Capítulo 1 de Eclesiastes

 

Itamar de Paula Marques

 

 

Introdução

 

        

         O Eclesiastes, como a Bíblia, inicia com o princípio da criação do mundo. Depois de sete repetições da palavra hebraica: hébel, sopro, vapor, vaidade como lema do livro 1: 2 o autor formula uma pergunta retórica: Que proveito tem o homem... debaixo do Sol?

 

       Eclesiastes está repleto por todos os elementos cósmicos básicos da Criação, o sol, a terra, o vento, as águas, os seres humanos se descrevem em plena atividade. E, não ocorre nada novo, não se obtém nenhuma vantagem. Tudo parece sem propósito. Este formoso poema acerca do universo estabelecerá em torno de sua reflexão através do livro.

 

         A habilidade do poeta e sua intenção filosófica aparecem no estilo e na construção do poema. Palavras são repetidas: Geração, 1: 4; sol; 1: 5, vento, 1: 6; os rios, 1: 7; mar, 1: 7. Também se repetem muitos verbos de ação: ir, girar, sair. Estas repetições dão impressão de monotonia como de atividade. O que o poema quer dizer é que tudo se repete, e sempre volta ao início.

 

         Todos estes movimentos não ocorrem ao acaso, mas reflete os passos sucessivos da história da Criação do Gênesis 1: 1 a 2: 4. Como se a história voltasse ao ponto de partida e se reinicia. Note os paralelos entre Eclesiastes e Gênesis.

 

ECLESIASTES

GÊNESIS

1: 2 Tudo é vaidade

1: 1 e 2 Estado anterior à Criação

1: 3 Debaixo do sol

1: 3 a 8 Luz e céu

1: 4 A terra

1: 9 a 13 A terra debaixo do sol

1: 5 Levanta-se e põe-se o sol

1: 14 a 19 Dia e noite as estações

1: 7 Rios e mar em movimentos

1: 20 Vida e água

1: 8 Seres humanos que falam e ouvem

1: 24 a 31 Criação dos seres humanos

1: 9 Seres humanos que não recordam

2: 1 a 3 Fim da criação

 

         Eclesiastes revela uma mensagem consistente, todos os movimentos em forma contínua, regressam a sua origem, portanto nunca se apartam do nível zero. Tudo é vaidade 1: 2. Se confirma o lema do verso 2. Tudo kol é uma palavra chave na história da Criação Gênesis 1: 30, 31 e 2: 1 a 5 abarca o mundo inteiro da Criação. A mesma perspectiva cósmica surge outra vez na presença que introduz os elementos do mundo. Que proveito tem o homem de todo seu trabalho debaixo do sol. 1: 3. A palavra kol se usa aqui em relação a Adão, e tudo que há debaixo do sol[1].

 

É costume ler-se o livro de Cohélet (Eclesiastes) na sinagoga no Shabat, que ocorre durante os dias intermediários Chol Hamoed de Sucót ou em Shemini Atséret, quando este cai no Shabat.

 

         Aparentemente ele é um livro pessimista, até mesmo cínico, mas, na realidade, ensina-nos que devemos nos alegrar com nossa porção, que não tem sentido a alegria decorrente somente da aquisição de bens materiais, e que tudo que temos e recebemos é uma doação do Eterno.

 

         Sendo Sucót considerado Zeman Simchatênu, ou seja, época de nossa alegria, quando, em Israel os celeiros estão abarrotados com os frutos da colheita, seria fácil entregar-se à futilidade e lazer, esquecendo de onde veio a bênção que resultou no sucesso do trabalho. É exatamente quando a leitura do Cohélet com suas mensagens profundas, conscientiza-nos da bondade e da justiça do eterno, sem as quais nenhum sucesso pode ser alcançado pelo ser humano. A autoria desta obra é atribuída ao rei Salomão que, por ter possuído imensas riquezas e experimentado todo tipo de prazeres, como ele mesmo descreve no livro, conclui que devemos temer a Deus e guardar os seus mandamentos, pois nisto consiste o dever de todo homem. Ensinam nossos sábios que, já em idade avançada, um pouco antes de morrer, ele recebeu do Eterno inspiração para compor Cohélet, Shir Hashirim Cântico dos Cânticos e Mishlê Provérbios[2].

 

As palavras do mestre, filho de Davi, rei em Jerusalém: Que grande inutilidade!, diz o mestre. Que grande inutilidade! Nada faz sentido! Com essas palavras, introduzimos o livro Eclesiastes, escrito, também, por Salomão.

 

Eclesiastes fala muito a respeito da vaidade ou, segundo outras traduções, ilusão ou inutilidade. Esse é o livro da Bíblia onde mais encontramos essa palavra. Na versão Almeida Revista e Atualizada, que é a mais usada, a palavra vaidade aparece 28 vezes. Mas o que é vaidade para esse pregador?

 

O livro mostra, através da experiência pessoal do autor, que mesmo que alguém consiga ser bem sucedido em todos os setores da vida, possuir muitas riquezas, adquirir poder, acumular mulheres, etc., não conseguirá encontrar a felicidade nessas coisas, pois todas elas, um dia, irão passar. Quando passarem, se a pessoa não estiver firme em Deus, saberá que foi tudo vaidade, ilusão, sem valor, sem proveito algum.

 

Durante muitos anos, Salomão buscou a felicidade em todo o tipo de atividades. Construiu casas, desenvolveu plantações e teve muitas mulheres Eclesiastes 2:1-11, I Reis 10: 23 a 27, 11: 3. Ele ocupou-se dos mais diversos projetos imaginados. Entretanto, no fim da sua vida, reconheceu que tudo o que o homem faz sem Deus é correr atrás do vento, Eclesiastes 1: 14. Afirmou que o mais importante é reverenciar a Deus e obedecer-lhe, Eclesiastes 12: 13 e 14.

 

De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más. Eclesiastes 12: 13 e 14 RA.

 

Salomão escreveu esse livro bem no fim da sua existência, após avaliar muitas coisas boas e ruins que praticou. Ele escreveu sobre os problemas que passamos, sobre nossas ansiedades em relação aos amigos, ao dinheiro, à vida após a morte. Sem dúvida, não apenas nos versos finais, mas ao longo de todo o livro, encontramos informações relevantes para nós, hoje.

