sal é dar sabor. Muitos alimentos ficam mais saborosos quando se lhes acrescenta o sal. Para ter efeito, porém, o sal precisa estar em contato com o alimento. Se deixarmos o sal a uns poucos centímetros de distância do alimento, ele não pode preservá-lo, nem lhe dar sabor.

 

Os cristãos funcionam como o sal ao misturar-se com a cultura ao seu redor. Embora os cristãos nem sempre reconheçam, sua vida cotidiana modera o povo e a sociedade que os circunda à medida que vive de acordo com as bem-aventuranças. A vida deles dá sabor à sociedade através de pequenos atos de bondade praticados, da humildade que demonstram e assim por diante. Até mesmo pessoas orgulhosas e de coração endurecido geralmente acham difícil não respeitar verdadeiros cristãos, embora possam preferir não imitá-los.

 

Senhor ajuda-me a ser hoje como o sal – em meu lar, em minha vizinhança e no local de trabalho [[14]].

Vida de Sal

 

Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? I Coríntios 5:6

 

O sal é como o fermento no que se refere à sua capacidade de permear o alimento com o qual entra em contato. Assim como o fermento transforma toda a massa feita de farinha e água na qual foi acrescentado, também o sal dá sabor a uma grande panela cheia de feijão. O sal muda as coisas.

 

A influência, logicamente, pode ser boa ou má. Diz-se que Oliver Wendell Holmes afirmou: Eu poderia ter ingressado no ministério se certos clérigos que conheço não tivessem a aparência e nem agissem como coveiros. E o escritor Robert Louis Stevenson anotou em seu diário, como se estivesse registrando um fenômeno singular: Estive na igreja hoje e não estou deprimido.

 

O sal da influência cristã será positivo, não negativo. Será edificante e promissor. A vida cotidiana do cristão deixará em seu despertar um vestígio e uma atmosfera de paz, mesmo em tempos turbulentos. Ela dará sabor a tudo que tocar, porque pela fé está em contato com o Deus que tem cuidado de Seus filhos. O cristão demonstra as características divinas porque o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Gálatas 5: 22 e 23. Que sabor excelente para qualquer sopa, qualquer comunidade!

 

Talvez o principal ingrediente da influência cristã seja o amor transbordante e genuíno. Quando o amor enche o coração, fluirá para os outros, não por causa de favores recebidos deles, mas porque é o amor o princípio da ação. O amor modifica o caráter, rege os impulsos, subjuga a inimizade e enobrece as afeiçoes. Este amor é vasto como o Universo, e está em harmonia com o dos anjos ministradores. Nutrido no coração, adoça a vida inteira e derrama benefícios sobre todos ao redor. É isto, e isto unicamente, que nos pode tornar o sal da Terra [[15]].

 

O Lado Social do Sal

 

Irmãos,  venho lembrar-vos o evangelho das boas novas que vos anunciei... Que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. I Coríntios 15: 1 a 4.

 

As boas novas do evangelho são que Jesus morreu por nossos pecados; além disso, Sua ressurreição é a garantia da nossa ressurreição futura. Alguns gostariam que crêssemos que as boas novas são o fato de que a igreja cristã efetuará um reforma social na economia e nos governos humanos. Eles vêem a função do sal da igreja como aquela na qual seu papel é fazer pronunciamentos acerca da situação geral do mundo no tocante a coisas como políticas, economia e relações exteriores.

 

O problema com essa abordagem da analogia do sal é que ela não é encontrada no NT. Em lugar nenhum vamos encontrar Jesus ou Paulo trabalhando em prol da reforma do governo romano ou emitindo decisões à corte imperial para fazer isso ou aquilo.

 

Aqueles que têm considerado a função do sal do cristão como essencialmente social, basearam sua compreensão nos profetas do AT. Mas há um problema com essa maneira de ver, pois em Israel não havia distinção entre Igreja e Estado. Por isso, os profetas do AT tinham de considerar a vida inteira da nação.

