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postado em: 8/1/2010
ALÉM DAS LÁGRIMAS - 3ª Parte
(O Último Suspiro na Câmara de Gás)
Adolf Otto Eichmann, cujo verdadeiro nome de batismo era Karl Adolf Eichmann, tenente-coronel da SS, nasceu em 19 de março de 1906 em Solinger, Alemanha, e morreu enforcado nas primeiras horas do dia 01 de junho de 1962, em Ramla, perto de Tel Aviv, Israel. Ele era o responsável pela logística do extermínio de milhões de judeus nos vários campos nazistas.
Afora as divergências sobre sua presença ou não em Vannsee, era o “Executor Chefe” do III Reich, como chefe do Departamento da Gestapo IV B 4. Mas, na verdade, foi mesmo Eichmann quem organizou a Conferência de Wannsee, pressionado pelo Dr. Joseph Buhler, chefe de Governo do Governo Geral de Hitler.
Preso pelos americanos no fim da guerra, fugiu e passou por alguns países, até chegar à Argentina com um passaporte emitido pela Cruz Vermelha Internacional, em nome de Ricardo Klement, e aí viveu com a família, que depois mandou buscar na Alemanha, até ser raptado pelo Mossad, o Serviço Secreto Israelense, em 11 de maio de 1960, e levado para Israel. No processo, que começou em 11 de fevereiro de 1961, foi acusado de 15 crimes durante a guerra. Condenado, foi enforcado na prisão de Ramla.
Gustav Fraz Wagner traiu-se em 30 de maio de 1978 ao comparecer, como Günther Mendel, ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), de São Paulo, para desmentir uma denúncia, de que participara de uma festa no Sul do País, para comemorar o aniversário de Adolf Hitler. Um sobrevivente de Sobibor, “o Campo da Morte”, viu o rosto dele na televisão, ao se apresentar ao DOPS, e o reconheceu imediatamente. Dirigiu-se para lá e o desmascarou, identificando-o oficialmente, como sendo o procurado criminoso de guerra, Gustav Franz Wagner. Foi preso na hora. Da cadeia, foi transferido para uma clínica psiquiátrica, de onde saiu dois meses depois.
O antigo Dops me traz muitas lembranças. Em 1972 passei uma semana lá, a fim de completar um Curso Intensivo de Datiloscopia (atual Papiloscopia), promovido pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, quando estagiei um mês no Instituto de Polícia técnica – IPT, atual Instituto de Polícia Científica – IPC, também de São Paulo.
Tive como professores o delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury (Niterói, 19 de maio de 1933 — Ilhabela, 1o. de maio de 1979), os diretores da Casa de Detenção de São Paulo, do IML e do IPT. Mas hoje, graças a Deus, o prédio, construído em 1914 no centro de São Paulo, e que abrigou até 1935 os armazéns da São Paulo Railway Company, e desse ano, até 1983, a sede do Dops, abriga o Museu e um Memorial da Liberdade, em homenagem às vítimas da ditadura militar.
A princípio “Günther Mendel” negou por vários dias a verdadeira identidade. Mas o sobrevivente contou, diante dele, frente a frente, olhando-o nos olhos, e com lágrimas descendo pelas faces envelhecidas, mais pela dor e pelo sofrimento das lembranças amargas da guerra, do que pela idade em si, que Franz Wagner tinha matado, a sangue frio, seus pais; que praticava tiro ao alvo nos prisioneiros judeus que desembarcavam do “Trem da Morte”, na plataforma da estação do campo de extermínio de Sobibor, na Polônia. “Ele atirava na cabeça”, disse, olhando de frente, para o “Carrasco de Sobibor”.
Gustav Franz Wagner, oficial SS (Schutzstaffel), nasceu a 18 de julho de 1911 em Viena, na Áustria. Após a guerra, foi condenado à prisão perpétua in absentia (à revelia - sem a presença do acusado) pelos americanos, no julgamento do Tribunal Internacional Militar instalado em Nuremberg (1945-1946), para julgar os criminosos de guerra. De acordo com os relatórios do Tribunal, quatro milhões de prisioneiros morreram em Auschwitz e 1.5 milhão em Majdanek.
Dizem que, como foragido de guerra, Gustav Franz Wagner nunca mudou de nome. Mas consta que ele, ao escapar da Europa com o sádico Franz Stangl, que supervisionava o campo de Treblinka e trabalhou com ele em Sobibor, entrou no Brasil com passaporte suíço, e foi admitido como residente permanente em 12 de abril de 1950, com o pseudônimo de Günther Mendel, até sua prisão em 30 de maio de 1978. Foi entregue à Polícia Federal. Depois de sua prisão, Israel e Áustria, seu país natal, pediram sua Extradição, que o Brasil negou. Em 22 de junho de 1979, o Supremo Tribunal Federal do Brasil negou também sua Extradição para a Alemanha Ocidental.
Franz Stangl, o segundo comandante de Treblinka, e que na fuga da Europa tomou caminhos diferentes dos de Gustav Franz Wagner, nasceu no dia 26 de maio de 1908, em Altmünster, Áustria, e morreu em 28 de junho de 1971, na prisão de Düsseldorf, Alemanha, onde tinha sido condenado à prisão perpétua. Tempos depois de chegar ao Brasil, trabalhou como gerente na fábrica da Wolksvagen, no Estado de São Paulo. Em 1967 foi localizado e preso e levado para a Alemanha. Consta que matou 400 mil judeus.
Em uma entrevista para a BBC de Londres, em 1979, Wagner não mostrou remorsos pelas atrocidades cometidas em Sobibor durante a guerra. Ele disse: "Eu não tinha sentimentos... Era só um outro trabalho. À noite, nunca discutia o nosso trabalho, mas apenas bebia e jogava cartas".
Um ex-guarda de Franz Wagner, disse que ele tentou o suicídio quatro vezes na prisão. Numa delas, tentou comer as lentes de vidro dos óculos que quebrou. Emagreceu bastante e gritava muito. Disseram que ele enlouqueceu, possivelmente torturado pelas lembranças da guerra e pelo medo de ser entregue aos governos de Israel, Alemanha e Áustria, onde seria julgado e condenado pelos crimes que cometera.
No sítio onde morava, Wagner levava uma vida tranqüila criando animais e cultivando hortaliças. O homem alto e de olhos azuis, cujo hobby era pintar paisagens, suicidou-se em seu sítio, segundo seu advogado, cravando uma faca grande de cozinha no peito, no dia 03 de outubro de 1980, menos de dois anos depois de sua prisão.
Por seus “trabalhos” ao III Reich, Gustav Franz Wagner recebeu do Governo nazista a Cruz de Ferro, por sua “eficiência em matar prisioneiros”. Deve ter sido a de Primeira Classe. Existia a de Segunda Classe; Cruz de Cavaleiro a Cruz de Ferro; Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho; Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho e Espadas; e Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho, Espadas e Diamantes. Quase todo oficial nazista ostentava, com orgulho, uma ou mais dessa condecoração em seu uniforme, no peito ou no pescoço, à altura do nó da gravata. Inclusive Hitler, que a usava no peito.
Com a prisão de Gustav Franz Wagner, o sobrevivente judeu Simon Wiesenthal (1908-2005), o austríaco que dedicou 60 anos de sua vida à caça de criminosos de guerra nazistas, colheu mais um fruto em sua incansável cruzada mundo afora, à procura deles.
Continua...