 

O testemunho do livro de Eclesiastes é particularmente aplicável quando quase todo o mundo busca freneticamente poder, beleza, riquezas e prazeres. É difícil seguir a Deus, em meio a tanta correria. Querer ficar rico, querer ter casas, poder, prazeres com um fim em si mesmo é uma vaidade tola. Porque só Deus pode satisfazer plenamente nossos desejos mais profundos. Só Deus pode conceder plena realização e significado na vida.

 

Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita. Salmo 16: 11. Quando colocamos Deus em primeiro lugar em nossa vida, escapamos da vaidade e entramos no caminho da realização pessoal verdadeira[3].

 

 

Exegese

 

 

         1 - Palavras e Coélet, filho de Davi, rei em Jerusalém.

              Palavras e Cohélet, filho de David, rei em Jerusalém.

 

PALAVRAS - Rashi afirma que o rei Salomão era chamado de Cohélet porque concentrava em si muita sabedoria[4].

Assim começa o versículo que dá o título a este livro. Outros três livros da Bíblia começam numa forma similar: Neemias, Jeremias e Amós. O termo hebraico traduzido palavras significa também notícias, relatório, mensagem, relato, encomenda[5].

 

COÉLET - Coélet ou Eclesiastes: O homem da assembléia em hebraico qahal, em grego ekklesia. De um lado, esse termo significa o Mestre ou Orador; de outro, o representante da assembléia, o público personificado e que, cansado do ensinamento clássico, aproveita o ensejo para fazer uso da palavra[6].

 

Hebraico: Cohélet do verbo qahal: congregar-se, reunir-se. Há exemplos do uso de qahal em II Crônicas 20: 26; Ester 9: 2, 16, 18; etc. O substantivo a fim, traduzido assembléia, congregação, companhia, aparece 122 vezes no AT

 

Alguns escritores judeus explicaram que Cohélet significa um que reúne uma congregação e expõe ensinos. Outros o traduzem como pregador porque, segundo se diz, Salomão apresentou estes discursos diante de uma congregação. É similar a uma raiz arábica traduzida de diferentes formas como grande colecionador, profundo investigador ver PR, p. 62, e Introdução ao Eclesiastes[7].

 

FILHO DE DAVI - Isto é, Salomão. Este, a quem Deus tinha dotado com uma capacidade genial I Reis 3: 9 a 13 mas que tinha mal usado sua herança na frenética busca da felicidade, era o que estava melhor capacitado para apresentar as profundas verdades que se registram neste livro[8]

 

         REI EM JERUSALÉM - Ficção literária que identifica o autor com Salomão, o sábio por excelência I Reis 5: 9 a 14[9].

Refere-se ao pregador, não ao rei Davi. No momento em que fala o pregador, governa como rei. Esta expressão é, sem dúvida, uma referência direta ao rei Salomão, apesar de que seu nome não aparece no livro. Outras expressões que indicam que se trata de Salomão são as referências a sua sabedoria e a ele mesmo como autor de diversos provérbios capítulos 1: 12, 13, 16; 2: 15; 12: 9; cf. I Reis 3: 12; 4: 32

 

Jerusalém, a capital da nação, gloriosamente situada, não só era o único lugar da residência real senão, sobretudo, a sede de Deus entre seu povo divinamente eleito. A religião e a sabedoria divinas deveriam ter estado aqui em seu grau de máxima pureza e excelência. O que governava em seu trono desde uma cidade tal, deveria ter sido um instrumento ideal, dócil à direção de Deus e sujeito a sua vontade, para irradiar sabedoria celestial ante um povo receptivo[10]

        

Primeira parte

 

Prólogo

        

     O determinismo do cosmo, o quadro monótono da vida humana, provoca em Eclesiastes o tédio, oposto à admiração e adoração que manifestam em Jó 38: 40 ou Salmo 104[11].

 

         2 - Vaidade das vaidades - diz Coélet - vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

              Tudo é vão e fútil, diz Cohélet; futilidade das futilidades, sim tudo é fútil.

 

VAIDADE DAS VAIDADES - Hebraico: habel habalim. Estas palavras declaram o tema de todo o livro e constituem a essência do prefácio. Hébel, vaidade, aparece 37 vezes em Eclesiastes, e só 33 vezes em todo o resto do AT. Seu significado original é alento ou vapor. Usa-se para referir-se aos ídolos como coisas vãs e sem valor, e também para seu culto II Reis 17: 15; Jeremias 2: 5; 10: 8

 

Alguns afirmam que no Eclesiastes não há uma só referência contra a idolatria. No entanto, este mesmo termo, chave do livro, usa-se com freqüência em relação com os ídolos e seu culto. O Pregador diz que é vaidade qualquer coisa que se procure em lugar de Deus e a obediência a ele. 

 

 Habel habalim é um superlativo comparável com expressões tão enfáticas como céu dos céus. I Rei. 8: 27 e cantar dos cantares. Cantares 1: 1. Mediante esta forma enfática, literalmente vapor de vapores, sopro de sopros, Salomão põe de manifesto a inutilidade e a futilidade de toda vida e de todo esforço humanos, a não ser que se orientem para Deus[12].

 

A acepção moderna da palavra vaidade, em geral, se refere os sentimentos incontidos do ser humano que expressam desejos imoderados de atrair admiração ou homenagem. Uma pessoa vaidosa procura o aplauso de outrem e, para alcançar esse objetivo, faz uso de qualidades pessoais instáveis e ilusórias, manifestando merecimentos que podem ser reais, mas na sua maioria são imaginários.

 

É possível utilizar a acepção de vaidade, registrada no parágrafo anterior, para interpretar a intenção do Pregador. Seguindo esse conceito, a inferência prática do substantivo que analisamos nos leva a aceitar que tudo quanto o homem faz tem simplesmente o objetivo de alcançar admiração dos seus semelhantes, numa versão universal de egolatria. Embora essa inferência seja verídica, não deixa de ser exagerada, pois existem exemplos de ações humanitárias, sem pretensões outras que a manifestação do puro altruísmo.