 

No NT é diferente. A igreja não é identificada com nação nenhuma, nem grupo de interesses específicos. Pelo contrário, a principal função é pregar o evangelho da salvação em Jesus a todas as nações. Mas uma vez que a igreja começa a interferir num ou noutro assunto econômico ou social, ela deixa de alcançar aqueles que estão do outro lado da questão.

 

Aqui, no entanto, precisamos ser cuidadosos para não ir de um extremo ao outro. Conquanto a igreja deva estar alerta para não tomar partido, os cristãos individualmente têm a responsabilidade de votar e fazer com que sua voz seja ouvida na comunidade, bem como testemunhar dos princípios bíblicos em sua vida diária.

 

Senhor ajuda-nos hoje, como igreja e como indivíduos, a aprender melhor como ser o sal da Terra [[16]].

 

Sal Insípido

 

O sal é excelente. Mas se for sem sabor, é inútil, não serve para nada. Vocês estão prestando atenção nisso? Realmente ouvindo? Lucas 14: 34 e 35.

 

 

Sal é sal. Sal é salgado. Se não for salgado não é sal.

Como, no entanto, pode o sal ser insípido? O fato é que não pode. Se não for salgado, não é sal.

 

E daí? Você pode perguntar a essa altura. Que significado esse ponto, um tanto esotérico, tem a ver com a minha vida?

 

Tem tudo a ver, porque Jesus não disse que Seus seguidores devem ser o sal, podem ser o sal ou possivelmente se tornarão o sal. Não! Ele diz categoricamente que os cristãos são o sal.

 

Os cristãos não têm outra escolha quanto a ser ou não o sal. Jesus declarou: Vós sois o sal da Terra. A única escolha que temos como cristãos é rejeitar nossa função de sal dada por Deus.

 

E como podemos fazer isso? Não sendo como Jesus, que viveu e morreu pelo bem dos outros.

 

Recusamos a função de sal quando deixamos de nos misturar com o mundo, quando os cristãos se separam daqueles que necessitam de sua preservadora influência. Rejeitamos nossa função de sal quando não somos amáveis e bondosos. Contrariamos a função de sal quando colocamos nossos desejos e vontade acima das necessidades dos demais. Recusamos a função de sal quando deixamos de viver as bem-aventuranças.

 

Quando fazemos essas coisas, perdemos o sabor, pois não somos sal. Tornamo-nos parte do mundo e vivemos de acordo com os seus princípios. Já não somos mais o sal. Isso nos torna parte do problema e não da solução. Recusar a função de sal é negar os princípios do reino. Negar esses princípios é rejeitar o Senhor que os estabeleceu.

 

E o resultado? Esses tais serão jogados fora. Com essa afirmação em Mateus 5: 13 chegamos à primeira alusão ao juízo no Sermão do Monte. Jesus volta a abordar esse tema no sermão.

 

A moral da história é simples. Os princípios que aceitamos em nossa vida e como nos relacionaram com as pessoas na vida diária fazem diferença. Afinal, os cristãos são o sal [[17]].

 

 

LEITURA ADICIONAL

 

VÓS SOIS O SAL DA TERRA. Mateus 5: 13

 

         O sal é apreciado por suas propriedades preservativas; e quando Deus compara Seus filhos ao sal, quer ensinar-lhes que Seu desígnio em torná-los objeto de Sua graça, é que se tornem instrumentos na salvação de outros. O objetivo de Deus em escolher um povo acima de todos no mundo, não era apenas o adotá-los como filhos e filhas, mas que, por meio deles, o mundo recebesse a graça que traz a salvação. Tito 2: 11.

 

          Quando o Senhor escolheu a Abraão, não foi simplesmente para que ele se tornasse um especial amigo de Deus, mas para que fosse um transmissor dos privilégios particulares que o Senhor desejava outorgar às nações. Em Sua última oração com os discípulos antes da crucifixão, Jesus disse: E por eles Me santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. João 17: 19. Semelhantemente os cristãos que são purificados por meio da verdade possuirão qualidades salvadoras, que preservarão o mundo da inteira corrupção moral. 