 

O propósito do autor do Eclesiastes vai além de simplesmente relacionar a vaidade com uma característica patogênica da natureza humana. Seu alvo é mais profundo que o campo subterrâneo dos sentimentos e das emoções. Ele deseja atingir o antro abissal da mente, onde objetos concretos ou abstratos são apreendidos; onde os mistérios reais ou imaginários buscam esclarecimento; onde a própria vida busca seu propósito: a razão humana. Assim, a palavra vaidade adquire um significado mais amplo; aquele que a semântica hebraica pode conceder. O Pregador usa o vocábulo Hebel, vaidade, que, nas línguas latinas, pode representar elementos físicos como vapor, sopro, partículas do vento e elementos metafísicos como nada, vazio, zero, fútil.

 

A questão que se levanta é: se o Pregador considerava as realizações humanas sem valor nenhum, algo fútil, com efeito semelhante ao do vapor, que aparece e logo acaba, devemos reconhecer que Eclesiastes, antes de ser meramente um livro, é um discurso proferido diante de um auditório do qual se espera uma reação sobre o arrazoado exposto, com a finalidade de convencê-lo de uma realidade máxima.

 

Essa realidade apresenta o propósito da existência: é a primeira e também a última; sendo assim, é a única realidade. Podia o Pregador ter começado seu discurso incluindo a frase que enuncia essa realidade, exprimindo a conclusão a que chegou; aquela frase que expõe a realidade única de toda existência; aquela que faz alusão à verdade infinita de onde emana todo poder: o Ser Divino. Teme a Deus e guarda Seus mandamentos... Sem Ele, tudo é vaidade.

 

Agora, podemos ver que o Pregador, ao afirmar que tudo é vaidade, não faz mais que usar um recurso de retórica para captar a atenção de seu auditório ou de seus leitores, com o qual os estimula a pensar, mediante uma afirmação, sobre o enigmático problema da existência. Qual é o propósito da existência? Todo ser humano consciente de sua existência, de uma ou outra forma, se faz essa pergunta. Mas são os pensadores ou filósofos de turno, ao longo dos séculos, os que enunciam a resposta. Aquela questão, no entanto, vem naturalmente acompanhada por outras que procuram dar suporte ou fundamento mais consistente à resposta gerada. As questões adicionais são: Qual é a origem da existência humana? E qual é sua finalidade?

 

Os filósofos, nas suas lucubrações, percebem que a resposta sobre o propósito da existência deve ser precedida pela resposta sobre a origem do ser. A maioria dos filósofos e sistemas filosóficos considera dispensável a resposta sobre a finalidade ou o fim último da existência. Essa maneira de enfrentar o enigma sobre o propósito da existência divide a humanidade em duas populações. Primeira, aquela que responde à questão baseada unicamente no conceito sobre a origem da existência; a segunda responde à questão baseada também no conceito sobre a origem, porém, dá maior ênfase ao significado da finalidade ou do fim último da existência.

 

Para a primeira população, a origem da existência está relacionada com as propriedades da matéria, e o propósito da existência é aproveitar a vida, pois tudo termina na morte. Para a segunda população, a origem da existência está relacionada com o atributo divino da criação. Dessa maneira, o propósito da vida é seguir as normas divinas para alcançar, após a morte, a finalidade suprema da outra vida. A primeira população pode ser identificada como materialista, e a segunda, como idealista.

 

O discurso do Pregador é dirigido essencialmente a um grupo social ou comunidade de amplas dimensões, que formaliza as características da primeira população, definida anteriormente. Para essa população, o autor introduz sua alocução com o claro desejo de levá-la a considerar o propósito da existência. Então, a frase é incisiva, poderosa e, ao mesmo tempo, atrativa, pois pretende levá-los à reflexão sobre o significado fútil dessa maneira de viver: vaidade de vaidade... Tudo é vaidade[13].

 

DIZ - A expressão disse o pregador é um recordativo de que Salomão é o orador e, portanto, o autor[14].

         VAIDADE - O termo que traduzimos aqui por vaidade, seguindo as versões tradicionais, significa, antes de tudo, vapor, sopro, pertencendo ao repertório das imagens água, sombra, fumaça, etc. que na poesia hebraica descrevem a fragilidade humana. Entretanto no uso de Coélet, o termo perdeu o seu sentido concreto, evocando apenas o ser ilusório das coisas e, por conseguinte, a decepção que elas proporcionam ao homem[15].

 

Poderia traduzir-se adequadamente: A soma total é vaidade, o mundo em sua totalidade inclusive toda a vida, é como se não fosse mais do que um alento ou vapor, carente de promessa alguma de esperança[16].

 

         3 - Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?          

              Que proveito traz ao homem toda sua labuta sob o sol.

 

QUE PROVEITO - Hebraico: yithron. Vocábulo que aparece mais nove vezes neste livro capítulos 2: 11, 13; 3: 9; 5: 9, 16; 7: 12; 10: 10, 11, e se traduz de diversas maneiras: ultrapassa, proveito, aproveitou, excede e proveitosa. Yithron deriva de um verbo que significa permanecer em cima, o substantivo que deriva dele contém a idéia de restante, e depois, excesso, abundância; em hebraico, superioridade, vantagem. O ser humano se esforça perpetuamente, mas sem obter um resultado permanente. 

 

É possível que a metáfora que usa Salomão a tivesse tomado do mundo dos negócios com suas atividades incessantes, cujo propósito é um ganho que valha a pena ver comentário capítulo 2: 11. Mas com freqüência uma pessoa passa sua vida construindo algo que depois derruba seu sucessor. A inutilidade e a insegurança caracterizam todo esforço humano. 

 

O pronome interrogativo que? Propõe uma resposta negativa decisiva. Poderia comparar-se com as palavras de Mateus 16: 26, onde literalmente pergunta o Mestre: Que aproveitará ao homem, se ganhar todo mundo, e perder sua alma? A resposta antecipada pelo Pregador é nada[17]

 

HOMEM - A voz hebraica é o termo genérico para homem, ou humanidade. O ciclo da vida humana se repete uma e outra vez com cada nova geração[18]. 

 

         TRABALHO - Em hebraico: amal. Evoca a maioria das vezes, um trabalho penoso semelhante a um escravo. Deuteronômio 26: 7, donde a fadiga, o sofrimento. Esta palavra é muito freqüente: em forma de substantivo, ela aparece vinte vezes; em forma verbal, treze vezes.

 

De uma palavra hebraica que significa esforço, moléstia, dano. Aqui o termo se aplica à soma total dos esforços de uma pessoa durante toda a vida[19]

 

AFADIGA - Expressão que se refere a toda forma de atividade que se efetua sob a luz do sol[20]

 

DEBAIXO DO SOL - Equivalente à frase embaixo do céu. Capítulos 1: 13; 2: 3; 3: 1. Aparece umas 30 vezes no Eclesiastes[21]      

 

         4 - Uma geração vai, uma geração vem, e ação, o movimento de ir e vir da terra sempre permanece.

              Vai-se uma geração, e vem uma outra, perdura somente a terra.

 

         GERAÇÃO - Hebraico: dor, período, idade, geração, de um verbo que significa amontoar, empilhar. Significa mover-se em círculo; depois, morar em lojas, devido à instabilidade da vida nômade. Encerra a idéia inerente de instabilidade. Abarca conceitos como classe, qualidade, condição, como na frase geração torta. Deuteronômio 32: 5, com referência a gente que amaldiçoa com facilidade Provérbios 30: 11 e os que são inteiramente implacáveis Provérbios 30: 14[22].

 

         Tão pronto como uma geração vem e se vai. Esta idéia cíclica de ir e vir está inclusa na palavra hebraica dor: geração cujo significado primário é círculo, o círculo das gerações é continuamente renovado. O processo é eterno e sempre será assim. Por meio da palavra geração, em hebraico expressa esta idéia de eternidade de geração em geração, Êxodo 17: 16. No Eclesiastes estas gerações não são eternas, a mudança faz com que as gerações passem continuamente.

 

         As palavras que descrevem este movimento pertencem à linguagem da morte. A palavra ir se usa para referir-se a morte 1: 4; 3: 20; 5: 15 quando se associa a palavra vir como é caso do verso, sempre significa morte 5: 15 e 16: 6: 4; 11: 9 e 10. Para o Eclesiastes o passo das gerações é uma expressão de morte[23].

 

VAI - Em hebraico, tanto a palavra vai como a palavra vem são particípios simples que destacam a idéia de uma mudança incessante, interminável ver Jó 10: 20 a 22; Salmo 39: 13[24].

 

SEMPRE - A voz hebraica que assim se traduz, sempre, deriva de uma raiz verbal cujo significado preciso não conhece. O advérbio sempre é a tradução de um substantivo hebraico masculino que, a semelhança de seu equivalente grego, usa-se em muitas formas. Pode referir-se a Antigüidade, dias antigos, longa duração, existência contínua; pode significar indefinido, futuro sem Fim, eternidade, etc. A semelhança de seu equivalente grego compreende-se melhor em cada caso em harmonia com a natureza do tema é o qual se usa ver comentário Êxodo 12: 14; 21: 6[25]

 

PERMANECE - Hebraico: amai palavra comum hebraica que significa perdurar. Encerra a idéia de continuidade e durabilidade. O contraste que Salomão apresenta neste versículo se obtém em parte da permanência aparente das montanhas, o incessante fluir dos rios e a ininterrupta sucessão do dia e a noite[26].

 

         5 - O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é lá que ele se levanta.

         Nasce o sol, e depois se põe, e se apressa a voltar ao seu lugar aonde de novo virá a nascer.

 

         O SOL SE LEVANTA - As sentenças estruturadas no texto de Eclesiastes revelam que a experiência de vida do autor lhe permite definir a finalidade da existência. Seu discurso já fora esboçado no fim dos dias atribulados que vivera. Agora, deseja atingir a mente da população materialista, daqueles que consideram que o propósito da existência é aproveitar a vida, pois tudo acaba na morte. Nesse interesse, o Pregador usa os mesmos argumentos da comunidade descrente sobre a rotatividade dos fenômenos naturais: A Terra permanece para sempre. Levanta-se o Sol, e põe-se o Sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. Eclesiastes 1: 4 e 5.

 

É possível estabelecer um paralelismo entre as sentenças expostas por Salomão e os conceitos expressos por Charles Lyell na sua obra Princípios de Geologia, editada em 1831. Lyell ponderou que as condições naturais que prevalecem no Universo, ao longo dos séculos, sempre foram às mesmas, pois seguem rigidamente uma rotatividade inalterável. Essa concepção gerou a idéia do uniformismo, que muito influiu na mente de Charles Darwin para a elaboração da teoria da evolução e, com funestas conseqüências, disseminou debaixo do céu o deletério vento do ceticismo e da descrença. Mais adiante, destacaremos a importância do paralelismo a que fizemos referência.

Por outro lado, a população que não considera a operação do Ente divino, por rejeitá-Lo deliberadamente ou não reconhecer Seus atributos, limita o propósito da existência ao fatídico evento da morte. A vida, então, deve ser aproveitada, desfrutada em cada manifestação social ou individual. Essa atitude é expressa em forma lacônica com a frase: Comamos e bebamos que amanhã morreremos. Essa maneira de encarar a existência parece dominar, em forma coletiva, a mente humana. Como forma racional de pensamento, essa idéia foi enunciada por Epicuro 310 a.C. Esse filósofo, que procurava inculcar entre seus seguidores a concepção primária da não existência de divindades, anunciava que o propósito da existência é a busca do prazer.

 

O Pregador, ao usar aquela seqüência de pensamentos sobre a rotatividade dos fenômenos naturais, deseja alcançar seu auditório, sem dúvida, composto de pessoas com idéias semelhantes ao uniformismo, materialismo, epicurismo, apreendidas em forma específica ou indistintamente. Para eles, Salomão procura mostrar que a repetição permanente e periódica dos fenômenos naturais não propicia o gozo do prazer. Se isso acontecer, o prazer e seus efeitos são momentâneos, logo se esvaem, como simples fumaça. Então, ele insiste em expor a futilidade dessa forma de encarar a existência: nada é prazenteiro; tudo é rotineiro; nenhum prazer tem a virtude de emergir por entre as cinzas da angústia mórbida que a abafa: Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir... Eclesiastes 1: 8[27].

 

APRESSANDO-SE - Hebraico: Sha’af, ofegar em perseguição de, fazer avidamente, estar ansioso de. Encerra a imagem de um cavalo brioso que salta no ar, dominado pelo desejo de jogar a correr a toda velocidade. Jeremias 2: 24 apresentam um exemplo desta figura, Salmo 119: 131 de sua aplicação à vida espiritual[28]

LEVANTA - Hebraico zarah. Forma em particípio que destaca uma atividade contínua ou repetida[29]

 

         6 - O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando e girando vai o vento em suas voltas.