 

O sal deve ser misturado com a substância em que é posto; é preciso que penetre a fim de conservar. Assim, é com o contato pessoal e a convivência que os homens são alcançados pelo poder salvador do evangelho. Não são salvos em massa, mas como indivíduos. A influência pessoal é um poder. Cumpre-nos achegar-nos àqueles a quem desejamos beneficiar. 

 

O sabor do sal representa o poder do cristão; o amor de Jesus no coração, a justiça de Cristo penetrando a vida. O amor de Cristo é de natureza a difundir-se e penetrar. Caso em nós habite, fluirá para outros. Havemos de aproximar-nos deles tanto que seu coração seja aquecido por nosso abnegado interesse e amor. Os crentes sinceros difundem uma energia vital, penetrante, que comunica nova força moral às almas por quem trabalham. Não é o poder do próprio homem, mas o do Espírito Santo, que opera a obra transformadora. 

 

Jesus acrescentou a solene advertência: E, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens. Mateus 5: 13

 

Enquanto ouviam as palavras de Cristo, o povo podia ver o alvo sal brilhando nas veredas onde fora lançado por haver perdido o seu sabor, tornando-se, portanto inútil. Isto bem representava as condições dos fariseus, e o efeito de sua religião sobre a sociedade. Representa a vida de toda alma de quem se apartou o poder da graça de Deus, e que se tornaram fria e destituída de Cristo. Seja qual for sua profissão de fé, essa pessoa é considerada pelos homens e os anjos insípidos e desagradáveis. É a tais pessoas que Cristo diz: Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da Minha boca. Apocalipse 3: 15 e 16

 

Sem uma viva fé em Cristo como Salvador pessoal, é impossível fazer com que nossa influência seja sentida em um mundo cético. Não podemos dar a outro aquilo que nós mesmos não possuímos. É proporcionalmente à nossa própria devoção e consagração a Cristo, que exercemos uma influência para benefício e reergui mento da humanidade. Caso não haja real serviço, nem genuíno amor, nem realidade de experiência, não há poder para ajudar, nem comunhão com o Céu, nem sabor de Cristo na vida.

 

  A não ser que o Espírito Santo se possa servir de nós como instrumentos mediante os quais comunique ao mundo a verdade qual ela é em Jesus, somos como sal que perdeu o sabor e está de todo inútil. Por nossa falta da graça de Cristo testificamos ao mundo que a verdade que pretendemos crer não possui poder santificador; e assim, no que respeita à nossa influência, tornamos de nenhum efeito a Palavra de Deus. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que eu tenha o dom de profetizar conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. I Coríntios 13: 1 a 3

 

Quando o amor enche o coração, fluirá para os outros, não por causa de favores recebidos deles, mas porque é o amor o princípio da ação. O amor modifica o caráter, rege os impulsos, subjuga a inimizade e enobrece as afeições. Este amor é vasto como o Universo, e está em harmonia com o dos anjos ministradores. Nutrido no coração, adoça a vida inteira e derrama seus benefícios sobre todos ao redor. É isto, e isto unicamente, que nos pode tornar o sal da Terra [[18]].

 

 

Autor: Pastor Itamar de Paula Marques



[1] CBASD, vol. 5, p. 320.

[2] Desejado de Todas as Nações, p. 288.

[3] CBASD, vol. 5, p. 320.

[4] CBASD, vol. 5, p. 320.

[5] CBASD, vol. 5, pp. 320 e 321.

[6] CBASD, VOL. 5, P. 321.

[7] CBASD, VOL. 5, P. 321.

[8] BJ, p. 170.

[9] BJ, p. 393.

[10] BJ, p. 477.

[11] Comentário ao Novo Testamento, Mateus, vol. 1, William Barclay. Editora Clie, pp. 143 a 146.

[12] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 71.

[13] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 72.

[14] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 73.

[15] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 74.

[16] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 75.

[17] Caminhando com Jesus No Monte das Bem Aventuranças, MM 2001, George R. Knight, CPB, p. 76.

[18] O Maior Discurso de Cristo, Ellen Gold White, CPB, pp. 35 a 38.