              Segue para o sul, e chega em círculo até o norte; o vento por sua vez gira em círculos e retorna ao lugar onde partiu.

 

O VENTO - Hebraico: ruah, vento, vocábulo que sempre implica atividade. Usa-se muitas vezes em relação com as diversas atividades de Deus no manejo do plano de salvação[30]

 

GIRA - Uma figura de atividade e repetição incessantes. O norte e o sul se mencionam em contraste com o este e o oeste verso 5, por onde sai o sol, e se põe[31]

 

GIRANDO E GIRANDO - Em hebraico se empregam quatro vezes neste versículo os vocábulos derivados da raiz voltar, rodear, para destacar a idéia de atividade e repetição incessantes. A palavra também se usa ao descrever-se a marcha do exército de Josué ao redor de Jericó Josué 6: 3, 15 e as voltas dos israelitas ao rodear o monte de Seir por muito tempo. Deuteronômio 2: 1, 3

 

Salomão não se queixava dos incessantes ciclos da natureza, senão que via neles um paralelo com os ciclos da vida humana capítulo l: 4. A vida do homem, geração depois de geração, é talvez nada mais que um assunto de repetição sem nenhum propósito superior visível? Não terá talvez um ponto culminante para a existência da humanidade? Não tem Deus um propósito eterno que finalmente substituirá esta seqüência aparentemente interminável da atividade do gênero humano? 

 

A exatidão científica da descrição que aqui se dá do movimento das massas de ar ao redor da superfície da terra não tem paralelo na literatura antiga. Revela um conhecimento íntimo das leis da natureza, muito superior ao que tinham os homens da antiguidade[32].

 

         7 - Todos os rios correm para o mar e, contudo, o mar nunca se enche: embora chegando ao fim do seu percurso, os rios continuam a correr.

                Correm todos os rios para o mar, sem entretanto preenche-lo; fluem continuamente para o mesmo lugar.

 

         TODOS OS RIOS - Como terceiro exemplo do giro incessante da natureza, Salomão apresenta o ciclo da água. Ainda que as forças da natureza apresentem um quadro de repetição incessante, sua atividade foi designada por Deus e funciona em harmonia com sua vontade. No entanto, as atividades humanas, na maioria dos casos, não foram designadas por Deus, não tendem o propósito satisfatório para o qual ele criou ao homem. A humanidade procura continuamente novas sendas para a felicidade e a satisfação, mas só poderá conseguir seu verdadeiro fim quando esteja em paz com sua Criação. Ver Mateus 11: 28 a 30[33]

 

         8 - Toda palavra é enfadonha e ninguém é capaz de explicá-la. O olho não se sacia de ver, nem o ouvido se farta de ouvir.

              Tudo é tão fastidioso e extenuante que ninguém consegue sequer descrever; não se sacia a vista com o que vê, nem o ouvido com o que escuta.

 

PALAVRA - Hebraico: dabar, traduzida como palavras no verso 1, mas aqui sem dúvida significa coisas. Rhema, Grego, palavra ou coisa, tem no NT o mesmo significado duplo da palavra hebraica que aqui se usa[34]

FASTIDIOSOS - A aparente esterilidade da atividade humana e os desenganos que a acompanham são os pontos que aqui se destacam[35]

 

NINGUÉM - A voz traduzida homem não é o termo genérico do verso 3, senão um que se refere a homem como diferente de mulher. A forma verbal traduzida expressar é a raiz de palavras verso 1 e de coisas, verso 8[36]

 

NÃO SE SACIA - A experiência externa não pode satisfazer os anseios íntimos do coração. As coisas, isto é as bênçãos materiais, não satisfazem à pessoa que pensa. Uma verdadeira aproximação a Deus não se consegue por meio dos sentidos senão de uma experiência íntima. Deus é espírito João 4: 24 o ser humano deve chegar-se a ele mediante seu próprio espírito. Assim também, o que chega ao ouvido físico não pode proporcionar um bem duradouro a não ser que se o retransmita ao sentido da natureza espiritual, com a qual os mortais ouvem a voz de Deus[37]

 

         OUVIR - Poder-se-ia entender também: Tudo é tão tedioso que nem se pode mencionar. O olho não sacia de ver nem o ouvido se farta daquilo que ouviu[38].

 

         9 - O que foi, será, e o que se fez, se tornará fazer; nada há de novo debaixo do sol!

         O que já foi voltará a ser, e o que foi feito será repetido, e nada há de novo sob o sol!

 

O QUE FOI - Hebraico: o que foi isso é o que será. É uma referência aos ciclos imutáveis da natureza que se repetem em obediência às leis de Deus. A LXX e a Vulgata traduzem incorretamente esta oração e a seguinte em forma interrogativa; outro tanto faz a RVR[39].

TORNAR-SE-Á A FAZER - O mundo atual está caracterizado por uma carreira frenética de inovações. O campo da tecnologia, em diferentes áreas, tem contribuído aceleradamente para a difusão de novos e variados instrumentos. Ninguém mais consegue acompanhar a listagem de novas invenções tecnológicas. Diante desse nutrido panorama de realizações, teria algum valor à expressão do Pregador ao afirmar: Nada há, pois, novo debaixo do Sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Eclesiastes 1: 9 e 10.

 

O rei Salomão, ao exprimir essa afirmação e desprezar as realizações humanas e suas conseqüentes inovações científicas e tecnológicas, não peca por ignorância. Seu discurso não tem o propósito de manter seu auditório em atitude impassível e cego diante de tantas coisas novas; mas procura conduzir a mente de seus ouvintes a considerar a inutilidade dessas conquistas para alcançar o fim último da existência, aquela que está além dos ciclos. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Marcos 8: 36.

 

Todas essas inovações só serão dignas de serem mencionadas como úteis para o homem se o auxiliarem a alcançar o fim último da existência, aquele que está além dos ciclos, ou seja, a vida eterna. Nenhuma dessas conquistas pode prover ao homem o dom da salvação. Esta é atribuição divina conferida a Cristo, por cujos méritos a morte não pode reter o ser humano no sepulcro.

 

Não podemos, no entanto, deixar de considerar a atitude de alguns especialistas no campo das ciências, especificamente nas diversas áreas da biologia, que, desde algumas décadas atrás, vêm conseguindo estender o ciclo vital, procurando métodos e mecanismos para aumentar a juventude humana e, finalmente, controlar o envelhecimento a ponto de obter vida eterna de feitura humana.

 

Uma das tentativas é a produção de vida em laboratório, prosseguindo as conquistas alcançadas com a técnica do bebê de proveta. Desde a década de 60, alguns cientistas têm dominado a técnica de retirar o DNA de um organismo e enxertá-lo em outro organismo, a fim de criar novas moléculas, novas células e, por último, novas formas de vida. Já conseguiram cobrir um vírus desprovido de capa com a capa de outro, resultando um vírus de nova espécie.

 

Já é possível sintetizar artificialmente um gene e fazê-lo agir dentro de uma bactéria. Em alguns laboratórios, têm sido fabricadas células híbridas, juntando organismos celulares como, por exemplo, o de fermento com uma célula sangüínea de pinto; de rato com a de homem; de macaco com a de um ser humano. A clonagem é uma técnica repetida nos anos 60, quando era possível retirar o núcleo de uma célula adulta de rã e introduzi-lo no citoplasma sem núcleo de um ovo de rã.

 

Poderá o homem, algum dia, prolongar a extensão da vida e fazer com que a morte não mais seja o limite da existência humana? Hoje em dia, a dependência das realizações científicas é tão extrema que até as concepções teológicas de algumas religiões vêem-se impedidas de acreditar no desígnio divino para além do ciclo. As técnicas da clonagem e do uso das células-tronco despertam esperanças de vida prolongada, e renasce com força o conceito do materialismo. Esta situação destaca a importância do paralelismo, entre as circunstâncias em que Salomão fez afirmações sobre a rotatividade dos fenômenos naturais, com os conceitos de Charles Lyell que gerou a idéia do uniformismo.

 

O fato é que a mensagem do Pregador torna-se atual, pois, na mente da população humana em geral, vivendo uma vida de vaidade de vaidades, nada parece ser diferente do tempo de Salomão. Essa população precisa ouvir a mensagem de que além do ciclo existe uma realidade. A realidade é que a morte só será extinta ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis então se cumprirá à palavra que está escrita: Tragada foi à morte pela vitória... Nosso Senhor Jesus Cristo. I Corintios 15: 52, 54 e 57[40].

 

NADA HÁ DE NOVO - Nenhuma variação há nos incessantes ciclos da natureza. Quando se viu um ciclo, se viu todos; e cada um se mistura tão imperceptivelmente com outro, que não se nota a diferença. Os ciclos não parecem ter mais do que um só objetivo: perpetuar-se[41]

 

         10 - Mesmo que alguém afirmasse de algo: Olha isto é novo! Eis que já sucedeu em outros tempos muito antes de nós.

                 Há fatos perante os quais poderá dizer: Veja, trata-se de algo novo! Isto, porém, já ocorrera tempos atrás.

 

DE ALGO - O autor contesta uma objeção implícita em suas declarações do verso 9 com um desafio a mencionar alguma coisa nova[42]

 

JÁ SUCEDEU - O que parece novo tem suas raízes no passado. O contexto põe de manifesto que as observações de Salomão dos versos 9 e 10 se aplicam aos diversos fenômenos da natureza, inclusive ao ciclo da vida humana[43]

 

OUTROS TEMPOS - A palavra olam, traduzida séculos, é a mesma que se traduz sempre no verso 4 ver comentário Êxodo 12: 14; 2 1: 6[44].

 

         11 - Ninguém se lembra dos antepassados, e também aqueles que lhe sucedem não serão lembrados por seus pósteros.

                Não há, contudo lembrança por parte das gerações passadas, assim também como não haverá lembranças por parte das gerações futuras do que agora ocorre.

 

NINGUÉM SE LEMBRA - O que parece ser novo o é só em aparência porque os observadores esqueceram o passado. Da mesma maneira, algumas coisas desta geração serão esquecidas pela seguinte. Isto também poderia aplicar-se à fama. A pessoa proeminente de hoje, aparentemente imprescindível, será substituída amanhã e esquecida. Que proveito tem o homem? Verso 3[45]

 

ANTEPASSADOS - Como o vocábulo hebraico precedeu é masculino plural, deve-se entender que se refere a pessoas. Portanto, não só as coisas verso 10 senão também todas as pessoas se desvanecem no esquecimento[46]

 

SUCEDEM - O adjetivo hebraico traduzido o que sucederá é masculino plural. Aqui se tenha em conta a gerações de homens. A seguinte geração esquece às celebridades da geração anterior. Salomão termina o prólogo de seu livro com um comentário quanto à futilidade da fama. A isto se dá ênfase com o advérbio depois, literalmente no além[47].

 

 

A Vida de Salomão

 

         Mesmo Salomão, apesar de sua vida faustosa I Reis 10: 4 e de sua sabedoria I Reis 5: 9 não conheceram a felicidade[48].

 

         12 - Eu, Coélet, fui rei de Isael em Jerusalém.

                Eu, Cohélet, fui rei de Isael em Jerusalém.

 

FUI REI - Mais corretamente, fui rei ver comentário verso 1. O hebraico não implica necessariamente que o que fala já não é rei. O pretérito indefinido do verbo hebraico com freqüência se traduz melhor como presente ver comentário verso 2. O Pregador é Salomão, pois só no tempo de Davi e Salomão Jerusalém foi a capital desde a qual reinava um rei sobre todo Israel; o que fala é filho de Davi. Verso 1[49]

 

         13 - Coloquei todo o coração em investigar e em explorar com a sabedoria tudo o       que se faz debaixo do céu. É uma tarefa ingrata que Deus deu aos homens para com ela se atarefarem.

              Com toda a minha sabedoria, apliquei meu coração e minha mente para pesquisar e inquirir sobre tudo o que já foi realizado sob os céus. Esta é uma pesada tarefa incumbida por Deus aos homens, para que com ela se ocupem.

 

COLOQUEI TODO O CORAÇÃO - Salomão relata estar totalmente envolvido em estudos filosóficos e aquisição de bens materiais, até perceber que esta busca insaciável jamais o satisfazia e esta era, portanto, fútil e vazia[50].

 

Esta frase ou outra equivalente aparecem repetidas vezes no livro capítulos 1: 17; 7: 25; 8: 9, 16, e em outras partes da Bíblia. Entre os hebreus se considerava que o coração era a sede não só dos sentimentos senão também da inteligência. Portanto, dei meu coração significaria o mesmo que apliquei a mente ver I Crônicas 22: 19; Jó 7: 17. Salomão cultivou diligentemente seu intelecto; entregou-se ao estudo da história natural, a filosofia, a poesia e outros conhecimentos[51]

 

INVESTIGAR - Hebraico: darash, termo que expressa várias idéias: pesquisar, expor um significado, discutir, praticar, procurar com aplicação e estudo. Ver Gênesis 25: 22; Êxodo 18: 15; Deuteronômio 19: 18; II Crônicas. 14: 7; Salmo 119: 10; Amós 5: 14[52].

 

EXPLORAR - No sentido de explorar, reconhecer. Usa-se para referir-se ao reconhecimento da terra de Canaã Números 13: 16, 17, 25, 32. Aplica-se à investigação feita por pioneiros em procura de conhecimento. Inquirir e procurar, juntas, sugere ir à raiz de um assunto e explorá-lo em todos seus aspectos[53].

 

SABEDORIA - Se refira à sabedoria que Salomão tinha adquirido durante sua vida, mediante a boa vontade de Deus, o estudo pessoal e a observação. A voz hebraica se aplica a habilidade e talento em diversas áreas[54]

 

TUDO O QUE SE FAZ - Principalmente se refere aqui às atividades humanas[55].

 

INGRATA - Tarefa ou negócio, em hebraico: ‘inyân; essa palavra ocorre unicamente neste livro onde tem geralmente uma conotação pejorativa: é o trabalho, a profissão vistos como fonte de fadiga e preocupação[56].

Hebraico esta aflição de mal, ou seja, esta má aflição[57]

 

PARA COM ELA SE ATAREFAREM - Para que se ocupem nele. Deus implantou no ser humano o afã de pesquisar. É uma tarefa laboriosa que requer esforço das faculdades físicas e mentais[58]

 

14 - Examinei todas as obras que se fazem debaixo do sol. Pois bem. Tudo é vaidade e correr atrás do vento!

       Analisei tudo o que é feito sob o sol e compreendi que tudo é vão e frustrante.

 

EXAMINEI - O vocábulo hebraico com freqüência significa mais do que olhar por fora a forma e a aparência. Em realidade é perspicácia ou percepção. O substantivo derivado significa visão, isto é uma revelação. Aqui denota a aguda observação de Salomão, baseada em seu estudo dos fatos que considerava[59]

OBRAS - Os projetos e as atividades que com freqüência resultam sem valor[60]

 

VENTO - Quer dizer, esforço inútil, quimera, tempo perdido[61].

 

A palavra traduzida aflição pode derivar de a raiz alimentar, pastorear, Espírito é tradução de um vocábulo que também significa vento. De modo que a expressão poderia traduzir-se afanar-se depois do vento, ou alimentar-se de vento. Compare-se com Oseías 12: 1: Efraim se apascenta de vento, e persegue a vento leste. Em qualquer forma que se traduza, apresenta-se um quadro de insatisfação que muitas vezes acompanha ao esforço e ao estudo humanos. Cf. Isaias 44: 20: De cinza se alimenta[62]

 

 

CORRENDO ATRÁS DO VENTO

 

Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento. Eclesiastes 1: 14.

 

O livro de Eclesiastes começa revelando a conclusão da busca incansável de Salomão pelas coisas desta vida. O conselho do sábio, parece querer nos alertar de que não precisamos perder o nosso tempo, se encantando com as coisas que existem debaixo do sol. Salomão levou tempo, não so observando a natureza, mas as obras das pessoas em busca dessa grandeza tão desejada.

 

Nós, como seres humanos, sentimos uma sede de aplausos. Veja uma criança quando faz uma coisa boa, ela faz questão de vir aos pais e mostrar que está fazendo bem, e fica esperando a aprovação e elogio deles. Quando crescemos, continuamos com este mesmo sentimento, e muitas vezes passamos a vida buscando a aprovação dos outros, daquilo que somos e fazemos.

Nós não deveríamos viver a vida buscando a aprovação da sociedade, mas buscando a aprovação de Deus. O sábio depois de olhar para todas as obras humanas debaixo do sol, chegou a conclusão que tudo que o homem faz é vaidade. Tudo que fazemos, parece ser motivado por uma intenção, que sempre termina beneficiando a nós mesmos. Nossa vida deveria ser vivida para ter a aprovação de Deus, e não de homens.

 

Se o que fazemos não glorifica a Deus, é vaidade. É correr atrás do vento. Essa definição de correr atrás do vento é muito própria, porque nós sempre estamos correndo por algo que não temos. E é por isso que nunca estamos satisfeitos. Ao lermos o nosso texto deste Sábado, poderíamos apropriadamente dizer que todas as coisas materiais nos incentiva a insatisfação. E eu digo isso, porque os filmes, os carros, as casas, a moda, e tudo enfim, sempre está se reciclando, sempre está mudando.

 

As coisas do pecado sempre vai sofrendo mutações, e sabem porque? Porque perecem, se degeneram, ficam velhas, e nós saímos como loucos correndo pelas novas.

 

As coisas de Deus são estáveis. Permanecem, duram para sempre. São eternas. Pense um pouco ao entrar este Sábado nos seguintes termos: Santificação, Adoração, Expiação, Intercessão, Justificação, e Redenção. Para cada palavra dessa, Deus moveu uma ação, esperando uma reação do ser humano. E o sábio então questiona a natureza humana, em sua loucura de correr atrás do vento; em passar a vida buscando o que não tem, perdendo oportunidades de ouro de viver o presente com Jesus. Nós valorizamos tanto o que não temos, que perdemos completamente a capacidade de valoriza o que possuímos, e passamos a vida toda correndo atrás do vento. A mídia está criando um mundo de fantasia na cabeça das pessoas. Estamos perdendo a nossa capacidade de pensar, de ver o plano extraordinário de redenção que Deus preparou para nossa vida.

 

Não, você não vai ser feliz buscando os seus interesses. O vazio não vai se apartar de você até que venha dizer: "Jesus, vem viver em mim!" Amigo, pare de correr atrás do vento. Isso é tudo vaidade! Deus vai fazer você muito maior do que você pensa e imagina. Deus, quando glorificar você, vai lhe levar para as alturas, vai lhe colocar uma roupa nova, vai lhe dar um novo nome, vai lhe dar uma coroa de glória. E ai, você vai ser grande, não porque é grande, mas porque Jesus lhe fez grande, e grande será a tua vida por toda a eternidade! Amém![63]

 

 

15 - O que é torto não se pode endireitar; o que está faltando não se pode contar.

        Não conseguimos consertar o que está errado, nem perceber o que ainda falta.

 

O TORTO - Esta expressão deriva de uma raiz que significa dobrar, retorcer. Não se refere tanto a algo que é torto por si ou que não é reto, senão ao que se torce. São as obras humanas verso14 as que se têm torcido[64]

 

ENDIREITAR - De uma palavra hebraica que significa arrumar, compor, pôr em ordem. A ênfase se aplica à incapacidade do ser humano, por sua própria força, para defrontar às situações que se lhe apresentam continuamente[65]

 

NÃO SE PODE CONTAR - Tanto é o que falta, que nem sequer se pode fazer um cálculo aproximado da deficiência, e muito menos começar a suprir. A voz traduzida contar-se, também poderia ser designar, nomear[66]

 

16 - Pensei comigo: aqui estou eu com tanta sabedoria acumulada que ultrapassa a dos meus predecessores em Jerusalém; minha mente alcançou muita sabedoria e conhecimento.

         Disse a mim mesmo: Adquiri muita sabedoria e aumentei meu conhecimento muito acima de todos que me precederam em Jerusalém, e muita experiência teve meu coração sobre o que é sabedoria e conhecimento.

 

PENSEI COMIGO - Uma declaração hebraica enfática que implica meditação pessoal, como algo oposto a tratar um assunto com outra pessoa[67]

 

ESTOU EU - Uma referência à disciplina de suas faculdades para trabalhar e estudar, e ao crescimento resultante em conhecimento e experiência[68]

 

EM JERUSALÉM - Mais exatamente, sobre Jerusalém, isto é sobre os sábios e os governantes da cidade, anteriores a Salomão[69]

 

MUITA SABEDORIA - A forma verbal hebraica traduzida percebeu é a mesma que aparece como olhei no verso14. A LXX traduz sabedoria com um termo que denota valores éticos e morais, e ciência, com um vocábulo que significa o aspecto especulativo do esforço mental[70].

 

17 - Coloquei todo o coração em compreender a sabedoria e o conhecimento, a tolice e a loucura, e compreendi que tudo isso é também procura do vento.

        Ao fazê-lo, porém, conheci também a insensatez e loucura, de uma maneira frustrante.

 

TOLICE - Tolices, mss cf. 10: 13; tolices, hebraico[71].

A palavra hebraica que dá lugar a esta tradução talvez prove de uma raiz que significa estar atravessado. Sugere assim que a sabedoria não sempre guiou a Salomão no tema dos assuntos que pesquisou[72]

 

VENTO - Ver comentário verso 14[73]

 

18 - Muita sabedoria, muito desgosto; quanto mais conhecimento, mais sofrimento.

         Pois em muita sabedoria, há muita mágoa; e quem aumenta seu conhecimento incrementa também seu sofrimento.

 

DESGOSTO - O vocábulo aqui traduzido como moléstia deriva de uma raiz que significa estar aflito, ser provocado. O excesso de estudo ocasiona insônia, desgaste nervoso e às vezes prejudica a saúde. No entanto, não se deve chegar à conclusão de que Salomão apóia a idéia de que a ignorância é felicidade[74]

 

SOFRIMENTO - Tanto mental como físico. Se um deseja sabedoria, deve estudar intensamente, e o contínuo pesquisar mingua a saúde e a força. Também é verdade que um grande conhecimento não é índice de um grande caráter. A justiça de Jesus Cristo, recebida pela fé, abre a porta para o reino celestial, coisa que o conhecimento não pode alcançar[75].

 


 

[1] Tudo é vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, pp. 15 e 16.

[2] Torá, A Lei de Moisés, Editora Sefer, p. 669.

[3][3] ADVIR, Valdeci Júnior & Fátima Silva, 18 de julho de 2.008.

[4] Torá, A Lei de Moisés, Editora Sefer, p. 676.

[5] CBASD, vol. 3, p, 1.080.

[6] BJ, p. 1.167.

[7] CBASD, vol. 3, p. 1.080.

[8] CBASD, vol. 3, p. 1.080.

[9] BJ, p. 1.167.

[10] CBASD, vol. 3, p. 1.080.

[11] BJ, p. 1.167.

[12] CBASD, vol. 3, pp. 1.080 e 1.081.

[13] Comentário Lições da Escola Sabatina 02, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.

[14] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[15] BJ, p. 1.167.

[16] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[17] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[18] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[19] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[20] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[21] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[22] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[23] Tudo é vaidade, Eclesiastes, Jacques Doukan, p. 17.

[24] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[25] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[26] CBASD, vol. 3, p. 1.081.

[27] Comentário Lições da Escola Sabatina 02, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.

[28] CBASD, vol. 3, pp. 1.081 e 1.082.

[29] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[30] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[31] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[32] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[33] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[34] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[35] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[36] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[37] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[38] BJ, p. 1.167.

[39] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[40] Comentário Lições da Escola Sabatina 02, 1º Trimestre de 2007, Ruben Aguilar, UNASP.

[41] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[42] CBASD, vol. 3, p. 1.082.

[43] CBASD, vol. 3, pp. 1.082 e 1.083.

[44] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[45] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[46] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[47] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[48] BJ, p. 1.167.

[49] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[50] Torá, A Lei de Moisés, Editora Sefer, p. 676.

[51] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[52] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[53] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[54] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[55] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[56] BJ, p. 1.167.

[57] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[58] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[59] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[60] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[61] BJ, p. 1.167.

[62] CBASD, vol. 3, p. 1.083.

[63] Pr. Dilson Bezerra Dallas Brazilian SDA Church

[64] CBASD, vol. 3, pp. 1.083 e 1.084.

[65] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[66] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[67] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[68] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[69] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[70] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[71] BJ, p. 1.168.

[72] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[73] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[74] CBASD, vol. 3, p. 1.084.

[75] CBASD, vol. 3, p. 1.084.